Como a luz se comporta em um espaço curvo

Pesquisadores da FAU investigam como a luz se comporta no espaço curvo

UNIVERSIDADE DE ERLANGEN-NUREMBERG

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Na imagem desta experiência, um feixe laser se propaga ao longo da superfície bidimensional de um objeto com o formato de uma ampulheta, curvando-se em torno do meio do objeto. Isso é um exemplo de objeto com curvatura negativa (tal como uma sela, por exemplo), em contraste com um objeto com curvatura positiva, tal como uma esfera.
CRÉDITO DA IMAGEM: Vincent Schultheiß

Quando querem investigar a influência da gravidade sobre a propagação da luz, usualmente os pesquisadores têm que se valer de distâncias astronômicas e massas enormes. Porém os físicos da Friedrich-Alexander-Universität Erlangen-Nürnberg (FAU) e da Universidade Friedrich Schiller, Jena, demonstraram que há outro meio. Em uma recente edição da publicação Nature Photonics eles encontraram as respostas para as questões astronômicas no laboratório, mudando a abordagem para uma propriedade pouco lembrada dos materiais: a curvatura da superfície.

Segundo a Teoria da Relatividade Geral de Einstein, a gravidade pode ser descrita como uma curvatura do espaço-tempo em quatro dimensões. Nesse espaço curvo, os corpos celestes e a luz se movem ao longo de geodésicas, o caminho mais curto entre dois pontos, que frequentemente se parecem com qualquer outra coisa, menos uma linha reta, quando vistas de fora.

A equipe de pesquisadores, liderada pelo Prof. Dr. Ulf Peschel da Universidade Friedrich Schiller, Jena, se valeu de um truque especial para examinar a propagação da luz em tais espaços curvos no laboratório. Em lugar de modificar todas as quatro dimensões do espaço-tempo, eles reduziram o problema a duas dimensões e estudaram a propagação da luz ao longo de superfícies curvas. Porém nem todas as superfícies curvas são a mesma coisa. “Por exemplo, se pode facilmente abrir um cilíndro ou um cone em uma folha de papel plana. Mas é impossível abrir uma superfície esférica em um plano, sem dividí-la ou distorcê-la”, explica Vincent Schultheiß, estudante de doutorado na FAU e principal autor do estudo. “Um exemplo bem conhecido disso são os mapas do mundo que sempre retratam a superfície de modo distorcido. A curvatura da superfície de uma esfera é uma propriedade intrínseca que não pode ser modificada e tem efeitos na geometria e na física em uma superfície bidimensional como ela”.

A experiência dos pesquisadores examinou os efeitos dessa curvatura intrínseca do espaço sobre a propagação da luz. Para fazer isso, eles capturaram a luz em uma pequena área próxima da superfície de um objeto especialmente preparado e a forçaram a seguir o curso da superfície. Na medida em que a luz se propagou, se comportou da mesma forma que o faz quando é defletida por grandes massas. Mudando-se a curvatura da superfície é possível controlar a propagação da luz. Consequentemente, também é possível deduzir o grau de curvatura de uma superfície pela análise da propagação da luz. Quando se aplica isso às observações astronômicas, significa que a luz que chega até nós das estrelas distantes traz consigo valiosas informações sobre o espaço que ela atravessou.

Em seu trabalho os pesquisadores estudaram a interferometria de intensidade, campo onde os pioneiros foram os físicos ingleses Robert Hanbury Brown e Richard Twiss, que é usada para determinar o tamanho das estrelas próximas do Sol. Nesta técnica de medição, posiciona-se dois telescópios afastados entre si e focalizados na estrela a ser examinada. Então se compara as flutuações na intensidade da luz medida pelos dois telescópios. Como as flutuações da intensidade são resultantes das interferências da luz emitida separadamente pela superfície da estrela – visualizada como um padrão de pontos de luz nas imagens produzidas – isto permite tirar conclusões sobre o tamanho do objeto observado.

Como as trajetórias da luz em um espaço curvo tendem a convergir ou divergir muito mais do que em um espaço plano, o tamanho dos pontos muda em função da curvatura. Os pesquisadores demonstraram que cohecer a curvatura é crucial para a interpretação dos resultados e que a interferometria é adequada para a medição mais exata da curvatura do unverso em geral.

Se os resultados desta pesquisa irão mesmo levar a uma melhor compreensão do universo, é algo ainda escrito nas estrelas. “O principal objetivo da pesquisa era transferir as descobertas com base na Teoria da Relatividade para a ciência de materiais, por meio da cuidadosa modelagem das superfícies dos objetos”, explica o Professor Peschel. Embora esses dois campos pareçam totalmente sem relação, a uma primeira vista, projetos planos são muito mais fáceis de construir. No entanto, superfícies curvas têm um potencial que ainda não foi explorado e poderiam ser usadas para controlar a luz em sistemas óticos, por exemplo. Criar variações locais na curvatura da superfície pode frequentemente ter o mesmo efeito que mudar o próprio volume do material.  Isto pode permitir a redução no número de etapas e na quantidade de materiais empregados na manufatura de circuitos óticos integrados, ou componentes micro-óticos.

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Inflações secundárias? Pode ser…

Nova teoria de inflação secundária apresenta novas opções para evitar o problema de um excesso de matéria escura

Físicos sugerem que um período menor de expansão inflacionária nos instantes logo após o Big Bang podem explicar a quantidade estimada dessa matéria misteriosa

DOE/BROOKHAVEN NATIONAL LABORATORY

14 de janeiro de 2016 – UPTON, NY — A cosmologia padrão – ou seja, a Teoria do Big Bang, com seu período inicial de expansão exponencial – é o modelo mais aceito para nosso universo, no qual todo o espaço e tempo incharam como um balão, a partir de um ponto muito quente e muito denso, para virar uma vastidão homogênea e sempre em expansão. Essa teoria dá conta de vários fenômenos físicos que observamos. Mas e se isso não for tudo?

