Uma (outra) nação de idiotas…

Pescado do Washington Post do último domingo:
A estupidificação da América
Podem me chamar de ensobe, mas, realmente, somos uma nação de ignorantes

Por Susan Jacoby
Domingo, 17 de fevereiro de 2008

“A mente deste país, ensinada a mirar em objetivos baixos, devora a si própria”. Ralph Waldo Emerson apresentou esta observação em 1837, mas suas palavras ecoam com uma dolorosa presciência nos atuais e muito diferentes Estados Unidos. Os americanos estão com sérios problemas intelectuais ─ em risco de perderem nosso arduamente conquistado capital cultural para uma virulenta mistura de anti-intelectualismo, anti-racionalismo e baixas espectativas.

Este é o último assunto que qualquer candidato ousaria levantar no caminho longo e tortuoso para a Casa Branca. É praticamente impossível falar sobre a maneira com que a ingorância do público contribui para agravar os problemas nacionais, sem ser taxado como “elitista”, um dos pejorativos mais poderosos que podem ser aplicados a qualquer um que aspira a um alto cargo eletivo. Em vez disto, nossos políticos repetidamente asseguram aos americanos que eles são apenas “povão”, um eufemismo que você pode procurar, em vão, nos discursos presidenciais anteriores a 1980. (Imagine só: “Nós aqui soberanamente resolvemos que esses mortos não terão morrido em vão… e que o governo do povão, pelo povão, para o povão, não perecerá deste mundo”). Tais exaltações de mediocridade estão entre os indícios seguros de anti-intelectualismo em qualquer era.

O trabalho clássico sobre este assunto é o “Anti-Intellectualism in American Life”, do historiador Richard Hofstadter da Universidade de Columbia, publicado no início de 1963, entre as cruzadas anti-comunistas da era McCarthy e as convulsões sociais do final da década de 1960. Hofstadter viu que o anti-intelectualismo americano era, basicamente, um fenômeno cíclico que freqüentemente se manifestava como o lado negro dos impulsos democráticos do país em religião e educação. Mas a atual marca de anti-intelectualismo é menos um ciclo do que uma enchente. Se Hofstadter (que morreu de leucemia em 1970 com a idade de 54) tivesse vivido o suficiente para escrever uma continuação atual, ele teria descoberto que nossa era de “info-entretenimento” (“infotainment”) 24/7 teria superado suas previsões mais apocalípticas acerca do futuro da cultura americana.

A ignorância, parafraseando o falecido senador Daniel Patrick Moynihan, tem sido constantemente definida em termos cada vez mais baixos por várias décadas, pela combinação de duas forças, até hoje, irresistíveis. Elas incluem o triunfo da cultura do vídeo sobre a cultura impressa (e, quando eu digo vídeo, eu quero dizer qualquer forma de meio digital, inclusive os mais velhos meios eletrônicos); uma defasagem entre o crescente nível de educação formal do americano e sua frágil compreensão das noções mais básicas de geografia, ciência e história; e a fusão do anti-racionalismo com o anti-intelectualismo.

O primeiro e principal vetor do novo anti-intelectualismo é o vídeo. O declínio da leitura de livros, jornais e revistas, já é matéria velha. Esta tendência é mais pronunciada entre os jovens, mas continua a se acelerar e a afligir americanos de todos as idades e níveis de educação.

O hábito da leitura não declinou apenas entre os menos educados, de acordo com um relatório do ano passado do National Endowment for the Arts (nota do tradutor: um programa federal para o patrocínio das artes nos EUA). Em 1982, 82 % dos formandos em universidades liam novelas ou poemas por prazer; duas décadas depois, somente 67% o faziam. E mais de 40% dos americanos com menos de 44 anos não leu um único livro de ficção ou não-ficção durante o período de um ano. A proporção de pessoas com 17 anos que não lê coisa alguma (a menos que obrigada pela escola) mais do que dobrou entre 1984 e 2004. Este período de tempo, é claro, abrange o crescimento do uso de computadores pessoais, Web surfing e video games.

Será que isso importa? Os tecnófilos ridicularizam as catilinárias acerca do fim da cultura impressa como sendo apenas como “contemplação-do-próprio-umbigo” dos (quem mais?) elitistas. Em seu livro “Everything Bad Is Good for You: How Today’s Popular Culture Is Actually Making Us Smarter” (“Tudo que é ruim é bom para você: como a atual cultura popular está nos tornando mais sabidos”) o escritor de ciências Steven Johnson nos assegura que não temos com o que nos preocupar. Claro, os pais podem ver seus “vibrantes e ativos filhos fitando silenciosamente, de bocas abertas, uma tela”. Mas este comportamento de zumbis “não são sinais de uma atrofia mental. São sinais de atenção focalizada”. Baboseira. O problema real é o que as crianças estão assistindo, não no que a atenção deles está focalizada, enquanto eles se sentam mesmerizados por vídeos que eles já assistiram dezenas de vezes.

