A juventude pobre em risco (no mundo inteiro…)

Para não batizar este post na mesma série “Lá, como cá…”, porque o assunto é de grande gravidade, eu optei por dar esse título mais piegas. Via EurekAlert:

University of Montreal

Jovens de bairros pobres apresentam uma tendência 4 vezes maior para cometer suicídio

Pesquisadores canadenses e americanos publicam estudo em Psychological Medicine

Montreal, 24 de outubro de 2008 — Jovens no final da adolescência que vivem em bairros pobres apresentam uma tendência quatro vezes maior a tentar o suicídio do que seus pares que vivem em bairros mais abastados, de acordo com um novo estudo da Université de Montréal e do Centro de Pesquisas do Hospital Sainte-Justine, do Canadá, bem como da Universidade Tufts nos EUA. Os pesquisadores descobriram também que os jovens de bairros pobres relatam duas vezes mais pensamentos suicidas.

O estudo mostrou que os jovens no final da adolescência dos bairros mais carentes apresentam maiores níveis de sintomas de depressão, juntamente com níveis menores de apoio social, mas que esses fatores não explicam suficientemente o motivo desses correrem um maior risco de pensar em dar cabo das próprias vidas. “Em lugar disso, eles estão mais vulneráveis por causa de eventos difíceis, tais como conhecer pessoalmente alguém que tenha cometido suicídio, ou passado por uma experiência penosa de ruptura de laços amorosos com um parceiro, o que, aparentemente  leva ao aumento de pensamentos sobre e até tentativas de suicídio”, diz Véronique Dupéré, autora principal e pór-doutorada na Universidade Tufts que completou a pesquisa na Université de Montréal. “Em outras palavras, eventos difíceis parecem ter tido um impacto mais dramático sobre esses adolescentes”.

Para este estudo, foram acompanhados 2779 adolescentes, como parte do Estudo Nacional Longitudinal de Crianças e Jovens do Canadá. Os níveis de pobreza nas vizinhanças foram medidos no início e nos meados da adolescência, com base nos dados do Censo. Os pensamentos e tentativas suicidas foram avaliados posteriormente, quando os participantes tinham 18 ou 19 anos. Perguntavam aos participantes: “Durante os últimos 12 meses, você pensou seriamente em cometer suicídio?” Aos que respondiam afirmativamente, era perguntado, então: “Durante os últimos 12 meses quantas vezes você tentou se suicidar?”

Entre os adolescentes de todos os perfis socioeconômicos, a equipe de pesquisa descobriu que hiperatividade e impulsividade, depressão, uso de substâncias, pouco apoio social, exposição ao suicídio e eventos negativos na vida aumentavam a vulnerabilidade aos pensamentos e impulsos suicidas. “Porém entre os jovens de comunidades carentes, a hiperatividade e impulsividade era ainda mais associada a comportamentos suicidas”, explica Éric Lacourse, autor-senior do estudo e professor de sociologia na Université de Montréal. “Nós observamos que a adversidade na comunidade podia amplificar a vulnerabilidade de um jovem a considerar o suicídio”.

O Dr. Lacourse, que também é um cientista do Centro de Pesquisas do Hospital Sainte-Justine, declara que ampliar o acesso a serviços de saúde ou comunitários em comunidades carentes pode reduzir o comportamento suicida entre os jovens. “Este é o primeiro estudo a examinar o papel independente que a vizinhança carente exerce como fator de risco no comportamento suicida de jovens”, acrescenta o Dr. Dupéré. “Nosso estudo sugere que os esforços de intervenção e prevenção, para serem eficazes, devem alcançar os adolescentes vulneráveis que vivem em comunidades pobres”.

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Acerca do estudo: “Neighbourhood poverty and suicidal thoughts and attempts in late adolescence,” publicado em Psychological Medicine, autores: Véronique Dupéré e Eric Lacourse da Université de Montréal, e Tama Leventhal da Universidade Tufts.

Apoio à pesquisa: Véronique Dupéré recebeu apoio do Conselho de Ciências Sociais e Humanidades do Canadá (Social Sciences and Humanities Research Council of Canada = SSHRC).

Na Web:
Acerca da publicação Psychological Medicine: http://journals.cambridge.org/action/login
Acerca da Université de Montréal: www.umontreal.ca/english/index.htm
Acerca da Universidade Tufts: www.tufts.edu
Acerca do Centro de Pesquisas do Hospital Sainte-Justine: http://www.recherche-sainte-justine.qc.ca/en/

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Comentários do Tradutor:

Apesar de dizer o que já devia ser mais ou menos óbvio, o estudo põe em números algo que já era evidente: os adolescentes de comunidades pobres têm menos perspectivas de sucesso na vida e são mais vulneráveis, do ponto de vista psicológico. O número realmente importante que esta pesquisa traz em seu bojo é a constatação de que não é só uma questão de “perspectivas de vida”: o fator mais presente é a exposição a atos e situações onde há “desprezo pela vida”.

Em outras palavras, quando o ato de tirar a própria vida se torna comezinho, essa atitude é “contagiosa”. Os adolescentes — em função da tempestade hormonal a que estão sujeitos — já são mais propensos a atitudes extremadas e ousadas (vide “Adolescentes e Riscos”, neste mesmo Blog). A banalização da vida — aqui considerada apenas a própria vida, mas eu pergunto: quem despreza a própria vida, que valor dá à alheia?… — esse sentimento de ser “dispensável” em um mundo onde tudo é “descartável”, é um fator que estimula a violência.

E isso foi constatado no Canadá, onde os Serviços Públicos de Assistência Social são de qualidade infinitamente melhor do que no Brasil.

Ficou mais claro entender de onde surgem os “Lindembergs” da vida?…

Agora, comparem com o estudo da Universidade do Minnesota apresentado neste post aqui.

E me respondam se os pilantras que fizeram fortuna especulando com títulos podres em Wall Street não merecem a mesma acusação de “Crimes Contra a Humanidade” que imputaram aos nazistas…

Discussão - 2 comentários

  1. smx disse:

    Não precisa ser cientista pra saber disso..¬¬

  2. João, os seus comentários foram perfeitos. Não tenho nem mais o que acrescentar. O desprezo pelo vida, o desprezo pelos seres humanos, o desprezos pelas comunidades mais pobres, com certeza são fatores determinantes para que se deseje não mais viver.
    E sua conclusão sobre os especuladores de wall street é totalmente pertinente.

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