Fazer comparações: a arte de raciocinar

Esta merece ser incluída na série “Isso todo o mundo já sabia”… Mas, como todas as questões tipo “todo o mundo já sabia”, nada melhor do que botar a coisa em termos de dados controlados em uma pesquisa científica.
Sob o título: “Vale a pena comparar: a comparação ajuda as crianças a entender conceitos matemáticos”, o EurekAlert traz a notícia de que os pesquisadores Bethany Rittle-Johnson, professora assistente de psicologia e desenvolvimento humano no Peabody College da Universidade Vanderbilt, e Jon Star, professor assistente da Escola de Pós-Graduação em Educação da Universidade Harvard, constataram que alunos que aprendem mais de um método para resolver equações, têm maior facilidade para resolver problemas que envolvem cálculos com essas equações. [Atualizando: há um segundo press-release sobre o assunto, com o título: “Você faz os cálculos — explicar os conceitos básicos por trás dos cálculos melhora o aprendizado das crianças”]
Parece óbvio, mas não é o que se vê nas salas de aula, de modo geral. Normalmente, os professores demonstram uma maneira de efetuar os cálculos e deixam por isso mesmo. O resultado é que esse ensino ex-catedra é absorvido sem que os alunos tenham que raciocinar — mal comparando: os alunos aprendem a abrir um furo com uma furadeira, mas não quando e onde um furo é necessário (o que leva ao ditado: “Para quem só tem um martelo, todo problema se parece com um prego”).
O mal é que muitos “professores” despreparados podem confundir “ensinar mais de uma maneira para solucionar um problema” com “encher a cabeça dos alunos com questões filosóficas”… Infelizmente, o bom-senso não é moeda corrente…

Ciscando pelo EurekAlert

Alguns press-releases que chamaram minha atenção entre os vários publicados no EurekAlert, hoje:

Pesquisador da Universidade Estadual de Iowa identifica a proteína que concentra o gás carbônico nas algas

Martin Spalding, catedrático do Departamento de Genética, Desenvolvimento e Biologia Celular identificou, pela primeira vez, a proteína encarregada de acumular o CO2 em micro-algas: a HLA3.

As crescentes concentrações de CO2 na atmosfera são encaradas como uma fonte de preocupação por causa do efeito estufa. No entanto, as plantas precisam e muito do CO2 para realizar a fotossíntese e transformá-lo em açúcares que formam seus tecidos.

Porém, nem todas as plantas são dotadas dessa enzima acumuladora de CO2 A idéia de Spalding é, por meio de engenharia genética, dotar plantas de cultivo, por exemplo o arroz, dessa enzima para acelerar seu crescimento.

O press-release nem menciona isso, mas eu logo me lembrei que isso talvez possa ser usado como um meio auxiliar para aumentar o sequestro do CO2 atmosférico.


MIT: A maneira como se sente o mundo influencia como o vemos (aqui e aqui)

Ilusões motoras revelam novas abordagens sobre a percepção

 


IMAGEM:

Um estimulador tátil piezoelétrico.

Cliqe aqui para mais informações.

No caso da clássica ilusão da queda d’água, se nos fixarmos no movimento para baixo das águas que caem por algum tempo, objetos estacionários, tais como pedras, parecerão estar subindo. Os neuro-cientistas do MIT descobriram que este fenômeno, chamado de efeito residual do movimento (motion
aftereffect
), ocorre não só com a percepção visual, mas também com a percepção tátil, e que esses sentidos se influenciam entre si. Dito de outra forma, a maneira como se sente o mundo pode até modificar a maneira como o vemos — e vice versa.

Em um artigo publicado na edição online de 9 de abril de Current Biology, pesquisadores relatam que pessoas expostas a um movimento visual em uma dada direção, percebiam um movimento tátil na direção oposta. Ao contrário, o movimento tátil em uma direção provocava a ilusão de movimento visual na direção oposta.

O principal autor do artigo, Christopher Moore do Instituto McGovern para Pesquisas do Cérebro no MIT, explica: “Nossa descoberta sugere que o processamento sensorial de movimento visual e tátil se valem de circuitos neurais que se superpõem. A aparência ou a sensação tátil causada por alguma coisa pode ser influenciada por um estímulo na outra modalidade sensorial”.


IMAGEM:

Dispositivo de  “tactores” envia estímulos táteis para as pontas dos dedos.