A despeito de uma agressiva campanha de marketing que visa encorajar crianças a partir de 6 meses a assisitir vídeos, não há qualquer indício de que focalizar uma tela seja outra coisa que não prejudicial para ciranças de tenra idade. Em um estudo publicado em agosto passado, pesquisadores da Universidade de Washington descobriram que bebês entre 8 e 16 meses reconheciam uma média de menos seis a oito palavras para cada hora gasta assitindo vídeos.

Eu não posso provar que ler por horas em uma casa-na-árvore (que é o que eu fazia quando tinha 13 anos) cria cidadãos mais informados do que martelar horas na Microsoft Xbox ou ser obsessivo acerca de perfís do Facebook. Mas a incapacidade em se concentrar por longos períodos de tempo ao contrário de breves buscas por informação na Web me parece intimamente relacionada com a incapacidade do público em se lembrar até de notícias de eventos recentes. Não é surpreendente, por exemplo, que se tenha ouvido menos dos candidatos à presidência sobre a guerra no Iraque nestes últimos estágios da campanha, do que no começo dela, simplesmente porque têm havido menos reportagens e vídeos sobre a violência no Iraque. Os candidatos, tal como os eleitores, dão ênfase às últimas notícias, não necessariamente às mais importantes.

Não surpreende que propagandas políticas negativas funcionem. “Com o texto, é até fácil perceber os diferentes níveis de confiabilidade entre diferentes pedaços de informação”, observou recentemente o crítico cultural Caleb Crain no New Yorker. “Uma comparação entre duas reportagens de vídeo, por outro lado, é mais difícil. Forçado a escolher entre duas histórias conflitantes na televisão, o espectador recai nos seus palpites, ou no que ele já acreditava antes de começar a ver”.

No mesmo passo em que os consumidores de vídeo ficam cada vez mais impacientes com o processo de aquisição de informação através da linguagem escrita, todos os políticos se acham sob a pressão de entregar suas mensagens tão rápido quanto possível e “rápido”, atualmente, é muito mais “rápido” do que costumava ser. Kiku Adatto, da Universidade de Harvard, descobriu que, entre 1968 e 1988, a “deixa” média de um candidato à presidência nos noticiários onde aparecia a voz do próprio candidato caiu de 42,3 segundos para 9.8 segundos. No entorno de 2000, de acordo com outro estudo de Harvard, a deixa” diária do candidato tinha caído para apenas 7,8 segundos.

O encolhimento da amplitude de atenção do público, promovida pelo vídeo, é intimamente ligada à segunda importante força anti-intelectual na cultura americana: a erosão da cultura geral.

Pessoas acostumadas a ouvirem seu presidente explicar complicadas escolhas políticas com um desdenhoso “Quem decide sou eu”, devem achar quase impossível imaginar o trabalho que Franklin D. Roosvelt teve, nos sombrios meses depois de Pearl Harbor, para explicar por que as forças dos EUA estavam sofrendo uma derrota atrás da outra no Pacífico. Em fevereiro de 1942, Roosevelt pediu aos americanos que abrissem um mapa, durante suas “conversas ao pé do fogo” pelo rádio, de modo a que compreendessem melhor a geografia da batalha. Nas lojas por todo o país os mapas foram vendidos; cerca de 80% dos adultos americanos ligavam seus rádios para ouvir o presidente. FDR tinha dito a seus redatores de discursos que estava certo de que, se os americanos entendessem a imensidão das distâncias pelas quais os suprimentos tinham que viajar até as forças armadas, “eles poderiam tomar com as más notícias na ponta do queixo”.

Isto é um retrato não só de uma presidência diferente, mas também de um país e de cidadãos diferentes, um que não tinha o acesso aos Google Maps por satélite, mas era muito mais receptiva à idéia de aprendizado e de complexidade do que o público atual. De acordo com uma pesquisa de 2006 da National Geografic-Roper, quase metade dos americanos entre 18 e 24 anos não achavam necessário saber a localização dos outros países onde as importantes notícias estavam acontecendo. Mais de um terço considerava “nem um pouco importante” saber uma língua estrangeira e somente 14% consideravam isto “muito importante”.

Isso nos leva ao terceiro e final fator por trás da nova ignorância americana: não a fata do conhecimento, em si, mas a arrogância acerca desta falta de conhecimento. O problema não é apenas o que não sabemos (considerem que um em cada cinco adultos americanos, de acordo com a Fundação Nacional de Ciências, pensa que o Sol gira em torno da Terra); é o alarmante número de americanos que petulantemente concluiu que não precisa saber dessas coisas, para começo de conversa. Chame isto de anti-racionalismo uma síndrome que é particularmente perigosa para nossas instituições e o discurso público. Não conhecer uma língua estrangeira ou a localização de um país importante é uma manifestação de ignorância; negar a importância de tal conhecimento é puro anti-racionalismo. O hálito tóxico do anti-racionalismo e da ignorância fere as discussões das políticas públicas dos EUA em tópicos que vão da política de saúde aos impostos.

