A blindagem do caracol
[ Livremente traduzido de: The Fantastic Armor of a Wonder Snail ]
Exoesqueleto de um recém-descoberto molusco gastrópode pode ajudar o desenvolvimento de novos materiais resistentes
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Um molusco das profundezas do mar tem uma casca que o protege de ataques penetrantes. |
18 de janeiro de 2010
Nas profundezas do campo de Kairei de fontes hidrotermais, a quatro quilômetros e meio de profundidade no Oceano Índico, os cientistas descobriram um molusco gastrópode cuja blindagem pode ajudar no desenvolvimento de materiais resistentes a cargas e de proteção em todas as áreas, de fuselagens de aeronaves a material esportivo.
Os pesquisadores do Centro de Pesqsuisas em Ciências e Engenharia de Material no Instituto de Tecnologia de Massachsetts, com o apoio da Fundação Nacional de Ciências, estão estudando as propriedades físicas e mecânicas da casca do molusco. Um relatório, intitulado “Protection mechanisms of
the iron-plated armor of a deep sea hydrothermal vent gastropod” (Mecanismo de proteção da couraça revestida com ferro de um gastrópode de uma fonte hidrotermal do fundo do mar), será publicado esta semana em Proceedings of the National Academy of Sciences.
O assim chamado “gastrópode dos pés-escamosos” (“scaly-foot gastropod”) tem uma concha sem igual com três camadas que pode conter novos princípios para projetos de mecânica no futuro. Mais especificamente, ele tem uma camada interna altamente calcificada e uma camada intermediária espessa. No entanto é sua camada externa extraordinária, fundida com sulfeto de ferro, que entusiasma os pesquisadores.
O campo de Kairei é uma série de profundas fendas na superfície do planeta ao longo de uma cadeia de montanhas vulcânicas abaixo do Oceano Índico. Nela, os pesquisadores de uma expedição descobriram esse caracol, até então desconhecido, em 1999.
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A camada externa da casca do gastrópode de pés-escamosos é fundida com sulfeto de ferro granulado. |
Christine Ortiz, líder do projeto no Departamento de Ciências e Engenharia de Materiais do MIT, explica: “Os fluidos das fontes hidrotermais têm uma alta concentração de sulfetos e metais, mas este molusco é único por incorporar esses materiais abundantes no ambiente na estrutura de sua casca. Nós ficamos interessados em estudar a estrutura e as propriedades de cada camada, para ver como elas se comportam mecanicamente”, acrescentando que a cmada interior orgânica também apresenta interesse.
Os pesquisadores se mostraram particularmente interessados nas vantagens que a estrutura apresenta para a proteção contra ataques penetrantes vindos de predadores. A compreensão disto pode fornecer novas idéias para materiais que podem ser empregados em automóveis, caminhões e empregos militares.
Para testar as propriedades da casca, os pesquisadores realizaram experiências que simularam ataques genéricos de predadores, usando tanto modelos de computador, como testes de indentação. O teste de indentação envolveu golpear o topo da casca com a ponta afiada de uma sonda para medir a dureza e rigidez da casca.
Foram encontrados alguns predadores em potencial na mesma região do gastrópode de pés- escamados. Um dos predadores, o caracol conídeo,
usa um dente em forma de arpão para furar a casca e injetar um veneno paralizante. Além deles, sabe-se que caranguejos do mar costumam prender gastrópodes com suas piunças e tentam perfurar suas conchas e/ou espremê-los, algumas vezes durante dias, até que a casca dos moluscos se quebre.
Os testes levaram à conclusão de que “cada camada do exoesqueleto [do molusco] é responsável por tarefas distintas e multifuncionais na proteção mecânica”, relatam Ortiz e seus colegas. Os testes revelam que a casca “apresenta vantagens em termos de resistência à penetração, dissipação de energia, mitigação de fraturas e seu reparo, redução de mossas e resistência a cargas de flexão e tensão”.
Ainda segunto Ortiz, “nosso estudo indica que o gstrópode de pés-escamados experimenta mecanismos de deformação e proteção muito diferentes dos demais gastrópodes. Ele tem uma proteção muito eficaz, mais do que os moluscos comuns”.
O projeto foi secundado por pesquisadores da Raytheon, Inc., Marlboro, Massachusetts e da Asylum Research, Santa Barbara, Califórnia.
“Por dentro da ciência” do Instituto Americano de Física (20/11/09)
O mais caro dos experimentos científicos está ficando pronto para realizar colisões
Collider, ou simplesmente LHC).
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- O MAIOR SISTEMA DE VÁCUO DO MUNDO exaure quase todo o ar de dentro da máquina. O tubo de feixes, por onde os prótons voam em torno do anel, tem algo como um décimo de trilionésimo da densidade da atmosfera da Terra. Isto é assim para que os prótons não desperdicem sua energia em enervantes colisões com moléculas de ar perdidas no caminho e guardem-na para as colisões de frente com outros prótons.
- O MAIOR SISTEMA CRIOGÊNICO DO MUNDO resfria os magnetos do LHC a uma temperatura próxima do zero absoluto para que as correntes elétricas fluam pelos fios sem perder energia na forma de calos. Esse estado super-condutor não só economiza na conta de energia, como também aumenta as forças magnéticas usadas para guiar os feixes de prótons ao longo de seu caminho.
- O LUGAR EXTENSO MAIS FRIO DO UNIVERSO é um modo razoável de descrever as 37.000 toneladas de metal que compõem a parte super-condutora do LHC.
- MAIS DE 120 MILHÕES DE WATTS de eletricidade são necessários para acionar o LHC; os detectores puxam outros 16 milhões de Watts. A energia total – 136
megawatts – é a mesma que a de uma cidade de porte médio, ou cerca de 100.000 residências. - O MAIOR MAGNETO JAMAIS PRODUZIDO – O magneto principal do detector ATLAS
(um dos dois grandes experimentos de colisão) puxa sozinho 21.000 amperes. - O MAIOR ACELERADOR EM FUNCIONAMENTO – Os prótons são enviados repetidamente em torno de um túnel de 27 km no LHC de forma a terem uma chance melhor de colidirem com os prótons do outro feixe que vem em sentido contrário. Poderosos magnetos são empregados para dirigir os prótons nessa trajetória. No entanto, prótons que se movem próximos da velocidade da luz só podem ser defletidos bem pouco de cada vez, de forma que é necessário um espaço enorme para que os prótons consigam fazer a curva.