Clique aqui para mais informações.

A experiência colocuo voluntários observando um movimento visual em uma tela de computador, enquanto colocavam o dedo indicador em um estimulador tátil logo atrás da tela. Esse estimulador consistia de um dispositivo com 1 cm² com 60 pinos para dirigir vibrações precisamente controladas para as pontas dos dedos. Esse estimulador é único no mundo e foi desenvolvido por Qi Wang do Instituto de Tecnologia da Georgia e por Vincent Hayward da Universidade Pierre et Marie Curie na França.

Para testar o efeito do movimento visual na sensação tátil das pessoas, o monitor exibia um padrão de faixas horizontais que se moviam para cima ou para baixo durante dez segundos. Depois que o padrão visual desaparecia, uma única linha horizontal de pinos fazia vibrar a ponta dos dedos da pessoa. Embora os pinos enviassem um pulso estático de vibração, todos os oito voluntários perceberam a faixa horizontal de pinos como estando em movimento para cima ou para baixo, sempre na direção oposta do movimento do padrão visual precedente.

E, para testar o efeito do movimento tátil sobre a percepção visual, fileiras adjacentes de pinos eram vibradas em rápida sucessão, criando a sensação de um objeto tátil que se movia para cima ou para baixo pelas pontas dos dedos das pessoas. Após um estímulo de 10 segundos, o monitor exibia um padrão estático de faixas horizontais. Contrariamente à suposição prevalescente de que a visão sempre triunfa sobre o tato, as pessoas percebiam as faixas como se movendo na direção oposta do estímulo tátil anterior.

[Clique aqui para ver uma demonstração do estímulo de movimento usado nesse estudo]

Até agora se pensava que os efeitos residuais refletiam a fadiga dos circuitos cerebrais, mas se chegou à conslusão de que os neurônios processam continuamente as informações sobre movimentos e são capazes de recalibrar o cérebro para modificações no ambiente sensorial. Os recentes estudos descobriram que a região do cortex visual conhecida como MT ou V5, há tempos associada à percepção de movimentos, pode ser igualmente responsável pelo processamento da percepção tátil do movimento. A equipe de Moore pretende explorar essa região do cérebro para estabelecer o quanto ela pode contribuir para esses efeitos residuais sinestésicos.


“Por dentro da ciência” do Instituto Americano de Física (07/04/09)

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7 de abril de 2009,
Por Jim Dawson
Inside Science News Service


À procura do aquecimento global — um projeto de ciências para todos nós outros

Pesquisadores do Serviço de Pesquisa Geológica dos EUA (U.S. Geological Survey) e outras organizações estão procurando voluntários para auxiliar o rastreamento do impacto do aquecimento global sobre o ecossistema, mediante a observação e relato de quando se abrem os botões de flores. Ao entrar em seu segundo ano, o “Projeto Floração” (“Project BudBurst”) está coletando dados colhidos por milhares de voluntários que escolhem o tipo de planta que querem observar e relatam quano os botões das plantas se abrem. Quando os participantes enviam suas observações online, podem visualizar mapas de fases da abertura dos botões ao longo do país. No ano passado foram relatadas online 4.861 observações de todos os estados, exceto do Hawaii. “Quando esses dados são coletados por vários anos a fio, eles revelam indícios de como as variações no tempo afetam plantas e animais em nosso ambiente”, declara Carol Brewer, professora de biologia da Universidade de Montana e co-fundadora do programa de observação dos botões. Ela diz que, eventualmente, “poderemos procurar por sinais de mudanças climáticas nos tempos de abetura das folhas e das flores”. Os cientistas aprenderam que algmas plantas respondem a temperaturas mais altas extendendo suas estações de crescimento — dando botões alguns dias mais cedo a cada estação e permanecendo por mais alguns dias. Um dos problemas que está sendo causado pelas mudanças na estação de crescimento, causado pelo aquecimento global, é que os insetos polinizadores, tais como abelhas, baseiam seus ciclos na luz do Sol, não na temperatura. Se as flores se abrirem antes da hora esperada pelos insetos, a polinização não acontece. O projeto pode ser encontrado nesta página: http://www.windows.ucar.edu/citizen_science/budburst/