Uma nova teoria dos físicos do Laboratório Nacional de Brookhaven, do Laboratório Nacional do Acelerador Fermi e da Universidade Stony Brook, que será publicada online em 18 de janeiro em Physical Review Letters, sugere ter havido um segundo período inflacionário mais curto que pode dar conta da quantidade estimada de matéria escura no cosmos.

“Em geral, uma teoria fundamental da natureza pode explicar certos fenômenos, mas ela pode, no fim, não acabar dando a quantidade certa de matéria escura”, argumenta Hooman Davoudiasl, líder de grupo no Grupo Teórico de Altas Energias do Laboratório Nacional Brookhaven e um dos autores do artigo. “Se você acabar com pouca matéria escura, sempre pode sugerir uma nova fonte para esta, porém matéria escura demais é um problema”.

Medir a quantidade de matéria escura no universo não é uma tarefa fácil. Ao fim e ao cabo ela é escura, de forma que não interage de maneira significativa com a matéria comum. Não obstante, os efeitos gravitacionais da matéria escura dão aos cientistas uma boa ideia de quanto dela existe por aí. As melhores estimativas indicam que ela perfaz cerca de um quarto do total de massa-energia do universo, enquanto que a matéria comum – esta que compõe as estrelas, nosso planeta e nós mesmos – compreende apenas 5%. A matéria escura é a substância dominante no universo, o que levou os físicos a criar teorias e experiências para explorar suas propriedades e entender o que deu origem a ela.

Algumas teorias que apresentam explicações elegantes para certas esqusitices na física que nos deixam perplexos – por exemplo, a pasmante fraqueza da gravidade em comparação com as outras interações fundamentais (eletromagnética, nuclear forte e nuclear fraca) – não podem ser totalmente aceitas porque predizem mais matéria escura do que as observações empíricas podem apoiar.

Esta nova teoria soluciona este problema. Davoudiasl e seus colegas adicionam um novo passo à sequência de eventos comumente aceita na criação do espaço e tempo.

Na cosmologia padrão, a expansão exponencial do universo – chamada de inflação cósmica – teve início provavelmente logo aos 10-35 segundo depois do começo do tempo – isso é zero vírgula 34 zeros, um. Essa expansão explosiva de todo o espaço durou meras frações de uma fração de segundo, o que levou eventualmente a um universo quente, seguido de um período de resfriamento que continua até os presentes dias. Então, quando o universo tinha entre alguns segundos e alguns minutos de idade – ou seja, ficou frio o bastante – começou a formação dos elementos mais leves. Entre esses marcos, podem ter acontecido outros interlúdios inflacionários. argumenta Davoudiasl.

“Eles não teriam sido grandiosos ou tão violentos como o inicial, mas poderiam dar conta de uma diluição da matéria escura”, explica ele.

No começo, quando as temperaturas ultrapassavam bilhões de graus em um volume de espaço relativamente pequeno, as partículas de matéria escura podiam se chocar e se aniquilarem no contato, passando sua energia para os constituíntes da matéria comum – partículas tais como elétrons e quarks. Mas, na medida em que o universo continuou a se expandir e esfriar, as partículas de matéria escura se encontravam cada vez menos vezes e a taxa de aniquilação não conseguia dar conta da taxa de expansão.

“Neste ponto, a abundância de matéria escura foi cozinhada com o resto do bolo”, prossegue Davoudiasl. “Lembrem-se que a matéria escura interage de maneira muito fraca. Dessa forma, não pode continuar a existir uma taxa de aniquilação significativa em temperaturas mais baixas. A auto-aniquilação da matéria escura se torna ineficaz bem cedo e a quantidade de partículas de matéria escura fica congelada”.

No entanto, quanto mais fracas forem as interações da matéria escura – ou seja, quanto menos eficiente for a auto-aniquilação – maior deveria ser a abundância final de partículas de matéria escura. Na medida em que as experiências colocam restrições cada vez maiores na força das interações da matéria escura, algumas teorias correntes acabam por superestimar a quantidade de matéria escura no universo. Para colocar as teorias em alinhamento com as observações, Davoudiasl e colegas sugerem que aconteceu um outro período inflacionário, alimentado por interações em um “setor oculto” da física. Esse segundo período de inflação, mais suave, caracterizado por um rápido crescimento do volume, teria diluído a abundância primordial de partículas, potencialmente deixando o universo com a densidade de matéria escura que observamos atualmente.

“Definitivamente não é a cosmologia padrão, mas temos que aceitar que o universo pode não ser governado pela maneira padrão que pensamos”, disse ele. “Porém, não tivemos que construir alguma coisa complicada. Nós demonstramos que um modelo simples pode obter essa pequena quantidade de inflação no universo primevo e dar conta da quantidade de matéria escura que acreditamos haver por aí”.

Provar a teoria é outra coisa totalmente diferente. Davoudiasl diz que pode haver uma maneira de procurar por, pelo menos, as mais fracas interações entre o setor oculto e a matéria comum.

“Se esse período inflacionário secundário aconteceu, ele pode ser caracterizado por energias dentro do alcance de experiências em aceleradores tais como o Relativistic Heavy Ion Collider (RHIC) e o Large Hadron Collider,” diz ele. Somente o tempo dirá se os sinais de um setor oculto vão aparecer ns colisões dentro desses aceleradores, ou em outras instalações experimentais.

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Um quasar de pança cheia

EurekAlert

Um quasar quieto aparentemente engoliu tudo o que podia

UNIVERSIDADE DE WASHINGTON

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IMAGEM: Concepção artística do quasar que mudou de aparência, tal como ele apareceu pela primeira vez no início de 2015. A região brilhante em azul mostra o restinho de gás sendo engolido pelo Buraco Negro central.

Crédios: DANA BERRY / SKYWORKS DIGITAL, INC.

Os astrônomos da Sloan Digital Sky Survey (SDSS) anunciaram que um quasar distante encheu a pança.

