É melhor começar a construir a arca logo…
“Pelo que eu tenho acompanhado nas manchetes de estudos ambientais pelo EurekAlert , da AAAS (American Association for the Advance of Science = Associação Americana para o Avanço da Ciência), o Protocolo de Kioto já veio tarde e, mesmo que tivesse sido cumprido ao pé da letra, os danos ao ambiente já são quase irreversíveis.
Não se trata mais de consertar os estragos que a chuva causou, mas de construir uma nova “Arca de Noé” para salvar o que puder…”
Hoje, aparece a seguinte notícia no “The Guardian”:
Como as mudanças climáticas vão afetar o mundo
Por David Adam
The GuardianQuarta-feira, 19 de setembro de 2007 Os efeitos das alterações climáticas vão se fazer sentir antes do que os cientistas esperavam e o mundo precisa aprender a viver com os efeitos, disseram ontem os experts.
Martin Parry, um climatologista do Met Office, falou que mudanças destrutivas nas temperaturas, regime de chuvas e agricultura, agora são previstas para acontecer muitas décadas mais cedo do que se pensava antes. Ele disse que populações vulneráveis tais como a do velho mundo e do terceiro mundo serão as mais fortemente afetadas, e que os líderes mundiais ainda não aceitaram que seus países terão que se adaptar para as prováveis conseqüências.
Falando em um encontro para o lançamento do relatório completo sobre os impactos do aquecimento global, feito pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change = IPCC), o Professor Parry, co-diretor do grupo de trabalho do IPCC que escreveu o relatório, declarou: “Nós todos estamos acostumados a falar sobre esses impactos como vindouros, nas épocas da vida de nossos filhos e netos. Agora, sabemos que é conosco”.
Ele acrescentou que os políticos desperdiçaram uma década, se focalizando apenas em meios de cortar as emissões, e somente agora acordaram para o fato da necessidade em se adaptar. “A mitigação ficou com toda a atenção, mas não é possível mitigar este problema. Nós agora temos uma escolha entre um futuro com um mundo danificado, ou um mundo severamente danificado”.
A resposta internacional para o problema falhou em compreender as sérias conseqüências, tais como quebras de safras e falta de água, que agora são inevitáveis, disse ele. Países como a Grã-Bretanha precisam se concentrar em ajudar nações no mundo em desenvolvimento a suportar os impactos previstos, ajudando-as a introduzir tecnologia de irrigação e gerenciamento da água, colheitas resistentes a secas e novas técnicas de construção.
Rajendra Pachauri, diretor do IPCC, declarou: “A produção de trigo na Índia já começou a diminuir, por nenhuma outra razão que não a mudança climática. Todo o mundo pensava que não tínhamos que nos preocupar com a agricultura indiana por muitas décadas. Agora sabemos que ela está sendo afetada agora”. Existem sinais de que uma mudança similar está acontecendo na China, ele acrescentou.
O capítulo “sumário” do relatório de ontem foi publicado em abril, depois de discussões entre cientistas e políticos em cargos públicos sobre seu conteúdo. O Professor Parry declarou: “Governos não gostam de números, de forma que alguns números foram removidos dele”.
O relatório avisa que a África e o Ártico suportarão a maior parte dos impactos climáticos, junto com pequenos arquipélagos como Fiji e os mega-deltas dos rios asiáticos, inclusive o Mekong.
O relatório diz que eventos climáticos extremos têm grandes possibilidades de se tornarem mais intensos e mais freqüentes, e o efeito sobre os ecossistemas pode ser sério, com a morte de até 30% das espécies vegetais e animais em risco de extinção, se o aumento médio na temperatura global subir além da faixa entre 1,5 a 2,5 °C. As conseqüências da elevação das temperaturas já estão se fazendo sentir em todos os continentes, acrescenta ele.
O Professor Parry declarou que será “extremamente improvável” que o aumento da temperatura média possa ser limitado a 2°C, como pensado pelos governos europeus. Isto colocaria mais 2 bilhões de pessoas em risco de falta de água e centenas de milhões mais se defrontarão com a fome. diz o relatório.
Está de bom tamanho, ou a notícia podia ser pior?… Eu devia ficar calado…
A ameaça do Crime Organizado
Bilhões de dólares em propinas são pagos anualmente, vão para os bolsos de funcionários públicos nos países ricos
Julian Borger, editor diplomático
Quarta-feira, 12 de setembro de 2007
The Guardian
O crime organizado internacional se transformou em um monstro de 2 trilhões de dólares que ameaça perverter a democracia por todo o mundo e alimenta níveis já perigosos de desigualdade global, alerta um recente estudo.
Enquanto o mundo se torna mais rico, o incansável crescimento do crime organizado emerge como um dos maiores riscos para o futuro do planeta, ombreando com o aquecimento global e a escassez de água potável, de acordo com a pesquisa “Estado do Futuro”, realizada pela Federação das Associações das Nações Unidas.
Os ganhos anuais das quadrilhas de criminosos por todo o mundo são aproximadamente iguais ao PIB da Grã-Bretanha, ou duas vezes o orçamento mundial para defesa. Metade dessa quantia é paga como propina, o que tende a tornar os ricos e poderosos cada vez mais prósperos.
As 225 pessoas mais ricas do planeta, atualmente, ganham o mesmo que os 2,7 bilhões dos mais pobres, o que equivale a 40% da espécie humana, afirma o relatório. E, embora a democracia esteja em alta, com quase metade da população do mundo vivendo, atualmente, em sistemas democráticos, ela corre o risco de ser demolida por uma cultura de propinas.
“As implicações que o mundo tem que compreender, é que decisões governamentais podem ser compradas e vendidas”, afirma Jerome Glenn, chefe do projeto do milênio das Associações e um dos autores do relatório. “O que acontece se o crime organizado decidir que, em vez de comprar e vender cocaína ou heroína, vai comprar e vender decisões governamentais? Isto é uma ameaça à democracia”.
Contrariamente ao estereótipo da “banana republic”, somente uma pequena parte das propinas políticas, pagas todos os anos, vão para os funcionários públicos no mundo em desenvolvimento. O relatório, publicado nesta semana, afirma que “a vasta maioria das propinas são pagas a pessoas nos países mais ricos” onde a tomada de decisões é “vulnerável a vastas somas de dinheiro”.