- UM PETABYTE DE DADOS, o que é igual a cerca de 100 vezes toda a informação impressa existente na Biblioteca do Congresso em Washington, DC, serão armazenados a cada ano por ambos os principais detectores do LHC. Os dados gerados no pico do funcionamento (e nem todos eles são gravados) e que seguem para a superfície por fibras óticas, equivalem, em um dado momento, a cerca de 100 milhões de chamadas por telefone celular, ou a cerca de 1% do fluxo de dados digitais do mundo. Os dados vindos das profundezas das cavernas do LHC são imediatamente enviados para os cientistas e seus computadores em dúzias de países..
- NA ENERGIA MÁXIMA, os prótons no LHC vão viajar a 99,999999 % da velocidade da luz. Não é tanto a velocidade que conta, mas a energia incorporada nesse movimento. É essa energia que é convertida – no instante em que dois prótons batem de frente – para a criação de novas partículas, algumas das quais podem representar toda uma nova física.
- A ENERGIA ARMAZENADA NO FEIXE DE PRÓTONS, se fossem direcionados a colidir em uma pilha de metal, iria derreter cerca de 500 kg de cobre.
- O FLUXO DE PARTÍCULAS na extremidade anterior do detector CMS (a parte de aparelhagem mais próxima do tubo de feixes) é equivalente ao nível de radiação no marco-zero da bomba de Hiroshima.
- 8.000 CIENTISTAS que trabalham no LHC, foram necessários para projetar, construir e tripular o imenso programa experimentas no local. Eles vem de 60 países, fazendo do LHC as Nações Unidas da física.
Este texto é fornecido para a media pelo Inside Science News Service, que é apoiado pelo Instituto Americano de Física (American Institute of Physics), uma editora sem fins lucrativos de periódicos de ciência.
Contatos: InsideScience@aip.org.
Enxergando células antes invisíveis

[Livremente traduzido de: Seeing Previously Invisible Molecules for the First Time ]
Uma nova técnica de microscopia revela moléculas, antes invisíveis, em cores
Imagens de células sanguíneas individuais dentro de um vaso capilar na orelha de um rato. |
22 de outubro de 2009
Uma equipe de quimicos de Harvard, liderada por X. Sunney Xie, desenvolveu uma nova técnica de microscopia para visualizar, em cores, moléculas com fluorescência indetectável. O processo, de temperatura ambiente, permite aos pesquisadores identificar moléculas que antes não podiam ser vistas, em organismos vivos e pode ter vastas aplicações em imageamento diagnóstico e pesquisas biomédicas.
Os resultados obstidos pelos cientistas foram publicados na edição de 22 de outubro da Nature. A pesquisa foi parcialmente financiada pela Fundação Nacional de Ciências (NSF).
A fluorescência é o fenômeno onde um elétron que faz parte de uma molécula, absorve a energia da luz e passa para um nível quântico acima – fica em estado excitado – sendo esse quantum de energia igual à da partícula portadora da energia eletromagnética, o fóton. Após uma breve permanência nesse estado excitado, o elétron volta a seu nível de energia anterior, ou estado fundamental, emitindo um novo fóton. A energia do fóton liberado está na faixa de comprimento de onda da luz visível, durando apenas uns poucos bilionésimos de segundo.
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Imagem do envio de “azul de toluidina” até a camada mais externa da pele da orelha de um rato |
Muitas moléculas coloridas e biologicamente importantes, tais como a hemoglobina – uma proteína portadora de oxigênio nos glóbulos vermelhos do sangue – absorvem a luz, porém não ficam fluorescentes. Em lugar disso, elas liberam a energia transitória em comprimentos de onda não visíveis (calor).
Como diz Xie: “Já que essas moléculas não ficam fluorescentes, elas foram literalmente ignoradas pelos modernos microscópios ópticos”.
Então, para detectar essas moléculas não fluorescentes nos sistemas biológicos, Xie e sua equipe desenvolveram uma nova técnica de microscopia com base na emissão estimulada.
A emissão estimulada foi primeiramente descrita por Albert Einstein em 1917 e é a base dos lasers atuais. Em resumo, é um processo pelo qual um elétron em estado excitado, perturbado por um fóton com a energia adequada, decai para seu estado fundamentas produzindo um fóton adicional.
A nova técnica de microscopia de Xie gera e grava um sinal de emissão estimulada mediante o uso de dois pulsos, cuidadosamente escalonados, um de excitação e outro de estimulação. Cada pulso tem uma duração incrivelmente curta de aproximadamente 200 femtossegundos e uma frequência de 76 MHz. Um femtossegundo é um bilionésimo de um milionésimo, ou 10-15, de segundo. Um modulador comuta a intensidade dos pulsos de excitação, ligando e desligando a cinco MHz. Essa modulação cria um sinal de emissão estimulada na mesma frequência. O sinal produzido pelas moléculas não fluorescentes fornece uma imagem de alta sensibilidade das moléculas antes “invisíveis”.
Uma dentre várias possíveis aplicações da invenção dos cientistas é o mapeamento a cores do suprimento de drogas não fluorescentes às células-alvo. Outro possível emprego é o imageamento de pequeninas estruturas, tais como vasos sanguíneos, até de células vermelhas sanguíneas individuais e capilares singelos (vide imagens).
A estrutura e a dinâmica da hemoglobina nos vasos sanguíneos têm um improtante papel em vários processos biomédicos. Dois exemplos desses processos são a transição de estado de tumores, de latente para maligno, e a oxigenação no cérebro.
As técnicas atualmente estabelecidas de imageamento, tais como ressonância magnética e tomografia computadorizada, ou não têm a definição necessária para identificar capilares individualmente, ou precisam de agentes de contraste externos.
Agentes de realce, tais como a proteína fluorescente verde (green fluorescent protein = GFP), vêm sendo extensivamente empregados para observar a atividade de biomoléculas e para distinguir as moléculas-alvo em uma célula. A técnica de realce com GFP fornece imagens com boa definição, porém a proteína, por ter uma molécula demasiadamente grande, pode perturbar os delicados caminhos bilógicos, especialmente quando ela é maior do que a biomolécula que está realçando.
