Matéria escura! (será mesmo?…)

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Registrado um possível sinal de Matéria Escura

Crédito da Imagem: NASA

Pesquisadores reagem com um misto de entusiasmo e dúvida às descobertas do telescópio

Publicado originalmente em: 8 de Novembro de 2012 – 10:30
Por: Mike Lucibella, Contribuidor do ISNS

(ISNS) — Um sinal, aparentemente vindo do centro de nossa galáxia, pode ser o indício que os físicos vem esperando longamente da existência da matéria escura, a misteriosa substância que se supõe que representa a massa que falta no universo.

No entanto, no recém-concluído Simpósio Internacional Fermi em Monterey, Califórnia, os pesquisadores também não foram capazes de excluir inteiramente a possibilidade de que um problema no telescópio seja a causa da assinatura de energia inesperada.

Aproximadamente 80% da matéria do universo é invisível e, por décadas, os cientistas tem procurado uma explicação. Em abril os cientistas encontraram pela primeira vez o que poderia ser o “Santo Graal” da astrofísica: um aparente sinal de partículas dessa matéria escura.

Os físicos que examinaram os dados do Telescópio Espacial Fermi de Raios Gama da NASA encontraram um inesperado pico de partículas de luz de alta energia, conhecidas como fótons de raios Gama, vindos do centro da galáxia. Desde então, várias equipes independentes analisaram os dados e ofereceram diferentes explicações, porém ninguém, até agora, foi capaz de afirmar definitivamente se o que estamos vendo é mesmo um sinal da matéria escura, ou algum erro no telescópio.

“Eu estou razoavelmente certo de que não sabemos ainda”, ironizou Eric Charles, físico de Stanford e membro da equipe do Telescópio Fermi telescope. “Nós não temos um bom sinal de calibragem nessas energias”.

O sinal em potencial entusiasmou os astrofísicos porque ele parece se encaixar bem em uma das principais teorias sobre a composição da matéria escura. A maior parte dos físicos pensa que o principal componente da matéria escura seja um tipo de partícula, ainda por descobrir, chamado de “WIMP” (acrônimo de “weakly interacting massive particle” – “partícula maciça de interação fraca” – um trocadilho, já que “wimp” significa “covardão” e a essas partículas se opõem aos “MACHOS” – acrônimo de “Massive astrophysical compact halo object”, “objeto astrofísico maciço de halo compacto” – que seriam o restante da matéria escura). As WIMPS não interagem com a luz, de forma que são completamente invisíveis.

No entanto, uma colisão entre duas WIMPS pode produzir partículas de luz de alta energia. Os cientistas supõem que as partículas de matéria escura possam ser suas próprias antipartículas. De acordo com a teoria, se duas partículas de matéria escura entrarem em contato, elas se aniquilarão e criarão um par de fótons de alta energia, o que pode ser o que o Telescópio Fermi está detectando.

“É exatamente o que seria de se esperar de fótons gerados por matéria escura”, diz Stefano Profumo, um físico de astro-partículas da Universidade da California, Santa Cruz, que escreveu seu próprio relatório independente sobre a pesquisa. “Eu penso que não há outro processo astrofísico [conhecido] que possa imitar o que estamos vendo nos dados”.

Os sinais são sedutores, mas ainda existem muitas questões não respondidas sobre o que eles são ou até mesmo se eles estão realmente lá.

“A resposta é que realmente não sabemos”, diz Dan Hooper do Laboratório Nacional do Acelerador Fermi, em Illinois. Ele se declara inclinado a achar que o que o telescópio está mostrando é o resultado de algum erro ou imperfeição no próprio telescópio. “Eu não tenho certeza de que é uma falha dos instrumentos, mas é o que meus instintos me dizem”.

Os cientistas no simpósio também levantaram questões sobre se o sinal não será devido a um problema ainda desconhecido no telescópio. .

Charles sublinhou o fato de que também se observa um pico de raios gama no mesmo comprimento de onda quando se aponta o telescópio para a borda da Terra, longe do centro da galáxia.

Os raios cósmicos que bombardeiam a atmosfera da Terra produzem uma distribuição predizível e equânime de energia que os cientistas usam para calibrar os instrumentos no Telescópio Fermi. No entanto, um pico inesperado no mesmo nível de energia que o centro da galáxia, continua aparecendo, toda vez que se aponta o telescópio para o horizonte terrestre.

“Isso é preocupante”, argumenta Charles, que acrescenta que isso pode ser um indício de um problema com os instrumentos. O telescópio insiste em medir fótons com uma energia idêntica de 130 bilhões de elétron-volts (130 GeV), mais de 500 milhões de vezes mais energéticos do que um fóton de luz verde. Para aumentar ainda mais a confusão, o sinal não aparece em qualquer outro lugar para onde o telescópio for apontado, a não ser para a borda da Terra e para o centro da  Via Láctea.

Outro pesquisador da equipe do Fermi da NASA, Andrea Albert da Universidade do Estado de Ohio, reprocessou os dados, introduzindo uma correção para possíveis danos por radiação ao telescópio, e descobriu que a linha se deslocou ligeiramente e ficou menos intensa. Sua significância estatística foi reduzida e o pico que era na faixa de 130 GeV, passou a ser na faixa de 135 GeV.

“Não está completamente descartado ainda”, disse Albert. “Nós realmente temos razões para estarmos suspeitosos e e se realmente se trata de uma linha de matéria escura”.

O aparente  ponto de origem do sinal também foi alvo de extenso escrutínio. A gravidade deveria puxar a matéria escura para o centro da galáxia; no entanto, o sinal parece estar vindo de um ponto a alguns graus de distância do centro.

Kanishka Rao, um físico da Universidade da California, Irvine, defendeu o caso a favor da matéria escura, calculando que ainda há uma chance de 20% de que o sinal venha mesmo do centro da galáxia.

“É estatisticamente consistente que, mesmo que se tenha um halo de matéria escura no cento, ainda assim se possa ver um sinal deseixado do centro, já que há tão poucos fótons”, argumentou Rao.

Sua equipe também encontrou indícios nos dados de um segundo e mais difuso pico, vindo do centro da galáxia. Segundo ele, esse segundo sinal, na faixa dos 110 GeV, também seria consistente com uma descoberta de matéria escura. Se duas WIMPs colidirem, existe uma chance de ocorrer igualmente uma colisão com uma terceira partícula, um bóson Z, o que roubaria um pouco da energia de um dos dois fótons.

Os cientistas já começaram a trabalhas em novos meios para verificar se os sinais realmente estão lá. O Fermi já está coletando mais dados e estes devem ser processados e divulgados em algum ponto do ano que vem. Além disso o Telescópio Estereoscópico de Alta Energia na Namibia deve varrer a mesma região do céu em 2013.


Mike Lucibella é um contribuidor do Inside Science News Service.

Monteiro Lobato é racista? Pior: é obsoleto

O que motiva este post é outro post do meu querido Declev no Diário de um Professor, a respeito da discussão (que chegou ao Supremo) sobre supostos conteúdos racistas na obra de Monteiro Lobato, mais exatamente no livro “Caçadas de Pedrinho”, livro este proposto como livro-texto para estudantes.