Suas conclusões, relatadas no Encontro da American Astronomical Society, em Kissimmee, Florida, em 8 de janeiro, explicam por que o quasar SDSS J1011+5442 mudou tão dramaticamente nos poucos anos entre as observações.

“Nós estamos acostumados a pensar que os céus são imutáveis”, explica o professor de astronomia da Universidade de Washington Scott Anderson, que é o principal investigador da Pesquisa Espectrocópica de Domínio de Tempo da SDSS. “A SDSS nos proporciona uma grande oportunidade de ver a mudança assim que ela acontece”.

Os quasares são as áreas compactas no centro das grandes galáxias no meio das quais normalmente há um buraco negro massivo. Por exemplo, o buraco negro no centro da J1011+5442 tem uma massa cerca de 50 milhões de vez a de nosso Sol. À medida em que o buraco negro engole o gás superaquecido, ele emite vastas quantidades de ondas de luz e rádiofrequência. Quando os astrônomos da SDSS fizeram suas primeiras observações da J1011+5442 em 2003, eles mediram o espectro do quasar, o que lhes permitiu compreender as propriedades do gás que estava sendo absorvido pelo buraco negro. Em particular, a proeminente linha de “hidrogênio-alpha” no espectro, revelava quanto gás estavga caindo para dentro do buraco negro central.

A SDSS mediu outro espectro desse quasar no início de 2015 e percebeu uma enorme diminuição de 2003 para 2015. A equipe então se valeu de observações adicionais feitas por outros telescópios ao longo desses 12 anos para estreitar o período da mudança.

“A diferença era abaladora e sem precedentes”, disse o estudante de pós-graduação em astronomia da UW John Ruan, membro da equipe. “A emissão de hidrogênio-alpha caiu para algo 50 vezes menor em menos de 12 anos e o quasar agora se parece com uma galáxia normal”.

A mudança foi tão grande que toda a colaboração SDSS e toda a comunidade de astronomia passou a chamá-lo de “quasar que mudou de aparência”. O buraco negro continua lá, é claro, porém nos últimos 10 anos parece ter engolido todo o gás em suas vizinhanças. Com o gás todo absorvido pelo buraco negro, a equipe da SDSS não foi capaz de detectar a assinatura espectroscópica do quasar.

“Esta é a primeira vez que vemos um quasar desligar tão dramática e rapidamente”, diz a principal autora Jessie Runnoe, pesquisadora pós-doutorado na Pennsylvania State University.

Antes de Runnoe, Ruan e seus colegas chegarem a essa conclusão, tinham que eliminar outras duas possibilidades. Uma nuvem de poeira poderia ter-se interposto entre os observadores e a Terra, obscurecendo a visão do burco negro central. Porém, concluíram que de forma alguma qualquer nuvem de poeira pudesse ter-se movido rápido o suficiente para causar uma queda de 50 vezes na luminosidade em apenas dois anos. Outra possibilidade era que o brilhante quasar observado em 2003 fosse apenas um clarão temporário causado pela absorção pelo buraco negro de uma estrela próxima. Embora essa possibilidade tenha sido aventada em casos similares, ela não pode explicar o fato que o quasar que mudou de aparência, tenha brilhado por tantos anos antes de apagar.

A conclusão da equipe é que o quasar gastou todo o gás quente e brilhante em suas vizinhanças, o que levou a um rápido declínio em seu brilho.

“Essencialmente, ele ficou sem comida, pelo menos por enquanto”, diz Runnoe. “Nós fomos felizes em termos flagrado ele antes e depois”.

O quasar que mudou de aparência é a maior descoberta relatada pela Pesquisa Espectrocópica de Domínio de Tempo, um componente da quarta fase da SDSS que vai prosseguir pelos próximos anos.

“Nós descobrimos esse quasar porque voltamos para estudar novamente milhares de quasares já vistos antes”, disse Anderson. “Essa descoberta só foi possível porque a SDSS tem tanta profundidade e continuou por tanto tempo”.

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Como se cria um universo (versão digital)

EurekAlert

Pesquisadores modelam o nascimento do universo em uma das maiores simulações cosmológicas jamais processadas

DOE/ARGONNE NATIONAL LABORATORY

Os pesquisadores estão peneirando uma avalanche de dados produzidos por uma das maiores simulações cosmológicas jamais realizadas, liderada pelos cientistas do Laboratório Nacional Argonne do Departamento de Energia (DOE) do Governo dos EUA..

A simulação, processada no supercomputador Titan do Laboratório Nacional Oak Ridge do DOE,  modelou a evolução do universo desde apenas 50 milhões de anos após o Big Bang até os dias atuais – de sua primeira infância até sua atual maturidade. Durante o curso de 13,8 bilhões de anos, a matéria do universo se agregou, formando galáxias, estrelas e planetas, mas não sabemos exatamente como isso se deu

Este tipo de simulação auxilia os cientistas a compreender a energia escura, uma forma de energia que afeta a taxa de expansão do universo, inclusive a distribuição das galáxias, compostas por matéria comum e matéria escura, um tipo misterioso de matéria que nenhum instrumento foi capaz de medir até agora,

Levantamentos celestes Intensivos com poderosos telescópios, tais como o Sloan Digital Sky Survey e o novo Dark Energy Survey  mostram aos cientistas onde as galáxias e estrelas estavam quando sua luz foi inicialmente emitida. E os levantamentos da Radiação cósmica de fundo em micro-ondas (CMB, na sigla em inglês), a luz remanescente de quando o universo tinha apenas 300.000 anos de idade, nos mostra como o universo começou – “muito uniforme, com a matéria se agregando ao longo do tempo”, nas palavras de Katrin Heitmann, uma física do Argonne que liderou a simulação.

A simulação visa a preencher a lacuna temporal para mostrar como o universo deve ter evoluido nesse intervalo: “A gravidade atua sobre a matéria escura que começa a se aglomerar cada vez mais e, nesses aglomerados, se formam as galáxias”, diz Heitmann.