Grande parte da renda, mais de 520 bilhões de dólares, que flui através do mercado negro mundial, vem de falsificações e pirataria. O tráfico de drogas é o segundo maior ganhador, com um movimento estimado em 320 bilhões de dólares. O tráfico de pessoas é uma indústria pequena, em comparação, com um valor abaixo de 44 bilhões de dólares, mas que pode ser tido como o mais pernicioso. De acordo com a ONU, cerca de 27 milhões de pessoas se encontram em situação de escravidão, muito mais gente do que na época do pico do comércio de escravos africanos. A maioria das vítimas, desta vez, são mulheres asiáticas.
O relatório diz: “A violência dos homens contra as mulheres continua a causar mais vítimas do que as guerras, hoje em dia”. Uma em cinco mulheres em todo o mundo será vítima de estupro ou tentativa de estupro durante sua vida. A situação é tão ruim que as escolas deveriam ensinar artes marciais às meninas para auto-defesa, diz o relatório.
“Nós temos Departamentos de Defesa, por todo o mundo, protegendo as pessoas. Qual é o Departamento que defende as mulheres?” pergunta o Sr Glenn.
A pesquisa, entretanto, afirma que, para a maioria das pessoas, o mundo está se tornando “um lugar melhor” e deve continuar melhorando na próxima década, com o crescimento da renda, expectativa de vida e acesso à saúde e à educação.
A economia global cresceu 5,4% em 2006, ganhando longe do crescimento populacional de pouco mais do que 1%. “Mantida esta taxa, a pobreza mundial será cortada pela metade entre 2000 e 2015, alcançando a meta de desenvolvimento da ONU para a redução da pobreza global, exceto na África sub-Sahariana”, prediz o relatório.
De acordo com a OMS, a expectativa de vida média no mundo deve crescer de 48 anos, para os nascidos em 1955, para 73 anos, para os nascidos em 2025.
Paz
E, a despeito das contínuas atrocidades no Iraque, Afeganistão e Darfur, o mundo está se tornando, de modo geral, um lugar mais pacífico, de acordo com o relatório. Na África, o número de conflitos caiu de 16 em 2002 para apenas 5 em 2005.
Misturando todos esses dados em uma medida geral de bem-estar, os autores do relatório derivaram um índice para o futuro. Ele se inclina, de maneira reconfortante, para cima pelos próximos dez anos, mas as principais ameaças a este otimismo parecem vir de efeitos como níveis de miséria, aquecimento global, falta de água e o crime organizado. Este último pode ser o mais perigoso, por causa de sua capacidade de subverter a tomada de decisões e porque existem poucas iniciativas internacionais combinadas para combater esta ameaça.
“Está na hora de uma campanha internacional de todos os setores da sociedade para desenvolver um consenso global para ação contra [o crime organizado transnacional] que chegou a um ponto onde sua crescente influência interfere com a capacidade dos governos agirem” , diz o relatório.
Nele se aponta o fato de que a estimativa global de entre 13 e 15 milhões de futuros órfãos criados pela AIDS representam uma gigantesca fonte de “soldados” em potencial para as quadrilhas de criminosos. “Não há nada que possa deter isso”, diz o Sr Glenn.
“Não há qualquer estratégia global”.
Em números
211 milhões: O número global de pessoas afetadas por desastres naturais a cada ano
225: O número de pessoas cuja renda é a mesma dos 2,7 bilhões de pessoas mais pobres
18%: Proporção de analfabetos, comparados com os 37% em 1970
1 em cada 5: Proporção de mulheres que serão vítimas de estupro ou tentativa de estupro
US$1.000.000.000.000: O custo da corrupção mundial em 2006
Precisa falar algo mais?…
Já começou o bate-boca
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Chefe do Exército Britânico ataca os EUA como “em bancarrota intelectual” sobre o Iraque
Peter Richards
Saturday September 1, 2007
The Guardian
O antigo chefe do Exército Britânico criticou a política pós-guerra dos EUA, chamando-a de “bancarrota intelectual”.
O General Sir Mike Jackson, que comandou o exército durante a guerra no Iraque, descreveu como “disparatada” (“nonsensical”) a alegação do antigo Secretário da Defesa dos EUA, Donnald Rumsfeld, de que as forças dos EUA “não realizam construção de nações”. Ele també contra-atacou as insinuações de que as forças britânicas tenham falhado em Basra.
Mr Rumsfeld foi “um dos maiores responsáveis pela corrente situação no Iraque”, diz o General Jackson says em sua autobiografia, “Soldado”. Ele descreve a abordagem de Washington para o combate ao terrorismo global como “inadequada” por depender de poder militar. sobrepujando a diplomacia e a construção de nações.
Na última semana, o General Jack Keane, um comandante americano recentemente de volta do Iraque, declarou que a situação no Sul do Iraque estava “se deteriorando” e que havia um “desengajamento geral” dos militares bitânicos em Basra. Mas o General Jackson disse ao Daily Telegraph, que está publicando em capítulos seu livro: “Eu nã acho essa afirmativa justa”.
“O que aconteceu no Sul, como no resto do Iraque, foi que a responsabilidade primária pela segurança deveria ser transferida para os iraquianos, uma vez que as autoridades iraquianas e a coalizão estivessem satisfeitos com seu treinamento e seu desenvolvimento fosse apropriado”.
“No Sul, nós tínhamos responsabilidade por quatro províncias. Três delas foram entregues, de acordo com essa estratégia”.
Ele também criticou a decisão de entregar o controle do planejamento da administração do Iraque ao Pentágono e declarou que a dissolução do exército e das forças de segurança iraquianos foi “muita miopia”.
O Pentágono declarou que pontos de vista diferentes são uma “característica das sociedades abertas e democráticas”.
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Aparentemente, nada a ver…
Pesquisadores da Universidade de Minnesota descobrem que as palavras de um CEO podem antecipar inovaçõs futuras em uma companhia
Muitos acionistas gostariam de poder olhar em uma bola de cristal e predizer o desempenho de uma firma. Pesquisadores da Universidade de Minnesota descobriram que eles precisam de algo bem menos místico para prever as futuras inovações das firmas. “A resposta reside nas palavras do CEO,” afirmou Rajesh Chandy, professor de marketing da Carlson School of Management. “Pela simples contagem de frases dirigidas ao futuro nos relatórios anuais, podemos predizer as inovações futuras em uma firma.” [Nota do tradutor: o anglicismo “CEO” está tão consagrado, que eu não me dei ao trabalho de traduzir para “Presidente”, “Presidente Executivo”, ou qualquer outro título em português. No final, quer dizer: “quem manda”]
Na publicação “Managing the Future: CEO Attention and Innovation Outcomes” (“Gerenciando o Futuro: Resultados da Atenção e Inovações do CEO”), a ser publicada no Journal of Marketing, Chandy e os co-autores Manjit Yadav, da Texas A&M University, e Jaideep Prabhu do Imperial College, London University, mostram que os CEO que focalizam sua atenção em eventos futuros, bem como nas atividades externas à firma, levam suas firmas a uma adoção e invenção de tecnologias mais precoce, assim como um maior e mais rápido desenvolvimento de inovações. Em contraste, mais atenção a operações internas leva a uma detecção, adoção e implementação mais lenta de novas tecnologias.