A primeira constatação que se deve fazer é que Lobato – como, de resto, a elite intelectual brasileira de sua época – é racista, sim. É racista e eurocentrista como todos os “bem-pensantes” da primeira metade do século passado. Antes de sair me xingando de iconoclasta, burro, ou qualquer outro epiteto, é sempre bom lembrar que “preconceito” é exatamente o que a origem etimológica sugere: um “conceito” (uma ideia) que uma pessoa absorve de uma cultura existente, sem que essa ideia passe pelo crivo de uma análise lógica. E eu me confesso racista: a todo momento tenho que fazer minha razão protestar contra os preconceitos que eu adquiri quando era criança e que eram tidos como “verdades por si só evidentes”.

Será, então, que o livro “Caçadas de Pedrinho” deve ser banido da bibliografia escolar?… Eu opino que sim. Não só pelas duas ou três referências derrisórias à personagem “Tia Nastácia” por ser negra, mas, principalmente, por deixar subentendido que caçar animais silvestres (especialmente a onça-pintada – espécie ameaçada de extinção) é algo digno de louvor.

Na época em que Lobato escreveu o livro, nada disso era tido como pernicioso. Nenhum negro iria se manifestar ofendido pela caracterização de Tia Nastácia como analfabeta, ignorante, supersticiosa, porque isso não era ficção; era a realidade para a esmagadora maioria dos negros no Brasil, recém saídos da escravidão e sem a menor chance de progresso social. Para ser mais enfático, quando eu era criança, quase metade dos brasileiros eram analfabetos e dava para contar nos dedos quantos dos alfabetizados eram negros ou mestiços de negro (e, para apresentar a exceção que confirma a regra, um dos meus colegas de infância era filho de um desses negros, um deputado federal e sociólogo de boa cepa).

Igualmente, uma das oportunidades que um menino tinha de “se mostrar homem-feito”, era exatamente participar de caçadas – coisa que grande parte daqueles que moravam no interior faziam até mesmo por questão de subsistência. Onça, ainda tinha muita…

O caso é que a sociedade que Lobato descreve e onde ambienta suas obras é coisa do passado. As crianças de hoje não vivem mais em um mundo onde o meio de comunicação mais rápido é o telegrama. As fazendas das Vovós “Benta Encerrabodes de Oliveira” não são mais vizinhas de matas onde se encontre um mísero cachorro-vinagre; estes e outros animais silvestres são, cada vez com mais frequência, encontrados vagando atônitos por bairros de cidades que invadiram seu habitat.

Eu cresci lendo Lobato e meus filhos ainda curtiram Lobato adaptado para a televisão. E a própria versão para televisão já fazia algumas concessões. Por exemplo, “pirlimpimpim” tinha deixado de ser um pó (com conotações óbvias) e passado a ser uma palavra-mágica… Ah!… Sim… Na primeira metade do século passado, cocaína era algo que se comprava na farmácia para dor de dentes.

Hoje, eu não consigo fazer meu neto largar os “animes” e “mangas” e se interessar por um sabugo de milho com ares de fidalgo e filósofo.

Se é com esses textos de (nas palavras de Lobato) uma sensaboria relambória que pretendem ensinar o português a nossas crianças de hoje, boa sorte!… Talvez seja possível cativar ainda algum futuro (sempre nas palavras de Lobato) “Sr. Coisado Pereira, intelectual de Pilão Arcado, onde vive tísico e todo caspas” que venha a escrever outra obra como “A Mulatinha do Caroço no Pescoço” (obra e autor fictícios, extraídos de um texto de Lobato defendendo a tradução dos clássicos estrangeiros).

Fica para o Supremo descascar este abacaxi… E, para os que são incapazes de reconhecer as limitações de uma “vaca-sagrada”, acreditar na máxima: “O que foi bom para meu avô e meu pai, foi também bom para mim e será bom para meus filhos e netos”.

Lobato estaria corado de vergonha…

Ondas gravitacionais produzidas por estrelas anãs brancas

Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics

Anãs brancas encurvam o espaço e produzem ondas gravitacionais

 IMAGEM: Esta é uma concepção artística do sistema J0651, com as ondulações realçadas para mostrar como o par de anãs brancas está emitindo ondas gravitacionais.

Clique aqui para mais informações. 

Ondas gravitacionais – de maneira bem parecida com o recém descoberto bóson de Higgs – são notoriamente difíceis de observar. Os cientistas conseguiram detectar pela primeira vez essas ondulações na textura do espaço-tempo de maneira indireta, por meio dos sinais de radio de um sistema binário composto por um pulsar e uma estrela de nêutrons. Essa descoberta – que precisou de uma sincronização extremamente precisa dos sinais de radio – rendeu um Prêmio Nobel à equipe que a realizou. Agora uma equipe de astrônomos detectou o mesmo efeito na faixa de luz visível, na luz de um par de anãs-brancas que se eclipsam alternadamente.

“Este resultado marca uma das detecções mais limpas e fortes do efeito de ondas gravitacionais”, declarou Warren Brown, membro da equipe do Observatório Astrofísico Smithsonian (Smithsonian Astrophysical Observatory = SAO).

A equipe descobriu o par de anãs brancas no ano passado (anãs brancas são os remanescentes dos núcleos de estrelas parecidas com nosso Sol). O sistema, chamado SDSS J065133.338+284423.37 (ou, abreviadamente, J0651), contém duas anãs brancas tão próximas entre si – apenas um terço da distância entre a Terra e a Lua – que completam uma órbita em menos de 13 minutos.

“A cada seis minutos as estrelas do J0651 se eclipsam entre si, tal como visto da Terra, o que as torna um cronômetro sem paralelo e preciso, a uns 3.000 anos-luz de distância”, diz o autor principal do estudo,  J.J. Hermes, um estudante de pós-graduação que trabalha com o Professor Don Winget na Universidade do Texas em Austin.

A Teoria da Relatividade Geral de Einstein prediz que objetos em movimento criam ondulações sutis na tessitura do espaço-tempo, chamadas de ondas gravitacionais. Essas ondas gravitacionais devem ser capazes de transportar energia, fazendo com que as estrelas muito lentamente se aproximem mais ainda e orbitem cada vez mais rápido. A equipe foi capaz de detectar esse efeito no J0651.

“Em comparação com abril de 2011, quando descobrimos este objeto, os eclipses estão agora ocorrendo seis segundos antes do esperado”, declarou o membro da equipe Mukremin Kilic da Universidade de Oklahoma.

“Este é um efeito da relatividade geral que se pode medir com um relógio de pulso”, acrescentou Warren Brown do SAO.

O sistema J0651 vai prover a oportunidade de comparar futuras detecções diretas, com base no espaço, de ondas gravitacionais, com aquelas inferidas a partir do decaimento orbital, o que vai proporcionar importantes benchmarks para nossa compreensão do funcionamento da gravidade.

A equipe espera que o período encurte ainda mais e mais a cada ano, com os eclipses acontecendo mais de 20 segundos antes do (de outra forma) esperado no entorno de maio de 2013. As estrelas vão eventualmente se fundir, em cerca de dois milhões de anos. Observações futuras continuarão a medir o decaimento orbital desse sistema e vão tentar entender como as forças de marés afetam a fusão dessas estrelas.