Não existe uma cura rápida para esta epidemia de anti-racionalismo e anti-intelectualismo arrogante; esforços “tipo decoreba” para aumentar os resultados de exames padronizados, por meio de fazer os estudantes “decorebar” respostas específicas para perguntas específicas em exames específicos, não vai resolver o assunto. Além disto, as pessoas que personificam o problema são, usualmente, ignorantes do próprio probelma. (“Vai ser difícil achar alguém que se ache ser contra o pensamento e a cultura”, notou Hofstadter). Já passou da hora de uma séria discussão nacional acerca de se, como uma nação, nós realmente valorizamos o intelecto e a racionalidade. Se esta se tornar, realmente, uma “eleição de mudanças”, o baixo nível do discurso em um país cuja mente foi ensinada a mirar em objetivos baixos, tem que ser o primeiro item da agenda de mudanças.

info@susanjacoby.com
O último livro de Susan Jacoby se chama “The Age of American Unreason” (“A Era do Irracionalismo Americano”)

Adendo do tradutor:
E isso no país mais rico do mundo, com escolas de fazer qualquer professor (de qualquer grau) do Brasil babar de inveja, onde o transporte escolar não é feito em “pau-de-arara” e a Merenda Escolar não vai parar na casa dos apaniguados do prefeito…

Já em um certo país democrático da America do Sul, onde o Presidente democraticamente eleito pelo voto majoritário direto (não por um “Colégio Eleitoral” que só quem usa sistema de medidas “Avoirdupois” entende…), o BBB-8 vai “bombando” na audiência, e o Fantástico desse mesmo domingo em que esse artigo foi publicado, concedeu o dobro do tempo da reportagem sobre a precariedade do transporte escolar, para a bombástica estréia em carreira solo de uma cantora de “axé-bunda”, cuja apresentação foi a modesta frase: “eu sou a mulher mais gostosa do mundo!”…
Áurea mediocritas!…

Ajude a manter o “Domínio Público” na ar!

Divulgaram uma mensagem na comunidade de Astronomia do Orkut, alertando que o site Domínio Público estaria para ser desativado por falta de uso.
Vai ser mais uma derrota para as boas iniciativas em matéria de educação no Brasil, se isso realmente acontecer…
Então, divulgue, escreva para lá, faça o que puder…

A “evolução” da espécie humana

Traduzo, abaixo, uma notícia veiculada pelo EurekAlert, que vem se somar a duas outras divulgadas pelo Daniel no seu “What’s interesting this week” de 16 de dezembro (“Culture speeds up Human Evolution” do Sientific American, e “Modern times causing human evolution to accelerate“, do NewScientist). Eu peço especial atenção porque é uma constatação do óbvio, mas que pode ter profundas implicações – e do tipo desastroso – sobre as relações humanas.

University of Utah
Estão os seres humanos evoluindo mais depressa?
Descobertas sugerem que estamos nos tornando mais diferentes, não iguais
Pesquisadores descobriram indícios genéticos de que a evolução do ser humano está se acelerando – e não que tenha se detido ou prosseguido em um ritmo constante, como se pensava – o que indica que os seres humanos nos diferentes continentes estão se tornando cada vez mais diferentes.
“Nós empregamos uma nova tecnologia genômica para mostrar que os humanos estão evoluindo rapidamente e que o ritmo da mudança se acelerou nos últimos 40.000 anos, especialmente desde o fim da Era Glacial, a aproximadamente 10.000 anos atrás”, afirma o pesquisador chefe Henry Harpending, um distinto professor de antropologia na Universidade de Utah.
Harpending diz que existem implicações instigantes a partir do estudo, publicado online na 2ª feira 10 de dezembro no jornal Proceedings of the National Academy of Sciences:
— “Nós não somos o mesmo povo de 1.000 ou 2.000 anos atrás”, diz ele, o que pode explicar, por exemplo, parte da diferença entre os guerreiros invasores Vikings e seus pacíficos descendentes suecos. “ O dogma é que isso resulta de flutuações culturais, porém quase todas as características de temperamento que se examina, estão sob forte influência genética”.
— “As raças humanas estão se desenvolvendo em rumos que se afastam” diz Harpending. “ Os genes estão evoluindo rapidamente na Europa, Ásia e África, porém todos eles são peculiares a seu continente de origem. Nós estamos ficando menos parcidos, não nos miscigenando em uma única Humanidade mestiça”. Ele afirma que isto está acontecendo porque os seres humanos se dispersaram da África para outras regiões a 40.000 anos atrás, “ e, desde então, não tem havido muita troca de genes entre as regiões”.
“Nossos estudos negam a crença amplamente difundida de que os modernos seres humanos [estes que adotaram largamente ferramentas e artes avançadas] que apareceram a 40.000 anos atrás, não mudaram desde então e que nós somos ainda os mesmos. Nós demonstramos que os seres humanos estão mudando relativamente rápido em uma escala de séculos a milênios e que estas mudanças são diferentes em diferentes grupos continentais”.
O aumento da população humana de milhões para bilhões nos últimos 10.000 anos acelerou o ritmo de evolução porque “nós estamos em novos ambientes aos quais precisamos nos adaptar”, adicona Harpending. “E, com uma população maior, ocorreram mais mutações”.
O co-autor do estudo, Gregory M. Cochran, diz: “A história parece cada vez mais com uma novela de ficção científica na qual os mutantes surgem repetidamente e tomam o lugar dos humanos normais –algumas vezes pacificamente, sobrevivendo melhor a fomes e doenças, e outras vezes como uma horda de conquistadores. E nós somos estes mutantes”.
Harpending conduziu o estudo com Cochran, um médico do Novo México, auto-didata em biologia evolucionária e professor adjunto de biologia evolucionária na Universidade de Utah; o antropologista John Hawks, um antigo pesquisador pós-doutoral de Utah, agora na Universidade de Wisconsin, Madison; o geneticista Eric Wang da Affymetrix, Inc. em Santa Clara, Califórnia; e o bioquímico Robert Moyzis da Universidade da California, Irvine.

