Coisas que não sei: panela de pressão

Quem me lê há anos talvez não lembre que às vezes eu uso o 42. como um mecanismo de busca orgânico (faz um tempinho que não pergunto nada aqui, maldito seja o Facebook) e a pergunta a seguir está me corroendo desde que aprendi a usar tal utensílio culinário.

A pressão criada numa panela de pressão atua diretamente no alimento?

Se você lembra desse jogo, sua infância foi há muuuuuito tempo.

Se você lembra desse jogo, sua infância foi há muuuuuito tempo.

Explico: eu notei que cozinhar batatas na pressão faz com que elas fiquem consideravelmente mais firmes do que aquelas cozidas ao ar livre. Desde que eu deixe a panela esfriar e perder pressão ao seu próprio ritmo. Se levantar o pitoquinho (ou “válvula de escape”, para os não-potiguares) fazendo a pressão residual cair rapidamente, os tubérculos estouram como uma espinha inflamada antes de um encontro romântico.

É notável também que carnes cozinham até o ponto em que se desmancham como algodão doce em boca de cachorro mas continuam a manter o formato (novamente, desde que a pressão se equilibre com a ambiente naturalmente).

Eu entendo que, ao ferver sob pressão, a água muda de estado mais calmamente e não forma bolhas tão violentas (um alô para os laboratoristas!), mas a manutenção do formato da carne e da consistência das batatas se dá só por isso? Ou a pressão em si influencia o resultado, segurando as fibras/amido no formato/consistência original?

Minha dúvida é a seguinte: já que geralmente essas coisas estão submersas num líquido não-comprimível, a pressão tem influencia direta sobre as comidas ou apenas o aumento da temperatura explica os fenômenos descritos?

Quantas cores cabem no seu cérebro?

O registro hidráulico do meu banheiro está vazando água numa frequência estalactítica. De fato, “vazando” talvez não seja o termo adequado, visto que o escape de água é tão lento que as poucas gotas que se projetam para a parede evaporam antes de escorrer mais que um ou dois centímetros.

Cada gosta carrega consigo uma quantidade ínfima de algum metal oxidado (que suponho seja proveniente da rosca de metal do próprio registro, provavelmente cobre) e, por causa da lentidão do processo, água suficiente evapora no mesmo lugar a ponto de deixar um rastro metálico azulado que vem crescendo ao longo do último ano e meio e já deve ter uns dez ou doze centímetros.

Verde ou azul?

O registro silenciosamente me julgando…

Ontem, numa explosão de iniciativa, eu resolvi passar um quadrado de papel higiênico transversalmente ao rastro para identificar se a situação pode ser remediada apenas com material absorvente ou se vou precisar passar uma lixa na porcelana (não, isso não é um eufemismo). E qual não foi a minha surpresa, constatando a fresca umidade do material desconhecido, ao notar que o papel ficou sujo com uma substância verde, e não azul como eu supunha que ficaria. Vendo que o papel estava verde, olhei novamente para o rastro anteriormente azulado e, desde então, não consigo ver outra cor que não verde.

Como na ilusão da bailarina, a permanência e imutabilidade física do objeto mudaram sob meu vigilante olhar. O rastro acusador de descuido mudou de azul para verde.

Algum tempo atrás, Kentaro demonstrou como nosso cérebro é inútil quanto à objetividade cromática. Mais praticamente, várias línguas ao redor do mundo tratam verde e azul pelo mesmo nome.

Consideravelmente mais confuso, no entanto, é o tratamento que Homero dá à cor do céu no livro 17 da Ilíada (tradução minha, já que as que encontrei são ainda mais confusas e ainda mais difíceis de traduzir para um português mais modernamente acessível):

Os troianos, por sua vez, também falavam uns aos outros: “Amigos, mesmo que não sobre um só de nós ao lado deste corpo, não nos deixemos temer a luta.”

Tais palavras os animaram e eles lutaram e lutaram, um ressoar de ferro subindo, pelo ar vazio, ao céu de bronze.

Homero provavelmente sofria de algum problema visual (ou mental, algo como Síndrome da Extrapolação Poética Exagerada), já que se refere ao mar como tendo cor de “vinho escuro”. Ovelhas também têm essa cor para o autor. Mel, por sua vez, era um verde igual ao dos rostos furiosos dos combatentes.

Ou não. Ele descreve eventos que ocorreram alguns séculos antes do seu tempo, lá pelo ano 1260 AEC que é também, mais ou menos, quando o tanachco livro de Jó foi escrito (PDF – página 37). Livro em cujo capítulo 37, versículo 18, o céu é comparado a um “espelho de bronze”.

Será que por volta do século -12 o céu era realmente abronzaiado? Ou apenas a palavra “azul” (e, portanto, a sua percepção) ainda não existia?

E no x-burguer abaixo, qual tom de verde você diria que a alface apresenta?

O pão e o queijo são amarelos mesmo? E a carne é cor-de-carne?

O pão e o queijo são amarelos mesmo? E a carne é cor-de-carne?

Porque, na verdade, a imagem acima não contém cor alguma que não tons de vermelho e de cinza (incluindo o fundo “preto”).

Como a prova do que eu estou dizendo não existe mais no ar, dirija-se ao Wayback Machine mais próximo e confira.

(Alternativamente, neste link você vê um zoom do quadrado evidenciado.)

Finalizando, um dos meus desenhos favoritos, já em domínio públio e na íntegra, Beety Boop em “Pobre Cinderela”:

Notou as cores? Notou quantas existem?

Desenhos de Betty Boop sempre foram produzidos em preto e branco, exceto o exemplo acima, onde o preto foi substituido pelo vermelho e o branco pelo verde (ou seria azul?). Tecnicamente, o desenho acima contem o mesmo número de cores que seus antecessores P&B. Seria algo como “256 tons de marrom verde-avermelhado”.

E então, o rastro oxidado no meu banheiro é azul? O desenho de Betty Boop é verde? O céu é bronzeado? A alface é verde?