As palavras, não só as ações, do CEO estabelecem o tom para inspirar, impelir e motivar inovações pelos empregados de uma firma. Para investigar sua teoria, Chandy e seus co-autores estudaram dados empíricos, coletados da industria de online banking, ao longo de um período de oito anos, para determinar o desempenho delas quanto à rapidez de detecção, velocidade de desenvolvimento e amplitude da aplicação da tecnologia. Contando o número de palavras e frases com referência ao futuro em cartas aos acionistas, durante esse período de tempo, eles foram capazes de predizer o nível de inovação da firma até cinco anos depois.
“A pressão diária de dentro da corporação tende a ocupar a maior parte do tempo de um CEO, sobrepujando sua capacidade de atenção”, explica Chandy. “Entretanto, porque o CEO estabelece o tom e a cultura, não raciocinar adiante e para fora da firma tem conseqüências altamente negativas para a inovação”.
Os pesquisadores alertam os CEO para direcionar sua atenção para o que está fora de suas firmas, em lugar dos problemas internos, cuja solução estará melhor colocada em outras mãos. “A tentação em se focalizar em incêndios dentro a firma pode levar a esquecer seu trabalho”, afirma Chandy. “Um CEO que focaliza o quadro geral, não as picuinhas, vai influenciar o processo de inovação e os resultados futuros da firma mais do que um que tenha um foco mais no cotidiano”.
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Extrapolando de negócios particulares para negócios públicos, talvez seja este um dos problemas da Administração Pública. Não que os erros do passado não devam ser corrigidos, mas está faltando “pensar no futuro”.
Talvez, se “deixássemos para lá” os erros do passado (leia-se: ficar buscando os “culpados” pelo atual estado de coisas) e nos concentrássemos no que temos que fazer no futuro, não seríamos tão surpreendidos pelo presente…
Criticar as falhas que já aconteceram, é muito fácil… (ninguém precisa ser cozinheiro para saber se a comida está com bom sabor…) Planejar o futuro é que exige verdadeiros estadistas.
Violência gera mais violência
Tulane University
Exposição a crimes de guerra pode prejudicar os esforços para obter a paz
Pessoas que foram traumatizadas pela exposição a crimes de guerra, têm uma tendência a escolher medidas violentas e rejeitar medidas não-violentas para obter a paz, diz um estudo conjunto da Univesidade Tulane e Universidade da Califórnia em Berkeley, na edição de 1 de agosto do Journal of the American Medical Association.
Desde a década de 1980s, o Exército de Resistência Divino, um grupo rebelde, tem realizado atos de guerra no Norte de Uganda, matando e mutilando um número incontável de civis e seqüestrando dezenas de milhares de adultos e crianças. Mais de um milhão e meio de pessoas foram parar em campos de refugiados.
A equipe Tulane/Berkeley de pesquisadores pesquisou 2.585 adultos com 18 anos ou mais, em vilas e campos no Norte de Uganda, no período de abril e maio de 2005. Apesquisa, conduzida com questionários, foi projetada para determinar o nível de exposição à violência relacionada com a guerra e a prevalência de sintomas da Disfunção de Stress Pós-trumático (posttraumatic stress disorder = PTSD) e de depressão, e estabelecer como essas variáveis são relacionadas com as visões dos questionados acerca da paz.
A violência relacionada com a guerra teve um notável impacto no bem estar psicológico do povo na região, descobriram os pesquisadores. Cerca de três quartos dos questionados relataram sintomas de PTSD e cerca de metade obteve diagnóstico de depressão. Os pesquisadores descobriram, ainda, que os entrevistados com sintomas de PTSD e/ou depressão estavam mais inclinados a identificar menos meios não-violentos do que meios violentos para a obtenção da paz.
Os autores sugerem que esses resultados devem ser considerados, junto a outros fatores, quando da implementação de mecanismos dirigidos à promoção da justiça e reconciliação, tais como anistias, julgamentos de crimes e comissões de investigação.
Quem quiser aplicar os dados às periferias das conurbações brasileiras, estará com toda a razão. Quem pode tirar a razão do que é dito nesta reportagem da BBC?
Média e Mediana
Realmente vale… Mas vai ficar cheio de “notas do tradutor” porque é cheio de trocadilhos (a começar pelo título).
Who’s Counting: It’s Mean to Ignore the Median
[e lá vai a primeira N.T: “Who’s counting” pode ser traduzido tanto por “Quem está fazendo as contas?”, como por “Quem se importa?”; “mean” tanto pode ser “média, meio”, como, no sentido implícito no título, “mesquinho”; e “median” pode ser tanto “mediana”, como “medíocre”]
Fazendo a leitura dos números da economia pelos pontos de vista dos Democráticos e dos Republicanos.
6Ago2006 — Acreditem ou não, a maneira diferente com que os Democratas e os Republicanos reagem ao desempenho da economia dos EUA, é esclarecida por uma distinção matemática ensinada no 1º grau. A distinção é entre a média, que é onde os republicanos põem ênfase, enquanto que os democratas preferem a mediana. Antes de passarmos à economia, deixem-me revisar um pouco de matemática de 4ª série.
A Média e a Mediana
A média de um conjunto de valores numéricos é, simplesmente, um valor intermediário e é obtida somando-se todos os valores e dividindo o valor total pela quantidade de valores. A mediana de um conjunto de valores é obtida listando-se os valores em ordem crescente e localizando o valor que fica no meio da lista. O mesmo conjunto de valores pode ter uma média e uma mediana extremamente diferentes.
Um corretor de imóveis, por exemplo, lhe diz que o preço médio de uma casa em um determinado bairro é de $ 500.000, deixando implícito que não existem muitas casas acima desse preço no bairro. Não necessariamente. Se a maior parte das casas valerem entre $ 100.000 e $ 200.000, e existam umas poucas mega-mansões multimilionárias, o preço médio no bairro pode ser $ 500.000, mesmo que a mediana seja, por exemplo, $ 160.000.