Fumantes cronicamente doentes ainda têm dificuldades para deixar de fumar

Fumantes que sofrem de sérias doenças, inclusive câncer e doenças cardíacas, são m segmento desproporcionalmente grande dos atuais fumantes, são alguns dos fumantes mais viciados e frequentemente continuam fumando a despeito de estarem doentes. “O bom senso deveria ser capaz de fazer alguém parar de fumar se tiver uma doença grave, porém mais da metade dos fumantes que receberam a pouco tempo um diagnóstico de câncer, continuam fumando”, diz Michael Steinberg, diretor médico do Programa de Dependência de Tabaco na Universidade de Medicina e Odontologia de Nova Jersey. “Nossa pequisa ilustra o quanto terrivelmente viciante o tabaco é, mas esse vício pode ser superado se adequamente tratado”. A despeito do poder do vício, Steinberg descobriu que mais de um terço das pessoas por ele estudadas foram capazes de deixar de fumar por ao menos seis meses, se recebessem uma combinação de medicamentos para deixar de fumar e que esses medicamentos fossem usados por um tempo maior do que o usual. A equipe de Steinberg dividiu 127 fumantes com doenças sérias em dois grupos.

Um grupo foi tratado com adesivos de nicotina pelo período padrão de 10 semanas. O outo grupo foi tratado com os adesivos, inaladores de nicotina e o anti-depressivo bupropion, usualmente empregado nos casos de dependência de tabaco. Após 26 semanas, 35 % dos que receberam a terapia combianda tinham deixado de fumar, enquanto apenas 19 % do grupo “somente adesivo” tinham-no feito. “Pessoas com doenças sérias e que continuam fumando, poderão viver mais e ter uma maior qualidade de vida se receberem um tratamento agressivo para sua dependência do tabaco”, declarou Steinberg. Ele recomendou que os planos de saúde estendam o período em que cobrem as despesas com a terapia para o tabagismo. “A dependência do tabaco deve ser tratada como qualquer outra doença crônica”, acrescenta ele. Seu artigo foi publicado em Annals of Internal Medicine.

Supercondutores podem ampliar a energia eólica

As companhias de energia elétrica dos EUA e Europa, trabalhando em conjunto com laboratórios de pesquisa dos governos, esperam conseguir dobrar a potência dos geradores eólicos de eletricidade existentes, usando fiação supercondutora de alta temperatura nas turbinas. A energia eólica é produzida quando as lâminas rotatórias de uma turbina fazem girar magnetos em torno de uma bobina em um gerador. Empregando-se fios super-condutores, o gerador poderia alcançar 100 vezes a atual densidade de corrente com os fios de cobre comuns. Companhias nos EUA, Alemanha, Grã-bretanha e Dinamarca estão todas trabalhando para criar turbinas eólicas comerciais que possam gerar 10 megawatts ou mais e, ainda assim, serem mais ou menos do mesmo tamanho e peso das turbinas eólicas existentes que são capazes de gerar apenas de 5 a 6 megawatts. O “Projeto Super-vento”, conduzido pelo Laboratório Nacional para Energia Sustentável da Dinamarca, está perto de concluir a construção de uma turbina com supercondutores de alta temperatura com uma potência um pouco menor, para realizar pesquisas. Essa turbina será um primeiro passo para a máquina de 10 megawatts. A Dinamarca gera 20% de sua eletricidade a partir de usinas eólicas — mais do que qualquer outro país. Além do apoio das agências governamentais dos EUA e vários países europeus, as turbinas eólicas de supercondutores de alta temperatura têm o apoio de vários grupos industriais e ecológicos, segundo um relatório publicado na edição corrente de Physics Today.


Este texto é fornecido para a media pelo Inside Science News Service, que é apoiado pelo Instituto Americano de Física (American Institute of Physics), uma editora sem fins lucrativos de periódicos de ciência. Contatos: Jim Dawson, editor de notícias, em jdawson@aip.org.

Inseticida “à prova de evolução”

Duas notícias veiculadas no EurekAlert — uma pela Public Library of Science (PLoS) e outra pela Universidade Penn State, ambas sobre o mesmo artigo publicado na PLoS Biology — sugerem uma nova abordagem para acabar de uma vez com a malária: um inseticida que mate somente mosquitos mais velhos.