Chamada de “Q Continuum”, a simulação envolveu meio trilhão de partículas – dividindo o universo em cubos de 100.000 km de aresta. Isso a torna uma das maiores simulações cosmológicas em uma definição tão grande. Ela rodou usando mais de 90% da capacidade do supercomputador. Para dar uma ideia, normalmente menos de 1% dos trabalhos usam 90% da capacidade do suprcomputador Mira no Argonne, disseram os administradores da Argonne Leadership Computing Facility, do DOE  Pessoal de computação, tanto do Argonne, quanto do Oak Ridge, auxiliou a adaptar o programa para rodar no Titan.

“Esta é uma simulação muito detalhada”, afirma Heitmann. “Podemos usar esses dados para examinar por que as galáxias se aglomeram desta forma, assim como estudar a física fundamental da própria formação da estrutura”.

A análise dos dois e meio petabytes de dados gerados já começou e vai continuar por vários anos, diz ela. Os cientistas podem extrair dados de fenômenos astrofísicos tais como lentes gravitacionais fortes, lentes gravitacionais fracas, lentes de aglomerados e lentes galáxia-galáxia.

O programa para rodar a simulação é chamado de Hardware/Hybrid Accelerated Cosmology Code (HACC), inicialmente escrito em 2008, mais ou menos quando os supercomputadores científicos romperam a barreira do petaflop (um quatrilhão de operações por segundo). O HACC foi projetado com uma flexibilidade inerente que permite que ele rode em supercomputadores com diferentes arquiteturas

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Os detalhes do trabalho estão contidos no estudo “The Q continuum simulation: harnessing the power of GPU accelerated supercomputers,” publcado em agosto em Astrophysical Journal Supplement Series pela American Astronomical Society. Os outros cientistas do Argonne neste estudo são Nicholas Frontiere, Salman Habib, Adrian Pope, Hal Finkel, Silvio Rizzi, Joe Insley e Suman Bhattacharya, além de Chris Sewell do Laboratório Nacional de Los Alamos (também do DOE).

 

CAST explora o lado negro do universo

Original em inglês por Corinne Pralavorio – 18 Set 2015. Última atualização em 21 Set 2015.

Vídeo em timelapse do CAST seguindo o Sol pela manhã e à tarde (Vídeo: Madalin-Mihai Rosu/CERN)

Pelos próximos 10 dias o Telescópio de Áxions Solares do CERN (CERN’s Axion Solar Telescope  – CAST) receberá os raios do Sol. O curso do Sol só fica visível da janela da instalação do CAST duas vezes por ano, em março e setembro. Os cientistas vão se aproveitar desses poucos dias para melhorar o alinhamento do detector com o Sol até um décimo de um radiano.

No período fora desse alinhamento, o CAST segue o Sol, mas não consegue vê-lo. O experimento com astropartículas procura por áxions solares, partículas hipotéticas que, se acredita, interagem de modo tão fraco com a matéria comum que passam livremente pelas paredes. É para detectar essas partículas elusivas que o detector do CAST segue o movimento do Sol por uma hora e meia no nascente e outras hora e meia durante o poente.

Os áxions foram propostos como solução para solucionar uma discrepância entre a teoria do infinitamente pequeno e o que é realmente observado. Eles foram batizados com uma marca de sabão em pó porque sua existência pode permitir a “limpeza” da teoria. Se eles existirem, os áxions podem também ser bons candidatos para a vaga de matéria escura do universo.. Acredita-se que a matéria escura represente 80% da matéria do universo, porém sua verdadeira natureza ainda é desconhecida.

Depois de 12 anos de pesquisa, o CAST (ainda) não detectou áxions solares, mas já estabeleceu os limites mais restritivos para sua força de interação. Por conta disso, a experiência se tornou a referência global sobre o assunto.

 Pesquisadores e membros da colaboração CAST instalam seus equipamentos para alinhar o telescópio com a posição do Sol. (Imagem: Sophia Bennett/CERN)

Ao longo de dois anos, a colaboração que envolve cerca de 70 pesquisadores de 20 e tantos institutos, também procurou por outro tipo de partícula hipotética: camaleões. Estas foram propostas para soluconar o problema da energia escura. A energia escura que, como seu nome sugere, permanece misteriosa e indetectável, e tida como representante de 70% de toda a energia do universo e como responsável pela expansão observada no cosmos. Teorias propõem que essa energia escura seja uma quinta força fundamental e que as partículas camaleão podem comprovar a existência dessa força. Elas foram batizadas com o nome do réptil porque, se acredita, elas podem interagir de formas diferentes segundo a densidade do material com quem interagem.

Se as camaleões existirem, elas poderiam, tal como os áxions, ser também produzidas pelo Sol e detectadas pelo CAST. A colaboração acaba de instalar dois novos detectores nas extremidades na ponta do magneto. E também está se preparando para instalar um sensor inovativo com uma membrana ultra fina, capaz de detectar um deslocamento da ordem de 10-15 metros – o tamanho de um núcleo atômico!

Em busca da matéria escura

Dark Energy Survey cria um guia detalhado para encontrar a matéria escura 

A análise dos dados ajudará os cientistas a compreender o papel da matéria escura na formação das galáxias

DOE/FERMI NATIONAL ACCELERATOR LABORATORY

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IMAGEM: Este é o primeiro mapa do Dark Energy Survey que detalha a distribuição da matéria escura ao longo de uma grande área dos céus. As cores representam as densidades projetadas: vermelho e amarelo, as de maior densidade. O mapa de matéria escura reflete o quadro atual de distribuição de massas no universo, onde grandes filamentos de matéria se alinham com galáxias e aglomerados de galáxias. Os aglomerados de galáxias são representados pelas manchas cinzentas no mapa – manchas maiores representam aglomerados maiores. Este mapa cobre 3% da área dos céus que será eventualmente pesquisada pelo DES em sua missão de cinco anos.