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Imagem do envio de “azul de toluidina” à camada mais externa da pele da orelha de um rato. |
A equipe de Xie mapeou a entrega de uma molécula de droga não fluorescente e imageou vasos sanguíneos sem o uso de agentes de realce fluorescentes. A nova técnica é também capaz de imagear proteínas não fluorescentes em células de bactérias Escherichia coli vivas.
Zeev Rosenzweig, diretor de programa na Divisão de Química da NSF, diz: “Enquanto estudos anteriores fizeram uso de experimentos de sondagem por injeção de energia para obter imagens de moléculas fluorescentes com uma resolução espacial comparável à da microscopia de fluorescência confocal e alta resolução temporal, este estudo usa, pela primeira vez, microscopia de emissão estimulada para obter imagens de moléculas não fluorescentes”.
Embora os potenciais danos causados pela forte luz e a complexidade e o custo do sistema ainda sejam objeto de futuros aperfeiçoamentos para que a técnica obtenha ampla aplicabilidade, “não há dúvida de que o estudo indica um caminho ímpar para imagear uma ampla gama de moléculas, atualmente inacessível aos atuais microscópios de ponta”, como observa Rosenzweig.
“Isso é apenas o começo”, acrescenta Xie. “Muitas aplicações interessantes dessa nova modalidade de imageamento estão por vir”.
Os demais autores do artigo na Nature incluem Wei Min, Sijia Lu, Shasha Chong, Rahul Roy e Gary R.
Holtom. Min e Roy são doutores; Lu e Chong são estudantes de pós-graduação; e Holtom é cientista pesquisador, todos membros do grupo de pesquisas de Xie.
Memórias de uma espuma metálica

[Traduzido de: Metallic Shape-Memory Foam Shows Giant Response to Magnetic Fields ]
Original em inglês de Holly Martin, National Science Foundation
Liga “inteligente” se estica e se contrai em quase 10%
Espumas metálicas porosas são feitas em um processo de duas etapas. |
16 de outubro de 2009
Por coincidência, dois amigos, entre os 3.000 cientistas que compareceram ao Encontro de Outono da Sociedade de Pesquisas de Materiais em 2006 em Boston, se encontraram no lado de fora do Hynes Convention Center. Peter Müllner e David Dunand se formaram ambos no Instituto Federal de Tecnologia da Suíça (ETH) em Zurich.
Müllner, agora na Boise State University, estava pesquisando ligas magnéticas que mudavam de formato na presença de um campo magnético. Enquanto isso, Dunand, na Northwestern University em Chicago, ganhou experiência com espumas metálicas – materiais porosos de baixo peso que, algumas vezes, se parecem com uma esponja – particularmente sobre esponjas de ligas com memória de formato que mudam de formato com a temperatura.
Müllner recorda: “David estava com pressa para apanhar seu avião, mas tiramos alguns minutos para conversar sobre nossos trabalhos em curso. David me perguntou: ‘O que você pensa que poderia acontecer se nós fizéssemos uma espuma dessa sua liga com memória de formato magnética?’ Eu respondi que isso poderia resolver o problema dos policristais”.
Ligas com memória de formato magnéticas (Magnetic shape-memory alloys = MSMAs), são cristais sólidos feitos de uma combinação de materiais que reagem a campos magnéticos se esticando ou se contraindo, de forma não muito diferente de um músculo. Esses materiais são úteis para diversos empregos onde um dispositivo de comutação mecânico tem que ser acionado por um sinal elétricos e vice versa.
A quantidade de esticamento ou encolhimento exibido por essas ligas é chamado de deformação induzida por campo magnético (magnetic field-induced strain = MFIS). Então, por exemplo, com uma MFIS de 10%, uma haste com um pé (33 cm) de comprimento pode esticar ou encolher por mais de uma polegada (2,56 cm). Em algumas ligas, quando o campo magnéticos é retirado, o material volta a seu formato original: em outras, o campo tem que ser invertido.
A MFIS de uma liga depende de como os átomos se cristalizam quando o material fundido se resfria e solidifica. Existem dois tipos básicos de cristais: monocristais, que se parecem com grandes pedras preciosas, e policristais que contém milhões, ou até mesmo bilhões, de pequenos cristais, chamados grãos.
Müllner explica que “os átomos em um monocristal ficam organizados em padrões estritamente periódicos, algo como lajotas assentadas no mesmo padrão sobre o piso de toda uma casa”.
“Em um policristal, a orientação do padrão dos átomos muda de um lugar para outro, com as fronteiras os contornos de grãos [obrigado, Felipe!] formando linhas ou planos entre os pequenos cristais”, continua ele. “Pense no mesmo tipo de lajota instalado por toda a casa, mas desta vez com uma orientação diferente em cada cômodo, com as juntas correndo em direções diferentes”.
Os monocristais demoram mais para serem fabricados e custam mais do que os policristais. Müllner explica: “Quando se funde policristais, a liga só precisa ser mantida por poucos minutos em temperaturas muito altas (acima dos 1.000 °C). Já os monocristais precisam ser mantidos nessas temperaturas extremas por dias, o que consome uma enorme quantidade de energia elétrica”.
Segundo Müllner, todas as ligas feitas por processos convencionais, tais como fundição e forjamento, são policristais, o que leva a um problema: as MSMAs não reagem aos campos magnéticos tão bem como os monocristais.
Mas o comentário de Dunand fez Müllner compreender que poderia ser possível criar um material policristalino com uma MFIS maior, se o convertesse em espuma metálica.
Criando Espuma Metálica
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Ligas magnéticas com memória de forma reagem a campos magnéticos se expandindo ou se contraindo. |
O termo “espuma metálica” parece uma contradição. No entanto, ligas metálicas fundidas, tanto com bolsões preenchidos por gás, como com poros abertos, têm sido levadas em conta para muitas aplicações, tais como aeronaves, que necessitam de resistência combinada com peso leve.
De acordo com Dunand, espumas metálicas porosas são feitas em um processo com duas etapas. Primeiro, os pesquisadores criam um molde negativo, aquecendo uma cerâmica em pó, até que ela forme um corpo rígido com vários poros abertos. Em seguida, eles derramam uma liga metálica fundida bem dentro dos poros. Depois que a liga se solidifica em forma cristalina, a forma de cerâmica é dissolvida por uma solução ácida, deixando um arranjo de finas hastes metálicas que lembram uma esponja.