Ou se um vendedor lhe disser que a comissão mediana dele, em nove vendas efetuadas nesta semana, foi de $ 80, deixa implícito que ele faturou, portanto, $ 720 nessas vendas. Pode ser, mas ele pode ter faturado milhões, se uma dessas vendas foi enorme, ou ele pode ter faturado pouco mais de $ 400 se quatro das vendas derem uma comissão perto de $ 0 e as outras cinco forem $ 80, ou pouco mais.
A economia
A relevância desta distinção fica aparente nos recém-liberados números sobre a economia dos EUA para 2004, o último ano para os quais existem dados completos. Os republicanos apregoam que a economia cresceu a saudáveis 4,2% (desaqueceu, desde então). Os democratas apontam para os dados do Bureau do Censo [N.T: o IBGE deles] para o mesmo ano (e também nos anteriores), indicando que a renda mediana das famílias caiu e aumentou a pobreza.
Os economistas Thomas Piketty e Emmanuel Saez, que estudaram longamente a distribuição de renda, viram recentemente os dados e calcularam que, durante este período de apenas um ano, os rendimentos reais dos 1% mais ricos (aqueles que ganham caima de US$ 315.000 por ano), cresceu de quase 17%. Mais ainda, este crescimento na renda, não só ultrapassou o das classes baixa e média, mas ultrapassou, e muito, o da alta-classe-média, também.
O aumento da renda destes 5% cujas rendas são maiores do que 95% dos demais americanos, foi quase mínima. Os enormes aumentos de renda foram para aqueles que já tinham rendas enormes. De fato, metade do crescimento da renda desses 1% do topo, foi para o os 0,1% no topo deste 1%!
E o salário mínimo? O menor poder aquisitivo real desde a década de 1950. E a renda do típico recém-formado em curso superior? Caiu em 2004.
Esta dinâmica de ricos-ficam-mais-ricos não é coisa nova. A tendência de crescimento de “surfeiros” de Internet, motoristas de fim de semana, pequenos investidores no mercado, bem como uma pletora de medidas de qualidade-de-vida, sociais e financeiras sugerem um fenômeno generalizado, usualmente descrito como progressões potenciais em matemática.
Ao longo de diversas dimensões sociais, a dinâmica subjacente a essas progressões pode levar ao desenvolvimento de flagrantes deisgualdades, que parecem estar crescendo, não só aqui, mas em todo o mundo. As Nações Unidas emitiram um relatório, poucos anos atrás, dizendo que o valor líquido das três famíliar mais ricas do mundo – as famílias Gates, o Sultão de Brunei e os Waltons da Wal-Mart – superava o PIB das 43 nações mais pobres.
Filosofia e um Pequeno Jogo
Ainda assim, esse desnível não é necessário, nem inevitável, e traz males para a sociedade civil. Há quase 2.400 anos atrás, Aristóteles, ao ver a discordia entre os ricos e pobres da Grécia Antiga, aplicou sua idéia da regra áurea para uma distribuição equitativa (mas não igualitária) da renda. Para trazer estabilidade, ele favorecia o estabelecimento de uma forte classe média e políticas governamentais para auxiliar esse estabelecimento.
Um pequeno jogo do campo do comportamento financeiro ilustra o que é o ressentimento de classe que Aristóteles descrevia. O assim chamado “Jogo do Ultimato” geralmente envolve dois jogadores. A um, o experimentador dá uma certa quantia em dinheiro, digamos $ 100, e ao outro se dá uma espécie de poder de veto. O primeiro jogador pode oferecer qualquer fração diferente de zero dos $ 100 ao segundo jogador. Se ele aceitar, recebe qualquer quantia que o primeiro jogador tenha oferecido e o primeiro fica com o troco. Se ele rejeitar, o experimentador toma o dinheiro de volta.
Em termos racionais de teoria dos jogos, se poderia pensar que é do interesse do segundo jogador aceitar qualquer oferta, uma vez que qualquer soma é melhor do que nada. Não é o que acontece, entretanto. As ofertas costumam variar de 5 a 50% do dinheiro envolvido, porém, quando julgadas muito pequenas, as ofertas costumam ser rejeitadas. Melhor não receber nada, dizem os rejeitantes ressentidos, do que ser humlhado. Noções tais como justiça e eqüidade, bem como raiva e vingança, parecem ter seu papel.
Como se eu tivesse pedido uma ilustração, logo que acabei de escrever este artigo, a Câmara aprovou um modesto salário-mínimo, mas, tipicamente, ligado a um significativo corte no imposto sobre propriedades. Mais uma vez, um para você, dez para mim (parece que a Lei não deve passar no Senado, entretanto).
Então será que Aristóteles era um Democrata de carteirinha? Não. Eu acho que ele só estava expressando um bom senso econômico, cada vez menos comum. É mesquinharia ignorar os medíocres. [no original: “It’s mean to ignore the median.”]
O Professor de Matemática na Universidade Temple, John Allen Paulos é autor de best-sellers tais como “Innumeracy” (N.T: uma possível tradução seria “Analgaritimia”, por semelhança com “analfabetismo”) e “A Mathematician Plays the Stock Market” (“Um matemático joga no mercado de ações”) . Sua coluna “Who’s Counting?” em ABCNEWS.com é publicada no primeiro fim de semana de cada mês.
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E ainda fazem esse escarcéu todo sobre a desigualdade da distribuição de renda no Brasil. Agora, considere que quem ganha entre R$ 1.000 e R$ 1.400 no Brasil, é “classe média” (eu sou um “Marajá”…); daí para cima, são os 10% de “privilegiados” que pagam Imposto de Renda, nas módicas alíquotas de 15 e 27,6% (era para ser 25%, mas ficou “definitivamente provisório”, tal como a maldita CPMF…).
Eu acho muita sacanagem equiparar quem ganha R$ 5.000 e R$ 50.000, principalmente porque certas deduções têm limites ridículos, tais como educação e dependentes. E, em um país onde falta emprego formal, não se poder deduzir integralmente todo o custo de um trabalhador doméstico, enquanto as empresas deduzem os salários como “custo operacional”, já nem é sacanagem: é falta de vergonha na cara, mesmo!