 

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[Livro]: Os números (não) mentem


Se você é um leitor assíduo dos ScienceBlogsBR, provavelmente já desconfiou de alguns números que a midia costuma divulgar com uma enorme liberalidade. Desde o famoso “Nove entre dez estrelas de cinema usam sabonete Lux”, até algumas “pérolas” da pesquisa “científica”.

Charles Seife – professor de jornalismo na Universidade de Nova York e mestre em matemática pela Universidade Yale – faz um apanhado bem humorado das diversas formas pelas quais os números podem ser usados para dar uma falsa impressão de veracidade a afirmativas disparatadas, desonestidades comerciais, políticas e até jurídicas – é, é claro, pseudo-científicas.

Como nada é perfeito, cabe um caveat: o livro é dirigido primariamente ao público dos Estados Unidos e os exemplos oferecidos são todos tirados daquele país. Sendo assim, o leitor mais impaciente pode se perder nos capítulos 5 e 6 que tratam das maracutaias numéricas que são lugar-comum naquilo que os americanos adoram endeusar como “democracia representativa” (e que você descobre que é tão “coronelista” como qualquer banana-republic). Mas vale o esforço para entender o que é uma “gerrymandra” (e, de tabela, entender por que as “raposas-felpudas” da política tupiniquim se empenham tanto com o tal “voto distrital”) e perceber que o tal “primeiro-mundo” não sabe se valer de tecnologias bastante simples…

Mas isso é um detalhe de menor importância em um livro que nos abre os olhos para o uso indiscriminado de cifras (muitas simplesmente inventadas e que o autor rotula como “Números de Potemkim” – e eu não vou dar um spoiler e explicar o motivo) para fazer soar como convincente uma argumentação sem bases reais.

Depois que você ler esse livro (e eu estou certo de que você vai fazer isso e não vai se arrepender), grande parte das notícias que você vai ler, vão parecer suspeitas… e você vai constatar que são mesmo mentira.

Números, realmente não mentem… assim como armas não matam (se não houver um agente para acioná-las). Mas sempre se pode mentir (e muito!), até mesmo usando números perfeitamente honestos.

Finalmente, tenho que chamar a atenção para a primorosa tradução de Ivan Weisz Kuck que consegue tornar uma obra cheia de expressões idiomáticas intraduzíveis em um texto perfeitamente compreensível em português. (Infelizmente, o título original é um desses casos… Proofiness é um neologismo cabeludo).

Seife, Charles. Os números (não) mentem: como a matemática pode ser usada para enganar você. Tradução de Ivan Weisz Kuck, revisão técnica Samuel Jurkiewicz. Rio de Janeiro, Zahar, 2012. Título original: Proofiness: the dark art of mathematical deception.

 

 

Nova partícula observada no LHC


Traduzido de: When Protons Collide: New Particle Observed at Large Hadron Collider

A busca pelo Bóson de Higgs revela uma nova partícula

Illustration of two gamma rays, yellow lines, and red towers measured in eletromagnetic calorimeter.Um evento candidato típico da Experiência CMS (Compact Muon Solenoid) na busca pelo Bóson de Higgs.
Crédito e imagem ampliada

4 de julho de 2012

Os físicos do LHC (Large Hadron Collider) observaram uma nova partícula e futuras análises podem demonstrar que se trata do longamente procurado Bóson de Higgs, a peça que faltava no Modelo Padrão da física de partículas.

Em dezembro último,  os experimentos CMS e ATLAS já haviam anunciado fortíssimos indícios da descoberta de uma nova partícula em sua busca pelo Higgs. Desde então, a quantidade de dados coletados mais do que dobrou, o que levou ao anúncio de hoje (4 de julho). No esforço internacional estão envolvidos mais de 1.700 cientistas, engenheiros, técnicos e estudantes de pós-graduação, somente nas instituições dos EUA, que ajudaram a projetar, construir e operar o acelerador LHC e seus quatro detectores de partículas.

Os cientistas nas experiências no LHC anunciaram seus mais recentes resultados em um seminário na sede do LHC, o laboratório do CERN, na fronteira de França e Suíça. Físico por todos os Estados Unidos se reuniram em seus laboratórios durante a noite para assistir um streaming ao vivo do seminário. Os cientistas ainda fariam uma apresentação mais detalhada na Conferência Internacional de Física de Altas Energias (bi-anual) que este ano se realiza em Melbourne, Australia.

“O que foi anunciado hoje não poderia ter sido conseguido sem a cooperação dos cientistas e das nações por todo o mundo na busca da compreensão das leis fundamentais da natureza”, declarou Ed Seidel, diretor-assistente para as Ciências Físicas e Matemáticas da NSF. “Se a partícula anunciada hoje no CERN for confirmada como sendo o Bóson de Higgs, isto representará uma pedra fundamental em nosso conhecimento das forças elementares e suas partículas que existem em nosso universo”.

Ao longo de mais de quatro décadas de testes experimentais, os pesquisadores descobriram que o Modelo Padrão da física de partículas tinha previsto corretamente e explicado as forças e partículas elementares da natureza. Mas o Modelo Padrão não pode explicar, sem o Bóson de Higgs, como a maioria dessas partículas adquire massa, um ingrediente chave na formação de nosso universo.

Em 1964 os cientistas propuseram a existência de uma nova partícula, agora conhecida como o Bóson de Higgs, cujo acoplamento com outras partículas determinaria suas massas. Diversos experimentos procuraram pelo Bóson de Higgs, mas ele sempre escapou da detecção. Somente agora, após décadas de desenvolvimento nas tecnologias de aceleradores, detectores e computação – isso sem mencionar os avanços na compreensão do restante do Modelo Padrão – os cientistas estão próximos do momento de saber se o Higgs é a solução correta para o problema.

“Até agora a teoria vem nos guiando”, declarou o físico da Universidade da California em Santa Barbara, Joe Incandela, porta-voz da experiência CMS. “Se começarmos a ver algo em nossa experiência, teremos um novo guia. É a natureza. É a coisa real”.

Quando os prótons colidem no Large Hadron Collider, sua energia pode se converter em massa, criando frequentemente partículas de vida breve. Essas partículas decaem rapidamente em partículas mais leves e mais estáveis que os cientistas podem registrar em seus detectores.

Os físicos teóricos previram a taxa de produção do Bóson de Higgs em colisões próton-próton em altas energias no LHC, assim como eles decairiam em certas combinações de partículas observáveis. Os físicos experimentais na ATLAS e CMS estudaram essas colisões e obtiveram indícios da existência de uma nova partícula que decai de modo consistente com as previsões feitas para o Higgs. Eles terão que coletar mais dados e realizar mais análises para estabelecer as propriedades dessa nova partícula.

“Se o Bóson de Higgs for descoberto, a atenção se voltará para uma nova série de questões importantes”, diz o físico da Universidade da California em Irvine, Andy Lankford, porta-voz auxiliar da ATLAS. “Esta nova partícula é o Higgs do Modelo Padrão, ou é uma variante que indica uma nova física e outras novas partículas?”