Segundo o meu resultado deste teste (mostrado abaixo), minha discriminação de cores é até boa (melhor quanto mais perto do zero, pior quanto mais perto de mil) mas nem isso me ajuda a distinguir um verde-azulado de um azul-esverdeado.

cores

Tudo Bem: Lulu Santos traduzido

Este texto foi adaptado de um que seria publicado no meu blog sem censura. Aqui neste link vocês poderão ler minhas outras traduções de músicas populares (mas, cuidado, o conteúdo é fortemente não recomendado para pessoas com restrições linguisticamente morais e/ou menores de idade).

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Esta música de Lulu Santos, lançada em 1986 somente em compacto, discorre acerca das mazelas que afetam os indivíduos. Umas físicas, outras mentais e outras ainda sociais. É uma canção de denúncia, com nuances de confissão. Segue:

Já não tenho dedos pra contar / Hanseníase é uma doença séria que afeta milhares de brasileiros e que, apesar de ser facilmente tratável, ainda mata e aleija vários cidadãos anualmente por falta de informação sobre tratamento.

De quantos barrancos despenquei / O problema da moradia urbana ainda é grave em praticamente todo o país. Os governos municipais, estaduais e federal ainda têm uma séria dificuldade em criar (e impor) padrões e limites para construções clandestinas. Os desvalidos da nossa terra muitas vezes se veem obrigados a construir barracos em áreas de deslizamento. Muitas vezes sem a noção real do risco que estão correndo.

E quantas pedras me atiraram, ou quantas atirei / Muitos tentam ignorar mas ainda há, em pleno 2013, um problema gravíssimo de violência causada e incentivada pelas religiões. Aqui, Santos chama atenção especificamente para o islamismo, que considera adúlteros como criminosos passíveis de pena de morte por apedrejamento.

Tanta farpa, tanta mentira. Tanta falta do que dizer / As farpas aqui citadas se referem ao sentido figurado da palavra, significando “ataque pessoal, difamação”. Lulu denuncia claramente as muitas mentiras e “farpas” que líderes religiosos precisam usar para atacar aqueles que consideram como ameaça às suas posições de poder. E se utilizam de subterfúgios dessa espécie justamente pela “tanta falta do que dizer”, pois quem não tem argumentos precisa se valer de ataques para denegrir a imagem do adversário, como as fotos abaixo demonstram (notar os nomes dos autores na capa e suas respectivas posições na Igreja Católica):

Reforma agrária é anti-católico

Bispos contra os pobres

Nem sempre é “so easy” se viver / Não é fácil viver num mundo comandado, pelo menos em parte, pela cegueira ideológica da religião e seus preconceitos congelados no tempo. Mas a busca pelo conhecimento (explicitamente demonstrada pelo trecho bilíngüe, que tem a intenção de fazer o ouvinte se interessar em expandir sua mente para o aprendizado, começando pelo de outros idiomas) pode ajudar a mudar isso, futuramente.

Hoje eu não consigo mais me lembrar / Esta parte, incrivelmente bem pensada e aplicada, diz respeito a três áreas simultaneamente. Em primeiro lugar, é uma ligação entre o antiquado e ultrapassado (tão antigo que é difícil lembrar) modo de pensar do homem primitivo – que dá abertura às atitudes bárbaras das passagens anteriores, com a modernidade diagnóstica que nos permite caracterizar um certo conjunto de sintomas como Alzheimer, uma doença progressiva e – até o momento – incurável, que faz com que seu portador passe a ter dificuldades de memória, tanto piores quanto mais avançada.

O trecho ainda, ao mesmo tempo, liga a modernidade e religiosidade previamente citados a outro diagnóstico, causado pela situação a seguir.

De quantas janelas me atirei / Continuando poeticamente o tema “doenças”, essa frase faz referências múltiplas (de uma genialidade rara para o mesmo autor de “garota eu vou pra Califórnia viver a vida sobre as ondas”) à cidade de Praga. Nos anos de 1419 e 1618, dois eventos ficaram conhecidos por “defenestração de Praga”, quando líderes religiosos defenestraram (ou seja, atiraram pela janela) líderes políticos de quem discordavam. Hoje, graças aos avanços da Ciência e da Medicina, sabemos que a causa mortis seguida de queda é geralmente traumatismo cranioencefálico ou sangramento interno de órgãos e tecidos. E ainda mantém o tema central da canção por “praga” ser sinônimo de “doença”.

E quanto rastro de incompreensão eu já deixei / A incompreensão citada faz alusão à ignorância a respeito da Teoria Microbiana das Doenças (TMD). Antes de Semmelweis na Áustria, Pasteur na França e Koch na Inglaterra, achava-se que doenças eram transmitidas por mau cheiro (teoria miasmática).

Durante a época em que a TMD estava sendo aperfeiçoada, o médico John Snow identificou uma fonte de água como centro de uma epidemia de cólera na Inglaterra. E é em clara referência ao estado incontinente e fedorento de alguns acometidos pelo vibrião colérico que o autor da canção usa a expressão “quanto rastro (…) eu já deixei”.

Tantos bons quanto maus motivos, tantas vezes desilusão / Chamando atenção para o problema crescente do transtorno maníaco-depressivo, o roqueiro nos remete ao tempo em que doenças psiquiátricas eram tratadas, via de regra, como casos de possessão ou influências malignas de toda a sorte. Os “bons motivos” eram os que levaram a tentativas de exorcismo por piedade, visando curar a pessoa. Já os “maus” eram guiados somente pelo ódio e medo, pela vontade de destruição dos taxados como “súditos do demônio” e que levariam, inexorável e inescapavelmente, às infames caças às bruxas e cruéis execuções por afogamento ou queimamento. Este último celebrado ainda hoje em dia nas regiões menos abastadas e desenvolvidas do país (e, por isso, mais “tradicionalistas”) sob a inofensiva alcunha de fogueira junina. E isso causa, em todos nós, uma sensação de desengano e frustração; ou, desilusão.