A idéia se fundamenta em dois fatos:

1. Um mosquito infectado pelo vírus da malária precisa viver outros 10 a 14 dias para se tornar um vetor da doença.

2. Os inseticidas atualmente empregados acabam por selecionar mosquitos resistentes a inseticidas e, cada vez mais, é necessário introduzir inseticidas mais tóxicos (com os danos colaterais ao meio ambiente e às próprias pessoas) que, por sua vez, acabam por gerar mosquitos ainda mais resistentes.

O trabalho publicado pela PLoS Biology, de autoria de Andrew Read e Matt Thomas (ambos da Penn State), e Penelope Lynch (Open University, Reino Unido), explica que, para matar mosquitos mais velhos, até o velho DDT serve. No entanto, Read e seus colegas estão trabalhando em cima de um bio-inseticida à base de fungos que pode ser aspergido nas casas ou embebido em mosquiteiros e que leva de 10 a 12 dias para matar os mosquitos.

A idéia é deixar que a seleção natural se encarregue da maioria dos mosquitos (que morre ainda jovem e sem chances de se tornar um vetor), enquanto que o inseticida se encarrega dos mosquitos mais longevos e mais perigosos. Dessa forma, se aliviaria a pressão seletiva por indivíduos mais resistentes.

Read acrescenta que a idéia não é se livrar dos mosquitos: é se livrar da malária. Nas palavras dele: “Mosquitos jovens não são um perigo: são um aborrecimento”. E os esforços para eliminar os mosquitos podem também eliminar outras espécies de insetos, com efeitos muito negativos para o meio-ambiente.

Link para o artigo da PLoS Biology: http://biology.plosjournals.org/perlserv/?request=get-document&doi=10.1371/journal.pbio.1000058

Afinal quais eram as estranhas idéias de Sir Fred Hoyle?

A recente descoberta de bactérias na estratosfera por cientistas indianos que batizaram uma das novas espécies de Janibacter hoylei, em homenagem a Sir Fred Hoyle, me levou a retomar algo que vinha me incomodando desde que perdi meu tempo e meu dinheiro lendo acabei de ler “Deus, um delírio” de Richard Dawkins: por que será que tantas pessoas citam Hoyle fora de contexto?

Eu fiquei particularmente irritado com essa passagem da catilinária insípida do livro — festejado além da conta — de Dawkins: [Dawkins, Richard. Companhia das Letras, São Paulo, 1ª Edição, 2007, pp. 154-155]

O Boeing 747 definitivo

(….)

O nome vem da interessante imagem do Boeing 747 e do ferro-velho de Fred Hoyle. Não estou certo de que Hoyle tenha colocado no papel, mas ela foi atribuída a ele por sua colega Chandra Wickranasinghe e presume-se que seja verdadeira¹. Hoyle disse que a probabilidade de a vida ter surgido na Terra não é maior do que a chance de um furacão, ao passar por um ferro-velho, ter a sorte de construir um Boeing 747. (…)

A nota de rodapé diz: “¹ O design inteligente já foi descrito, com bastante deselegância, comoo o criacionismo num smoking vagabundo.”

Deselegante, desonesto e desprezível é usar um “argumento do espantalho“, alegando — o que é ainda mais covarde — uma suposta “incerteza” quanto à veracidade sobre a origem de um argumento que não convém. Tanto mais que essa “imagem do Boeing 747” é descrita em detalhes no livro “O Universo Inteligente” de Fred Hoyle, editado em Portugal pelo Editorial Presença (meu exemplar ainda está em algum caixote em Araruama, junto com o resto de minha biblioteca… portanto, não posso transcrever o texto e indicar a página). E — para “entregar” a mal-disfarçada falácia — Dawkins puxa uma nota de pé de página falando de “Intelligent Design” (ID), misturando com absoluta falta de caráter livremente as ideías de Hoyle ao Criacionismo Bíblico.

Em primeiro lugar, o “ferro-velho” de Hoyle contém, especificamente, todas as peças necessárias para a construção de um 747 — coisa que Dawkins omite, para deixar a idéia mais “ridícula”. Em segundo lugar, Dawkins nem se dá ao trabalho de contestar a argumentação de Hoyle com dados e cálculos — apenas passa a mencionar a “Falácia do 747”, como se um astrônomo fosse menos capaz de calcular probabilidades do que um etólogo, e o “erro” de Hoyle tão gritante que qualquer estudante de 2º grau pudesse perceber.

Dawkins poderia, pelo menos, ter-se dado ao trabalho de ler o que Hoyle escreveu para apresentar uma contra-argumentação decente (como eu cai na asneira de fazer fiz para saber o que de tão empolgante os prosélitos do ateísmo encontravam nesse livro).