A descoberta do Higgs – ou uma outra nova partícula – representaria apenas um novo primeiro passo para um novo reino da compreensão do mundo que nos cerca.

-NSF-

Físicos detectam uma nova partícula pesada

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Um evento de colisão próton-próton na experiência CMS, produzindo dois fótons de alta energia (os traços grossos em vermelho). Isso é o que se pode esperar do decaimento de um Bóson de Higgs, mas também é consistente com outros processos físicos mais comuns.
Crédito da Imagem: CERN. © CERN 2012

A assinatura se parece com o longamente procurado Bóson de Higgs.

4 de julho de 2012
Por: Virat Markandeya, Contribuidor do ISNS

(ISNS) — Cientistas de duas experiências no Grande Colisor de Hádrons (Large Hadron Collider = LHC) na Eurpoa confirmaram a existência de uma nova partícula pesada, muito provavelmente a longamente procurado Bóson de Higgs, graças aos dados de colisões de partículas que resultaram em uma certeza a nível de descoberta, após análise. Os resultados, anunciados em uma importante conferência sobre física de partículas em Melbourne, Australia, marcam o ápice de uma busca por uma partícula pesada que, se acredita, é quem dá a massa a outras partículas elementares tais como elétrons e quarks.

O anúncio representa a mais recente proeza do acelerador de partículas de 9 bilhões de dólares na fronteira franco-suíça, que esmaga partículas subatômicas – mais exatamente prótons – em energias extremamente altas para recriar as condições que se pensa ter existido nas frações de segundo que se seguiram ao Big Bang.

“Para mim, a coisa mais incrível é que tenha acontecido durante minha vida”, declarou Peter Higgs, o teórico britânico de quem a partícula tem o nome e que estava presente na conferência e por vezes parecia sufocado pela emoção. As ideias estavam no ar quando Higgs escreveu um breve artigo de duas páginas em 1964 que fez com que a partícula fosse apelidada de “Bóson de Higgs”. O Higgs era a última partícula ainda não descoberta prevista pelo Modelo Padrão, a teoria básica das partículas e forças da natureza, e que guarda a promessa da revelação de novos fenômenos físicos.

Foi a realização para uma geração de cientistas. “Lágrimas me vieram aos olhos quando o número 5-Sigma apareceu”, diz Howard Gordon do Laboratório Nacional de Brookhaven, que é o Gerente Assistente de Programa da experiência ATLAS para os EUA no LHC. O contingente americano da ATLAS, baseado em Brookhaven e constituído por mais de 700 pessoas de 44 instituições, auxiliou a construir vários de seus detectores e maneja cerca de 20% do esforço mundial de computação envolvido na simulação e análise dos dados do ATLAS.

As duas experiências, CMS e ATLAS, analisaram dados de decaimento de partículas de aproximadamente 500 trilhões de colisões.  Joe Incandela, porta-voz da experiência CMS, explica que, se você imaginar cada colisão como um grão de areia, você teria areia bastante para encher uma piscina olímpica. No entanto, as colisões relacionadas com o Higgs são tão raras que os grãos de areia só cobririam a ponta de um dedo.

Na conferência ICHEP2012 nesta manhã, ambos os grupos relataram “bumps” em seus dados de colisões que indicam a presença de uma partícula com uma massa no entorno de 125-126 bilhões de elétrons-volt (abreviadamente, GeV). Isso é uma massa mais de cem vezes maior do que a do próton, o núcleo de um átomo de hidrogênio que tem apenas cerca de 1 GeV.

Cada uma das experiências do LHC confirmou esses resultados até cerca de 5-sigmas de certeza, o que indica que há uma probabilidade menor do que uma em um milhão de que esses dados sejam meras coincidências, resultantes de algo diferente da presença de uma nova partícula.

“Temos uma nova partícula consistente com um Bóson de Higgs”, declarou Rolf-Dieter Heuer, Diretor-Geral do CERN.

A nova partícula foi detectada a partir dos chuveiros de partículas nas quais ela decai. O Modelo Padrão prediz que o Higgs pode decair em pares de cerca de meia dúzia de tipos de partículas, porém outros tipos mais comuns de matéria podem também apresentar decaimentos semelhantes. Assim, os físicos experimentais têm que rastrear os eventos em cada uma das maneiras nas quais o Higgs pode decair e procurar por excessos inesperados nesses eventos. Mal comparando, é como lançar um dado milhares de vezes para saber se ele está viciado.

A experiência CMS estudou cinco canais de decaimento dos quais dois, onde o decaimento é em um par de fótons ou de partículas conhecidas como Bósons Z, são os mais importantes, porque permitem uma medição precisa da massa do Higgs. A significância combinada do sinal em todos os cinco foi de 4,9 sigma.

A experiência ATLAS estudou dois canais principais onde a partícula tipo-Higgs decai em dois fótons ou quatro léptons, uma categoria de partículas como elétrons e múons. Ela encontrou uma assinatura no entorno de 125 GeV com uma significância de 5 sigma, combinando os dados dos dois tipos de evento.

“É muita gentileza do Bóson de Higgs do Modelo Padrão ter uma massa nesse nível”, declarou a porta-voz do ATLAS Fabiola  Gianotti, porque o LHC é bem adequado para o estudo de partículas nessa faixa de massa. “Então, obrigado, natureza”, acrescentou ela.

Esses resultados se seguem a dados anteriores do LHC e do anúncio feito na segunda-feira pelo Fermilab em Illinois dos indícios, extraídos do menos potente e agora aposentado acelerador Tevatron, para a mesma partícula em um nível de 3 sigma.

O mecanismo de Higgs responde a pergunta fundamental: por que a maior parte das partículas elementares têm massa? Sem o Higgs, tudo, de estrelas a átomos, não existiria. Ele era a peça que faltava no Modelo Padrão. Partículas elementares, tais como elétrons e quarks, interagem com o Campo de Higgs e essa interação cria suas massas.

Os resultados de hoje representam “uma conquista maravilhosa, a pedra angular de 400 anos de esforços para explicar o que observamos no universo”, declarou Gordon Kane, um físico teórico da Universidade de Michigan que não trabalhou nos experimentos. Segundo ele, os dados sugerem uma partícula que é notavelmente semelhante ao Bóson de Higgs previsto pelo Modelo Padrão. O tempo dira – ainda segundo ele – se as pequenas discrepâncias que ainda existem entre os dados e as previsões do Modelo Padrão são erros experimentais ou se elas apontam para uma nova física além do Modelo Padrão. Caso confirmadas, até as pequenas discrepâncias do Modelo Padrão podem abrir o caminho para uma nova física e podem ser consistentes com as predições de extensões maiores do Modelo Padrão, tais como a Teoria das Cordas.

Esta última fatia representa apenas um terço dos dados que se espera obter do ATLAS em 2012. Os atuais resultados devem ser publicados no fim de julho. “Ainda há mais por vir…Por favor, especialmente os teóricos, sejam pacientes. Ainda há um longo caminho a percorrer”, admoestou de brincadeira o porta-voz do ATLAS Gianotti.