Quase nunca a vida é um balão / Concordo em parte. Acho que Lulu Santos não foi longe o suficiente. Eu diria que a vida nunca é um balão.

Por mais úteis que sejam, acho que a comparação da vida com Erlenmeyers não foi das mais adequadas. Tudo bem que ambos podem ser descritos, em alguns casos, como “ambiente para cultura de micro-organismos” e o balão tenha sido criado na mesma época da TMD, mas acho uma comparação infeliz e exagerada.

Notem que Pasteur não utilizava balões em sua bancada.

Mas o teu amor me cura de uma loucura qualquer / Continuando no subtema psiquiátrico, o tratado melódico entra aqui no ramo do charlatanismo. Justificavelmente retirada da quarta versão do DSM em 1994, a condição conhecidas por séculos como “neurose” não passa de um termo impróprio que evoca agentes etéreos e esotéricos para explicar o que hoje se conhece como ansiedade. Dois dos piores reducionistas comportamentais que, misteriosamente, são também dois dos mais influentes nomes da psicologia, Jung e Freud, deram eminência ao termo sempre numa esfera de “problemas da mente fraca”, uma não-explicação mística que abriu caminho para muitos tipos de pseudociências que alegam ter o poder de curar essa “loucura qualquer”, os quais incluem: terapia genital da neurose, influenciada por A Função do Orgasmo, de Reich (discípulo de Freud) que também é responsável pela neuro-vegetoterapia, uma forma de pseduoterapia por expressão corporal; psicoterapia do amor próprio, derivada da obra de Fromm, A Arte de Amar (fortemente influenciada pelo Talmud); terapia primal, descrita no livro O Grito Primal de Janov; terapia de regressão, uma recombinação eufemística da terapia de vidas passadas de Blavatsky e do já citado volume de Janov; e culminando na mais vil e destrutiva espécie de pseudotratamento, a terapia de conversão, criada por extremistas religiosos cristãos e que alega ter o poder de transformar a identidade sexual do submetido (para heterossexual, mais especificamente, já que religiosos consideram homossexualismo como doença), denunciada na música pelo uso do pronome “teu”, forma possessiva arcaica largamente utilizada na Bíblia. O trecho “teu amor me cura”, portanto, é uma clara referência a Êxodo 15:26.

É encostar no seu peito e se isso for algum defeito, por mim, tudo bem / Ligando os temas e subtemas da letra e arredondando a poesia, ligando o final com o começo numa espécie de Ouroboros lírico, Lulu Santos mais uma vez mergulha na bíblia e pesca a afamada citação em Êxodo 4:6 que conta que, ao “encostar no peito” a mando do “deus de Abraão”, Moisés fica com a mão leprosa, ou com “algum defeito”. Mas “por mim, tudo bem”, pois hanseníase é facilmente tratada hoje em dia.

Recheada de fatos históricos e salpicada com lições de pensamento crítico, esta é, certamente, uma das letras mais rebuscadas da música popular brasileira.

Mas médicas cubanas têm sim cara de empregada doméstica!

Anteontem, uma jornalista da minha terra escreveu em sua conta do Facebook o seguinte (sic):

“Me perdoem se for preconceito, mas essas medicas cubanas tem uma Cara de empregada domestica. Será que São medicas Mesmo??? Afe que terrível. Medico, geralmente, tem postura, tem cara de medico, se impõe a partir da aparência…. Coitada da nossa população. Será que eles entendem de dengue? E febre amarela? Deus proteja O nosso Povo!”

Declaração de Micheline Borges em seu Facebook

Declaração de Micheline Borges em seu Facebook

Repetindo o título, as médicas cubanas têm sim cara de empregada doméstica!

Explico:

As cubanas são marrons. E as marrons brasileiras são, via de regra, pobres.

Por serem pobres, brasileiras não têm acesso a educação de boa qualidade.

Por não terem uma base educacional decente, brasileiras não podem entrar em cursos muito concorridos de faculdades públicas, como medicina. E, por serem pobres, não podem pagar uma faculdade particular ou sequer os materiais indispensáveis e caros que até cursos públicos exigem.

Por serem marrons, são pobres; por serem pobres, têm educação deficiente; por não terem educação suficiente, não são médicas, ou engenheiras, ou advogadas, ou arquitetas, ou psicólogas, ou dentistas. São domésticas.

Como Cuba tem educação para todo mundo, às vezes até forçada[1], até quem é marrom pode virar médica.

Lá. Aqui não. Aqui as marrons precisam ganhar dinheiro limpando “casa de família“.

Ou seja, as médicas cubanas são sim parecidas com nossas domésticas. E, pela primeira vez, eu entendi porque o conceito de cotas educacionais (raciais ou sociais, aqui tanto faz, a cor da pela é intrinsecamente ligada ao salário do fim do mês) é importante.

Talvez seja defeituoso e enviesado (como o próprio programa Mais Médicos), mas é importante. Se por nenhum outro motivo, pelo menos para que pessoas como Micheline Borges, branca (deus proteja as bases líquidas e o pó-de-arroz!), saibam que o que estão dizendo é preconceito. Mais especificamente racismo e xenofobia.

A 'branca' jornalista Micheline Borges. Foto retirada de seu perfil público do Facebook, via Google Cache.

A ‘branca’ jornalista Micheline Borges. Foto retirada de seu perfil público do Facebook, via Google Cache.

Micheline, eu sei que você não tem noção do que seja sofrer e lutar para ser alguém na vida e é incapaz de se colocar no lugar de outrem, mas fica difícil “ter postura” e “se impor” quando se passou a vida toda tendo certeza de que se é um ser inferior por causa de tanto condicionamento pela sociedade, representada por pessoas como você, justamente pela “aparência” que você, jornalista branca e loira (Koleston FTW!), tanto preza. Para racistas, como você, só parece médica quem não parece doméstica (ver falácia do escocês).