CRÉDITO: DARK ENERGY SURVEY

 

Os cientistas do Dark Energy Survey divulgaram o primeiro de uma série de mapas da matéria escura no cosmos. Esses mapas, criados com uma das câmeras digitais mais poderosas do mundo, são os maiores mapas contínuos com este nível de detalhe e ajudarão nossa compreensão do papel da matéria escura na formação das galáxias. A análise da granulação da matéria escura nos mapas também permitirá aos cientistas exploraram a natureza da msiteriosa energia escura que se acredita estar causando a aceleração da expansão do universo.

Os novos mapas foram divulgados hoje na reunião de abril da American Physical Society em Baltimore, Maryland. Eles foram criados a partir dos dados obtidos pela Câmera de Energia Escura (Dark Energy Camera), um dispositivo de imageamento de  570 megapixels que é o principal instrumento do Dark Energy Survey (DES).

A matéria escura, a misteriosa substância que responde por cerca de um quatro do universo, é invisível até para os mais sensíveis instrumentos astronômicos porque não emite ou absorve luz. Mas seus efeitos podem ser vistos através do estudo de um fenômeno chamado de lente gravitacional – a distorção que ocorre quando a gravidade da matéria escura desvia a luz em torno de galáxias distantes. A compreensão do papel da matéria escura é parte do programa de pesquisa para quantificar o papel da energia escura, o objetivo principal deste levantamento.

A presente análise foi liderada por Vinu Vikram do Argonne National Laboratory (então na Universidade de Pennsylvania) e Chihway Chang do ETH Zurich. Vikram, Chang e seus colaboradores na Penn, no ETH Zurich, na Universidade de Portsmouth, na Universidade de Manchester e outras instituições associadas ao DES, trabalharam por mais de um ano para validar os mapas das lentes gravitacionais.

“Nós medimos as distorções quase imperceptíveis nas aparências de cerca de 2 milhões de galáxias para construir esses novos mapas”, declarou Vikram. “Eles são um testemunho, não só da sensibilidade da Câmera de Energia Escura, como também do rigoroso trabalho de nossa equipe de análise de lentes gravitacionais para compreender sua sensibilidade tão bem que fomos capazes de obter resultados de tamanha precisão”.

A câmera foi construída e testada no Fermi National Accelerator Laboratory, do Departamento de Energia do governo dos EUA, e montada no telescópio de 4 metros Victor M. Blanco no Observatório Internacional de Cerro Tololo no Chile. Os dados foram processados no Centro Nacional de Aplicações de Supercomputação na Universidade de Illinois em Urbana-Champaign.

O mapa da matéria escura divulgado hoje resulta das primeiras observações do DES e cobre 3% da área dos céus que será coberta nos cinco anos da missão do DES.  O levantamento acaba de completar seu segundo ano. Na medida em que os cientistas expandirem suas buscas, serão capazes de testar as correntes teorias cosmológicas, comparando as quantidades de matéria visível e escura.

As teorias correntes sugerem que, uma vez que existe muito mais  matéria escura do que matéria visível no universo, as galáxias devem se formar onde estejam presentes grandes concentrações de matéria escura (e, portanto, maior atração gravitacional). Até agora, as análises do DES sustentam esta hipótese: os mapas mostram grandes filamentos de matéria ao longo dos quais as galáxias e aglomerados de galáxias de matéria visível existem, assim como grandes vazios onde existem poucas galáxias. Os estudos subsequentes de alguns filamentos e vazios, assim como o enorme volume de dados coletados pelo levantamento, revelarão mais acerca desta interação entre massa e luz.

“Nossa análise, até agora, é coerente com o quadro previsto para nosso universo”, diz Chang. “Ao darmos um zoom para dentro dos mapas, pudemos medir como a matéria escura envolve galáxias de diferentes tipos e como evoluem em conjunto ao longo do tempo cósmico. Estamos ansiosos para usar os novos dados que estão chegando para podermos realizar testes mais precisos ainda dos modelos teóricos”

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O Universo está acelerando?… Não tão depressa…

UNIVERSIDADE DO ARIZONA

Traduzido de: “Accelerating Universe? Not so fast”.

Certos tipos de supernovas, ou estrelas que passam por uma explosão, são mais diferentes do que se pensava, foi o que uma equipe de astrônomos da Univesidade do Arizona descobriu. Os resultados, relatados em dois artigos no Astrophysical Journal, têm implicações sobre importantes questões cosmológicas, tais como o quão rápido o universo vem se expandindo desde o Big Bang.

Mais importante ainda, as descobertas sugerem a possibilidade de que a aceleração da expansão do universo pode não ser tão grande quanto os livros texto dizem.

A equipe, liderada pelo astrônomo Peter A. Milne da UA, descobriu que as supernovas tipo Ia que eram consideradas tão uniformes que os cosmologistas as usavam como “faróis cósmicos” para medir as profundidades do universo, na verdade constituem duas populações diferentes. As descobertas são análogas a examinar uma seleção de lâmpadas de 100 W de uma loja de ferragens e descobrir que as luminosidades das mesmas variam.

“Descobrimos que as diferenças não são aleatórias, mas levam a separar as supernovas tipo Ia em dois grupos, onde o grupo que é minoria em nossas proximidades, é maioria nas grandes distâncias – e portanto quando o universo era mais jovem”, diz Milne, astrônomo associado do Departamento de Astronomia da UA e do Observatório Steward. “Existem populações diferentes lá fora e isso não era reconhecido. A suposição geral era que, perto ou longe, as supernovas tipo Ia eram as mesmas. Não parece ser esse o caso”.

A descoberta lança uma nova luz sobre a ideia atualmente aceita de que o universo está se expandindo cada vez mais rápido, esgarçado por uma força pouco entendida, batizada de energia escura. Esta ideia se baseia em observações que resultaram no Prêmio Nobel de Física de 2011, concedido aa três cientistas, entre os quais o ex-aluno da UA Brian P. Schmidt.