Os resultados vieram com as últimas séries de experimentos que terminaram cerca de duas semanas atrás. Os anúncios foram recebidos com ovações de pé e um número surpreendentemente pequeno de perguntas ao fim das apresentações científicas.

Um número maior de perguntas veio dos repórteres leigos em uma conferência de imprensa após o seminário. Um repórter perguntou se os resultados teriam qualquer relevância para ele, já que ele era feito de partículas elementares.

“Eu acho que é muito relevante para você”, disse Heuer, o Diretor-Geral do CERN, “porque se isso [o Campo de Higgs] não existisse, você não existiria”.


Virat Markandeya é um escritor contribuinte do Inside Science News Service.

Mini-pinças acústicas

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Manipulando pequenos animais com ondas de som

Traduzido de: Manipulating Tiny Animals with Sound Waves

Um esquema que mostra como asa pinças acústicas funcionam. As peças dentadas intercaladas representam as pinças acústicas. Esses dispositivos geram ondas acústicas superficiais, representadas pelas ondulações em azul.
Crédito da Imagem: Xiaoyun Ding, Sz-Chin Steven Lin, Stephen J. Benkovic, Tony Jun Huang

Pesquisadores criam um novo tipo de “pinças”

Publicado em: 25 de junho de 2012
Por: Charles Q. Choi, Contribuidor do ISNS

(ISNS) —  Cientistas desenvolveram “pinças acústicas” que podem manipular células sanguíneas e vermes microscópicos sobre uma plataforma do tamanho de uma moeda de dez centavos, usando ondas de som¹ para puxar e empurrar materiais, tal como os “raios tratores” da ficção científica

O delicado controle que este dispositivo dá aos pesquisadores para manipular organismos em laboratórios do tamanho de microchips, poderá levar a uma grande gama de descobertas médicas – é o que os inventores propõem.
Os cientistas estão miniaturizando beckers, conta-gotas e outros instrumentos de laboratório para criar laboratórios-em-chips, com o fito de realizar milhares de experiências ao mesmo tempo, o que pode ajudar a descobrir mais rapidamente curas e, potencialmente, salvar muitas vidas. Os pesquisadores necessitam manipular itens dentro desses micro-laboratórios com a mesma precisão que têm com suas mãos – e, até certo ponto, eles podem fazer isso com as assim chamadas “pinças ópticas” que usam feixes de laser para pegar e mover objetos.
O problema com as pinças ópticas é que os lasers podem queimar organismos, e, em todo caso, são caros, volumosos e difíceis de operar. Outras alternativas às pinças ópticas têm, cada uma, suas desvantagens – por exemplo, pinças magnéticas precisam de alvos cobertos por materiais magnéticos, o que pode danificar as células.
Agora, os cientistas descobriram que pinças acústicas podem usar as ondas de som para controlar esses itens, não importa quais sejam suas propriedades ópticas, elétricas ou magnéticas, o que as torna mais versáteis do que suas antecessoras.
“A manipulação é obtida sem contato físico, tal como se fosse controlada por uma mão virtual”, diz o pesquisador Tony Jun Huang, um bioengenheiro da Universidade do Estado da Pennsylvania.
As ondas acústicas são geradas por meio de eletrodos feitos de ouro que se parecem com pentes, com dentes de 25 a 50 micrômetros – ou milionésimos de metro – de largura. Estes são depositados sobre cristais de niobato de lítio, um material que converte eletricidade em vibrações. O formato dos eletrodos permite que eles produzam um espectro de frequências sonoras com os cristais.
Os geradores de som foram posicionados em volta de um chip quadrado de borracha de silício medindo 2,5 mm de lado. Sintonizando cuidadosamente as frequências, os cientistas conseguiram forçar os itens a ir para o ponto onde as ondas acústicas se cancelavam por interferência.
Durante as experiências, os pesquisadores puderam mover objetos nas escalas de micrômetros a de milímetros, inclusive contas de plásticos, células de sangue bovino e até animais inteiros, tais como o verme milimétrico Caenorhabditis elegans – aprisionando ele em uma determinada posição, movendo-o de um lado para outro e até esticando ele.
“Eu fiquei totalmente surpreso com que eles tenham conseguido capturar um organismo inteiro, tal como o C. elegans“, declarou o engenheiro biomédico Eric Pei-Yu Chiou da Universidade da California em Los Angeles, que não participou da pesquisa. “Não conheço qualquer outra tecnologia capaz de fazer isso de maneira bio-compatível”.
Comparadas com as pinças ópticas, as pinças acústicas podem ser integradas em chips sem precisar de componentes ópticos ou de laser que são caros e grandes. Em princípio também, elas podem manipular até dezenas de milhares de objetos simultaneamente, uma tarefa desafiadora para as pinças ópticas. Além disso, elas são significativamente mais seguras para organismos vivos, já que a densidade de energia sobre os alvos é 10 milhões de vezes menor.
“As pinças acústicas são tão não invasivas como muitas tecnologias de ultrassom de baixa potência”, diz  Huang, acrescentando que um exemplo disso é o imageamento por ultrassom empregado em mulheres grávidas.
As pinças acústicas podem auxiliar os pesquisadores a ver como células respondem a mudanças de ambiente, movendo-as de um ambiente para outro, e a capacidade de ver como as células mudam e respondem à pressão física, pode também auxiliar na compreensão da atividade de tecidos vitais, tais como músculos cardíacos e vasos sanguíneos.
“Isso poderia, por exemplo, ajudar a mostrar como as células respondem a uma série de tratamentos com fármacos, ou a pulsos de uma droga, em oposição a um gradiente contínuo delas”, declara o pesquisador Stephen Benkovic, um bioquímico da Universidade do Estado da Pennsylvania. “Poderíamos aprender mais sobre alta pressão sanguínea ou músculos sob tensão, dessa forma”.
Uma das vantagens que as pinças ópticas ainda têm é que elas são atualmente capazes de controlar itens  menores do que as pinças acústicas, até o tamanho de poucos nanômetros ou bilionésimos de metro. Os pesquisadores esperam ser capazes de atingir esses finos níveis de manipulação com pinças acústicas, usando ondas acústicas de frequências mais altas, “embora tenhamos que ser muito cuidadosos, uma vez que frequências mais altas podem danificar as células”, concede Huang.
Os cientistas detalham suas descobertas na edição online de 25 de junho de Proceedings of the National Academy of Sciences.

Charles Q. Choi é um escritor de ciências freelance da cidade de New York City que já escreveu para The New York Times, Scientific American, Wired, Science, Nature, e várias outras publicações.

Nota do tradutor:

1 – Por “ondas de som”, entenda-se quaisquer ondas mecânicas, da mesma forma que a expressão “luz” tem sido empregada para qualquer radiação eletromagnética – como consequência, os termos “luz visível” e “som audível” se referem ás faixas perceptíveis pelos nossos sentidos de visão e audição.

O guia do mochileiro das profundezas

Traduzido de: Hitchhiker’s Guide to The Deep


 

Criaturas dos abismos invadem o mundo da superfície

Por Cheryl Dybas, NSF (703) 292-7734 cdybas@nsf.gov

 

Photo of the submersible Alvin collecting samples from The Deep.