E sim, cubanos sabem o que é febre amarela e dengue. Até mais do que nós, natalenses.

Finalmente, antes de clamar ao seu amiguinho invisível por ajuda procure se informar sobre o que ele tem a dizer de comportamentos com o seu. Seja burra mas pelo menos seja consistente.

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[1] Se você se formou em administração, por exemplo, e não tem no que trabalhar, o governo cubano “pede” que você volte para a faculdade e se forme em, digamos, jornalismo. Isso é um caso real de um motorista (!) que acompanhou meu pai em Cuba.

Profissões do futuro – endocronologista

Endocronologista: profissional que se especializa nas secreções internas e regressões progressivas dos tecidos temporais; estudioso dos fenômenos responsáveis pelo crescimento e prolongamento da massa temporal, reprodução de eventos, comportamento e pelo fluxo de substratos e minerais nas épocas adequadas para manutenção da homeostase física do Universo; praticante do ramo da Cosmedicina que cuida dos transtornos das “glândulas” endocronológicas.[1]

A endocronologia é a atividade que tem como finalidade o entendimento completo das consequências de secreções intertemporais no fluxo da corrente não-linear dos éons.

Sonic scrwedrivis!

Sonic scrwedrivis!

Os endocronologistas são especialmente treinados para reconhecer e tratar problemas temporais, ajudando a restabelecer o equilíbrio natural entre causa e consequência. Alguns endocronologistas também trabalham com pesquisa básica, para desvendar os segredos do funcionamento da seta do tempo, e desenvolvem novas mediações e tratamentos para os distúrbios da continuidade. A pesquisa é importante para ajudá-los a aprender as melhores maneiras de tratar falhas no espaço-tempo.

Segundo o Professor Urban Chronotis, as respostas são "sim, não e talvez", nesta ordem.

Segundo o Professor Urban Chronotis, as respostas são “sim, não e talvez”, nesta ordem.

O campo de atuação do endocronologista é extremamente vasto, visto que o cone de luz regula praticamente todas as funções orgânicas, inorgânicas e energéticas, e portanto as alterações de causa podem provocar cataclismos dos mais variados, envolvendo o Universo como um todo.

Interessante notar que as descobertas científicas mais recentes mostram que praticamente todos os momentos do tempo secretam algum tipo de energia. Até mesmo aquelas ocasiões que se acreditava ter funções únicas bem definidas, tais como supernovas e gravidade. Até buracos negros secretam energia.

Se velocidade é medida em espaço dividido por tempo, ao alcançar 88mph a velocidade continua aumentando mesmo quando o carro está indo de volta no tempo?

Se velocidade é medida em espaço dividido por tempo, ao alcançar 88mph a velocidade continua aumentando mesmo quando o carro está indo de volta no tempo?

São de atribuição do endrocronologista o tratamento de condições como retrobetes [2], hiperandroidismo [3], brevidade [4], cronesterol [5], transtornos de crescimento [6], menopausa e/ou qualquer outra pausa envolvendo incrementos temporais (semanopausa, anopausa, onipausa, etc) [7], dentre outros que ainda serão descobertos.

A Sociedade Intercontemporânea de Endocronologia e Metabooleanologia será criada numa data inespecífica para reunir aqueles profissionais com o intuito de fortalecer e proteger a categoria e agrupar simpatizantes interessados em formar grupos de re-flexão.

"Todo o tempo é relativo. A hora do almoço é duplamente relativa."

“Todo o tempo é relativo. A hora do almoço é duplamente relativa.”

[1] Neste contexto, “glândulas” são momentos que secretam energia. Preferível ao neologismo arcaico “pré-póstula”.

[2] Síndrome metabooleana caracterizada pelo movimento retrógrado do tempo. Do grego retrobainein “ir para trás”, de ρετρο– “para trás, retrógrado” + βήτης– “ir”.

[3] Situação envolvendo um número excessivamente indesejado de indivíduos auto-sencientes não-humanos pós-revolução metaindustrial.

[4] Condição psicológica com sintomas agudos causados pela sobrepercepção das diferenças entre um momento e o anterior (ou anterior).

[5] Distúrbio proveniente de falhas de continuidade individual onde o indivíduo percebe o tempo diminuindo até quase parar completamente. Do grego χρόνος– “tempo” + στερεός– “sólido, rígido”.

[6] Alguns dos transtornos de crescimento conhecidos são causados quando o viajante extrapola certos limites temporais, vendo-se em momentos como o Período Inflacionário, muito próximo ao Big Rip ou até após a morte térmica do Universo.

[7] Latim menopausis, do grego μήν– (genitivo μήνας) “mês” + παύση– “cessação, pausa”.

Da falta de controle artística

Arte em geral (mas especialmente música, minha especialidade) tem um jeito de fugir do controle de seus autores, de tomar uma vida própria e se auto realizar independentemente de fatores externos. São como mini deuses que se formam em mini big bangs e passam a criar o resto de si mesmos.

Paredes de um museu moderno.

Paredes de um museu moderno.

Sempre existe aquela personagem cuja personalidade aflora sozinha e passa a escrever as próprias falas, agir de vontade própria dentro do contexto da estória.

Num livro de Scott Sigler, por exemplo, o “herói” principal da obra anterior morre porque as circunstâncias o levaram a uma situação da qual ele não pode escapar. Sigler fala sobre isso como se fosse um acontecimento real que ele apenas descreveu, onde a morte do personagem já aconteceu e ele apenas narra o que viu, como se ele não fosse o autor da vida e da morte.

Desenho velho num caderno antigo.

Desenho velho num caderno antigo.

Numa anedota – provavelmente apócrifa, Ariano Suassuna é perguntado por um curioso acerca de uma morte em um de seus livros. O questionador pede: “Ariano, como é que fulano morreu esfaqueado tantas vezes? O que aconteceu?” Ao que o autor responde: “Sei lá como foi, eu não estava lá quando isso aconteceu. Só sei que ele morreu e quantas facadas ele levou.”

