A medida em que o mundo se aquece, o nível de água nos principais rios cai
National Science Foundation
Press Release 09-075
Colorado, Amarelo, Ganges, e Niger entre os rios afetados
O Rio Colorado está entre os rios do mundo afetados pelo aquecimento da Terra. |
21 de abril de 2009
Os rios em algumas das regiões mais populosas do mundo estão perdendo água, segundo um estudo abrangente das correntes d’água do planeta.
A pesquisa, liderada pelos cientistas do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (National Center for Atmospheric Research = NCAR) em Boulder, Colorado, sugere que os fluxos reduzidos, em muitos casos, são associados com mudanças climáticas e constituem uma ameaça potencial para as disponibilidades futuras de alimentos e água.
Os resultados serão publicados em 15 de maio no Journal of Climate da Sociedade Meteorológica Americana. A pesquisa foi apoiada pela Fundação Nacional de Ciências (NSF), patrocinadora do NCAR.
Cliff Jacobs da Divisão de Ciências Atmosféricas da NSF declara: “A distribuição da água doce mundial já é um tópico importante que vai ocupar o lugar de destaque no cenário mundial nos anos vindouros, com respeito ao desenvolvimento de estratégias de adaptação para um clima em mudança”.
Os cientistas, que examinaram o fluxos das correntes no período que vai de 1948 a 2004, encontraram mudanças significativas em cerca de um terço dos maiores rios do mundo. Desses, os rios que tiveram sua vazão diminuída suplantaram os que tiveram a vazão aumentada na razão de 2½ para 1.
Muitos dos rios que estão debitando menos água servem a grandes populações, inclusive o Rio Amarelo no Norte da China, o Rio Ganges na Índia, o Rio Niger na África Ocidental e o Rio Colorado no Sudoeste dos EUA.
Em contraste, os cientistas relatam maiores vazões em torrentes que cruzam áreas despovoadas próximas do Oceano Ártico, onde a neve e o gelo estão derretendo rapidamente.
O principal autor do artigo, Aiguo Dai do NCAR, diz: “A vazão reduzida está aumentando a pressão sobre os recursos de água doce em grande parte do mundo, especialmente onde há uma maior demanda causada pelo aumento da população. Como a água doce é um recurso vital, as tendências na diminuição (das vazões) são uma grande preocupação”.
Muitos fatores podem afetar a vazão de um rio, inclusive barragens e o desvio das águas para a agricultura e a indústria.
Entretanto, os pesquisadores descobriram que as vazões reduzidas, em vários casos, parece estar relacionada com as mudanças climáticas globais que estão alterando os padrões de precipitação e aumentando as taxas de evaporação.
Os resultados são consistentes com pesquisas anteriores de Dai e outros que mostram um ressecamento que se alastra e secas mais frequentes em várias áreas de terras.
O estudo levanta maiores preocupações ecológicas e climáticas
A vazão dos maiores rios do mundo resulta em depósitos sedimentares de nutrientes e minerais dissolvidos sobre os oceanos. O fluxo de água doce também afeta os padrões globais de circulação das correntes oceânicas que são causados por mudanças no teor de salinidade e pela temperatura, e que têm um papel vital na regulação do clima do mundo.
Embora as recentes mudanças nas vazões de água doce sejam relativamente pequenas e possam ter impacto somente em torno das maiores fozes de rios, Dai lembra que o equilíbrio entre as águas doces debitadas nos oceanos e aquelas sobre as terras, tem que ser monitorado em busca de mudanças de longo prazo.
Os cientistas continuam incertos a respeito dos impactos do aquecimento global sobre os maiores rios do mundo. Estudos feitos com modelos computadorizados, mostram que vários rios fora da região Ártica podem perder água por causa da diminuição das chuvas, nas latitudes médias e mais baixas, e também or causa de uma maior evaporação causada por temperaturas mais altas.
Análises anteriores, menos abrangentes, indicavam, no entanto, que a vazão global dos fluxos d1água estaria aumentando.
Dai e seus coautores analisaram o fluxo de 925 dos maiores rios do planeta, combinando medições reais com modelos computadorizados de fluxos de correntes para preencher as lacunas nos dados.
Os rios incluídos no estudo pertencem a todas as maiores massas de terra, exceto a Antártica e a Groenlândia, e respondem por 73% de todos os cursos d’água do mundo.
No geral, o estudo descobriu que, de 1948 a 2004, o débito anual de água doce para o Oceano Pacífico caiu em cerca de 6%, ou 526 km³ – aproximadamente o mesmo volume de água que o Rio Mississippi debita a cada ano.
O fluxo anual para o Oceano Índico caiu em cerca de 3%, ou 140 km³. Em contraste, a vazão anual para o Oceano Ártico cresceu em cerca de 10%, ou seja, 460 km³.
Nos Estados Unidos, o fluxo do Rio Columbia diminuiu em cerca de 14%, durante o período estudado, entre 1948-2004, principalmente por causa da redução da precipitação e do aumento do uso de águas no Oeste.
Entretanto, o Rio Mississippi teve um aumento de 22% na vazão, durante o mesmo período, por causa do aumento da precipitação no Meio-Oeste desde 1948.
Alguns rios, tais como o Brahmaputra no Sul da Ásia e o Yangtze na China, mostraram fluxos estáveis ou crescentes. Mas eles podem perder volume no futuro com o gradual desaparecimento das geleiras do Himalaia que os alimentam, segundo os cientistas.
Outro coautor do artigo, Kevin Trenberth do NCAR, declara: “Como as mudanças climáticas vão continuar inevitavelmente pelas próximas décadas, provavelmente veremos impactos maiores em muitos dos rios e nos recursos hídricos que a sociedade se acostumou a depender”.
Discussão - 2 comentários
Muito interessante o estudo..
Mas sei lá sinceramente senti falta da apresentação de dados sobre o rio Amazonas, afinal de contas pelo que pude entender, um rio que é o maior em volume do mundo, tem baixa proporção de exploração humana, e tem regime tanto glacial quanto pluvial, seria um modelo bom pra análise de fenômenos climáticos relativos à precipitação e derretimento de geleiras, to errado?
Abraços, e ótimo blog, parabens!
Davi
Obrigado, Davi!
O Rio Amazonas é totalmente atípico. Como você bem lembrou, ele é alimentado tanto por geleiras, quanto por afluentes e em ambos os hemisférios: Norte e Sul. Note que o estudo também não aborda o "irmão" africano do Amazonas, o Congo.
Provavelmente, ele cai naquela categoria dos rios que atravessam "áreas menos povoadas".