O submersível Alvin trouxe consigo alguns inesperados “caronas” das profundezas.
Crédito e imagem ampliada

8 de junho de 2012

“Não entre em pânico”, poderia ter dito Douglas Adams.

Autor da novela de ficção científica O Guia do Mochileiro das Galáxias, Adams sempre recomendava “não entre em pânico” sempre que se confrontasse invasores.

O que Adams pode não ter sabido é que o espaço interior dos oceanos esconde alienígenas tão cheios de recursos como qualquer outro que espreita no espaço exterior.

“E agora esses moradores das profundezas dos mares viraram a mesa contra nós”, diz Janet Voight, uma bióloga do Museu Field de História Natural em Chicago.

Voight e outros cientistas que estudam as fontes hidrotermais do oceano profundo, descobriram que algumas formas de vida podem sobreviver às extremas mudanças de pressão do fundo do oceano para a superfície do mar.

Em um recente mergulho do submersível de pesquisa oceânica profunda Alvin, alguns companheiros – 38 deles, para ser exato – acharam o caminho para a superfície.

Lepetodrilus gordensis, é o nome do invasor. É um tipo de caracol marinho chamado lapa, bem conhecido pela sua habilidade de grudar como cola a diversas superfícies.

“Entretanto, ninguém pensou que isso incluísse os instrumentos de um submersível”, comenta Voight.

Photo of limpets brought up topside.

Um aglomerado de invasores – lapas do fundo do oceano – que subitamente apareceram na superfície.
Crédito e imagem ampliada


A fauna nas fontes hidrotermais das profundezas dos mares estão entre as mais isoladas e inacessíveis da Terra. A vida nessas “fontes” se baseia em um processo chamado quimiossíntese, que, diferentemente da fotossíntese, não depende da luz do Sol. Em lugar disso, ele subsiste em substâncias químicas expelidas pelas próprias fontes.

“As fontes hidrotermais só podem ser visitadas por veículos especiais submarinos, os quais podem se mover livremente entre elas”, escreveram Voight e seus colegas em um artigo publicado recentemente em Conservation Biology.

Os co-autores do artigo são Raymond Lee da Universidade do Estado de Washington, Abigail Reft da Universidade do Estado de Ohio e Amanda Bates da Universidade da Tasmania.

“Os pesquisadores supunham que os indivíduos da fauna da fonte, se fossem trazidos à superfície, seriam mortos pela mudança da pressão da água”, explica Voight. “Claramente não é assim”.

Depois de um mergulho do Alvin, Voight encontrou as 38 lapas das fontes em amostras tiradas de outro local submarino onde não há fontes hidrotermais – e, portanto, não há lapas das fontes.

Photo of Lepetodrilus gordensis, the limpet species found on the submersible.

Um grupo de Lepetodrilus gordensis, a espécie de lapa encontrada no submersível.
Crédito e imagem ampliada

Os cientistas tinham coletado amostras de um habitat sem lapas ao longo da Serra Juan de Fuca, uma cordilheira submarina nas profundezas do Pacífico Noroeste. Mas quando Voight foi examinar o “tesouro”, ele continha lapas.

“O que está errado aqui?”, ela se perguntou. “Bem, essa espécie de lapa só era conhecida nas fontes da Cordilheira Gorda, 635 quilômetros ao sul de Juan de Fuca.”

A pergunta passou a ser: como as lapas chegaram a mais de 600 km de seu habitat? “A única resposta é que elas devem ter sido transportadas pelo submersível”.

O que serve para mostrar, segundo Chuck Lydeard, diretor de programa na Divisão de Biologia Ambiental da Fundação Nacional de Ciências(NSF), que financiou a pesquisa, “que a humanidade não pode supor coisa alguma acerca da capacidade de dispersão de outros organismos, inclusive aqueles que se pensa que estão restritos aos ambientes mais extremos do planeta”.

A introdução inadvertida de uma nova espécie em um ecossistema é um dos maiores desafios aos esforços de conservação.

Como uma espécie reagirá ao novo ambiente e o efeito que terá se ela começar a se reproduzir e predominar, é imprevisível.

“A perfuração de águas profundas e atividade de submersíveis podem aumentar a probabilidade dessas introduções”, acrescenta Voight, “mas até agora se considerava que as fontes hidrotermais eram isoladas demais para serem uma fonte de invasores”.

Photo of limpets covering the deep-sea floor near a hydrothermal vent.

Caracóis em cima de caracóis recobrem o chão das profundezas do mar perto de uma fonte hidrotermal.
Crédito e imagem ampliada

Em áreas costeiras, uma das maiores ameaças de espécies invasivas é a introdução de doenças. Patógenos recém-incluídos podem causar a morte em massa das espécies nativas. As doenças que possam existir em ambientes extremos, tais como as fontes hidrotermais, não foram bem estudadas, lembra Voight.

“Claramente é possível introduzir acidentalmente uma espécie – e as doenças que ela potencialmente carregue – de uma fonte do mar profundo a uma nova localização”, acrescenta ela. “Isso tem implicações para a exploração futura das fontes hidrotermais. E também revela o risco potencial de mudanças introduzidas pela ação humana em ecossistemas, mesmo naqueles ecossistemas que a maioria de nós jamais chegará a ver”.

A descoberta é uma valiosa lição para os cientistas e operadores de veículos que trabalham nas profundezas dos mares, diz Brian Midson da Divisão de Ciências Oceânicas da NSF.

“Uma potencial fertilização cruzada e a contaminação das fontes hidrotermais e outros locais tem que ser considerada durante as atividades pré e pós-mergulho”, afirma Midson. “Esta nova informação vai resultar em discussões futuras entre as tripulações dos navios e os cientistas pesquisadores acerca da necessidade de uma limpeza rigorosa e da inspeção dos mecanismos de coleta de amostras e dos veículos, antes e depois de cada mergulho”.

Photo of Alvin's manipulator arm and sampling device.

O Alvin com o braço de manipulação e o dispositivo coletor de amostras – os caracóis podem ter se fixado aqui.
Crédito e imagem ampliada

As lapas que Voight achou pegaram uma carona em algum lugar do coletor de amostras do submersível, ela acredita, “talvez no tubo corrugado, onde ficou água suficiente para mantê-las vivas”.

“A substituição do tubo corrugado por um tubo liso pode ajudar a impedir os transplantes inadvertidos de biota, mas qualquer superfície ou rugosidade do submersível ou seus equipamentos pode servir como refúgio”.

Os cientistas urgem que outros pesquisadores presumam que clandestinos “fisiologicamente rústicos” podem estar presentes em instrumentos de pesquisa de águas profundas e tomem precauções para não transportar espécies não-nativas de e para as profundezas.

“Impedir essas introduções é de capital importância”, declara Voight, “para manter intactos os ecossistemas das fontes termais”.

Planeje com antecedência para a eventualidade de invasores, poderia ter sugerido Douglas Adams, mas “não entre em pânico”.

Pelo menos, não por enquanto…


 

 

 

 

 


Em cada buraco negro, um universo inteiro

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Traduzido de: Every Black Hole Contains a New Universe

 

Um físico apresenta uma solução para os atuais mistérios do cosmos.