Uma informação que é, ao mesmo tempo, vital e completamente desnecessária para o desenvolvimento da trama. O sujeito morreu esfaqueado, sim. Mas quem matou e por quê? Sei não. Esse detalhe aparentemente indispensável é absolutamente irrelevante. Basta que ele tenha morrido para a estória prosseguir.

Vermes floridos. Eu acho. Formas semigeométricas, na verdade.

Vermes floridos. Eu acho. Formas semigeométricas, na verdade.

Em música, quando a fagulha da ideia principal surge (e não se apaga imediatamente, perdurando num modelo evolutivo do pensamento), excetuando-se algumas escolhas estilísticas, todo o resto apenas vem à mente do autor que tenta transcrever o que está acontecendo o mais rápido possível para que o bonde musical não o deixe para trás numa mistura confusa de metáforas.

Mais paredes modernas.

Mais paredes modernas.

Em uma entrevista com o músico George Hrab, o entrevistador pergunta se os sinos na introdução da música Everything Alive Must Die Someday são “sinos funerários”, ao que Hrab responde: “Eu acho que não. Eu os entendo mais como os sinos de uma vila, celebrando a vida dali. Como a cena de abertura de um filme, com a câmera vindo pelas colinas e mostrando essa vila celebrando algo que você não sabe o que é, mas você vê toda aquela comunidade junta, unida.”

Notem que ele não diz “não, são sinos de celebração”. Ele diz que “acha” que não são funerários e “os entende” mais como sinos celebratórios. A música fugiu ao seu controle desde a introdução (que, em casos assim, é geralmente a última coisa a ser concebida e gravada).

Quantas obras você consegue reconhecer nessa foto? Clique para ampliar.

Quantas obras você consegue reconhecer nessa foto?
Clique para ampliar.

Eu sinto isso quando faço uma música. Eu sei precisamente de onde está vindo aquele primeiro acorde e aquela escolha de compasso, mas daí para frente eu apenas obedeço às ordens que me são dadas e que às vezes são complexas demais para minhas habilidades melódicas e destreza geral.

Até quando quero escrever algo com um fim específico, como um poema sobre mijar na pia que necessariamente precisa acabar com “branca e alta louça fria” e que é imperativo rimar estruturalmente ABA CBC DDEE FFDD e etc, com cada linha de um certo tamanho (poemas, para mim, precisam ser também visualmente interessantes) e tal, eu só sei que quero rimar as entonações da primeira e da última linhas. O que acontece no meio me é um completo mistério.

Outro exemplo, mais rígido e delicado, é o da tradução de um poema sobre envenenamento com chumbo que já vem com estrutura fixa de métrica e rima. Eu não tenho muito o que fazer, apenas usar os termos corretos. Mas, mesmo assim, o resultado final não parece ser obra minha, mas apenas algo que eu vi escrito dentro da minha cabeça (mas não por mim) e transcrevi para o mundo externo.

A "obra" é isso do lado esquerdo. O resto é só efeito da foto, as paredes e uma porta. Clique para ampliar.

A “obra” é isso do lado esquerdo. O resto é só efeito da foto, as paredes e uma porta.
Clique para ampliar.

Outro exemplo dessa falta de controle: sempre que eu visito um museu de arte moderna eu me sinto compelido a tirar fotos das paredes (como na primeira imagem deste texto, no museu Iberê Camargo). Por que? E por que, especificamente, as fotos são tiradas nos ângulos que são? E a foto imediatamente acima deste parágrafo, na galeria Saatchi? Por que esse efeito?

E esses desenhos absurdos salpicados aqui? O lápis encosta no papel e depois de uns dois minutos essas formas verminosas semitridimensionais estão lá, sem muita decisão consciente da minha parte. Mesmo porque se eu tentar primeiro visualizar o desenho, não vou conseguir fazê-lo.

OOutras vezes, no entanto, obras me surgem prontas no meio da rua e são fotografadas apenas como registro do ocorrido. Clique aqui para ir ao meu outro blog e entender do que estou falando.

Apenas um prato de bateria, um marcador permanente e um dia calmo. Clique para ampliar.

Apenas um prato de bateria, um marcador permanente e um dia calmo.
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Tem também aquele episódio que rola pela Internet de uma mãe que foi reclamar com a professora da filha por causa de uma nota em um trabalho de interpretação de texto. A professora, determinada e intransigente, diz que a aluna respondeu errado à pergunta “o que a autora do texto quis dizer com a frase blábláblá” e, por isso, tirou nota zero. A mãe, meio consternada, retruca com “mas como você sabe o que a autora quis dizer com essa passagem?”, ao que a professora responde com uma mini aula de interpretação, semiótica, história da literatura, etc. Ao final, a mãe com a expressão cansada, se levanta para ir embora e, finalizando o episódio, diz: “Engraçado você dizer isso tudo. Porque a autora do texto em questão é uma amiga minha de infância e a resposta que minha filha colocou no trabalho foi dada por ela, a autora do texto.”

Assim como Sigler e Hrab eu também não tenho certeza o que cada trecho de uma música minha significa ou como cada palavra foi parar naquele lugar para formar uma determinada frase.

Só sei que foi assim.

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Tenho pensado muito em música, sinestesia e consciência ultimamente por causa de uma discussão no blog de Karl acerca do que significa “ritmo”. Acho que vou escrever mais sobre isso nos próximos meses.

Não proteste. A culpa é sua mesmo.

Vocês, com acesso ao Facebook e mais que vinte segundos de concentração, leiam este relato e, principalmente, assistam aos vídeos linkados no final.

Aos demais, resumo: o Brasil é uma desgraça. Enquanto uma pessoa é presa ilegalmente por exercer um ^direito constitucional^ (aspas irônicas), um estádio (construído com dinheiro roubado) lotado comemora um jogo de futebol.