Não se trata de justificativa para discriminação

O novo estudo vem dos mesmos cientistas da Universidade de Utah – Harpending e Cochran – que criaram um “frisson” em 2005, quando publicaram um estudo que argumentava que a inteligência acima da média dos Judeus Ashkenazi – os de ascendência Norte Européia – resultava da seleção natural na Europa medieval, quando eles foram empurrados para profissões tais como financistas, mercadores, gerentes e coletores de impostos. Os mais inteligentes prosperavam, se tornavam ricos e tinham famílias maiores para transmitir seus genes. Entretanto, essa inteligência também era associada a doenças genéticas tais como as síndromes de Tay-Sachs e de Gaucher em judeus.
Aquele estudo e outros que lidavam com diferenças genéticas entre seres humanos – cujo DNA é mais de 99% idêntico – gerou receios de que tais pesquisas solapassem o princípio da igualdade humana e justificar racismos e discriminação. Outros críticos questionavama qualidade científica e argumentavam que a cultura tem um papel maior do que a genética.
Harpending diz que as diferenças genéticas entre as diversas populações humanas “não podem ser usadas para jsutificar discriminação. Os direitos na Constituição não são baseados na total igualdade. As pessoas têm direitos e devem ter oportunidades qualquer que seja seu grupo”.

Analisando os SNPs da aceleração evolucionária

Os estudo procurou por indícios genéticos de seleção natural – as evolução das mutações favoráveis dos genes – durante os últimos 80.000 anos, analizando o DNA de 270 indivíduos no International HapMap Project, um esforço para identificar variações nos genes humanos que causam doenças e servem como alvos para novos medicamentos.
O novo estudo procurou especificamente pelas variações genéticas chamadas “polimorfismo de nucleotídeo simples”, (conhecido pela sigla em inglês de “single nucleotide polymorphisms,” SNPs [pronounciado como “snips”]) que são mutações puntuais em cromossomos que estão se disseminando por uma significativa parte da população.
Imagine um passeio ao longo de dois cromossomos – o mesmo cromossomo de duas pessoas diferentes. Cromossomos são feitos de DNA, uma estrutura em forma de escada espiral, na qual cada degrau é feito de um “par básico” de amino ácidos, G-C, ou A-T. Harpending diz que no entorno de cerca de cada 1.000 pares básicos, haverá uma diferença entre os dois cromossomos. Isto é conhecido como um SNP.
Os dados examinados no estudo incluiam 3,9 milhões de SNPs de 270 pessoas em quatro populações: Chineses Han, Japoneses, Yorubas Africanos e Norte-Europeus, representados grandmente por dados dos Mórmons do Utah, diz Harpending.
Com o tempo, os cromossomos se quebram e se recombinam, aleatoriamente, criando novas versões ou variantes do cromossomo. “Se aparecer uma mutação favorável, então o número de cópias deste cromossomo aumenta rapideamente” na população porque as pesssoas com esta mutação têm mais chances de sobreviver e se reproduzir, diz Harpending.
“E se isto aumenta rapidamente, se torna comum em uma população em um curto prazo”, acrescenta.
Os pesquisadores tiraram vantagem disso para determinar se os genes nos cromossomos tinham evoluído recentemente. Os humanos têm 23 pares de cromossomos, com cada pai/mãe passando uma cópia de cada um dos 23. Se o mesmo cromossomo de vários indivíduos tiver um segmento com um padrão idêntico de SNPs, isto é um indício de que este segmento do cromossomo não se quebrou e recombinou recentemente.
Isso significa que um gene neste segmento de cromossomo deve ter evoluído recentemente e rápido; se tivesse evoluído a muito tempo, o cromossomo teria quebrado e recombinado.
Harpending e seus colegas usaram um computador para examinar os dados à procura de segmentos de cromossomos que tivessem padrões idênticos de SNP e, assim, não tivessem quebrado e recombinado, o que significa que eles teriam evoluído recentemente. Eles também calcularam o quão recentemente os genes tinham evoluído.
Uma descoberta chave: 7% dos genes humanos estão passando por uma evolução rápida e recente.
Os pesquisadores construíram um caso em em que a evolução humana tivesse acelerado para comparar os dados com o que deveriam ser os dados se a evolução humana tivesse sido cosntante:

  • O estudo descobriu que existe muito mais diversidade genética nos SNPs do que seria de se esperar se a evolução humana tivesse permanecido constante.
  • Se o ritmo no qual os genes estão evoluindo nos Africanos fosse extrapolado para 6 milhões de anos atrás, quando os humanos e os chimpanzés se separaram, a diferença entre os chimpanzés modernos e os humanos modernos teria que ser 160 vezes maior do que realmente é. Portanto o ritmo da evolução dos Africanos representa uma aceleração recente na evolução.
  • Se a evolução tivesse sido rápida e constante por um longo tempo, deveria haver muitos genes recentemente evoluídos que teriam se espalhado por todos. No entanto, o estudo revelou que vários genes ainda estão se tornando mais freqüentes na população, indicando uma recente aceleração evolucionária.

A seguir, os pesquisadores examinaram a história do tamanho da população humana em cada continente. Eles descobriram que os padrões de mutação observados nos dados dos genomas eram consistentes com a hipótese de que a evolução é mais rápida em populações maiores.

Mudança Evolucionária e História Humana: Vai um leite aí?

“O rápido crescimento da população tem correspondido a vastas mudanças nas culturas e na ecologia, que criam novas oportunidades de adaptação”, declara o estudo. “Os últimos 10.000 anos testemunharam uma rápida evolução nos esqueletos e na dentição das populações humanas, bem como o aparecimento de várias novas respostas genéticas a dietas e doenças”.
Os pesquisadores notam que as migrações humanas para os novos ambientes Eurasianos, criaram pressões seletivas que favoreceram uma menor pigmentação da pele (de forma a poder absorver mais luz solar pela pele para criar vitamina D), adaptação a climas frios e mudanças na dieta.
Porque a população humana cresceu de vários milhões, no final da Era Glacial, até os 6 bilhões atuais, mais genes favoráveis emergiram e a evolução acelerou, tanto em escala global, como nos grupos continentais de pessoas, diz Harpending.
“Temos que entender as mudanças genéticas para poder compreender a história”, ele acrescenta.
Por exemplo, na China e na maior parte da África, poucas pessoas podem digerir leite fresco quando se tornam adultas. No entanto, na Suécia e na Dinamarca, o gene que produz a enzima que digere a lactose permanece ativa, de forma que “quase todos podem beber leite fresco”, o que explica porque os laticínios são mais comuns na Europa do que no Mediterrâneo e na África, diz Harpending.
Ele agora está estudando se a mutação que permitiu a tolerância à lactose estimulou algumas das grandes expansões de população da história, inclusive quando os povos de idioma indo-europeu partiram do Noroeste da Índia e da Ásia Central, através da Pérsia e através da Europa, entre 4.000 e 5.000 anos atrás. Ele suspeita que o consumo de leite deu aos Indo-Europeus, tolerantes à lactose, mais energia, permitindo que eles conquistassem uma grande área.
Mas Harpending acredita que a aceleração da evolução humana “é um estado de coisas temporário, por causa dos novos ambientes desde a dispersão dos humanos modernos, a 40.000 anos, e especialmente após a invenção da agricultura a 12.000 anos atrás. Isto modificou nossa dieta e mudou nossos sistemas sociais. Se pegassem caçadores-coletores e, subitamente, lhes dessem uma dieta a base de milho, eles ficariam diabéticos com freqüência. Nós ainda estamos nos adaptando a isso. Vários novos genes que se observa estarem se disseminando pela população, estão envolvidos com nos auxiliar a prosperar com uma dieta rica em carboidratos”.

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Uma curiosa mistura de fatos históricos, científicos e “achismos”… Eu cá, um pouco menos auto-didata em genética do que o Dr. Cochrane, fico em dúvida se pelo menos metade desta argumentação não é do tipo “o focinho que causa o rabo”.
Tomemos o exemplo, tão bem explorado, da tolerância à lactose. É claro que o pastoreio em regiões montanhosas, onde a agricultura é quase impossível e a caça é extremamente arriscada, é uma vantagem para a sobrevivência. Eu gostaria de ter alguns dados sobre essa característica entre nepaleses e tibetanos, por exemplo… Ou entre os Watusi e os Bantus…
Outro ponto que passa “batido” nessa pesquisa são os grupos de mestiços. Quais seriam os resultados da população afro-descendente no Brasil, por exemplo, onde os negróides são extremamente miscigenados com caucasóides?
Que mutações apresentam, por outro lado, os Afrikaans e os Australianos não-aborígenes? E – que me perdoe o eminente pesquisador – mas usar os Mórmons do Utah como representantes dos caucasóides é brincadeira!… Os Mórmons são extremamente endógenos; por que eles não estudaram os Amishes de uma vez?…
E o parágrafo sobre “não justifica discriminação” é perfeitamente dispensável… Não há Lei ou Decreto que torne um negróide em caucasóide: a bendita Constituição pode dizer o que quiser, mas a anemia falciforme vai atacar mais os povos oriundos de regiões onde abunda a malária – lá, isso é uma característica favorável!…
E essa dos Ashkenazi terem “um QI superior” por conta de sua tradição mercantil é a piada do milênio!… E os Ashkenazi que eram ourives e cortadores de gemas?… Têm maiores habilidades manuais e um QI mais baixo?… Ou “isso não conta; varre para debaixo do tapete!…”
O mais curioso é que esta “pesquisa” vem na esteira daquela “cincada” do eminente Dr. Watson