Mas o pior é o “imposto embutido” (porque não é só ICMS e quejandos sobre o produto final que você compra no mercado ou na papelaria… cada vaca e a terra onde ela pasta, pagam impostos; a usina onde o leite é processado, paga impostos e as infames “contribuições sociais”; o transporte do leite paga IPVA, todos os impostos sobre combustíveis e, de vez em quando, um pedágio ou outro; fora os impostos em outros insumos indiretos tais como 33% em cima das contas de energia elétrica, em cada prédio por onde o leite passou, 33% em cima das contas de telefonia, “Alvarás Municipais” para o estabelecimento comercial; PIS, COFINS e CPMF durante todo o trajeto do dinheiro que paga cada etapa; e mais algumas que não me vêm a memória): este xorrilho de impostos acaba batendo no bolso de quem vai comprar uma lata de ervilhas, seja eu, seja o Bill Gates, ou seja o Zé Mané que trabalha de auxiliar de pedreiro, durante o dia, e vigia, durante a noite – sem carteira assinada, é claro (qual é o empregador pobre como o dono de uma quitanda ou síndico de condomínio que pode se dar ao luxo de assinar carteira?…)
Mas nossos Partidos de “esquerda” e “centro-esquerda” acham que arrancar o couro da classe média (enquanto pagam os juros mais altos do mundo para os pobrezinhos dos banqueiros) é “redistribuição de renda”… Nós pagamos impostos, o Valério enche a mala e o Duda Mendonça manda para as Ilhas Virgens (que deve ter um povo paupérrimo, já que os brasileiros não param de mandar dinheiro para lá…)
Para onde vai a economia americana?
O “Fed” admite a possibilidade de uma recessão nos EUA
Heather Stewart, correspondente de economia
Domingo, 6 de agosto de 2006 The Observer
Os Estados Unidos estão em face de uma probabilidade de quase 40% de entrarem em uma recessão nos próximos 12 meses, de acordo com o próprio modelo de mercado do Federal Reserve.
Na hora em que o Presidente Ben Bernanke se prepara para decidir se deve aumentar as taxas de juros dos EUA, pela 18ª vez, na próxima terça-feira, os preços dos bônus e os altos níveis dos custos dos empréstimos mostram, atualmente, uma chance de 38% de ocorrer uma recessão, de acordo com um modelo publicado pelo economista Jonathan Wright, do próprio “Fed”, anteriormente, neste ano.
Depois que os números oficiais sobre as folhas de pagamentos, liberados na sexta-feira, mostraram que a economia criou menos vagas de trabalho do que se esperava no mês passado, Wall Street começou a predizer que Barnake iria parar com a seqüência de aumentos nas taxas de juros, nesta semana. Mas alguns economistas acreditam que o banco central já foi longe demais.
«Eles exageraram muito nas altas», disse Ian Shepherdson do High Frequency Economics. «O “Fed” tem uma longa e inglória história de aumentar demais e baixar demais as taxas». Ele espera que o crescimento da maior economia do mundo tenha chegado a uma parada total, lá pelo fim do ano, mesmo que Barnake escolha deixar as taxas sem modificação nesta semana.
As predições de um desaquecimento nos EUA chegam junto com os avisos dos analistas de que a inesperada alta de taxas, feita pelo Banco da Inglaterra na quinta-feira, vai fazer despencar as vendas a varejo e balançar com o vulnerável mercado imobiliário – especialmente se os consumidores acreditarem que há mais altas a caminho. «Eu não desprezaria o impacto disto; as pessoas foram acostumadas a pensar que as taxas não se alteravam, e vai haver, agora, um período de ressentimento», disse Jonathan Loynes, economista-chefe para a Europa no Capital Economics.
«Um quarto de ponto percentual não é grande coisa, mas é um sinal», concorda Miles Shipside, diretor do website imobiliário “Rightmove”. «Certamente, se você estava tentando vender, antes de quinta-feira, agora vai ficar ainda menos fácil».
Kevin Hawkins, diretor-geral do British Retail Consortium (algo como o “Clube dos Diretores Lojistas”) – que, se espera, deve revelar esta semana que julho foi um mês de bons negócios no Reino-Unido – disse que a alta deve deixar os varejistas em dificuldades, assim que passarem os efeitos da Copa do Mundo e do Sol de verão. «Mais para o fim do ano, nós não teremos o futebol e não teremos este tipo de tempo – e, se isto realmente afetar a confiança dos consumidores, eu penso que vai ser ainda mais difícil conseguir qualquer crescimento real nas vendas».
Sem querer ser (mas sendo) “catastrofista”, se os ingleses estão preocupados e prevendo efeitos sombrios na economia, seria muito bom o Governo governo brasileiro (não merece maiúsculas…) começar a se preocupar, também…
Se há alguma coisa da qual o Brasil não está precisando, é uma nova política de elevação de taxas de juros. Mas, certamente, alguma coisa tem que ser feita quanto à política cambial. Que tal parar de remunerar exageradamente o capital especulativo que entra no país?… Com toda a valorização do Real, a balança de pagamentos já está mais do que favorável e a credibilidade da economia brasileira tem que se firmar com as próprias pernas – vide Argentina – e não ficar se estressando com os chiliques das Standard & Poor (traduzido literalmente é gozadíssimo: “Medíocre e Pobre”) lá em Wall Street.
Atualizando em 09/080/06: O FED manteve a taxa de juros estável, mas deixou no ar a possibilidade de novas altas. Ver nesta notícia da BBC-Brasil.
Estados Unidos: a próxima União Soviética?
Esta entrevista com Emmanuel Todd expõe possíveis implicações profundas do despreparo estadunidense para lidar com o Katrina http://www.truthout.org/docs_2005/091205H.shtml Emmanuel Todd é historiador e demógrafo, na década de setenta publicou artigos prevendo, com precisão, detalhes de como se daria o declínio soviético nas décadas seguintes baseado em análise comparativa de dados demográficos da mortalidade infantil na URSS. Recentemente ele escreveu um livro chamado 'Après l'empire" (depois do império), no qual sugere, apontando evidências demográficas e histórico-econômicas, o porvir de uma condição não-hegemônica dos EUA.
Emmanuel Todd: O Espectro de uma Crise no Estilo Soviético
Por Marie-Laure Germon and Alexis Lacroix
Le Figaro
2ª feira, 12 de Setembro de 2005
De acordo com este demógrafo, o Furacão Katrina revelou o declínio do Sistema Americano.
Engenheiro de pesquisas no Instituto Nacional de Estudos Demográficos, historiador, autor de “Après l’empire” (“Após o Império”), publicado pela Gallimard em 2002 – um ensaio em que ele prevê o “desmoronamento” do sistema americano – Emmanuel Todd faz uma revisão para Le Figaro das sérias falhas reveladas pela tempestade.
Le Figaro – Qual é a primeira lição moral e política que se pode aprender da catástrofe provocada por Katrina? necessidade de uma modificação “global” em nosso relacionamento com a natureza?