Você mora num país onde vinte e tantos fedorentos chutando um couro inflado tem mais importância que a Magna Carta. Você prefere apanhar da polícia a ter o direito de processar o Estado pela surra indevida.

Você, pessoalmente, deixou o país chegar nesta situação, onde o presidente da Câmara dos Deputados roubou seis milhões de reais, deixando órfãos sem comida e idosos sem remédio, e os deu a um bode (sim, o animal).

Henrique Eduardo Alves, o mesmo ladrão que em 2002 estava sob investigação por ter 15 milhões de dólares em contas fora do país enquanto claramente sonegava o Imposto de Renda, cometendo um crime conhecido como “evasão de divisas”, descrito na famosa Lei do Colarinho Branco, artigo 22. Investigação que, dois meses depois, PUF!, sumiu.

O que eu posso fazer contra ele? Ele é presidente da Câmara (e deputado a 42 anos consecutivos) e tem, pelo menos, 150 vezes mais dinheiro que eu. Existe algum mecanismo para que eu, cartorário com meus impostos em dia, possa processar esse cretino por ter roubado tanto dinheiro meu? Ou, pelo menos, um que me garanta que a Constituição ainda existe, já que eu posso ser preso por nada e ele pode roubar à vontade sem consequências?

Não, não existe. Eu posso até tentar fazer algo, mas é só até esta etapa que eu chegaria. Posso até pagar os cinco reais que o sebista aqui ao lado cobra numa Constituição, mas seria só mais um amontoado inútil de folhas entulhando meu lar.

E por quê? Porque você deixou isso acontecer. Mas por que a culpa é sua? Ela é menos minha que sua, porque eu pelo menos vivo de tentar, inutilmente, fazer algo. Mas também sou culpado. Todos somos. Todo os brasileiros que vivem aqui e que já viveram aqui desde sempre são culpados.

Nosso país é um lixo. Uma abominação, uma anomalia, um câncer. Todo o dinheiro que é produzido por nós, trabalhadores, é consumido por ladrões da estirpe de Henrique e Maluf (este procurado pela polícia do mundo e foragido aqui) e psicopatas como José Dirceu, Renan Calheiros, Collor. Acobertadores de bandidos como Lula, FHC, Dilma; homicidas em massa como Rosalba Ciarlini, Micarla de Sousa, Eduardo Paes; mentirosos compulsivos como Haddad, Sérgio Cabral, Alckmin, etc, etc.

100% do que você produz lhe é roubado. Você tem uma poupança no banco, mas lembra que ela já foi confiscada? Você guarda o dinheiro em casa, mas sabia que o Primeiro Ministro de Myanmar, certa vez, disse que as notas mais altas (de 50 e 100) deixaram de ter valor? Milhares de famílias acordaram um dia com seus colchões cheios de papel sem valor que costumavam ser suas economias da vida toda. “Isso não pode acontecer aqui”, você diz? Por que não? Quem vai impedir? Qual mecanismo existe neste país para impedir algo assim? Nenhum, é a resposta.

O Brasil é um lixo. E eu só não saio daqui de novo porque meus currículos ainda não foram enviados.

Nessa tal Copa das Confederações (que é tão sem sentido quanto não poder embarcar numa aeronave com um recipiente maior que cem mililitros em volume) a FIFA vendeu ingressos para cadeiras que não existem.

A Copa do Mundo é deles. Nossa é só a conta.

A Copa do Mundo é deles. Nossa é só a conta.

O link para o relato (Facebook, novamente) está embebido na foto. Clicái-a.

O problema não é a FIFA. O problema é você que achou que seria uma boa ideia uma Copa do Mundo num país de terceira. A culpa é sua por ter deixado que o seu representante aceitasse as demandas de uma empresa estrangeira que vai levar 100% do lucro da competição.

Três vezes em menos de dez anos, na verdade, com Jogos Pan-Americanos, Copa e Olimpíadas. Porque vinte e tantos fedorentos estragando uma vegetação rasteira é mais importante que a segurança da sua mãe numa rua escura.

Aqueles vagabundos desocupados que estão atrapalhando o trânsito porque não querem pagar vinte centavos a mais deixaram de existir quinta-feira, sob as bênçãos de Santo Antônio e dos cacetetes da polícia neandertalizada que protege você de uma vida melhor e mais digna para um possível filhote que venha a sair de você.

Ao contrário do que estão dizendo, a polícia não é mal treinada. Ela é excelentemente treinada. O problema é que ela é treinada aqui, no lixo.

O problema não é a polícia. O problema é o treino. Ou, melhor ainda, o local onde o treinamento se dá.

Os policiais são excepcionais e retêm 100% do treinamento. O problema é que o treinamento é dar tiro na cara de favelado. Pelas imagens fica claro que “munição menos-que-letal” é algo alienígena para os soldados (sim, jamais esqueçam que quem patrulha as ruas são soldados militares) que atiram somente paralelamente ao chão, à altura da cabeça, sendo que com balas de elastômero ou latas de gás.

Nossa polícia militar é um grande esquadrão de extermínio. O problema é que nos últimos dias eles têm usado uma munição inadequada.

Ainda no Facebook eu li a seguinte frase: “Somos [jornalistas] a polícia militar do pensamento contando as mesmas histórias sempre sobre vandâlos e bárbaros que querem destruir a ordem e o progressso“. Mas o que isso significa? Significa que a polícia bate em você e o jornalista diz que você é o culpado porque ambos, policial e jornalista, assim como os réus de Nuremberg, estavam “apenas cumprindo ordens”.

E quem dá as ordens? Você? Não.

Mas a culpa é de quem?

Exatamente.

Não se enganem. Os protestos começaram por causa de vinte centavos.

Mas graças ao despreparo, irresponsabilidade e desgoverno, hoje os protestos se tornaram algo muito maior.

