O que sua mãe fez, quando era jovem, pode ter um efeito em sua memória

Três notícias do EurekAlert deste 4 de fevereiro divulgam o mesmo estudo, realizado pelo Centro Médico da Universidade Rush e a Escola de Medicina da Universidade Tufts. A da Universidade Rush é menos sóbria e tem o título que eu usei no post. Outra é da Universidade Tufts, com o título, igualmente sugestivo, “Você sabe o que sua mãe fez durante a juventude?” A terceira é da Sociedade de Neurociência e tem o título: “A experiência da mãe tem impacto sobre a memória da prole”. Vamos à tradução da notícia da Rush:

Rush University Medical Center

(Chicago) – Um novo estudo, realizado por pesquisadores do Centro Médico da Universidade Rush e da Escola de Medicina da Universidade Tufts, usando ratas, indica que a memória de uma criança e a severidade dos problemas de aprendizado podem ser afetadas pelo que sua mãe fez, durante a juventude.

As descobertas desse estudo serão publicadas na edição de 4 de fevereirio de The Journal of Neuroscience.

Pesquisadores de neurociência estudaram as funções cerebrais de ratas pré-adolescentes que tinham um defeito geneticamente criado na memória. Quando essas ratas jovens eram submetidas a um ambiente enriquecido — o que significa a exposição a objetos estimulantes, interação social estimulada e exercício voluntário por duas semanas — o defeito de memória, causado pela inibição da formação das proteínas Ras-GRF1 e Ras-GRF2, foi revertido.

Após poucos meses, as mesmas ratas foram fertilizadas e pariram crias que tinham a mesma mutação genética. No entanto, as crias não demonstravam indícios de um defeito na memória, embora as crias nunca tenham sido expostas a um ambiente enriquecido como suas mães.

Pesquisadores anteriores em modelos de ratos tinham mostrado que a exposição precoce a um ambiente enriquecido, durante a gravidez, também poderia afetar positivamente as crias.

“O que é único nesse estudo é que fornecemos um ambiente enriquecido durante a pré-adolescência, meses antes que as ratas ficassem prenhas, ainda assim o efeito alcançou a geração seguinte”, declarou Dean Hartley, PhD, pesquisador de neurociência no Centro Médico da Universidade Rush e co-investigador no estudo. “As crias tinham uma memória melhor, mesmo sem um ambiente enriquecido”.

“Nós conseguimos demonstrar que o enriquecimento do ambiente durante a juventude tem capacidades adicionais dramáticas”, disse Hartley. “Ele pode melhorar a memória de futuras crias de ratas enriquecidas na juventude”.

Afim de provar que a memória melhorada das crias não era o resultado de melhor alimentação pelas mães enriquecidas quando jovens, um grupo de crias foi criado por mão adotivas não-enriquecidas. Mesmo as crias criadas pelas mães não-enriquecidas mantiveram a memória melhorada.

“Este exemplo de ‘herança de características adquiridas’ foi proposto, pela primeira vez, por Jean- Baptiste Lamarck no início do século XIX. No entanto, é incompatível com a genética Mendeliana clássica, que estabelece que herdamos qualidades de nossos pais através de seqüências específicas de DNA  que eles herdaram de seus pais. Atualmente nos referimos a esse tipo de herança como epigenética, que envolve mudanças na estrutura do DNA e dos cromossomos nos quais reside o DNA que são transmitidos às crias, induzidas pelo ambiente”, explica Larry Feig, PhD, professor de bioquímica da Escola de Medicina da Universidade Tufts.

Pesquisas anteriores mostraram que uma breve exposição a um ambiente enriquecido, tanto em ratos normais como em portadores de deficiência de memória, destrava um mecanismo de controle bioquímico, de outra forma latente, que estimula um processo celular em células nervosas chamado “potenciação de longo prazo (long-term potentiation = LTP). Acredita-se que a LTP esteja envolvida no aprendizado e na memória. Este melhoramento foi detectado em ratos pré-adolescentes, porém não em ratos adultos, o que reflete a maior plasticidade do cérebro dos jovens.

“Este é o primeiro estudo a demonstrar a herança de uma mudança em um sistema de sinalização que promove a LTP e a melhoria da formação da memória, e que defitos causados por uma mutação genética podem ser revertidos pelas condições a que a mãe é exposta durante sua juventude”, declara Hartley.

O fenômeno descrito nesse estudo indica que o enriquecimento do ambiente da juventude afeta a LTP na geração seguinte. No entanto, o estudo mostra que o efeito não se repete em gerações subseqüentes porque o efeito do ambiente enriquecido se desgasta mais rapidamente nas crias.

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O Centro Médico da Universidade Rush é um centro médico acadêmico que engloba mais de 600 leitos assistidos (inclusive o Hospital para Crianças Rush), o Centro de Saúde Johnston R. Bowman e a Universidade Rush. A Universidade Rush, com mais de 1.730 estudantes, é uma das primeiras escolas de medicina do Meio-Oeste dos EUA e uma das melhores escolas de enfermagem do país. A Universidade Rush também oferece programas de pós-graduação em ciências de saúde associadas e nas ciências básicas. A Rush é famosa por reunir os cuidados clínicos com a pesquisa, de forma a estudar os grandes problemas de saúde, inclusive artrite e outras desordens ortopédicas, câncer, doenças cardíacas, doenças mentais, desordens neurológicas e doenças associadas com o envelhecimento.


Ok, biólogos! A palvra está com vocês!
(Bem no bicentenário de Darwin!… 😀 Parece coisa de encomenda!… 😉 )

Discussão - 1 comentário

  1. Claudia Chow disse:

    Se isso mesmo for verdade é importante q as futuras mães se preocupem com o q fazem antes mesmo de pensar em engravidar, credo, qta responsabilidade!

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