Bom… Chega de falar de Dawkins! Eu quero falar de Hoyle. E começo com a pergunta:

Hoyle era criacionista?

A resposta é um sonoro e enfático “NÃO!”

Hoyle foi (e é, até hoje) ridicularizado por ter-se oposto ferrenhamente contra o Modelo Cosmológico do “Big Bang”. Aliás, foi ele que cunhou o termo “Big Bang”, a título de gozação com algo que ele julgava insuportavelmente “criacionista”. Em lugar de adotar uma misteriosa “flutuação quântica do nada” para substituir a igualmente misteriosa “Inteligência Criadora”, Hoyle preferiu acreditar que o Universo não tinha começo, nem fim.

Ironicamente, foram dele mesmo as maiores contribuições para solucionar diversos problemas no modelo cosmológico que ele rejeitava. A síntese de elementos “pesados” no interior das estrelas, a previsão de um Fundo Cósmico de Microondas (que Hoyle calculou estar em outra faixa de freqüência), e até uma idéia de um “Campo de Criação” — que, devidamente corrigido, foi o cerne para a “inflação cósmica” do modelo do “Big Bang” — foram problemas que ele contribuiu decisivamente para resolver. O modelo cosmológico defendido por Hoyle, o “Estado Estacionário”, não é mais aceito por cientista algum… mas Hoyle morreu discutindo que diversos indícios que comprovam o modelo do “Big Bang” (inclusive o Fundo Cósmico de Microondas), poderiam ter outra explicação… o que não contribuiu em nada para que suas outras idéias ganhassem mais credibiliade… muito ao contrário.

Mas uma coisa é insistir em uma abordagem científica pouco promissora (ou errada, se quiserem…), e outra, totalmente diferente, é propor uma abordagem totalmente anti-científica e que se baseia em algum “poder sobrenatural”: isso, Hoyle não fez!

O “Universo Inteligente” de Hoyle não foi “projetado” por nehum “ser superior”, nem tem um “propósito” que possamos intuir. Ele apenas favorece a evolução (e não só dos seres vivos — Hoyle se preocupava muito mais com estrelas e galáxias) em um determinado sentido e não em outro. Uma extrapolação da “quebra de simetria” que ocorre com a Força Nuclear Fraca, embora Hoyle jamais use essa analogia. Em seu livro, Hoyle faz uma sugestão tão disparatada como qualquer outra: a “informação” necessária teria origem no futuro. Ou, dito de outra forma, o futuro causa o passado. (Eu acho a idéia mais revoltante do que a de um “ser superior”… mas a matemática funciona…)

Por que, então, Hoyle “desmentia” toda a mainstream da biologia e adotava a panspermia como provável origem da vida na face da Terra?

Por uma questão de coerência, ouso dizer. O universo de Hoyle tinha toda a eternidade para criar a vida. Aliás, mesmo concedendo o modelo do “Big Bang”, se compararmos a idade estimada para o universo, com a idade estimada para a Terra, fica difícil entender como é que a vida poderia ser um fenômeno restrito a este planeta e surgido, graças ao simples acaso, em tão pouco tempo. Sim, porque a Terra apareceu anteontem no universo, mas a matéria-prima para a vida está por aí faz muito mais tempo. Hoyle chegou a explorar “formas de vida extraterrestres” em sua novela de sci-fi, “The Black Cloud“, onde uma nuvem de material (orgânico) interestelar acaba por se revelar dotada de inteligência (e uma inteligência muito maior do que a humana… para variar…)

By the way, uma das “explicações” que Hoyle avançava para o desvio para o vermelho, era a deflexão da luz distante por nuvens interestelares de matéria orgânica (veja aqui). Um delírio? Pode ser…

O fato é que partidários de Hoyle (não sei se de todas as idéias, mas certamente da panspermia), foram buscar indícios de vida na estratosfera… e tiveram sucesso!

Isso “prova” que Hoyle estava certo?… Claro que não! A origem mais provável das bactérias estratosféricas é a Terra, mesmo. Pelo menos há a certeza que existe vida na Terra e as bactérias não são diferentes de outras que encontramos em ambientes profundamente hostís à maior parte dos organismos terrestres. Uma “prova” para as teorias abraçadas por Hoyle, seria a descoberta de organismos (ou de vestígios deles) no material coletado pela sonda Stardust — coisa que, até agora, não aconteceu.