Após criar a esponja, os cientistas precisam “adestrar” a mesma para realizar seus truques magnéticos. Müllner relata: “Nós aplicamos repetidamente um campo magnético e uma carga mecânica, à medida em que aquecemos e resfriamos o material. Como resultado, o material começa a se deformar cada vez com mais facilidade e em maiores quantidades. Durante esse processo, a micro-estrutura interna do material se modifica, o que quer dizer que o número, a orientação e a mobilidade de certas fronteiras especiais dos grãos – as assim chamadas “fronteiras gêmeas” “maclas” [obrigado Felipe!] – se modificam”.
Resultados Promissores
Dunand e Müllner decidiram-se por cooperar neste problema, coemçando com espuma feita de Ni-Mn-Ga, uma liga de níquel, manganês e gálio. Dunand relata: “Três meses depois, nós tínhamos os primeiros resultados: uma patente, uma verba-prêmio da Fundação Nacional de Ciências e um artigo publicado em Physical Review Letters“.
No entanto, a deformação total da espuma obtida ainda era relativamente pequena. Para a próxima fase de suas pesquisas, eles decidiram fazer a espuma com dois tamanhos diferentes de poros: alguns de cerca do tamanho dos grãos cristalinos e outros menores que os grãos. “Para produzir espuma, tanto com poros grandes como pequenos, misturamos dois pós cerâmicos para criar um correspondente molde negativo”, lembra Dunand.
Os resultados, publicados em Nature Materials, foram melhores do que os pesquisadores esperavam. Com os poros de um único tamanho, eles obtiveram uma MFIS de apenas 0,12%, o que equivale a uma haste de um pé (33 cm) capaz de esticar cerca de um centésimo de polegada (0,256 mm). Porém, com dois tamanhos diferentes de poros, a MFIS aumentou para algo entre 2,0 a 8,7 %, o que significa a mesma haste esticando de 1/4 de polegada (6,4 mm) a uma polegada (25,6 mm).
Pondo a Espuma para Trabalhar
Ligas com memória de formato tem sido usadas em sensores e controladores mecânicos de todos os tipos. No entanto, ainda não existem no mercado dispositivos comerciais que empreguem espumas de MSMAs, segundo Dunand.
Ele diz: “Posso imaginar que a refrigeração magnética pode se tornar a primeira aplicação tecnológica da espuma magnética com memória de forma. Quando a espuma se torna magnetizada, ela se aquece. Inversamente, quando ela é desmagnetizada, se resfria”.
“Os vários poros na espuma fornecem uma grande área de superfície, o que acelera a troca de calor e, dessa forma, a eficiência. E, como a energia magnética pode ser facilmente produzida com energia elétrica, isso torna a espuma atraente para uma tecnologia verde de refrigeração”.
A equipe de pesquisadores também incului Markus Chmielus e C. Witherspoon, da Boise State University, e X.X. Zhang, da Northwestern University.
Oh, não!… Monopolos magnéticos de novo!…

(Calma! Não são monopolos magnéticos de verdade! Mas são muito parecidos…)
National Institute of Standards and Technology (NIST)
Primos em larga-escala dos elusivos “monopolos magnéticos” descobertos pelo NIST
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Qualquer criança pode dizer que um magneto tem um polo “norte” e um polo “sul’, e que, se você quebrá-lo em duas partes, você invariavelmente ficará com dois magnetos menores, cada um com dois polos, um norte e um sul. No entanto, os cientistas passaram a maior parte das últimas oito décadas tentando encontrar um magneto com um só polo. Uma equipe do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (National Institute of
Standards and Technology = NIST) descobriu um.*
Em1931, Paul
Dirac, um dos “astros do rock” do mundo da física, fez o vaticínio surpreendente de que deveriam existir “monopolos magnéticos”, ou seja, partículas com apenas um polo (norte ou sul). Ele chegou a esta conclusão a partir do exame de um famoso conjunto de equações que explicam o relacionamento entre a eletricidade e o magnetismo. As equações de Maxwell se aplicam a velhas conhecidas partículas monopolares elétricas, tais como os elétrons de carga negativa e os prótons de carga positiva, porém, não obstante as previsão de Dirac, ninguém jamais encontrou as benditas partículas com um único polo magnético.
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Agora, uma equipe de pesquisas que trabalha no Centro de Pesquisas de Nêutrons do NIST (NIST’s Center for Neutron Research = NCNR), liderado por Hiroaki Kadowaki da Universidade Metropolitana de Tokio, encontrou o melhor sucedâneo. Criando um composto que, sob certas condições, forma grandes monopolos do tamanho de uma molécula que se comportam exatamente como as partículas previstas deveriam se comportar, a equipe descobriu uma maneira de estudar os monopolos magnéticos em laboratório, não apenas no quadro-negro. (Outra equipe de pesquisas, em trabalho paralelo, publicou descobertas semelhantes na Science no mês passado.**)
“Essas não são as partículas de monopolos magnéticos previstas por Dirac — as nossas são, em comparação, grandes demais — mas se comportam como os verdadeiros em todas as formas”, afirma Jeff Lynn, um físico do
NIST. “Suas propriedades nos permitirão testar como as partículas de monopolos teóricas devem se comportar e interagir”.
A equipe criou seus monopolos em um composto feito de oxigênio, titânio e disprósio que, quando resfriado até próximo do zero absoluto, forma o que os cientistas chamam de “gelo de spin”. O material se congela em cristais de quatro faces (uma pirâmide com uma base triangular [NT: popularmente conhecida como “tetraedro”… não necessariamente regular]) e a orientação magnética, ou “spin”, dos íons em cada um dos vértices ficam equilibrados — dois apontam para dentro e dois para fora. Usando feixes de nêutrons no NCNR, a equipe descobriu que podia desviar para o lado um dos spins, de forma a que três apontassem para dentro e um para fora, “criando um monopolo, ou ao menos seu equivalente matemático”, segundo Lynn.
