Uma curiosa contradição
Lendo a edição nº 20 da SEED (fevereiro de 2009 — por falar nisso, obrigado Carlos!), logo na introdução do artigo de Benjamin Phelan, “Ecologia das Finanças” (pag 16-18), um trecho me chamou a atenção e fez “cair uma ficha”… O trecho é, em tradução minha, o seguinte:
Quando Alan Greenspan compareceu perante o Congresso, em outubro, ele levou algumas alfinetadas por sua falha em prever o colapso quase total do mercado de crédito dos EUA. Este era um dos principais motivos que o levaram lá — punição pública, ser exposto no pelourinho na praça da cidade. Mas o presidente do comitê, Henry Waxman, foi além disso, ao questionar a própria visão do mundo de Greenspan. Segundo Waxman, Greenspan tinha sido alertado para “evitar as práticas irresponsáveis na concessão de empréstimos, práticas essas que levaram à crise das hipotecas”. Ele perguntou ao antigo chefe do FED: “Você sente que sua ideologia o levou a tomar decisões que você gostaria de não ter tomado?” Em outras palavras, ele só faltou perguntar se a ideologia tinha enfeitiçado e cegado seu intelecto.
Waxman estava esposando um ponto de vista suspeitoso sobre a natureza das ideologias, o que Greenspan refutou, dizendo: “Todos têm uma. Para… para existir, você precisa de uma”.
O artigo prossegue discorrendo sobre a Ecologia das Finanças, mas a “ficha” que me caiu não foi sobre isso, exatamente. Foi sobre uma aparente contradição entre as “ideologias” adotadas pelas pessoas no que tange à posição sobre “intelligent design” vs. “seleção natural”, e as posições políticas acerca de “liberalismo capitalista” vs. “dirigismo socialista”.
Usualmente as pessoas mais favoráveis à “seleção natural aleatória” são frontalmente contrárias ao “liberalismo capitalista”, por questões éticas. Talvez por compreenderem bem a forma impessoal e fria com que a “seleção natural” se processa, temem o desperdício de mentes potencialmente úteis à sociedade. Em um exemplo grosseiro, se fosse a aptidão física o critério principal para a seleção de quem iria transmitir seus genes à posteridade, Stephen Hawking não teria a menor chance contra o mais reles “pit-boy”.
Inversamente, aqueles mais beneficiados pelo “liberalismo capitalista” são — pelo menos em público — mais afeitos à religiosidade e mais favoráveis aos “intelligent design” da vida… Sua noção de “responsabilidade social” é facilmente aplacada por doações filantrópicas (embora muitos alvos da filantropia sejam vítimas do “liberalismo”) e o que eu chamo de “subornar São Pedro” (orações e dízimos para, não só puxar o saco do “Criador” — como se ele fosse mudar seus planos e fazer a água subir o morro, só porque eu quero — como também para criar uma “âncora” material para uma coisa espiritual — para o caso do puxa-saquismo não ter ficado bem claro).
Um paradoxo bem ao gosto do nosso vizinho “Idéias Cretinas”, não?… 😉
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