Mas são mais três espécies para a categoria dos extremófilos. A vida na própria Terra é muito mais estranha do que supunha a nossa vã filosofia… E pode muito bem ser que Hoyle, ao remar contra a maré, tenha contribuído, mais uma vez, para solucionar problemas com modelos (neste caso, do Modelo Biológico Evolutivo) que ele próprio rejeitava…

Um Jovem Pulsar

[Traduzido de A young pulsar show its hands]

Chandra X-ray Center

A “mão” de um pulsar jovem
 


IMAGEM:

Esta imagem contém dados em infravermelho, raios-X e radiofrequência. Ela mostra o ambiente no qual a nebulosa do pulsar se expande.

Clique aqui para mais informações.

Um pequeno e denso objeto com somente 24 km de diâmetro é o responsável por esta bela nebulosa de raios-X que se estende por 150 anos luz. No centro desta imagem feita pelo Observatório Chandra de Raios-X da NASA está um pulsar muito jovem e poderoso, conhecido como PSR B1509-58,
ou B1509 abreviadamente. O pulsar é uma estrela de nêutrons que gira muito rapidamente e está espalhando energia pelo espaço vizinho, criando estruturas complexas e intrigantes, inclusive uma que lembra uma enorme mão cósmica. Nesta imagem, os raios-X de menor energia, detectados pelo Chandra, aparecem na cor vermelha, a faixa média em verde e os mais energéticos em azul. Os astrônomos acreditam que o B1509 tenha cerca de 1.700 anos e ele está localizado a cerca de 17.000 anos luz de distância.


IMAGEM: 

No centro desta imagem do Chandra, está o pulsar — somente 24 km de diâmetro — que é responsável pela nebulosa de raios-X que se estende por 150 anos luz.

Clique aqui para mais informações.

Estrelas de Nêutrons são o resultado de  estrelas de grande massa que ficam sem combustível e entram em colapso. O B1509 dá uma volta completa a quase 7 rotações por segundo e libera energia nas vizinhanças de modo prodigioso — presumivelmente porque ele tem um intenso campo magnético em sua superfície, estimado como sendo 15 trilhões de vezes mas forte do que o campo magnético da Terra.

A combinação da rápida rotação com o campo magnético ultra forte torna o B1509 um dos mais poderosos geradores eletromagnéticos da Galáxia. Esse gerador “sopra” um vento energético de elétrons e íons para fora da estrela de nêutrons. Ao se moverem através da nebulosa magnetizada, eles irradiam sua energia e criam a nebulosa elaborada enxergada pelo Chandra.

Nas regiões mais interiores, um tênue círculo envolve o pulsar e marca o local onde o vento é rapidamente desacelerado pela nebulosa que se expande devagar. Dessa forma, o B1509 partilha algumas chocantes similaridades com a famosa Nebulosa do Caranguejo. No entanto, a nebulosa do B1509 tem um diâmetro 15 vezes maior do que os 10 anos luz da Nebulosa do Caranguejo.


IMAGEM:

Esta representação gráfica mostra a diferença no tamanho da nebulosa em torno do pulsar B1509-58 e sua prima mais famosa, a Nebulosa do Caranguejo.

Clque aqui para mais informações.

As estruturas em forma de dedos que se estendem ao Norte, aparentemente energizam nódulos de matéria em uma nuvem de gás vizinha, conhecida como RCW 89. A transferência de energia do vento para estes nódulos faz com que os últimos brilhem na faixa dos raios-X (as áreas laranja e vermelha, acima à direita). A temperatura nessa região parece variar em um padrão circular em torno desse anel de emissão, o que sugere que o pulsar pode estar em uma precessão como um pião que gira e varrendo o gás na RCW 89 com um feixe de energia.

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O Centro de Voo Espacial Marshall da NASA em Huntsville, Alabama, gerencia o programa Chandra para a Diretoria de Missões Científicas da NASA em Washington. O Observatório Astrofísico do Instituto  Smithsoniano controla as operações científicas e de voo do Chandra a partir de Cambridge, Massachussets.


Atualizando em 8 de abril: A imagem da “mão” do Pulsar, em alta definição, está no “NASA Picture of the Day” de hoje. Dá um lindo “papel de parede”.

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