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![]() quando o spin de um íon em um vértice de um cristal de gelo de spin é invertido, criando um monopolo (a esfera em vermelho) e o monopolo adjacente (esfera em azul) |
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Como cada pirâmide de cristal partilha seus vértices com as pirâmides adjacentes, inverter o spin de um vértice cria um “anti-monopolo” na pirâmide seguinte. A equipe criou pares monopolo-anti-monopolo repetidamente em um pedaço relativamente grande de gelo de spin, permitindo que eles confirmassem a existência dos monopolos através de técnicas avançadas de imageamento, tais como o espalhamento de nêutrons.
Embora as descobertas não digam à equipe onde no universo podem ser encontradas as fugidias partículas de monopolos magnéticos de Dirac, Lynn declara que o exame do gelo de spin permitirá aos cientistas testar algumas previsões acerca dos monopolo: “As equações de Maxwell indicam que esses monopolos devem obedecer à Lei de Coulomb, o que indica que sua interação deve enfraquecer à medida em que a distância entre eles aumenta. Usando cristais de gelo de spin, podemos testar ideias como essa”.
* H. Kadowaki, N. Doi, Y. Aoki, Y. Tabata, T.J. Sato, J.W. Lynn,
K. Matsuhira e Z. Hiroi. Observation of magnetic monopoles in spin
ice. Journal of the Physical Society of Japan,78, nº. 10, 13 Out. 2009. (A equipe apresentou pela primeira vez suas descobertas na Conferência Internacional sobre Espalhamento de Nêutrons em maio de 2009.)
** D. J. P. Morris, et al. Dirac strings and magnetic monopoles in spin ice Dy2Ti2O7. Science, publicado online em 3 Set 2009.
Monopolos magnéticos!… (Opa!… Não é bem assim…)
Pois é… Fazendo um trocadilho, as notícias sobre os monopolos magnéticos foram grandemente exageradas…
Ethan Siegel publicou hoje um post: Magnetic Monopoles? Oh, dear. – esculachando o press-release que eu (todo bobo…) traduzi. A argumentação é bem simples: dois polos em uma mesma coisa – não importa o quão separados estejam – continuam sendo dois polos. E a “coisa” em questão é a bendita “Corda de Dirac”. Ele transcreve o resumo do artigo da Science, grifando a parte importante (que o redator do press-release parece que não leu):
Embora as fontes de campos magnéticos – monopolos magnéticos – tenham, até agora, se mostrado elusivos em tanto quanto partículas elementares, recentemente foram propostos vários cenários na área da física de matéria condensada com quase-partículas emergentes que se assemelham a monopolos.
Ainda citando o post de Siegel:
O que eles fizeram foi criar “cordas” magnéticas, ou magnetos muito longos e finos em uma estrutura, onde os polos Norte e Sul ficam separados por grandes distâncias. Se olharmos apenas uma extremidade da corda, só veremos um polo. Mas o outro polo continua lá, portanto não se trata de um monopolo. Se tentássemos partir a corda, ainda não conseguiríamos isolar uma das cargas magnéticas. A coisa funciona assim:
É claro que Siegel dá o devido valor ao trabalho dos cientistas alemães que realizaram as pesquisas, mas enfatiza que nem eles próprios disseram ter isolado (ou observado) um verdadeiro monopolo magnético.
E o site da Science publicou hoje a seguinte notícia: Físicos criam monopolo magnético – quase isso. Na notícia divulgada pela Science, fica bem claro que “monopolo magnético” é uma “licença poética”, tal como aquela da “divisão dos elétrons”. O que me parece que está acontecendo é que físicos de matéria condensada usam o termo “partícula” com uma certa liberalidade.
Não é, então, de estranhar que surjam confusões entre os meros mortais que não estão habituados ao jargão dos pesquisadores.
Enfim, monopolos magnéticos!

Pela primeira vez monopolos magnéticos são detectados em um magneto real
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Pesquisadores do Helmholtz-Zentrum Berlin für Materialien und
Energie conseguiram, em cooperação com colegas de Dresden, St. Andrews,
La Plata e Oxford, observar pela primeira vez monopolos magnéticos e a maneira pela qual eles emergem em um material real. Eles publicam esse resultado em Science dentro do website Science Express em 3 de setembro.
Monopolos magnéticos são partículas hipotéticas propostas pelos físicos que têm um único polo magnético – um polo Sul, ou um polo Norte. No mundo material isso seria realmente surpreendente porque as partículas magnéticas são normalmente observadas como dipolos – os polos Norte e Sul combinados. No entanto, existem diversas teorias que predizem a existência de monopolos. Entre outros, em 1931 o físico Paul Dirac foi levado por seus cálculos à conclusão de que monopolos magnéticos poderiam existir nas extremidades de tubos – chamados de Cordas de Dirac – que conduzem um campo magnético. Até agora, nenhum monopolo tinha sido detectado.
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Jonathan Morris, Alan Tennant e colegas
(HZB) realizaram uma experiêrncia de espalhamento de nêutrons no reator de pesquisas de Berlin. O material sob investigação era um único cristal de Titanato de Disprósio. Este material se cristaliza em uma geometria notável, a assim chamada estrutura-piroclórica (pyrochlore-lattice). Com o auxílio do espalhamento de nêutrons, Morris e Tennant mostram que os momentos magnéticos dentro do material se reorganizaram no assim chamado “Espaguete-de-Spins” (“Spin-Spaghetti”). Esse nome vem do ordenamento dos próprios dipolos, de forma tal que surge uma rede de tubos contorcidos (cordas), através dos quais passa o fluxo magnético. Estes podem ser tornados visíveis através de sua interação com os nêutrons que têm, eles mesmos, um momento magnético. Dessa forma, os nêutrons se espalham de uma forma que reproduz os momentos das cordas.
Durante as medições do espalhamento dos nêutrons, os pesquisadores aplicaram um campo magnético ao cristal. Com este campo eles podiam influenciar a siemetria e a orientação das cordas. Dessa forma foi possível reduzir a densidade das redes de cordas e promover a dissociação do monopolo. Como resultado, em temperaturas de 0,6 a 2 Kelvin, as cordas ficam visíveis e têm monopolos magnéticos em suas extremidades.
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A assinatura de um gás feito desses monopolos foi igualmente observada, através do calor específico medido por Bastian
Klemke (HZB), fornecendo mais uma confirmação da existência dos monopolos e demonstrando que estes interagem da mesma forma que as cargas elétricas.