17 de maio de 2012

 

Por Nikodem Poplawski, Colunista Convidado do Inside Science Minds 
Inside Science Minds

Inside Science Minds apresenta uma série de colunistas convidados e perspectivas pessoais apresentadas por cientistas, engenheiros, matemáticos e outros membros da comunidade científica que expõem as ideias mais interessantes na ciência atual. 


 

Nikodem Poplawski

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Nikodem Poplawski exibe um “tornado em um tubo”. A garrafa de cima simboliza um buraco negro, os gargalos conectados representam um “buraco de verme” e a garrafa de baixo simboliza o universo em expansão no recém-formado outro lado do buraco de verme.
Crédito: Cortesia da Universidade de Indiana.


(ISM) – Nosso universo pode existir dentro de um buraco negro. Isso pode soar estranho, mas pode ser realmente a melhor explicação de como o universo começou e daquilo que observamos hoje. É uma teoria que vem sendo explorada nas últimas décadas por um pequeno grupo de cientistas, inclusive eu.

Em que pese seu sucesso, existem questões importantes não solucionadas pela teoria-padrão do Big Bang, a qual implica que o universo começou em uma “singularidade” aparentemente impossível, um ponto infinitamente pequeno que continha uma concentração de matéria infinitamente grande, que se expandiu até o tamanho que observamos hoje. A teoria da inflação, uma expansão super-rápida do espaço que foi proposta nas recentes décadas, preenche várias lacunas importantes, tais como por que pequenas irregularidades na concentração da matéria do universo primordial coalesceram em grandes corpos celestes tais como galáxias e aglomerados de galáxias.

No entanto, essas teorias deixam algumas importantes perguntas sem respostas. Por exemplo: O que deu início ao Big Bang? O que fez a inflação terminar? Qual é a fonte da misteriosa energia escura que aparentemente está fazendo o universo acelerar sua expansão?

A ideia de que nosso universo está contido inteiramente em um buraco negro, fornece respostas para esses problemas e muitos outros. Ela elimina a noção de singularidades fisicamente impossíveis em nosso universo. E ela é compatível com as duas principais teorias na física.

A primeira é a Relatividade Geral, a moderna teoria da gravidade. Ela descreve o universo nas maiores escalas. Qualquer evento no universo acontece em um ponto do espaço e do tempo, ou espaço-tempo. Um objeto maciço como o Sol distorce ou “curva” o espaço-tempo, tal como uma bola de boliche em repouso sobre uma lona. A mossa gravitacional causada pelo Sol altera o movimento da Terra e dos outros planetas que o orbitam. Esse “puxão” do Sol é percebido por nós como a força da gravidade.

A segunda é a mecânica quântica, que descreve o universo nas menores escalas, tais como o nível dos átomos. No entanto, a mecânica quântica e a relatividade geral são, atualmente, duas teorias separadas. Os físicos se esforçam em tentar combinar as duas em uma única teoria de “gravidade quântica”, de forma a descrever adequadamente fenômenos importantes, inclusive o comportamento de partículas subatômicas dentro dos buracos negros.

Uma adaptação, da década de 1960, da relatividade geral, chamada a teoria da gravidade Einstein-Cartan-Sciama-Kibble, leva em conta os efeitos da mecânica quântica. Ela não só representa um passo na direção da gravidade quântica, como também leva a um quadro alternativo do universo. Esta variante da relatividade geral incorpora uma importante propriedade quântica, conhecida como spin. As partículas tais como elétrons e átomos possuem spin, o momento angular interno que é análogo à rotação de um patinador que gira no gelo.

Neste quadro, os spins das partículas interagem com o espaço-tempo e o dotam de uma propriedade chamada “torção”. Para entender o que é “torção”, imagine o espaço-tempo não como uma lona bidimensional, mas como uma haste flexível unidimensional. Dobrar a haste corresponder a encurvar o espaço-tempo e torcer a haste corresponde a uma torção no espaço-tempo. Se haste for fina, você pode ver ela dobrada, mas é muito difícil saber se a haste está ou não torcida.

A torção no espaço-tempo só seria significativa no universo primordial, ou em buracos negros. Nesses ambientes extremos, a torção do espaço-tempo se manifestaria como uma força repulsiva que atuaria em sentido contrário à força gravitacional da curvatura do espaço. Tal como na versão padrão da relatividade geral, as estrelas muito maciças acabam colapsando em buracos negros: regiões do espaço de onde nada, nem mesmo a luz, pode escapar.

Então, aqui está como a torção funcionaria nos momentos inciais de nosso universo dentro de um buraco negro. Inicialmente, a atração gravitacional entre as partículas suplantaria as forças repulsivas da torção, fazendo com que a matéria colapsasse em uma região menor ainda do espaço. Mas eventualmente a torção se tornaria muito forte e impediria que a matéria se comprimisse até um ponto de densidade infinita. Não obstante, a matéria ainda estaria aglomerada em um estado de alta densidade. A enormemente alta energia gravitacional neste estado altamente aglomerado da matéria causaria uma intensa produção de partículas, uma vez que a energia pode ser convertida em matéria. Esse processo aumentaria ainda mais a massa no interior do buraco negro.

O número crescente de partículas com spin resultaria em níveis maiores de torção do espaço-tempo. A torção repulsiva frearia o colapso e criaria um big-bounce [nota do tradutor: não dá para traduzir… “bounce” é o “quique”, o movimento de volta de, por exemplo, uma bola que bate em uma parede], tal como uma bola de futebol que tenha sido espremida e escape. O rápido recuo depois de um tal big bounce poderia ser o que levou à nosso universo em expansão. O resultado desse recuo é compatível com as observações sobre o formato, a geometria e a distribuição de massas do universo.

Por sua vez, o mecanismo de torção sugere um espantoso cenário: cada buraco negro produziria um novo universo dentro dele. Se isso for verdade, então a primeira matéria de nosso universo veio de algum outro lugar. Então, nosso universo pode estar no interior de um buraco negro que existe em outro universo. Da mesma forma que não podemos ver o que acontece dentro de um buraco negro no cosmos, quaisquer observadores no universo original não poderiam observar o que acontece no nosso.

O movimento da matéria através da fronteira do buraco negro, chamada de “horizonte de eventos”, somente aconteceria em uma direção, o que forneceria uma direção para o tempo que nós percebemos como se movendo “para a frente”. A seta do tempo em nosso universo, portanto, seria herdada, através da torção, de nosso universo original.

A torção também pode explicar o desequilíbrio observado entre matéria e antimatéria no universo. Por causa da torção, a matéria sempre decairia nos familiares quarks e elétrons, e a antimatéria decairia em “matéria escura”, uma forma misteriosa e invisível de matéria que parece ser responsável pela maior parte da matéria do universo.

Black Hole IMage

Imagem em tamnho original
No centro da galáxia espiral M81 fica um buraco negro super maciço com cerca de 70 milhões de vezes a massa de nosso Sol. Crédito: X-ray: NASA / CXC / Wisconsin /D.Pooley & CfA / .Zezas; Optical: NASA/ESA/CfA/A.Zezas; UV: NASA/JPL-Caltech/CfA/J.Huchra et al.; IR: NASA/JPL-Caltech/CfA
Credit: NASA et al.