Os laureados com o Nobel descobriram independentemente que várias supernovas aparentavam ser mais tênues do que o previsto porque tinham se movido mais para longe da Terra do que deveriam, se o universo estivesse se expandindo em uma taxa constante. Isso indicava que a taxa com a qual as estrelas e galáxias estão se separando umas das outras estaria aumentando; em outras palavras, algo estava esgarçando o universo cada vez mais rápido.

“A ideia subjacente a este raciocínio” explica Milne, “é que as supernovas tipo Ia têm sempre a mesma luminosidade — todas elas acabam de modo bem semelhante quando explodem. Assim que souberam o motivo, passaram a usar essas estrelas como marcos quilométricos para medir o universo distante”.

“As supernovas muito distantes deveriam ser iguais às próximas porque se pareciam com elas, mas, porque elas são menos brilhantes do que se esperaria, isto levou à conclusão de que elas estão mais longe do que se pensava, o que, por sua vez, levou à conclusão de que o universo está se expandindo mais depressa do que no passado”.

Milne e seus coautores — Ryan J. Foley da Universidade do Illinois em Urbana-Champaign, Peter J. Brown da Universidade Texas A&M  e Gautham Narayan do Observatório Astronômico Ótico Nacional (National Optical Astronomy Observatory = or NOAO) em Tucson — observaram uma grande amostra de supernovas tipo Ia em ultravioleta e luz visível. Para este estudo, eles combinaram observações feitas com o Telescópio Espacial Hubble com as feitas pelo satélite Swift da NASA.

Os dados coletados pelo Swift foram cruciais porque as diferenças entre as populações — pequenos desvios para o vermelho ou para o azul — são sutis na luz visível que tinha sido utilizada para detectar as supernovas tipo Ia anteriormente, mas só ficaram óbvias com as observações posteriores com o Swift na faixa do ultravioleta.

“Estes são grandes resultados”, comentou Neil Gehrels, principal investigador do satélite Swift, coautor do primeiro artigo. “Estou encantado que o Swift tenha proporcionado observações tão importantes, relacionadas com uma meta totalmente independente de sua missão primária. Isto demonstra a flexibilidade de nosso satélite em responder prontamente a novos fenômenos”.

“A percepção de que existiam dois grupos de supernovas tipo Ia começou com os dados do Swift”, diz Milne. “Então analisamos outros conjuntos de dados para ver se víamos o mesmo. E descobrimos que a tendência estava presente em todos os conjuntos de dados”.

“À medida em que se volta atrás no tempo, vemos uma mudança na população de supernovas”, acrescenta ele. “A explosão tem algo de diferente, algo que não salta aos olhos na faixa de luz visível, mas visível no ultravioleta”.

“Como ninguém tinha percebido isto antes, todas essas supernovas eram enfiadas no mesmo saco. No entanto, se você olhar para 10 delas nas proximidades, elas estarão mais “avermelhadas” do que outra amostra de 10 supernovas mais distantes”.

Os autores concluem que alguns relatos de aceleração da expansão do universo podem ser explicados por diferenças na coloração entre os dois grupos de supernovas, o que daria uma aceleração menor do que a inicialmente calculada. Isto, por sua vez, levaria a menos energia escura do que se calcula correntemente.  .

“Nossa proposta é que nossos dados sugerem que pode haver menos energia escura do que dizem os atuais livros texto, no entanto não conseguimos traduzir isto em números”, disse Milne. “Até nosso artigo, as duas populações de supernovas eram tratadas como sendo da mesma população. Para obter a resposta final, será necessário realizar todo o trabalho de novo, separadamente para as populações azul e vermelha”.

 

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O artigo da pesquisa está disponível online em http://iopscience.iop.org/0004-637X/803/1/20/.

Planetas que orbitam estrelas binárias


University of Bristol

Um planeta, duas estrelas: uma nova pesquisa mostra como se formam planetas circumbinários

 

Por dos Sóis em Tatooine (do Filme “Guerra nas Estrelas”)

WikiMedia Commons


O planeta natal de Luke Skywalker, Tatooine, teria se formado longe de sua posição mostrada no universo do filme “Guerra nas Estrelas”. É o que diz um novo estudo realizado pela Universidade de Bristol com suas contrapartidas deste universo real, observadas pelo Telescópio Espacial Kepler.

Tal como o Tatooine da ficção, o planeta Kepler-34(AB)b é um planeta circumbinário, ou seja, sua órbita é em torno de duas estrelas. Existem poucos ambientes mais extremos do que um sistema estelar binário para a formação de planetas. As poderosas perturbações gravitacionais, vindas das duas estrelas, sobre os blocos de construção de planetas pode levar a colisões destruidoras que esfarelam o material. Então, como se pode explicar a presença de planetas assim?

Em uma pesquisa publicada nesta semana em Astrophysical Journal Letters, a Dra Zoe Leinhardt e seus colegas da Escola de Física de Bristol realizaram simulações em computador dos estágios iniciais da formação de planetas em torno de estrelas binárias, empregando um modelo sofisticado que calcula os efeitos da gravidade e das colisões sobre e entre um milhão desses “blocos de construção” de planetas.

Eles descobriram que a maioria desses planetas tem que ter se formado muito mais longe do centro de gravidade do sistema estelar binário e depois migrado para sua posição atual.

A Dra Leinhardt declarou: “Nossas simulações mostram que o disco circumbinário é um ambiente hostil até mesmo para objetos grandes e de forte gravidade. Levando em conta os dados sobre colisões, assim como a taxa de crescimento físico de planetas, descobrimos que Kepler 34(AB)b teria tido enormes dificuldades para se formar onde hoje o encontramos”.

Com base nessas conclusões sobre Kepler-34, parece provável que todos os planetas circumbinários atualmente conhecidos também tenham passado por significativas migrações desde os locais onde se formaram – com a possível exceção de Kepler-47 (AB)c que fica mais distante das estrelas binárias do que qualquer outro planeta circumbinário.

