Terremoto no Haiti: pode não ter acabado ainda…
[ traduzido de:Scientists Return to Haiti to Assess Possibility of Another Major Quake ]
Geocientistas vão coletar dados cruciais para avaliação de possíveis riscos futuros
Em uma foto anterior ao terremoto, um receptor e uma antena de GPS instalados na laje de um prédio em Port-au-Prince, Haiti. |
25 de janeiro de 2010
Uma equipe financiada pela National Science Foundation (NSF) está voltando ao Haiti esta semana para investigar a causa do terremoto de magnitude 7 lá ocorrido em 12 de janeiro.
Os geólogos vão coletar dados cruciais para avaliar se o terremoto pode desencadear outro evento grave a leste ou oeste da capital do Haiti, Port-au-Prince.
Eric Calais, um geofísico da Universidade Purdue que lidera a equipe, declarou que a maior parte das réplicas ocorrem no intervalo de semanas após o tremor iniicial e que a equipe precisa chegar urgentemente ao local para fazer uma avaliação detalhada, antes que as informações geológicas cruciais desapareçam.
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Segundo Calais, “A questão principal é saber se, depois das pequenas réplicas, poderia estar a caminho um terremoto ainda maior. Existem diversos exemplos históricos de um terremoto inicial desencadear um ainda maior ao longo da mesma falha ou de falhas próximas. Estamos preocupados com a República Dominicana, porque nossos modelos preliminares mostram que a continuação da falah nessa área está sobrecarregada”.
O terremoto de 12 de janeiro causou danos no Haiti estimados em 200.000 mortos, 250.000 feridos e 1,5 milhão de desabrigados. Port-au-Prince sentiu uma réplica de magnitude 6 em 20 de janeiro.
O geofísico Eric Calais segura um marcador geodésico que rastreia até os menores movimentos da Terra. |
“Os dados de GPS e geológicos que essa equipe vai recolher, vão fornecer conhecimentos importantes para estabelecer a causa do terremoto de 12 de janeiro no Haiti”, declara Tim Killeen, diretor assistente da NSF para geociências, “e são essenciais para avaliar o potencial para a ocorrência de futuros terremotos na área de Port-au-Prince”.
O Serviço de Minas e Energia e a Agência de Defesa Civil do governo haitiano convidaram Calais e sua equipe a retornar ao país para examinar a falha e aconselhar as autoridades quando do início dos trabalhos de reconstrução.
“O governo precisa de aconselhamento científico para decidir o que fazer agora e no futuro, quando começarem a pensar em reconstrução”, confirma Calais. E prossegue:
“Nós sabemos como fazer os cálculos que servirãode base para predizer se a probabilidade de novos terremotos ao longo da falha aumentou, porém precisamos de informações que só podem ser obtidas no próprio local, mediante observações diretas e medições feitas diretamente no solo”.
Louis Obenson da Agência de Defesa Civil do Haiti instala o equipamento GPS em Port-au-Prince. |
A equipe de pesquisas de Calais vinha rastreando o acúmulo de energia ao longo das falhas Setentrional e de Enriquillo na ilha Hispaniola, que abriga o Haiti e a República Dominicana, usando tecnologia do Global Positioning System (GPS).
A equipe estudou a área por cinco anos, usando 100 marcadores GPS. Em 2008, os pesquisadores alertaram para a probabilidade de ocorrência de um terremoto de magnitude 7,2 no Haiti e um de magnitude 7,5 na República Dominicana, em uma pesquisa financiada pela NSF.
Agora, a NSF alocou uma nova verba para a equipe para encontrar e mapear a área da falha onde ocorreu a ruptura, plotar novamente os marcadores GPS existentes e instalar 10 novos marcadores contínuos para monitorar as mudanças que ocorrerão nos anos vindouros, na medida em que a crosta terrestre se reajusta.
A equipe de pesquisas inclui ainda outros geocientistas: Andrew Freed e a estudante de pós-graduação Sarah Stamps, da Purdue; Paul Mann da Universidade do Texas em Austin; Glenn Mattioli da Universidade do Arkansas; Estelle Chaussard da Universidade de Miami; e Richard Koehler da Divisão do alaska do Serviço Geológico e Geofísico dos EUA.
Haiti: as áreas em vermelho são as mais próximas do ponto de ruptura; os círculos cinzentos marcam as réplicas. |
O apoio técnico para a operação é prestado pela UNAVCO, a estatal vinculada à NSF que opera o sistema GPS com base em Boulder, Colorado.
A partir das medições por GPS na superfície, a equipe pode estabelecer o que aconteceu ao longo da falha até sua profundidade máxima de 20 km no subsolo.
As medições precisas desses movimentos subterrâneos é crítica para a validação dos modelos de mudanças de estresse que podem indicar a probabilidade potencial – e a possível magnitude – de futuros terremotos, afirma Calais.
Mapa com o ambiente sismo-tectônico da Placa Tectônica do Caribe. |
“Os estesses em mutação na crosta terrestre depois de um grande terremoto, podem atuar nos sentidos de travar ou de destravar outras falhas. Se uma falha estiver prestes a destravar e uma mudança no estresse aliviar ligeiramente a pressão, ela pode se romper e causar um terremoto”, explicou ele.
“Nós achamos que é isso que vem causando as réplicas que se concentram mais na extremidade oeste da área do epicentro, inclusive a recente réplica de magnitude 6”.
A equipe também vai colaborar com Falk Amelung e Timothy Dixon da Universidade de Miami para coletar dados de radar por satélite para mapear as mudanças antes e depois do terremoto. Essa informação, combinanda com os dados do GPS, resultarão na estimativa mais precisa da fonte do terremoto, um ponto de partida fundamental para estudos futuros.
Mapa com o histórico sísmico da Ilha Hispaniola, antes de 1960. |
“Esta é uma oportunidade sem precedentes para estudar um grande terremoto ocorrido em uma falha onde se encontram duas placas tectônicas”, disse Freed. “O que aprendermos aqui pode ser traduzido para outras falhas similares por todo o mundo, tais como o Sistema de Falhas de San Andreas. Felizmente, grandes terremotos não ocorrem com frequência, mas isso torna esta uma rara oportunidade para aprender sobre o comportamento da Terra”.
A despeito do convite do governo haitiano e de ser uma missão da NSF, conseguir transporte para o Haiti foi difícil, disse Calais. Membros do Departamento de Tecnologia de Aviação da Purdue mexeram uns pauzinhos junto à firma Aeroservice em Miami para conseguir que Calais e seus equipamentos fossem transportados para Port-au-Prince em um avião de carga que levava suprimentos de emergência para o país.
Calais observa que “a ajuda de meus colegas da Purdue foi fundamental para me levar a Port-au-Princ. Não está fácil entrar no país agora e não queríamos interferir com o mais importante: a chegada de suprimentos e pessoal de socorro”.
Além de bancar o transporte, a companhia Trimble, fabricante de equipamentos de GPS, doou ao Haiti seis receptores de GPS, adaptados para operação em campo pela UNAVCO e que serão posicionados pela equipe de pesquisas.
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