No presente trabalho, os pesquisadores atestam, pela primeira vez, a existência de monopolos como estados emergentes da matéria – isto é, que eles emergem de arranjos especias de dipolos e que são completamente diferentes dos constituentes do material.
Em paralelo com este conhecimento fundamental, Jonathan Morris explica que existem implicações adicionais nos resultados:
— Estamos relatando sobre novas e fundamentais propriedades da matéria. Essas propriedades são genericamente válidas para materiais com a mesma topologia, ou seja: para momentos magnéticos na estrutura piroclórica. Isto pode ter grandes repercussões para o desenvolvimento de novas tecnologias. Mas, acima de tudo, é a primeira vez que se observa a fracionalização em três dimensões.
Artigo em Science Express 3 de setembro de 2009:
Dirac Strings and Magnetic Monopoles in Spin Ice Dy2Ti2O7
D.J.P. Morris, D.A. Tennant, S.A. Grigera, B. Klemke, C.
Castelnovo, R. Moessner, C. Czter-nasty, M. Meissner, K.C. Rule, J.-U.
Hoffmann, K. Kiefer, S. Gerischer, D. Slobinsky e R.S. Perry
O baile das moléculas da água
Menlo
Park, Califórnia — A água é familiar para todos — ela dá forma aos nossos corpos e nosso planeta. Porém, apesar de toda essa abundância, a estrutura molecular da água tem permanecido um mistério e as muitas estranhas propriedades dessa substância ainda são mal compreendidas. Um recente trabalho no Laboratório Nacional do Acelerador SLAC (do Departamento de Energia) e várias universidades na Suécia e no Japão está trazendo novas informações sobre as idiossincrasias das moléculas de água e revelando novidades sobre seu comportamento conjunto em grandes quantidades.
Ao todo, a água exibe 66 anomalias conhecidas que incluem uma densidade que varia de modo estranho, um grande calor específico e uma alta tensão superficial. De modo oposto aos outros líquidos “normais” que se tornam mais densos quanto mais baixa for a temperatura, a água alcança sua densidade máxima no entorno dos 4°C. Acima e abaixo dessa temperatura, a água é menos densa; motivo pelo qual os lagos congelam da superfície para baixo, por exemplo. A água também tem uma capacidade incomum de armazenar calor, o que estabiliza a temperatura dos oceanos, e uma alta tensão superficial que permite que insetos caminhem sobre a água, que gotas se formem e que as árvores levem a água a grandes alturas.
— Compreender essas anomalias é muito importante porque a água é a base fundamental de nossa existência: sem água, sem vida. Nosso trabalho ajuda a explicar essas anomalias ao nível molecular nas temperaturas relevantes para a existência da vida – diz Anders Nilsson, cientista do SLAC que lidera as experiências.
Como as moléculas se dispõem na forma sólida da água (gelo) é algo há muito conhecido: as moléculas formam uma grade “tetraédrica”, com cada molécula se ligando a quatro outras. Entretanto, descobrir qual é o dispositivo das moléculas de água líquida se mostrou muito mais difícil. Por mais de 100 anos, essa estrutura foi objeto de um intenso debate. O modelo didático corrente sustenta que, já que o gelo é feito de estruturas tetraédricas, a água líquida deve ser parecida, porém com uma estrutura menos rígida, uma vez que o calor cria desordem e quebra as ligações. Quando o gelo se derrete, diz-se, as estruturas tetraédricas perdem sua força e se quebram com o aumento da temperatura, mas continuam tentando se manter, tanto quanto possível, na estrutura tetraédrica, o que resulta em uma distribuição homogênea em torno de estruturas tetraédricas distorcidas e parcialmente rompidas.
Recentemente, Nilsson e seus colegas dirigiram possantes raios-X gerados pela Fonte de Luz de Radiação Synchrotron Stanford no SLAC e do Synchrotron SPring-8 no Japão, sobre amostras de água líquida. Essas experiências indicaram que o modelo didático da água em temperatura ambiente estava incorreto e que, inesperadamente, existem dois tipos diferentes de estrutura – uma muito desordenada e outra muito tetraédrica – não importa em qual temperatura.
Em um artigo publicado ontem em Proceedings of the National Academy of Sciences, os pesquisadores revelam a descoberta adicional de que os dois tipos de estrutura ficam espacialmente separados, com as estruturas tetraédricas aglomeradas em amontoados de cerca de até 100 moléculas, cercadas por regiões desordenadas; o líquido é uma mistura flutuante desses dois tipos de estrutura em temperaturas que vão da ambiente até o ponto de ebulição. À medida em que a temperatura da água aumenta, restam cada vez menos aglomerados, mas sempre restam alguns deles em amontoados de tamanhos parecidos. Da mesma forma, os pesquisadores descobriram que as regiões desordenadas se tornam mais desordenadas ainda com o aumento da temperatura.
Nilsson descreve:
— Se pode visualizar isso como um restaurante com pista de dança, onde algumas pessoas se sentam em grandes mesas que ocupam um bom pedaço do espaço – como o componente tetraédrico da água – e outras pessoas ficam na pista de dança, de pé e próximas umas das outras e se movendo mais rápido ou mais devagar conforme o ritmo da música – tal como as moléculas nas regiões desordenadas respondem ao calor. Há uma troca de lugares quando as pessoas sentadas resolvem levantar e dançar, enquanto outras se sentam para descansar. Quando a pista de dança fica realmente cheia, as mesas podem ser removidas para abrir espaço para mais dançarinos, e quando as coisas esfriam, mais mesas podem ser trazidas de volta.
Essa compreensão mais detalhada da estrutura molecular e da dinâmica da água líquida em temperaturas ambientes espelha o trabalho teórico sobre água “super-resfriada”: um estado incomum onde a água não vira gelo, embora esteja muito abaixo do ponto de congelamento. Os teóricos postulam que, nesse estado, o líquido seja composto de uma mistura continuamente flutuante de estruturas tetraédricas e outras mais desordenadas, com a proporção entre os dois tipos variando em função da temperatura — exatamente como Nilsson e colegas descobriram ser o caso com a água nas temperaturas ambientes importantes para a vida.
