Que raio de Deus é esse?

Uma curiosa coincidência me tirou da toca, hoje. De um lado, o acinte praticado pelos corruptos do Distrito Federal, orando em agradecimento por uma rapinagem bem sucedida. O assunto é bem esmiuçado no post Da Religião como símbolo político do Hermenauta (via itens compartilhados da Lucia Malla).

Como se fora de encomenda, o EurekAlert traz uma notícia – com o sugestivo título “As inferências dos crentes sobre as intenções de Deus são incrivelmente egocêntricas” – sobre o resultado de um estudo, publicado hoje em  Proceedings of the National Academy of Sciences, liderado por Nicholas Epley, professor de ciências do comportamento na Escola Booth de Administração da Universidade de Chicago, que também é assunto do Not Exactly Rocket Science, do Scibling Ed Yong, com o título “Criando Deus segundo a própria imagem”.

Em resumo, o estudo revela que as pessoas tendem a acreditar que Deus pensa como elas. Ou, posto de uma forma menos eufemística, que as pessoas acreditam que Deus tem que perguntar para elas como gerir o universo. Não é de estranhar, portanto, que o tema “Deus” cause tantas discussões e desavenças…

Last, but not least, uma outra notícia no EurekAlert coloca a pergunta: “Existe um gene do placebo?”, sobre os estudos de Matthias Breidert e Karl Hofbauer, publicados em Deutsches Ärzteblatt International, onde se discute uma predisposição genética dos pacientes mais suscetíveis ao Efeito-Placebo (eles afirmam que as variáveis são tantas que nada se pode afirmar, com segurança…) (um muggle-gene?…)

Bom… Se Dawkins pode postular um “gene egoísta”, eu posso postular um “gene estúpido”.

Crédulo do jeito que eu sou, não consigo imaginar um Criador para um universo do tamanho deste que aí está, que se envolva com o sucesso ou insucesso de indivíduos, notadamente quando esse Super-Ser supostamente impõe um código de ética com 10 cláusulas-pétreas (e uma 11ª implícita: “Jamais sejais apanhados violando qualquer uma das anteriores”) que “servem para os outros, não para mim”…

No entanto, a esmagadora maioria daqueles que se dizem religiosos pensa exatamente assim. O tal “Deus” é o fiador de toda a sorte de cretinice, safadeza, preconceito, violência gratuita, discriminação… enfim, de todo procedimento escandalosamente anti-social por parte daqueles que dizem se preocupar com o futuro da humanidade.

Eu cá não consigo conciliar essa contradição. Talvez porque eu seja portador do “gene estúpido”… mas a impressão que eu tenho é exatamente o contrário.

 


Discussão - 8 comentários

  1. Estranho, esse estudo de Epley citado pelo EurekAlert não está relacionado no Early Edition de 30 de novembro do PNAS. Fazendo uma busca por Epley não retorna resultado algum...
    []s,
    Roberto Takata

  2. Joey Salgado disse:

    O ideal, talvez, era que todos fossem "humanistas", como o era, por exemplo, Isaac Asimov, antes de escolherem essa, ou aquela, ou nenhuma, religião.
    Inté!

  3. João Carlos disse:

    O post do Yong traz a seguinte referência: PNAS doi:10.1073/pnas.0908374106

  4. Sugestão: existem dois tipos de "deuses". Os deuses criadores, seja o Deus de Platão e teólogos platonistas, seja os "Deuses Astronautas" que teriam criado a humanidade em estilo Arquivo X (ou tipo ID) - chamemos isso de deuses tipo I - e os deuses-espiritos-memes-onírico-neural (DEMONs, desculpem o neologismo forçado!) que habitam os cerebros humanos - chamemos isso de deuses tipo II.
    Ou seja, um DEMON é uma personalidade alternativa (Guia, Orixá, Espirito de Jesus, Yavé, deuses greco-romanos, espíritos da floresta, ETs "irmãos do espaço", anjos, etc) que emergem em outra rede neural do cérebro que não a rede neural usual onde se situa o ego, por exemplo, na região correspondente do outro hemisfério cerebral ("ego ipsilateral?").
    A pessoa fica então com (pelo menos) duas personalidades, que dialogam entre si através da oração e do rito. É uma teoria baseada no livro "A Mente Bicameral", de Jaynes, você conhece?
    Isso explicaria as correlações entre o DEMON de uma pessoa e sua personalidade usual (em termos de valores, etc, por exemplo, uma pessoa pequeno-burguesa tenderia a ter um DEMON que valoriza as posses materiais e os meios mágico-religiosos para consegui-las; já uma pessoa mais altruista como Marina Silva teria um DEMON altruista etc).
    Assim, a crença de que podemos conversar, mesmo em silêncio, com Deus ou com os espiritos seria devido ao fato de que podemos realmente conversar com nossos DEMONs, pois ambos habitam o mesmo cérebro.
    O importante seria não confundir o Deus dos Filósofos com nosso DEMON pessoal. E lembremos que todos temos nossos demonios pessoais, embora muitos sejam não pessoais, tais como valores, obsessões e paixões...
    PS: É uma teoria testável? Predição: pessoas com DEMONs ouvem vozes dos mesmos durante a oração ou meditação, e isto poderia ser comprovado usando-se imagens de ressonancia magnetica funcional, detetando-se focos de atividade auditiva fora das regiões normais...