Emmanuel Todd – Vamos nos precaver de uma interpretação extrapolada. Não devemos perder de vista o fato de que estamos falando de um furacão de intensidade extraordinária que teria porduzido danos monstruosos em qualquer lugar. Um elemento que surpreendeu a muitos – a erupção da população negra, uma grande maioria neste desastre – não me surpreendeu pessoalmente, já que eu realizei um grande estudo sobre os mecanismos da segregação racial nos Estados Unidos. Eu sabia, há muito tempo, que o mapa da mortalidade infantil nos Estados Unidos é sempre uma cópia exata da densidade das populações negras. Por outro lado, eu fiquei surpreso que os espectadores desta catástrofe subitamente se deram conta de que Condolezza Rice e Colin Powell não são ícones particularmente representativos das condições da América negra. O que realmente fez eco a minha representação dos Estados Unidos – como desenvolvido em Après l’empire – foi que os Estados Unidos ficaram desabilitados e ineficazes. O mito da eficiência e do super-dinamismo da economia americana estão em perigo.
Nós pudemos observar a inadequação dos recursos técnicos, dos engenheiros, das forças militares no local, para confrontar a crise. Isso levantou o véu sobre uma economia americana, percebida como muito dinâmica, beneficiária de uma taxa de desemprego baixa, creditada com uma sólida taxa de crescimento do PIB. Em confronto com os Estados Unidos, a Europa é tida como praticamente patética, esmagada pelo desemprego endêmico e golpeada com um crescimento anêmico. Mas o que as pessoas não queriam ver é que o dinamismo dos Estados Unidos é um dinamismo de consumo.
LF – O consumo doméstico americano é artificialmente estimulado?
ET – A economia americana está no coração de um sistema econômico globalizado e os Estados Unidos funcionam como uma notável bomba de circulação financeira, importando capital em um nível de 700 a 800 bilhões de dólares ao ano. Esses fundos, após a redistribuição, financiam o consumo de mercadorias importadas – um setor realmente dinâmico. O que tem caracterizado os Estados Unidos, por anos, é a tendência de inflar o monstruoso déficit das contas externas, que agora está perto dos 700 bilhões de dólares. A grande fraqueza desse sistema econômico é que ele não se apoia em uma fundação de real capacidade industrial doméstica.
A indústria americana foi sangrada até o fim e é o declínio industrial que, acima de tudo, explica a negligência de uma nação confrontada com uma situação de crise: para gerenciar uma catástrofe natural, você não precisa de técnicas financeiras sofisticadas. ou de advogados especializados na extorsão de fundos em nível global, mas você precisa de material, engenheiros e técnicos, bem como de um sentimento de solidariedade coletiva. Uma catástrofe natural em teritório nacional confronta um país com sua identidade mais profunda, com suas capacidades de resposta tecnológica e social. Agora, se a população da América pode muito bem concordar em consumir juntos – o nível de poupança doméstica é praticamente nulo – em termos de produção de material, de prevenção e planejamento de longo prazo, ela se provou desastrosa. A tempesatade mostrou os limites de uma economia virtual que identifica o mundo com um vasto video-game.
LF – É lícito relacionar o sistema americano de margem de lucro – esse “neo-liberalismo” denunciado pelos comentaristas europeus – e a catástrofe que atingiu Nova Orleans?
ET – A gerência da catástrofe teria sido muito melhor nos Estados Unidos do passado. Depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos asseguravam metade da produção dos bens produzidos no planeta. Hoje em dia, os Estados Unidos se mostram com pontas soltas, atolado em um Iraque devastado que eles não conseguem reconstruir. Os americanos levaram um longo tempo para blindar seus veículos, para proteger suas próprias tropas. Eles tiveram que importar munição leve. Que diferença dos Estados Unidos da Segunda Guerra que, ao mesmo tempo, esmagou o exército japonês com sua frota de porta-aviões, organizou os desembarques na Normandia, reequipou o Exército russo com material leve, contribuiu magistralmente para a libertação da Europa e manteve as populações européia e alemã, libertas de Hitler, vivas. Os americanos sabiam como dominar a tempestade nazista com uma maestria de que hoje se mostram incapazes em uma única de suas regiões. A explicação é simples: o capitalismo americano daquela era foi um capitalismo industrial, com base na produção de bens; em resumo, um mundo de engenheiros e técnicos.
LF – Não seria mais pertinente reconhecer que, virtualmente, não há mais desastres puramente naturais, em uma definição rigorosa, em virtude da falta de moderação das atividades humanas? Não seria o caso de que o “American Way of Life” deva se auto-reformar? Por exemplo, aceitando as limitações do Protocolo de Kyoto?
ET – As sociedades e incorporações socias da Europa e dos Estados Unidos são radicalmente diferentes. A Europa é parte de uma economia agrícola muito antiga, acostumada a tirar sua subsistência do solo com dificuldade em um clima relativamente temperado, a salvo das catástrofes naturais. Os Estados Unidos são um tipo de sociedade inteiramente nova que começou trabalhando um solo virgem e fértil no coração de um ambiente natural mais hostil. Seu clima continental, muito mais violento, não constituiu um problema para os Estados Unidos enquanto eles desfrutaram de uma real vantagem econômica, isto é, enquanto eles detinham os meios técnicos para dominar a natureza. No presente, a hipótese de uma dramatização humana da natureza, nem é mais necessária. A simples deterioração da capaciade técnica de uma economia americana, não mais produtiva, criou a ameaça de que a Natureza faça nada mais do que retomar seus direitos (naturais).
Os americanos precisam de mais aquecimento no inverno e mais ar-condicionado no verão. Se nós formos, um dia, confrontados com uma penúria, não mais relativa, mas absoluta, os europeus vão se adaptar a ela melhor porque seu serviço de transporte é muto mais concentrado e econômico. Os Estados Unidos foram concebidos, com respeito ao consumo de energia e espaço, de uma maneira quase caprichosa, não bem pensada.
Não vamos apontar nossos dedos para o agravamento das condições naturais, mas preferencialmente para a deterioração econômica de um sociedade que tem que se confrontar com uma natureza muito mais violenta. Os europeus, como os japoneses, demonstraram sua excelência com respeito à economia de energia, durante os antecedentes “choques do petróleo”. Era de se esperar: as sociedades européia e asiática se desenvolveram gerenciando a escassez e, ao final, várias décadas de abundância de energia vão parecer um breve parênteses em um dia de sua história. Os Estados Unidos foram construídos na abundância e não sabem gerenciar a esacassez. Dessa forma, eles agora são confrontados com o desconhecido. Os passos iniciais dessa adaptação não se mostraram muito promissores: os europeus têm estoques de gasolina, os americanos têm estoques de petróleo cru – eles não construiram uma só refinaria desde 1971.
