Ciência vs Política (e Religião, é claro…)

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O tema deste mês versa sobre o relacionamento entre ciências e política, especialmente sobre a influência das religiões na política e, mais especificamente, sobre a celeuma levantada acerca das crenças “criacionistas” da Senadora Marina Silva e sua capacidade para exercer a Presidência da República. Para não deixar as coisas saírem da perspectiva, algumas considerações prévias são necessárias.

A primeira coisa a deixar bem claro é que, muito mais do que o pensamento religioso, o pensamento político é diametralmente oposto ao pensamento científico. A política – em sua forma mais elevada – é a arte de distribuir o desagrado entre todos, de forma a que todos se conformem com sacrifícios individuais em prol de um bem-maior comunitário. Em sua forma mais baixa, é a arte de fazer com que as pessoas acreditem que isso está acontecendo, enquanto uma minoria usufrui das benesses em detrimento da maioria. Em suma, uma arte de acomodar descontentamentos.

Ora, em ciência, não dá para “acomodar”: ou as coisas são, ou não são. Não dá para fazer a gravidade funcionar em sentido contrário e fazer com que a água vá morro acima, apenas para contentar os eleitores que moram no alto. Pi não passa a ser igual a 3 porque fica mais fácil calcular (para desespero dos preguiçosos mentais que “detestam matemática”). E um embrião não é um “ser humano” só porque é vivo (não importa o que esta ou aquela “Sagrada Escritura”, interpretada por este ou aquele personagem auto-intitulado como “infalível”, diga) – inclusive alguns desses viventes que passam muito além do estágio embrionário – a julgar pelo seu procedimento – também não se enquadram na minha definição de “ser humano”, mas, aí, é questão de opinião…

Por outro lado, analisando a suposta “laicidade” do Estado Brasileiro, constatamos que essa “laicidade” é uma falácia: no máximo, o que temos é um “ecumenismo”. “Deus” é uma “claúsula pétrea” da Constituição: vide os preâmbulos de todas as Constituições do Brasil; a atual reza assim (copiado daqui – o grifo é meu):

PREÂMBULO

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte
para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos
sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional,
com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a
seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Portanto, não adianta discutir: no Brasil, Deus existe oficialmente. Cada um é livre para acreditar ou não, mas eu posso me valer juridicamente dos atributos divinos, uma vez que sua existência é implícita.

E, ainda citando a Constituição, temos que:

TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

………………….

VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

Ou seja: por mais idiota ou inverossímel que seja sua crença, ela tem que ser respeitada. O que constitui “respeito” a uma crença e até que ponto vai “o livre exercício dos cultos religiosos”, é uma fronteira sabiamente (ou velhacamente…) inexplorada pelos legisladores. Tanto que um determinado culto pode xingar à vontade outro e pedir a sua(s) divindade(s) que exterminem de modo cruel e doloroso os rivais – contanto que dentro de seu “local de culto” – mas não pode “tomar a ‘justiça divina’ nas próprias mãos”… Acomodação…

Mas, na outra mão, o que podemos ter?… Existiria algo tal como uma “ciência oficial de Estado”?… (Sem trocadilho…) Graças a Deus, não!… É da própria natureza das ciências evoluirem e até modificarem inteiramente seus paradigmas, à medida em que os conhecimentos desvendam os mistérios e, em muitas vezes, comprovam que aquilo que “todo o mundo sabia”, não era bem assim… E, como nas ciências não há lugar para “consensos” sem prova experimental (diversos “consensos” científicos ruiram e continuarão a ruir frente aos fatos experimentais), o jogo político não tem lugar no progresso da ciência.

Entretanto, é a política quem decide onde, como, quando e em que os recursos da sociedade vão ser empregados. E aí, leitor, não ganha quem tem “mais razão”: ganha quem consegue convencer o maior número de “votos”. E – pior – geralmente quando confrontadas com uma decisão entre uma verdade incoveniente e uma mentira agradável, a maioria das pessoas tende a escolher a mentira agradável.

Até os ateus-militantes: escolhem acreditar que é possível convencer a todos pela mera argumentação lógica… (um suicído político, a meu ver…)

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