— Antes, quase ninguém pensava que tais flutuações que levam a estruturas locais diferentes, existissem em temperaturas ambientes – diz Nilsson – Mas foi precisamente o que achamos.
Esse novo trabalho explica, em parte, as estranhas propriedades do líquido. O máximo de densidade da água a 4°C pode ser explicado pelo fato de que as estruturas tetraédricas são de menor densidade que não varia significativamente com a temperatura, enquanto que as regiões mais desordenadas – que têm maior densidade – se tornam mais desordenadas e portanto menos densas, com o aumento da temperatura. Da mesma forma, quando a água se aquece, a porcentagem de moléculas no estado mais desordenado aumenta, o que permite a essa estrutura excitável absorver significativas quantidades de calor, o que leva ao alto calor específico da água. A tendência da água em formar fortes pontes de hidrogênio explica a tensão superficial da qual se aproveitam os insetos para caminhar pela superfície.
Conectar a estrutura molecular da água com suas propriedades em grandes quantidades é algo tremendamente importante para campos do conhecimento que vão da medicina e biologia, à pesquisa de energia e climatológica. Congcong Huang, um pesquisador que realizou as experiências de difração de raios-X, declara:
— Se não conhecermos este material básico para a vida, como podemos estudar os materiais mais complexos dos quais é feita a vida – tal como as proteínas – que são imersos na água? Temos que compreender o simples, antes de podermos compreender o complexo.
Essa pesquisa foi realizada por cientistas do SLAC, Universidade de Estocolmo, Spring-8, Universidade de Tóquio, Universidade de Hiroshima e Universidade de Linkoping. O trabalho for financiado pela Fundação Nacional de Ciência (EUA), Fundação Sueca de Pesquisa Estratégica, Conselho Sueco de Pesquisas, Centro Nacional de Supercomputadores da Suécia e pelo Minsitério Japonês de Educação, Ciência, Esportes e Cultura.
O SLAC National Accelerator Laboratory é um laboratório multi-funcional que explora questões avançadas de ciência de fótons, astofísica, física de partículas e pesquisa com aceleradores. Localizado em
Menlo Park, California, o SLAC é operado pela Universidade de Stanford para o Escritório de Ciência do Departamento de Energia dos EUA.
Os elétrons são indivisíveis? Talvez…
uma equipe das Universidades de Cambridge e Birmingham demonstrou que os elétrons em fios estreitos pode se dividir em duas novas partículas chamadas spinons e holons.
O “se dividir” é meio que uma licença poética… O que realmente acontece é que em um fio excepcionalmente fino (chamado de “fio quântico”) os elétrons (que têm cargas EM iguais) se repelem mutuamente e criam o que, em física de matéria condensada, se chama de elétron-buraco: uma ausência de um elétron que funciona como se houvesse um posítron no espaço correspondente.
Em 1981 o físico Duncan Haldane conjeturou teoricamente que, nessas condições de limitação de espaço e em temperaturas extremamente baixas, os elétrons iriam se comportar de maneira que seus campos elétrico e magnético assumisse a forma de duas partículas distintas que ele chamou de spinions (de “spin”) e holons (de “hole” = “buraco” em inglês).
O desafio consistia em criar um “fio quântico” que confinasse os elétrons, e trazer esse fio próximo o suficiente de um metal comum, de forma que os elétrons do metal pudessem realizar um “salto quântico” (por meio do “tunelamento quântico”) para dentro do fio. Observando como o ritmo de saltos varia em função de um campo magnético aplicado, a experiência pode revelar como o elétron, ao entrar no fio quântico, se “separa” em spinions e holons.
Isso foi feito mediante a colocação de um pente de fios acima de uma nuvem plana de elétrons em um metal. Assim, os físicos de Cambridge, Yodchay Jompol e Chris Ford, puderam ver distintamente as assinaturas das novas partículas, exatamente como os teóricos, Tim Silk e Andy Schofield, de Birmingham tinham previsto.
O Dr Chris Ford do Laboratório Cavendish da Univesidade de Cambridge descreve:
“Tivemos que desenvolver uma nova tecnologia para fazer passar uma corrente entre um fio e uma folha [metálica] separadas por apenas 30 diâmetros atômicos.”
“As medições tiveram que ser realizadas em temperaturas extremamente baixas: cerca de um décimo de grau acima do zero absoluto.
“Os fios quânticos são largamente empregados para conectar ‘pontos’ quânticos, os quais podem vir a ser no futuro a base de um novo tipo de computador – o chamado computador quântico. Assim, compreender suas propriedades pode ser importante para tais tecnologias quânticas, além de auxiliar no desenvolvimento de teorias mais completas sobre a super-condutividade e a condutividade nos sólidos em geral. Isto pode levar a uma nova revolução nos computadores”.
O Professor Andy
Schofield, da Escola de Física e Astronomia da Universidade de Birmingham, diz:
“O experimento para testar isso se baseia em uma ideia que eu e mais três colegas tivemos, fazem quase dez anos. Naquela época, a tecnologia necessária para realizar o teste ainda estava a anos de distância.”
“O notável nesta nova experiência não é somente a clareza com que se pode observar o spinion e o holon, o que confirma alguns estudos anteriores, mas que o spinion e o holon sejam visíveis bem além da região originalmente imaginada por Duncan Haldane”.
“Nossa capacidade em controlar o comportamento de um único elétron é a responsável pela revolução dos semicondutores que levou a computadores mais baratos, iPods e outros. Se vamos ser capazes de controlar essas novas partículas com o mesmo sucesso dos elétrons isolados, é algo ainda por se descobrir. O que isso revela é que espremer elétrons em um ambiente confinado faz emergir novas propriedades e até novas partículas”.
Notas:
1. O artigo original foi publicado em Science 10.1126/science.1171769 em http://dx.doi.org/10.1126/science.1171769
2.
A experiência foi realizada no Laboratório Cavendish em Cambridge com o apoio teórico da Escola de Física e Astronomia da Universidade de Birmingham.