LF – Então não é só no sistema econômico que você põe a culpa?
ET – Eu não estou fazendo um julgamento moral. Eu focaliso minha análise no apodrecimento de todo o sistema. Après l’impire desenvolve teses que, em seu todo, eram bem moderadas e que eu me sinto tentado a radicalizar hoje. Eu predisse o colapso da do sistema soviético com base no aumento das taxas de mortalidade infantil, durante o período de 1970 a 1974. Agora, os últimos números publicados sobre este tema pelos Estados Unidos – os de 2002 – demonstram um recrudescimento das taxas de mortalidade infantil para todas as, assim chamadas, “raças” americanas. O que se pode deduzir a partir disso? Em primeiro lugar, que devemos evitar o enforque estritamente racial na interpretação da catástrofe do Katrina e trazer tudo à conta do problema dos negros, em particular a desintegração da sociedade local e o problema dos saques. Isso constituiria um problema de esconde-esconde ideológico. O saque dos supermercados é só uma repetição nos escalões mais baixos da sociedade, do sistema predatório que está no coração do sistema social americano de hoje.
LF – O sistema predatório?
ET – Este sistema social não se assenta mais sobre a ética Calvinista dos “Founding Fathers” (“Pais Fundadores”) e seu gosto pela poupança – mas, ao contrário, em um novo ideal (eu não ouso falar em ética ou moral): a busca da maior remuneração em troco do mínimo de esforço. Dinheiro adquirido rapidamente, por especulação e, por que não, por roubo. A gangue de negros desempregados que saqueia um supermercado e o grupo de oligarcas que tentam organizar o seqüestro do século das reservas de hidrocarbonetos do Iraque, têm um princípio de ação em comum: predação. As disfunções em Nova Orleans refletem certos elementos centrais da cultura americana presente.
LF – Você postula que o gerenciamento do Katrina revela uma preocupante fragmentação territorial, acrescida do pouco caso do aparato militar. O que devemos então temer no foturo?
ET – A hipótese do declínio, desenvolvida em Après l’empire, evoca uma possibilidade do simples retorno dos Estados Unidos ao normal, certamente associado a uma queda no padrão de vida de 15 a 20%, porém garantindo para a população um nível de consumo e de energia “padrão” no mundo desenvolvido. Eu só estava atacando o mito da superpotência. Hoje, eu tenho medo de ter sido muito otimístico. A inabilidade dos Estados Unidos em responder a uma competição industrial, seu grande déficit em bens de alta tecnologia, o recrudescimento das taxas de mortalidade infantil, a perda de eficiência (e prática ineficiência) do aparato militar, a persistente negligência das elites, incitam-me a considerar a possibilidade de uma real crise do tipo soviético nos Estados Unidos.
LF – Seria uma tal crise uma conseqüência da política da Administração Bush, que você estigmatiza por seus aspectos paternalísticos e de Darwinismo social? Ou seriam suas causas mais estruturais?
ET – O neo-conservadorismo americano não deve ser culpado sozinho. O que me parece mais chocante é a maneira como esta América que encarna o absoluto oposto da União Soviética, está ao ponto de causar a mesma catástrofe pela caminho oposto. O comunismo, em sua loucura, supôs que a sociedade era tudo e o indivíduo não era nada, uma base ideológica que causou sua própria ruína. Hoje, os Estados Unidos nos asseguram, com uma fé cega tão intensa como a de Stálin, que o indivíduo é tudo, o mercado é o suficiente e que o Estado é odioso. A intensidade da fixação ideológica é totalmente comparável à fixação do delírio comunista. Esta postura individualista e inequalitária desorganiza a sociedade americana para a ação. O mistério real, para mim, reside aí: como pode uma sociedade renunciar ao bom-senso e pragmatismo a um tal ponto, e entrar em um tal processo de auto-destruição ideológica? É um beco-sem saída histórico para o qual eu não tenho resposta e o problema não pode ser abstraído das políticas da atual administração somente. É toda a sociedade americana que parece estar se lançando em uma política de escorpião, um sistema doentio que termina se aplicando seu próprio veneno. Este comportamento não é racional, mas, ao mesmo tempo, ele não contradiz a lógica da história. As gerações pós-guerra perderam a familiaridade com a tragédia e com o espetáculo dos sistemas auto-destrutivos. Mas a realidade empírica da história humana é que isto não é racional.
Apavorante, não?…
O FMI e o desequilíbrio econômico mundial
Salve, Pessoal! Mais uma matéria interessante do New York Times na seção de economia sobre os desequilíbrios no consumo mundial. Lá vai a tradução:
22 de setembro de 2005
FMI Alerta para Desequilíbrio no Consumo Mundial
por EDMUND L. ANDREWS
WASHINGTON, 21 Set – Os Estados Unidos provavelmente experimentarão um crescimento econômico mais lento no ano que vem e sua dívida externa, rapidamente crescente, está no coração de perigosos desequilíbrios globais, disse o Fundo Monetário Internacional na 4ª feira.
O Fundo disse que o crescimento econômico global se tornou muito dependente de um punhado de países, liderados pelos Estados Unidos, que consomem muito mais do que produzem. Este desequilíbrio, alerta o Relatório Semestral sobre a Economia Mundial, pode levar a uma correção violenta.
Em uma evidente referência aos Estados Unidos, com seus grandes déficits orçamentários e desenfreados gastos em consumo, o FMI alertou para que o consumo mundial está “sendo alimentado por crescentes estímulos fiscais insustentáveis, bem como preços de moradia que estão ignorando a Lei da Gravidade”.
Mas o FMI também criticou abertamente a União Européia, dizendo que ela continuará a crescer em um passo anêmico, por não flexibilizar suas rígidas legislações trabalhistas e puxar as rédeas dos gastos com subsídios sociais.
“Os cidadãos Eurpeus não parecem estar convencidos de que o remédio amargo de reformas estruturais continuadas possam curar a parálise que aflige grande parte do continente”, disse Raghuram Rajan, Diretor de Pesquisas do Fundo. “É uma falha da política que as pessoas não cheguem a ver que, quanto mais eles quiserem manter o atraente estilo de vida Europeu, mais a maneira pela qual eles trabalham terá que mudar”.
No geral, o relatório prediz que o crescimento econômico americano vai diminuir para 3,3% em 2006, dos 3,5% deste ano. As economias das 12 nações que usam o Euro como moeda comum, vai se expandir apenas 1,8% no próximo ano, prediz o relatório, mais, porém, do que os 1,2% em 2005.