Você vive num país sem leis, sem proteção, sem infraestrutura e sem condições básicas de cidadania. Esses protestos estão do seu lado, do nosso lado.

Brasil 2013

Nada justifica truculência. Especialmente em protestos pacíficos. Não se acovarde agachado aos pés dos mais fortes; junte-se aos mais fracos. Eu gostaria de, pelo menos uma vez em minha vida, ter orgulho (ou “menos vergonha”, como disse Bartholomew JoJo Simpson) do meu país. E você?

———

P.S. Não vou conferir o texto mais do que já o fiz (confesso que sob lágrimas). Se existirem ainda erros, que se danem. Tanto os erros quanto você que veio aqui comentar acerca deles.

Reclamações quanto à minha conduta devem ser encaminhadas para o meu email pessoal com cópia para a diretoria do Scienceblogs Brasil (procurem, não é difícil achar). Ou não, não me importo. Descobri recentemente algo chamado “perspectiva”.

Processos civis e criminais devem ser mandados ao meu endereço físico. O que eu escrevo aqui não é de responsabilidade do portal ou de seus colaboradores e eu espero que você morra dolorosamente por tentar me reprimir.

O instinto da vingança

"Para, maldito! Toma essa! Hein? O que é aquilo?"

“Para, maldito! Toma essa! Hein? O que é aquilo?”

Pelo jeito, não é só o Homem que tem o instinto/impulso de vingança.

Nós apenas temos uma capacidade maior de concentração.

Voltei da minha lua-de-mel mas ainda não estou cognitivamente capaz de blogar de verdade. Tenho muita coisa na minha pasta de rascunho, o que deveria significar que voltarei com tudo em alguns dias mas, bem verdade, tudo deve permanecer lá para todo o sempre. Apenas não queria ficar mais de dois meses sem colocar algo aqui, caso achem que estou fazendo algo importante.

Você fuma e acha que só prejudica você?

Sabia que para produzir um único cigarro são gastos vinte e seis mil litros de água? E isso é só para o cigarro, sem contar a embalagem![1]

E sabia que essa água não pode ser reutilizada por ficar contaminada demais por metais pesados (usados como bactericida na filtragem) e por hidrocarbonetos provenientes do alcatrão (usado para concentrar a nicotina do tabaco)?[2]

Alcatrão esse que precisa ser extraído de petróleo bruto, em outro processo bastante dispendioso em termos de recursos (especialmente gás natural e água) com o único intuito de aumentar o poder viciante da nicotina, sem qualquer preocupação com a saúde humana, visto que piche (outro nome mais comum para alcatrão) é extremamente tóxico (especialmente quando aquecido além do seu ponto de vapor durante o ato de fumar) mas modifica as moléculas de nicotina de modo que elas se fixem mais facilmente aos receptores do cérebro e causem mais desconforto durante abstinência.[3]

E as plantações de tabaco? Você já viu alguma? Provavelmente sua resposta é “não”, pois elas ficam em imensas fazendas de monocultura em países pobres (geralmente governados por ditadores) como Nicarágua, Honduras e República Dominicana.[4]

Algumas dessas plantações são tão grandes que é possível vê-las do espaço!

E alguns cientistas climáticos[5] dizem que o vapor extra jogado na atmosfera pela evaporação de tantas plantas imediatamente acima daqueles países é o que tem causado os ciclones e furacões que vêm assolando a região nas últimas décadas com cada vez mais intensidade (lembram do Katrina?).

Vista do espaço, plantação de tabaco a 15 quilômetros sudeste de Tegucigalpa, Honduras.

Vista do espaço, plantação de tabaco a 15 quilômetros sudeste de Tegucigalpa, Honduras.

E todos nós sabemos que monoculturas danificam o solo e para continuar produzindo necessitam de fertilizantes químicos que poluem leitos subterrâneos, contaminando os poços artesianos das famílias ao redor, onde a incidência de câncer é a maior do mundo, perdendo somente para algumas vilas ao redor de Chernobil.[2]

E sabia que o dono da Phillip Morris, maior companhia de cigarros do mundo, é também sócio majoritário de uma das maiores empresas produtoras de adubo químico do planeta?[4]

Lógico que toda essa química precisa vir de algum lugar. Você sabe de onde sai o nitrogênio para o famoso NPK? Ele é produzido naturalmente quando folhas mortas apodrecem e essa é a maneira mais barata de consegui-lo.

E aí, consegue pensar num lugar com muita folha morta largada no chão para quem quiser vir pegar? Exatamente. Amazônia![4]

Mas tudo bem, é só um monte de folha seca, não?

Nada disso! Nossa floresta só sobreviveu até hoje por causa desse nitrogênio, que aduba naturalmente aquele solo pobre em recursos. Sem esse elemento, o solo não tem como sustentar tantas árvores.

Você achava que a única causa do desmatamento era a derrubada de árvores adultas? Isso é fichinha! Comparado com todas as mudas que jamais crescerão por falta de nitrogênio no solo as madeireiras são santinhas![6]

Ou seja, não é só o seu pulmão que cigarro afeta, mas também o pulmão do mundo!

A Indústria dos Cigarros está poluindo e contaminando irremediavelmente nossa água [7], criando dependência química e matando milhões de pessoas ao redor do mundo sem o menor pudor, enriquecendo regimes ditatoriais em países miseráveis, aumentando a freqüência e intensidade de furacões em áreas já comprometidas por péssima infraestrutura e pobreza, dando câncer em trabalhadores inocentes e suas famílias, destruindo quimicamente o solo das plantações e acabando com a nossa Amazônia.

Apesar de todas essas provas incontestáveis, você já viu o Greenpeace, o Instituto Nina Rosa, PETA, a WWF ou qualquer outra ONG “ambientalista” ir atrás das empresas de cigarro? Já viu alguma manifestação desses grupos “verdes” em frente à casa de algum magnata da Indústria da Fumaça?

Não? E sabe o por quê?