Em nano-escala, se pode quebrar a lei
[ traduzido deste press-release do MIT ]
Quebrando a lei, na nano-escala
Colocar objetos extremamente perto um do outro pode aumentar a transferência de calor por radiação, de acordo com um novo estudo que demonstra a quebra da Lei de Planck
Por David L. Chandler,
MIT News Office
29 de julho de 2009
Uma lei firmemente estabelecida da física descreve a transferência de calor entre dois objetos, porém alguns físicos a muito tempo prediziam que essa lei deveria ser quebrada quando os objetos estivessem muito próximos. Entretanto, os cientistas jamais tinham podido confirmar – sequer medir – essa quebra na prática. Pela primeira vez, os pesquisadores do MIT conseguiram realizar esse feito e comprovaram que a transferência de calor pode ser até 1.000 vezes maior do que o previsto na lei.
As novas descobertas podem levar a novas aplicações significativas que incluem melhores projetos das cabeças de gravação dos discos rígidos usados para a armazenagem de dados em computadores e novos tipos de dispositivos para coletar a energia do calor que, de outra forma, seria desperdiçada.
A Lei da Radiação do Corpo Negro de Planck, formulada em 1900 pelo físico alemão Max Planck, descreve como a energia é dissipada na forma de diferentes comprimentos de onda de radiação, a partir de um objeto ideal não-reflexivo, chamado de corpo negro. A lei diz que a emissão proporcional de radiação em diferentes comprimentos de onda segue um padrão preciso que varia de acordo com a temperatura do objeto. A emissão de um corpo negro é usualmente considerada o máximo que um objeto pode irradiar.
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Professor Gang Chen com a câmara de vácuo usada nesta pesquisa. (Foto: cortesia de Gang Chen) |
A lei funciona perfeitamente na maioria dos casos, porém o próprio Planck sugeriu que, quando os objetos estivessem muito próximos, as previsões feitas pela lei seriam quebradas. No entanto, controlar os objetos de forma a manter as minúsculas separações necessárias para demonstrar este fenômeno se provou uma tarefa incrivelmente.
Gang Chen, Professor “Carl Richard Soderberg” de Engenharia de Energia e diretor do Laboratório Pappalardo de Micro e Nano Engenharia do MIT, explica: “Planck foi muito cuidadoso ao dizer que sua teoria só era válida para sistemas grandes. Dessa forma ele meio que antecipou essa quebra, mas a maioria das pessoas não sabe disto”.
Parte do problema em medir a forma como a energia é irradiada quando os objetos estão muito próximos reside na dificuldade mecânica em manter os objetos em estreita proximidade sem que eles realmente se toquem. Chen e sua equipe, o estudante de pós-graduação Sheng
Shen e o Professor da Universidade de Columbia Arvind Narayaswamy, solucionaram este problema de duas maneiras, descritas em um artigo a ser publicado na edição de agosto de Nano Letters (atualmente disponível online). Em primeiro lugar, ao invés de usar duas superfícies planas e tentar manter um minúsculo intervalo entre elas, eles usaram uma superfície plana próxima de uma pequena conta de vidro redonda, cuja posição é mais fácil de controlar. “Se usarmos duas superfícies paralelas, fica muito difícil levá-las à escala nanométrica sem que algumas partes se toquem”, explica Chen, mas com o uso de uma conta só há um único ponto de quase-contato, o que é bem mais fácil de manter. Em segundo lugar, eles usaram a tecnologia do cantilever bimetálico de um microscópio de força atômica para medir as mudanças de temperatura com grande precisão.
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Foto: cortesia de Sheng Shen. Diagrama do dispositivo, inclusive um cantilever de um microscópio de força atômica, usado para medir a transferência de calor entre objetos separados por distância na faixa de nanômetros. |
“Por muitos anos tentamos fazê-lo com placas paralelas”, descreve Chen. Mas com esse método não foram capazes de manter separações menores do que cerca de um mícron (um milionésimo de metro). Usando contas de vidro (sílica), eles conseguiram obter separações de até 10 nanômetros (10 bilionésimos de metro, ou seja, um centésimo da distância conseguida anteriormente) e agora estão tentando obter separações menores ainda.
O professor Sir John Pendry do Imperial College London, que realizou extensos trabalhos neste campo, chama os resultados de “muito entusiasmantes”, ao mesmo tempo que observa que os teóricos desde há muito previam essa quebra e a ativação de um mecanismo mais poderoso.
“A confirmação experimental se mostrou elusiva por causa da extrema dificuldade em medir diferenças de temperatura em distâncias muito pequenas”, diz Pendry. “As experiências de Gang Chen dão uma elegante solução para essa dificuldade e confirmam a contribuição preponderante dos efeitos de campo próximo na transferência de calor”.
Nos sistemas atuais de gravação magnética de dados – tais como o usado nos discos rígidos de computador – o espaçamento entre a cabeça de gravação e a superfície do disco fica tipicamente na faixa de 5 a 6 nanômetros, diz Chen says. A cabeça tende a se aquecer e os pesquiadores têm procurado por meios para gerenciar esse calor e até mesmo explorar o aquecimento para controlar o espaçamento. Segundo ele, “é uma questão muito importante para a armazenagem de dados”. Tais aplicações podem ser desenvolvidas bem rapidamente – prossegue ele – e algumas companhias já mostraram um grande interesse pelo trabalho.
As novas descobertas podem também auxiliar o desenvovimento de novos dispositivos de conversão de energia fotovoltáica para captar os fótons emitidos por uma fonte de calor, chamada de termofotovoltáica. Segundo Chen, “O alto fluxo de fótons potencialmente pode permitir a fabricação de conversores de energia termofotovoltáicos mais eficientes e com maior densidade de energia, e até dispositivos totalmente novos de conversão de energia”.
Shen diz que as novas descobertas podem ter “um largo impacto”. As pessoas que trabalham com dispositivos que usam separações muito pequenas, agora podem entender claramente que a Lei de Planck “não é uma limitação fundamental”, como muitos pensavam até agora. Mas Chen adverte que mais pesquisas são necessárias para explorar separações ainda menores porque “não sabemos exatamente qual é o limite ainda” em termos de quanto calor pode ser dissipado em sistemas estreitamente separados. “As teorias correntes não serão mais válidas quando passarmos do intervalo de 1 nanômetro”.
E ele finaliza: “além das aplicações práticas, tais experimentos podem ser uma ferramenta útil para compreender alguma física básica”.
O trabalho foi financiado pelo Departamento de Energia e pelo Escritório de Pesquisa Científica da Força Aérea dos EUA.