Stefan Lines, principal autor do estudo, declarou: “Os planetas circumbinários capturaram a imaginação de muitos escritores e diretores de filmes de ficção científica – nossa pesquisa mostra o quão notáveis são esses planetas. Compreender mais sobre onde eles se formam, vai ajudar em futuras missões de busca por planetas semelhantes à Terra em sistemas estelares binários”.

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Artigo

‘Forming circumbinary planets: N-body simulations of Kepler-34’ por S. Lines, Z. M. Leinhardt, S. Paardekooper, C. Baruteau e P. Thebault em Astrophysical Journal Letters

 

Matéria escura: até agora, nada!…

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Um evento no ATLAS entre dois fótons. Os fótons são denotados pelos rastros de energia na cor verde.

                 Crédito da Imagem:  Experiência ATLAS © 2013 CERN | http://bit.ly/LegAIF

Original (em inglês) por Charles Q. Choi, Contribuidor do ISNS

(ISNS) — A matéria escura é presentemente um dos maiores mistérios do universo. Agora os cientistas revelam que o mais poderoso colisor de partículas do mundo não desencavou qualquer indício dessa forma hipotética de matéria, o que coloca novos limites para aquilo que ela pode ser.

A matéria escura é, hipoteticamente, uma substância invisível e enigmática que – se acredita – deve responder por quase cinco sextos de toda a matéria existente no cosmo. Os astrônomos começaram a suspeitar de sua existência na década de 1930, quando perceberam que o universo parecia possuir mais massa do que aquela das estrelas (e todo o resto de matéria observável). Por exemplo, a velocidade com que as estrelas orbitam o centro da Via Láctea é tão grande que elas já deveriam ter vencido a atração gravitacional do núcleo da galáxia e terem escapado para o vazio intergalático, mas alguma coisa as mantem no lugar, coisa esta que a maioria dos pesquisadores acredita ser a gravidade de um material até hoje não observado: a matéria escura.

Os cientistas já descartaram todas as formas conhecidas de matéria candidatas ao papel de matéria escura. Até o presente o consenso é que a matéria escura seja constituída de uma forma nova e invisível de partículas, as quais só interagiriam muito fracamente com a matéria conhecida.

A matéria escura não pode ser explicada por qualquer uma das partículas do Modelo Padrão da física de partículas, a melhor descrição atual para o mundo na escala subatômica. Desta forma, elas devem aparecer a partir de uma física que vá além do Modelo Padrão. Uma das possibilidades está na ideia conhecida como supersimetria, a qual sugere que todos os tipos de partículas conhecidos do Modelo Padrão têm uma contrapartida, ainda não detectada. Por exemplo, os elétrons teriam suas contrapartidas denominadas selétrons. Outra possibilidade é a existência de partículas conhecidas como áxions, originalmente propostas pelos físicos teóricos para solucionar um dos enigmas relacionados com a força nuclear forte, uma das quatro forças fundamentais do universo, que mantém coesos os prótons e nêutrons do núcleo atômico.

A maior parte das experiências que buscam a matéria escura envolve gigantescos detectores subterrâneos que procuram as raras colisões entre a matéria comum e partículas de matéria escura que passam através da Terra. No entanto, muitas das teorias sugerem que o maior colisor de partículas já construído, o Large Hadron Collider, pode gerar partículas de matéria escura. Embora essas partículas de matéria escura consigam escapar indetectadas pelos sensores da máquina, os cientistas do LHC em Genebra, Suíça, ou aqueles por todo o mundo que fazem a interpretação dos dados das colisões, poderiam inferir sua existência a partir do comportamento de outros produtos dessas colisões. Eles poderiam usar os dados das colisões para inferir detalhes desses pedacinhos de matéria escura, tais como suas massas e suas seções de choque — quer dizer, a probabilidade delas interagirem com outras partículas.

Buscas anteriores pela matéria escura no LHC procuravam por jatos individuais de partículas, formadas quando se estraçalha próton contra próton em níveis de energias sem precedentes. Durante a temporada de 2012 do LHC run, a colaboração ATLAS realizou experiências com colisões mais complexas que geravam não apenas um único jato, como também dois jatos estreitos adicionais.

Estas novas descobertas excluem enfaticamente vários potenciais candidatos a matéria escura e a pesquisa foi detalhada online na Physical Review Letters. Especificamente, o trabalho “coloca interessantes restrições nas tentativas de estender o Modelo Padrão de física de partículas de forma mínima para explicar a matéria escura”, segundo o físico de astropartículas Gianfranco Bertone da Universidade de Amsterdam (que não tomou parte na pesquisa).

Embora estas descobertas excluam alguns possíveis candidatos a matéria escura, “Eu não penso que isso seja realmente um grande problema para as teorias de matéria escura, no momento”, diz o físico de partículas Andreas Hoecker, vice coordenador da Experiência ATLAS no CERN. “A melhor  teoria que temos para a matéria escura, a supersimetria, não fica excluída com estes resultados”.

Os cientistas estão agora fazendo melhorias nos aceleradores do LHC. “Em meados de 2015, o acelerador vai ser novamente ligado e terá uma capacidade de quase o dobro da energia que antes”, diz Hoecker. Isto significa que as futuras experiências “poderiam procurar pela formação de partículas supersimétricas, tais como squarks, gluínos e neutralinos com massas muito maiores do que o permitido nos dados anteriores”. Não se espera que as experiências do LHC detectem áxions, já que estes teoricamente têm seções de choque muito baixa, além das capacidades do acelerador.

Além disto, por volta de 2022, os melhoramentos no LHC devem atingir uma luminosidade 10 vezes maior — ou seja, esmagar 10 vezes mais prótons contra um alvo, a cada seção. Isso pode gerar potenciais partículas de matéria escura em números bem maiores do que antes, talvez em número suficiente para sua detecção, a despeito da raridade de sua interação com outras partículas, acrescenta Hoecker.