O jornal londrino The Sun divulgou, em uma matéria publicada ano passado, o resultado de uma investigação jornalística que liga Ingrid Newkirk (fundadora do grupo PETA e fumante inveterada desde seus 14 anos) e seu amigo de infância Patrick Moore (co-fundador do Greenpeace International e presidente da central canadense) ao conglomerado americano de lobby a favor do cigarro no senado americano (incluindo dois senadores e seis congressistas).[7]

Como ambos os grupos foram considerados como células terroristas [8] ao longo dos anos devido a comprovados atentados à bomba e destruição de patrimônio público e privado, os chefes das duas maiores “facções verdes” do planeta fizeram acordo com os lobistas mais poderosos do mundo para se livrar da cadeia em troca de jamais organizar um ataque contra uma fábrica ou desviar um carregamento de cigarros.

Ingrid Newkirk, fundadora do grupo PETA, também fuma.

Ingrid Newkirk, fundadora do grupo PETA, também fuma.

Podem procurar por aí! Desde o começo dos anos 80 não há um só ato registrado de protesto ambientalista contra a Indústria do Cigarro. E como todas as ONGs menores pedem a benção àquelas duas maiores, fica por isso mesmo.

Portanto, lembrem disso quando acenderem o próximo cigarro.

———

[1~8] De onde eu tirei tudo isso? Fora alguns inexpressivos detalhes, o resto saiu dos recessos mais nefastos da minha imaginação, sem qualquer confirmação.

Mas parece verdade, né?

untitled*

*Eu nem sei mais quantos anos eu tenho.

Quer dizer, eu sei o ano em que nasci e ainda sei fazer contas, mas minha idade? Nem ideia.

Apesar das aparências, minha excelente e admirada esposa é mais velha que eu, mas eu aparentemente testemunhei e lembro de coisas que aconteceram antes dela nascer.

Talvez eu seja um daqueles, como o personagem de Cameron Crowe em Quase Famosos [1], cujos pais atribuem uma idade errada, por algum fim ou outro. Isso explicaria porque eu sempre fui quase um palmo mais alto que meus colegas de classe, comecei a me barbear aos doze e tive meus primeiros cabelos brancos aos vinte (existe uma foto minha aparentemente aos dois meses de idade mamando sentado no colo da minha mãe. Sentado. Aos dois meses. Aparentemente).

Tento continuar não sendo convencional.

Tento continuar não sendo convencional. Só me casei depois de casado.

Há cinco anos que tenho um emprego fixo que não envolve carregar instrumentos, exige farda e horários previsíveis. Há cinco anos também que blogo, que não envolve nada do citado e é meu escape mental e plataforma criativa agora que não sou mais ‘músico’.

É bem certo que já tratei de mais temas e já me fez conhecer expressivamente por mais gente escrevendo que tocando, mas ainda sinto falta. Penso em montar uma produtora apenas como fachada para ter um estúdio bom em casa. Vejamos.

Aprendi bastante. Especialmente aprendi (acho/espero) como reconhecer uma informação e como certificá-la, o que me levou a saber identificar de quem devo desconfiar automaticamente (o peso das evidências falam por si).

Neste tópico, não sei se vocês conhecem, mas existe uma competição esportiva (nem tanto, mas é tão esportiva quanto qualquer outra competição automobilística) envolvendo tratores que puxam uma espécie de mega-arado com um mecanismo que o finca mais no chão quanto maior for a distância percorrida (neste vídeo dá para ter uma ideia mais ou menos). Depois de passar pela fase do “eu sei tudo” adolescente e a do “só sei que nada sei” dos vinte e poucos anos (e apenas recentemente me dando conta de que as pessoas não mudam – e isso vale também para suas ideias e conceitos), me sinto hoje em dia um pouco como num tractor pull, onde quanto maior é a distância que percorro rumo à iluminação intelectual que tanto almejo, maior é também o atrito com o chão da rotina cerebral que tenta me fazer não sair do lugar. E, por conseguinte, mais fumaça eu solto (novamente, vide vídeo linkado).

Dez anos separam as duas realidades. DEZ!

Dez anos separam as duas realidades. DEZ!

Mas, como já dizia o velho, “nostalgia era melhor antigamente”. Minha vida vai muito bem hoje em dia para eu sentir falta de um passado que provavelmente não aconteceu (ou do qual eu não participei efetivamente).

Minha cota de amigos já está mais que preenchida (o que a invalida como cota, eu acho, mas ênfases nem sempre fazem sentido sob escrutínio etimológico), já estou devidamente casado, já consigo respirar por uma noite inteira e estou até comendo salmão uma vez por semana, preparado na minha panela profissional. Só preciso agora diminuir este bucho imenso.

De projetos ainda estou cheio e agora eles incluem várias outras mídias e temas. Mas não vou dizer agora para não estragar a surpresa (ou decepcionar quem estiver aguardando por algo que provavelmente nunca vai acontecer).

Não que eu esteja reclamando. Quem lê meia linha do que escrevo sabe que já faço disso um estilo de vida. Estou apenas tentando refletir e manter uma tradição viva. Aliás, a melhor grafia seria ^tradição^, com as minhas personalizadas aspas irônicas. Mais para mim do que para os leitores, vero, já que o pouco que escrevo no aniversário deste faz algum sentido fora da minha cabeça.

Bu!

Bu!

Ah! Hoje também é aniversário de Robert Downey, Jr. e Cazuza. De nada.

[1] – Só que ao contrário. No filme semi-autobiográfico, William é bem mais novo que seus colegas e estranha o fato de não ter entrado ainda na puberdade apesar dos seus supostos 13 anos. Ele tem, na verdade, 11 anos.

* – Se um dia eu escrever um livro a capa além de ser roxa e amarela (para se destacar bem nas prateleiras) será também desprovida de letras ou imagens. E a primeira página já deve começar no meio de uma estória qualquer. E, é por isso que nenhuma editora ainda concordou em me lançar…

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