O Japão, que teve um crescimento real muito pequeno ao longo da última década, foi uma das poucas nações industrializadas cujas previsões de crescimento foram revistas para cima. Com sinais de que a longa batalha do Japão contra a deflação está quase no fim e o consumo, subindo, o Fundo diz que a economia japonesa deve crescer cerca de 2% no ano que vem. Seis meses atrás, a previsão era de crescimento zero para o Japão.
Os economistas do FMI indicaram que eles não esperam que os efeitos do Furacão Katrina deixem marcas profundas na economia americana, reduzindo o crescimento, segundo suas estimativas, em um décimo de ponto percentual.
Mas eles expresaram uma preocupação considerável quanto ao impacto dos altos preços do petróleo, que subiu mais de US$ 20 por barril este ano e tem estado acima de US$ 60 desde o início de Agosto (o petróleo fechou em Nova York, na 4ª, a US$ 66,80). Na verdade, o Fundo alertou para que outra alta nos preços do petróleo, talvez até US$ 80, continuava sendo possível.
No relatório, divulgado em antecipação das reuniões anuais das Diretorias do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, o fundo alardeou seus alertas anteriores acerca dos desequilíbrios globais.
O défcit nos balanços das contas de comércio exterior dos Estados Unidos é estimado em cerca de US$ 700 bilhões e ficar em torno de 6% do PIB. Dito de outra forma, os Estados Unidos estão absorvendo uma porção recorde do dinehiro das poupanças e investimentos mundiais. Tal como no passado, o Fundo diz que o desequilíbrio financeiro americano tem sido agravado pelos grandes déficits orçamentários.
Mesmo sem os grandes gastos do tesouro americano esperados para a reconstrução das áreas atingidas pelos furacões, disse o FMI, a meta da administração Bush para a redução do déficit permaneceu “desambicioso”.
O Presidente Bush e os Republicanos no Congresso começaram a propor cortes nos gastos para compensar parte dos gastos com o furacão e as enchentes. Mas as autoridades da administração continuavam, na 4ª feira, a sustentar que os cortes de impostos do Sr. Bush se tornassem permanentes, o que custaria, ao menos, US$ 1,4 trilhões em um prazo de dez anos, e se recusam a retardar o início do programa de distribuição de medicamentos (“Medicare”) que se estima que vá custas cerca de US$ 45 bilhões por ano.
“Nós queremos estar certos de que a maneira pela qual nós vamos tratar dos desequilíbrios, maximize o crescimento”, declarou Timothy D. Adams, sub-secretário do Tesouro para Assuntos Internacionais. “É uma resposabilidade partilhada”.
O relatório do FMI concorda com isso, ao menos em parte. Ele atribui grande parte do aumento do desequlíbrio global aos países europeus e asiáticos, observando que a demanda doméstica na Europa permanece fraca, deixando os Estados Unidos como a locomotiva mundial para o crescimento do consumo. E alerta para que esta fraqueza européia a torna mais vulnerável a choques oriundos dos preços do petróleo ou uma grande mudança nas taxas de câmbio.
Até que, enfim, alguém reparou no fato de que qualquer nação não pode gastar mais do que ganha, inclusive os países do “Primeiro Mundo”.
Ou eu sou muito paranóico, ou a China está preparando um golpe de mestre: vão acabar deixando os EUA (e todos os panacas que forem na onda dos americanos) pendurados na broxa, enquanto levam a escada embora. Eles estão absorvendo toda a tecnologia de ponta e, de uma hora para outra, podem fechar a fronteira de novo. Afinal, um quinto da humanidade é chinesa. Dos outros quatro quintos, uns três são de fudidos terceiro-mundistas que podem, perfeitamente, mudar o padrão de moeda de dólar para yuan rapidinho…
Os americanos são cada vez menos “donos” da própria economia. Eu não espero estar vivo para ver, mas vocês, mais jovens, deveriam começar a aprender Mandarim…
Parece que o “desconfiômetro” está voltando a funcionar…
Salve, Pessoal! Parece que o “desconfiômetro” da Imprensa Norte Americana (que passou tanto tempo desligado) está voltando a funcionar. O New York Times (on the Web), deste domingo, tem uma reportagem de primeira página, intitulada Army Faltered in Invesigating Detainee Abuse, mostrando que o Exército Americano simplesmente ignorou a morte (em conseqüência de espancamento) de dois prisioneiros na Base de Bagram, no Afeganistão. Já o colunista Frank Rich, no editorial de opinião It’s All Newsweek Fault esculacha o Secretário de Imprensa da Casa Branca, Scott McClellan, por jogar sobre a Newsweek a culpa pelas revoltas populares havidas no Afeganistão, depois que a revista publicou que o Alcorão estaria sendo profanado na Base Naval Campo de Concentração de Guantánamo.
Uma crítica mais velada ao Presidente Bush aparece no artigo In Rare Threat, Bush Vows Veto of Stem Cell Bill, assinado por Sheryl Gay Stolberg, que mostra que Bush está em “rota de colisão” com um importante número de Congressistas do Partido Republicano e mesmo com seu “Garoto Propaganda” Schwarzennegger… Os dois colunistas do Washington Post abordam o assunto com o tom “será que nós vamos deixar a Coréia ficar na frente?”, nos artigos de David S. Brooder, Stem Cell Hope…, e de Michael Kinsley, …And the Fear of the Unknown. Eles temem as conseqüências do “Lisenkoísmo às avessas” do fundamentalista bíblico Bush…
Por outro lado, a prova que o “desconfiômetro” ainda não está calibrado, é o artigo, assinado por Joel Brinkley, U. S. Proposal in O. A. S. Draws Fire as an Attack on Venezuela. O articulista demonstra alguma surpresa porque uma proposta, feita pelos EUA para a criação de um “Comitê da OEA para monitorar a liberdade e o exercício do poder na América Latina” não foi saudado com entusiasmo pelos membros da OEA… Quer dizer que não é preciso vigiar a “liberdade e o exercício do Poder” no Canadá, na Guiana, no Suriname, na Jamaica, em Belize e nas outras ex-colônias não latinas das Américas? E, é claro, esse Comitê só poderia “dar pitaco” na Ilha de Cuba na parte governada por Fidel; no Campo de Concentração de Guantánamo, nem pensar!… Prender e algemar uma criança de menos de cinco anos por se comportar mal no colégio (como aconteceu em St. Petersburg, Flórida) é “correto exercício do poder”!…
Só mesmo em um país que chama seu Campeonato Nacional de Beisebol de World Series…