Finalmente, a torção pode ser a fonte da “energia escura”, uma forma misteriosa de energia que permeia todo o espaço e aumenta a taxa de expansão de nosso universo. Uma geometria com torção produz naturalmente uma “constante cosmológica”, um tipo de força adicional que é a maneira mais simples de  explicar a energia escura. Dessa forma, a observada aceleração da expansão do universo pode acabar sendo o maior indício em favor da torção.

Portanto a torção propicia um fundamento teórico para um cenário onde o interior de cada buraco negro se torna um novo universo. Ela também parece um remédio para vários dos maiores problemas atuais da teoria da gravidade e da cosmologia. Os físicos ainda precisam combinar a teoria Einstein-Cartan-Sciama-Kibble inteiramente com a mecânica quântica, para formar uma teoria da gravidade quântica. E, embora resolva algumas questões importantes, ela levanta outras novas. Por exemplo, o que o que sabemos sobre o universo original e o buraco negro dentro do qual nosso universo reside? Quantas camadas de universos originais poderíamos ter? Como podemos verificar se nosso universo existe dentro de um buraco negro?

Essa última pergunta pode potencialmente ser investigada: uma vez que todas as estrelas e, por consequência, todos os buracos negros giram, nosso universo teria herdado a direção de rotação de nosso buraco negro como “direção preferencial”. Existem indícios recentemente revelados, a partir da observação de mais de 15.000 galáxias, que em um hemisfério do universo a maioria das galáxias espirais é “levógira” (gira para a esquerda), ou seja: gira no sentido dos ponteiros do relógio, enquanto que no outro hemisfério existem mais galáxias “destrógiras” – giram no sentido anti-horário. Seja qual for o caso, eu acredito que incluir a torção na geometria do espaço-tempo é um passo correto na direção de uma teoria cosmológica bem sucedida.

Nikodem Poplawski é um físico teórico da Universidade de Indiana.

Nanotecnologia vs. Meio ambiente

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Testes mostram que um dos tipos [de nanopartículas] pode causar mutações no DNA de plantas.

14 de maio de 2012

 

Por Joel N. Shurkin, contribuidor do ISNS 
Inside Science News Service

 

Nanoparticle large

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O aumento da exposição a nanopartículas nos rabanetes acarreta um aumento no impacto sobre seu crescimento. (A concentração de nanopartículas no ambiente cresce da esquerda para a direita).
Crédito: H. Wang, U.S. Environmental Protection Agency

(ISNS) – Não é mais um assunto de ficção científica: as nanopartículas são cada vez mais comuns. Esses objetos extremamente pequenos podem fazer quase qualquer coisa, desde filtrar poluição, até distribuir medicamentos no interior do corpo. No entanto, ninguém sabe ao certo os efeitos que elas podem causar, se se espalharem pelo meio ambiente.

Uma equipe de cientistas do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (National Institute of Standards and Technology = NIST) e da Universidade de Massachusetts em Amherst pensa que há motivos para preocupações.

Eles ainda não comprovaram que as partículas sejam perigosas, mas demonstraram que algumas nanopartículas podem ser absorvidas por plantas e causarem mutações em seus DNA, o que, dizem eles, é merecedor de maior atenção.

As nanopartículas são tão pequenas que agem como uma ponte entre o tamanho dos átomos e algo tangível. A espessura de um fio de cabelo humano é medida em milionésimos de metro; as nanopartículas são medidas em bilionésimos de metro.

E, atualmente, elas estão por toda a parte. Os fabricantes as põem em roupas, tais como as meias, para matar bactérias. Elas estão em um tipo de tinta para casas auto-limpante e no revestimento de lentes de óculos. Loções de filtro solar lançadas no mercado contêm nanopartículas de zinco ou titânio. Em breve os carros terão pinturas auto-reparantes que vão “auto-curar” os riscos e arranhões.

As nanopartículas se tornaram tão comuns que se presume que elas acabarão, inevitavelmente, misturadas ao meio ambiente.

Para ver o que aconteceria com plantas expostas a nanopartículas, os pesquisadores pegaram partículas de óxido de cobre e expuseram três tipos de plantas às mesmas: rabanetes e dois tipos de centeio – conforme seu relato em Environmental Science & Technology.

Eles escolheram nanopartículas de cobre porque elas são amplamente usadas para colorir vidros, em cerâmicas, como um polidor e na manufatura de rayon. Elas são também usadas na indústria eletrônica para a manufatura de semicondutores, explica Bryant Nelson do National Institute of Standards and Technology.

A equipe de pesquisa também usou partículas de óxido de cobre maiores que as nanopartículas, para comparar os resultados, bem como íons de cobre padrão.

O óxido de cobre é um agente oxidante e alguns agentes oxidantes metálicos podem causar câncer em pessoas, o que é um motivo para preocupação.

“Nós realizamos os testes para ver se as partículas tinham ou não a capacidade de penetrar nas plantas e danificar seu DNA”, declarou Nelson.

Segundo os resultados, elas tinham…

“Os danos eram visíveis a olho nu”, comentou Nelson.

Segundo Nelson, os resultados variaram. Os rabanetes exibiram um dano considerável, apresentando lesões no DNA das plantas que ficaram atrofiadas. Essas lesões, na presença de nanopartículas, eram o dobro das causadas pelas partículas maiores e as plantas absorveram mais cobre com as partículas menores. Os dois tipos de centeio foram menos suscetíveis, mas os resultados foram diferentes para cada um. Todos os três tipos de plantas absorveram partículas.

Nelson enfatizou que foi usado um número de partículas muito maior de nanopartículas do que as plantas provavelmente encontrarão no ambiente. O estudo foi apenas para verificar se a absorção seria ou não possível. Estão planejadas novas experiências com um nível de exposição mais natural, com menos partículas.

Kathleen Eggleson do Centro de Nano Ciência e Tecnologia da Universidade Notre Dame disse que o estudo demonstra a complexidade da pesquisa em nanotecnologia. Durante o estudo, os pesquisadores observaram duas plantas do mesmo gênero reagindo de maneira diferente às nanopartículas, observou  Eggleson.

Além disso, não está claro como diferentes ambientes podem afetar a absorção, ou mesmo se as nanopartículas penetrariam as plantas a partir do solo ou da água, ela acrescenta.

No entanto a tecnologia já é ubíqua.

“A nanotecnologia está desenvolvendo estruturas cada vez mais complexas”, declarou Eggleson. “É um fenômeno mais evolucionário do que revolucionário. Não se trata de uma nova invenção avassaladora”.

“Examinar todas as nanopartículas e todas as permutações, revestimentos, assim como todos os diferentes organismos e concentrações, é uma tarefa absolutamente titânica”, complementou Eggleson.


Joel Shurkin é um escritor freelance de Baltimore. Ele é o autor de nove livros sobre ciência e a história da ciência, e ensinou jornalismo científico na Universidade Stanford, na UC Santa Cruz e na Universidade do Alaska em Fairbanks

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