Falência! [final]

Sabe aquela sensação que você tem quando descobre que nem os “disparates” que você diz são originais?…
Pois é… Estou eu aqui gastando meu “latim” e minha indignação, quando bastava ler mais atentamente o “Diário do Professor”, do Declev… Está tudo lá… A noção de que o sistema de ensino vigente afugenta, em vez de atrair os alunos; uma argumentação (bem melhor fundamentada do que a minha) sobre o erro em dar mais ênfase a certas matérias; relatos de experiências criativas que funcionaram, mas não tiveram continuidade; comentários de quem sofre na carne o que eu repito: a maior parte do tempo dos professores deveria ser empregada fora da sala de aula, preparando aulas, estratégias, abordagens multisiciplinares integradas e na atualização e expansão dos próprios conhecimentos… e vai por aí…
Se eu sou maluco, “ponto fora da reta”, um visionário que “fala do que não entende”, pelo menos, eu estou bem acompanhado.
Lá, também, encontro o desespero de um professor dedicado quando confrontado com alunos que fazem questão de não aprender… Será que minha proposta de que isso pode ser corrigido com a universalização da pré-escola é mesmo válida?… Ou a questão vai ainda mais fundo: abrange toda a escala de valores vigentes na atual sociedade?…
Então, me calo por aqui… Não que eu tenha esgotado o assunto: apenas “me manquei” que o “sapateiro” aqui estava indo muito “além das sandálias”.
Vou voltar ao meu “forte”: traduzir artigos de ciência, política, economia (por falar nisso: O New York Times deste domingo tem seis artigos que discutem se os EUA estão à beira, ou já enfiados em uma recessão…) e outras mazelas internacionais, para a gente, aqui em Pindorama, perceber que nós, tupiniquins, não somos nem piores, nem melhores que ninguém.
Dixit.

Falência! [2]

Vou começar minha diatribe seguinte, tomando como base o questionamento do Professor Declev Dib-Ferreira, em seu artigo O que é uma boa escola?, no Diário do Professor.

Portanto, a “boa” escola seria aquela que conseguiria fazer aprender aqueles que não aprenderiam apesar da escola, aqueles que não têm o que citamos que os bons têm: aquelas condições extra-escolares que fazem de um aluno, um bom aluno.
Esta sim, seria uma boa escola, que atenderia a todos, sem eliminação da massa e sobrevivência dos ”mais fortes e mais adaptados”. Uma escola para uma nova sociedade.
Fazer seres competitivos é fácil.
Difícil é fazer pra todos.