Se o LHC não detectar coisa alguma, mesmo a essas energias maiores e maior luminosidade, “ainda fica muito difícil excluir totalmente os modelos de supersimetria, porém os cientistas provavelmente vão perder o interesse”, argumenta Bertone. “Possivelmente os pesquisadores vão ter que procurar em outro lugar”.


Charles Q. Choi é um escritor de ciências freelance com base em Nova York que já escreveu para The New York Times, Scientific American, Wired, Science, Nature, e várias outras publicações

Esta semana no EurekAlert

ESO

Descoberto o primeiro planeta orbitando uma “gêmea” do Sol em um aglomerado estelar

 IMAGEM: Concepção artística de um dos três novos exoplanetas descobertos no aglomerado estelar Messier 67.

Clique aqui para mais informações.

O Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile, anunciou a descoberta de três planetas no aglomerado estelar Messier 67, um dos quais orbita uma estrela “gêmea” de nosso Sol.

Embora já se saiba que exoplanetas são comuns, pouquíssimos deles foram encontrados em aglomerados estelares, o que é até um pouco estranho, se considerarmos que a maioria das estrelas nasce dentro desses aglomerados..

Anna Brucalassi (do Instituto Max Planck de Física Extraterrestre, na Alemanha), principal autora do estudo diz: “No aglomerado Messier 67, as estrelas são todas da mesma idade e composição de nosso Sol. Isso faz desse aglomerado um laboratório perfeito para estudar quantos planetas podem se formar em um ambiente tão populoso e se eles tendem a se formar em torno de estrelas mais ou menos massivas”.

A equipe empregou o instrumento HARPS (High Accuracy Radial velocity Planet Searcher = Buscador de Planetas [por meio da medição da] Velocidade Angular de Alta Precisão), montado no telescópio de 3,6m no Observatório La Silla, cujos resultados foram cotejados com vários outros dados de observatórios pelo mundo inteiro.

O aglomerado fica a cerca de 2500 anos-luz de distância, na direção da constelação de Câncer, e contem cerca de 500 estrelas. Muitas das estrelas do aglomerado são mais tênues do que aquelas onde usualmente se procura por exoplanetas, o que levou as capacidades do HARPS ao limite. Os três planetas descobertos – dois deles orbitando estrelas similares ao Sol e um que orbita uma mais massiva que já evoluiu para o estágio de gigante vermelha – os dois primeiros tem uma massa de cerca de um terço da massa de Júpiter e orbitam sua estrela-mãe em períodos de sete e cinco dias, respectivamente. O terceiro leva 122 dias para orbitar a estrela-mãe e é mais massivo do que Júpiter.

Links

Artigo que relata a pesquisa: “Three planetary companions around M67 stars”, por A. Brucalassi et al., a ser publicado em Astronomy & Astrophysics
(pré-publicação online: – http://www.eso.org/public/archives/releases/sciencepapers/eso1402/eso1402a.pdf

Fotos do telescópio de 3,6m do ESO – http://www.eso.org/public/images/archive/search/?adv=&subject_name=3.6

 


California Institute of Technology

Himiko e a aurora do cosmo

 IMAGE: A composite color image of Himiko based on Hubble, Subaru, and Spitzer data. On the left is a Hubble image with the position of Himiko marked with a square. Top…Click here for more information.

Um dos mais fascinantes objetos descobertos pelo Telescópio Subaru – o telescópio de 8,2m operado pelo Observatório Astronômico Nacional do Japão, localizado no monte Mauna Kea no Hawaii – é uma “bolha espacial”, batizada de Himiko (uma lendária rainha do Japão antigo). Himiko apresenta três “bolhas” visíveis e foi identificada como uma enorme galáxia com um halo gasoso que cobre mais de 55.000 anos-luz. Himiko não só é enorme, como é muito distante e a imagem que vemos é de uma época cerca de 800 milhões de anos após o Big Bang, quando o universo tinha apenas 6% de seu tamanho atual e as estrelas e galáxias estavam apenas começando a se formar.

Em busca da resposta para como uma galáxia tão primeva poderia ter energia suficiente para aquecer uma nuvem de gás tão grande, uma equipe de astrofísicos da CalTech, da Universidade de Tóquio e do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica combinou os resiltados de observações do Telescópio Espacial Hubble e do novo rádio-telescópio ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array). E, junto com a resposta à pergunta inicial, obtiveram mais uma surpresa.

As imagens do Hubble – que detecta luz visível e utra-violeta – mostravam três aglomerados estelares que cobriam um espaço de 20.000 anos-luz cada; portanto, três galáxias típicas da época de Himiko, em processo de fusão, todas elas com intensa formação de estrelas que, somadas, equivalem a uma centena de massas solares por ano – o que é mais do que suficiente para explicar Himiko e seu halo gasoso. A tripla fusão de galáxias é, por si só, um evento raro.

A surpresa apareceu com os dados do ALMA. Embora Himiko estivesse brilhando nas faixas da luz visível e no ultra-violeta, nas faixas que o ALMA observa – submilimétrica e rádio-frequência – ela era quase apagada. Normalmente, regiões de intensa formação de estrelas criam nuvens compostas de carbono, oxigênio e silício (no jargão dos astrônomos, tudo mais massivo que hidrogênio e hélio é um “metal”) e essas nuvens quando aquecidas, reemitem a radiação ultra-violeta na faixa de rádio-frequência. Isso sugeria uma baixa “metalicidade” de Himiko.

A conclusão dos pesquisadores é que Himiko é tão antiga que é composta quase que exclusivamente por hidrogênio e hélio, elementos formados no próprio Big Bang. E antes de chegarem a esta conclusão, os cientistas tiveram que cuidadosamente descartar outras possibilidades, tais como a aparência de Himiko ser causada por um efeito tal como o de lente gravitacional ou por um gigantesco buraco negro no seu centro.

O artigo com os resultados é intitulado “An Intensely Star-Forming Galaxy at Z ~ 7 with Low Dust and Metal Content Revealed by Deep ALMA and HST Observations”, publicado na edição de 1/12/2013 do Astrophysical Journal

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