  5. João Carlos disse:

    Uma excelente sugestão quanto à forma de testar a comunicação com o DEMON. Mas eu penso ter lido (não sei onde) que o centro cerebral envolvido nas experiências "místicas" é o mesmo que gere os sonhos e alucinações.

  6. Somel Serip disse:

    João Carlos , olá !
    As religiões não são imunes à hipocrisia!
    É um tema por demais controvertido porém, é certo que dinheiro não combina com religião!
    Esta é a razão de não poder existir envolvimento com dinheiro: a ganância na religião provoca a guerra religiosa.
    Sei que temos muito (e põe muito nisto) além do que pensamos ter e me sinto confortável ao afirmar que Deus é a energia suprema e que não é exclusividade dos humanos!
    É relativamente aceitável, que uma formiguinha, ao cruzar com outra no corredor de formigas, converse anunciando que a reunião religiosa vai começar em pouco tempo, ou só agente é quem pode conversar neste mundo, né?
    Digo que a religião é como uma universidade, onde se escolhe cursar uma de suas faculdades existentes.
    É por isto que existem tamanha diversidade! Cada um segue na que melhor se identifica! Só não vale é fanatismo!
    Para mim, a religião foi criada para nos ajudar à viver melhor! Ensina meios e procedimentos para estarmos em sintonia energética sublime.
    Quanto ao fato de termos dois lados presentes, digo que estão sempre à nossa disposição para que possamos ter o livre arbítrio e as suas decorrências.
    Abraços à todos!
    Somel Serip.

  7. Tiago Assis disse:

    Foi até bom eu ler isso agora, pois no momento estou enfurecido com tudo que diz respeito a religião e deus. Segue alguns acontecimentos da semana que comprova o que “deus é o veneno do mundo”:
    Como todos sabem aconteceu um grande terremoto no Haiti, e como eu já esperava ouvi a mídia, familiares e amigos dizendo que deus teria salvado milagrosamente haitianos e principalmente conterrâneos ou agentes da ONU dos escombros.
    Porem ontem a globo divulgando a triste historia do Haiti, que por sinal esta toda distorcida, “revelou” que a religião local é o Vudu. O que fez os mesmo familiares, e amigos dizerem simplesmente que o terremoto pode ter a mão do digníssimo deus, já que aquele povo faz bruxaria e ainda culpando toda desgraça social do Haiti e ate da África devido as seus crédulos demoníacos.
    É incrível o tamanho da alienação que uma religião ou deus pode fazer, ainda mais com a ajuda da mídia, por isso afirmo que deuses, independente da religião, pregam a intolerância e a violência contra todos, não existira paz enquanto houver algum deus.
    Acredito também que na perspectiva de que os Haitianos merecem tal castigo divino, vai ficar fácil deixar que o Brasil, EUA e França, que prometeram reconstruir aquele país, continuem a usar a mão-de-obra mais barata da América Latina, reduzindo-os a simples escravos. Alias a quase 500 anos o Papa deu uma benção permitindo escravizar negros, já que eles acolheram Caim depois de matar Abel.
    Lamento.

  8. João Carlos disse:

    Tem toda razão, Tiago. Apesar de eu mesmo ser religioso (eu sou Umbandista – não me canso de dizer), acho que melhor seria se as religiões se extinguissem.
    Seria um pretexto a menos para idiotas gordos e satisfeitos com a própria cretinice, arrumarem um suposto "beneplácito divino" para continuarem a fazer suas canalhices.

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