Aí, vem a pergunta: como?… Não podemos nos esquecer que as crianças têm vários graus diferentes de habilidades de aprendizado (por menos “politicamente correto” que isso possa parecer, é um fato que não podemos ignorar). Se soubéssemos ao certo se isso tem fundo genético, congênito, ambiental, ou uma combinação dos três, seria mais fácil lidar com as disparidades. Mas o fato é que não sabemos e, ao que tudo indica, não saberemos tão cedo. Portanto, é aceitar o fato e procurar a melhor maneira de lidar com ele…
Dizem as mais recentes pesquisas na área da neurociência que essas habilidades começam a se desenvolver na tenra infância, no mesmo passo em que as crianças começam a aprender coisas básicas, tais como falar, andar e controlar os esfíncteres (desculpem… sem referências). O certo é que, quanto mais cedo começar o aprendizado “formal”, mais fácil ele se torna. E é nesta fase em que começam a aparecer os “superdotados”. No entanto, a idade prevista para o início do aprendizado é entre os 5 e 6 anos, quando o “estrago” já está feito. Nesta idade, as crianças já são mais “parecidas” com o ambiente em que cresceram e, convenhamos, a maior parte desses “ambientes” não é nada favorável aos estudos e ao aprendizado de nada que preste…
Por isso eu dou tanta importância à pré-escola. O hábito de passar algumas horas (ou até a maior parte delas) do dia em um ambiente onde as “brincadeiras” são direcionadas à socialização e ao aprendizado, principalmente o “disfarçado” de forma lúdica, não priva as crianças do divertimento a que têm direito e pode ajudar muito a criar a noção de que “escola é divertido”.
E é aqui que eu entro com mais um de meus “achismos”. Eu tenho observado, acompanhando a educação de meus filhos e de meu neto (já que não posso confiar nas minhas memórias de infância) que, nestes últimos vinte e poucos anos, uma coisa não mudou: há uma brusca transição da pré-escola para a educação básica. O caráter “lúdico” é, de repente, removido e se procura incutir nas crianças uma preocupação de “levar os estudos a sério”. A bendita “nota”, “conceito”, ou o que for, começa a ser “importante” e “passar de ano” uma “obrigação”. Eu não tenho nada contra ensinar as crianças sobre “responsabilidade individual”, mas será que essa transição brusca tem mesmo algum significado?… Me lembra muito a “Classificação Etária” para diversas atividades. Por exemplo: um jovem com 17 anos e 364 dias é “inaceitável” para receber uma Carteira de Motorista e ainda é “legalmente inimputável”. No dia seguinte, ele já pode sair dirigindo e já pode ser legalmente responsabilizado por todas as ilegalidades que cometer… E, o que era um direito, “o soberano exercício do sua cidadania” (leia-se: voto), a partir dos 16 anos, passa a ser uma “obrigação”, cujo não-cumprimento acarreta as penalidades da Lei…
O contra-argumento de “em algum lugar tem que se traçar uma linha divisória”, para mim, é falta de argumento… Como se costuma dizer, na Infantaria, “o Regulamento é a Primeira Linha de Defesa do incompetente”…
Como toda transição, essa também pode ser feita de modo suave e não-assustador para as crianças. Bruno Bettelheim (em “Parents Good Enough” = “Uma vida para seu filho”) aponta o fato de que a maior parte do desentendimento entre as gerações e á incapacidade dos adultos em verem o mundo com os olhos de uma criança. Para alguém com cinco a seis anos de idade, o universo inteiro tem uns quatro… E adolescentes acham que o “amanhã” sempre vai existir e, portanto, tudo pode ser postergado. Exigências de “ser responsável”, como se isso fosse uma noção nata, é de uma total estupidez. Isso de “responsabilidade” é uma capacidade adquirida e deve ser ensinada, não com palmatória, mas com exemplo e incentivo.
Só que isso dá mais trabalho e exige um acompanhamento individual mais próximo, o que acarreta a necessidade de turmas menores, o que, por sua vez, acarreta uma necessidade de mais professores, mais pedagogos, e até de profissionais de fonoaudiologia, psicologia infantil e (é até ridículo mencionar isto…) oftalmologistas…
Mas, se a idéia é criar novas safras de cidadãos melhores do que as já existentes, não há como dissociar o apoio de saúde, o transporte, a alimentação, e – muito importante – o acompanhamento por assistentes sociais das famílias. “Escola” tem que ser mais do que um prédio com salas de aula e professores dentro. Tem que ser um local que preste diversos serviços sociais, inclusive a instrução. Utopia?… Vendo as condições atuais do que passa por “escola” neste Brasil, a idéia parece realmente utópica… Mas nem sequer é nova: a proposta original dos CIEPS, trazida ao Brasil por Darcy Ribeiro, era exatamente esta (não aquela “máquina eleitoreira” de construir prédios pré-fabricados — e outra “heresia”: projetados como o nariz de quem os projetou… [sim… eu sei quem foi e o conheço pessoalmente] — à vista de ruas movimentadas que se fez no Estado do Rio de Janeiro).
(continua…)

Falência! [1]

Eu pretendia abordar o assunto em uma única matéria, mas já percebi que não vai ser possível. Tem a ver com o péssimo desempenho dos estudantes brasileiros na avaliação do PISA, com discussões em grupos no Orkut, com discussões no “Roda de Ciência”, tudo sobre educação — ou antes: a falta de educação — no Brasil.
Mas tem a ver, também, com a situação da política brasileira, com a política econômica brasileira e internacional, e com um monte de outras coisas — aparentemente sem relação entre si — que passam pela repercussão do filme “Tropa de Elite”, pelas mudanças climáticas, e por um monte de exemplos de “Chi vó, non pó” que andam por aí.
Como eu tenho que começar por algum lugar, vamos começar pelo PISA, que foi comentado aqui, na matéria “Que raios de ensino é este?”, pelo Adilson J A de Oliveira, em seu artigo “O nosso ensino de ciências continua muito precário”, no “Por dentro da Ciência”, e pela Ana Cláudia Lessinger, no “Via Gene”, nos artigos “A ciência foi pro espaço… no mau sentido” e “e nem nos damos conta…” (esses foram os que eu vi… provavelmente há muitos outros…)
Eu tenho ainda uma observação a acrescentar: Ah!… Se fosse só a ciência!…
Só que não é!… Não é uma questão só sobre o ensino de ciências: a coisa é muito mais grave. É sobre o ensino, em geral… É sobre a inversão de valores que insiste em continuar acontecendo: para os responsáveis pelas políticas de ensino, o que importa são números: tantas crianças matriculadas em uma ponta, tantas outras com um certificado de conclusão na outra; e que se dane se realmente houve aprendizado entre uma ponta e outra!…
Aí, para esses senhores, o “número” mais significativo é a “evasão escolar” (computada como a diferença entre o número de crianças que entra por uma ponta e o das que sai pela outra). “Qualidade”?… O que é isso?…
E tome de “políticas afirmativas”… “Progressão automática”… Claro, se o “coitadinho” do estudante repetir o ano, porque não aprendeu as matérias, ele é capaz de abandonar os estudos e teremos mais um caso da terrível “evasão escolar”… “Ensino a distância”, não para realmente qualificar os professores, mas para promover uma farta distribuição de diplomas de licenciatura àqueles que, em falta dos verdadeiros licenciados, dão aulas sobre o que não conhecem (afinal, com os salários que o ensino público remunera seus professores, a maioria dos verdadeiros licenciados vai para o ensino particular…) E, para por a cereja no topo do “sundae”, “Quotas” nas Universidades Públicas para os “estudantes” oriundos desse sistema público de formação de analfabetos funcionais… (quando não é maior ainda o descaramento: financiamento de cursos superiores em instituições particulares, de qualidade para lá de duvidosa, que será pago pelos “depromados” com suas receitas de salários de empregos públicos cuja exigência seja 2º grau, ou venda de sanduíche natural na praia…)
É, por acaso, de estranhar que a Ordem dos Advogados do Brasil tenha instituído uma prova para (des)qualificar a miríade de “Bacharéis em Direito” que são despejados todo ano no mercado de trabalho e não sabem sequer redigir uma Petição Inicial sem separar o sujeito do predicado por (nem digo uma vírgula, mas) um ponto parágrafo? (estão achando mentira?… Pois lembrem-se do ofício, assinado por um Delegado da Polícia Federal, dirigido a um juiz no Estado da Bahia, solicitando autorização para a escuta telefônica dos adversários políticos do extinto ACM: o predicado dos sujeitos no primeiro parágrafo aparecia no segundo, precedido de um verbo no gerúndio…)
Pois eu afirmo que no dia em que o Conselho Federal de Medicina resolver fazer a mesma coisa, vai ser uma catástrofe!… (Eu já tive a oportunidade de ajudar um ex-colega Médico da Marinha a montar seu currículo e reparei no seu histórico acadêmico: não havia uma média superior a 6 em todo o histórico… e não era de uma Faculdade de Medicina famosa, não…)
E outra coisa que eu posso afirmar: uma quantidade assustadora de Teses e Monografias não são da autoria dos pretensos “fomandos”. Eu sei… eu já ajudei muitos deles a transformar a algaravia que eles produziam, em um texto coerente (embora destituído de conteúdo: basta fazer bastante citações de autores laureados…)
O Mauro Rebelo, em um excelente artigo do “Você que é biólogo”, intitulado Acordo de cavalheiros”, desmistifica a própria área, dita “séria” da ciência. Diz ele:

Fazer ciência básica virou fazer ‘qualquer coisa’. O cientista é uma pessoa diferenciada pela sua capacidade de observação. Observar, identificar, hipotetizar, testar, reportar e explicar. Mas também é humano. Isso quer dizer que pode errar nesse processo, mas pior do que isso, pode deixar o processo científico, que deveria ser amoral como a natureza, ser influenciado por crenças e emoções. A pior coisa que pode acontecer à um cientista é se tornar tendencioso. E como mostra Ioannidis no seu fabuloso artigo ‘porque a maior parte das pesquisas publicadas são falsas’ (Why most published research findings are false) os cientistas se tornaram tendenciosos. Muitos deles adeptos da crença no Deus Dinheiro e na Santa Indústria de Fármacos.
Os cientistas começaram a focar nas respostas (número de artigos publicados, número de projetos aprovados, de teses defendidas, de patentes registradas) e foram perdendo a habilidade mais peculiar à atividade científica: fazer boas perguntas! Uma leitora fã do Zen e um amiga fã do Jostein Gaarder já falaram disso esse ano pra mim e tenho cada vez mais pensado no assunto: Uma boa pergunta é mais importante que a resposta!

E quem vai ensinar isso, Mauro?… Quem vai ensinar nossos estudantes a “fazerem boas perguntas” se eles não são ensinados a “fazerem perguntas” — ao contrário: são ensinados a “decorebarem” conteúdos programáticos ocos, para repetí-los em “provas” e “testes” que avaliam mais se o “professor” sabe redigir questões ou não… (Querem exemplos?… Eu dou!… Uma prova de história, para o 2º ano colegial, questão – tipo “preencher lacuna”: “Os Estados Unidos lançaram a Bomba Atômica em _____”; resposta da minha filha: Hiroshima e Nagasaki – errado!… Segundo a “professora” [que arrotava “30 anos de magistério”] seria “Japão”… Hiroshima e Nagasaki provavelmente são subúrbios de Belo Horizonte… E “em Japão” é dose!…)
E o nosso onipresente Krishnamurti Andrade ainda reclama dos alunos dele!… Como se a “culpa” pelo analfabetismo e a incapacidade de fazer “regra de três” fosse somente devida à falta de interesse dos alunos… Pois eu lhe digo uma coisa, Krishnamurti: você tem muita sorte de ainda encontrar um ou outro aluno que se interesse por Física!… Para a periferia que você atende, as opções são, quase sempre, jogar futebol fora do Brasil (até na Islândia tem brasileiro enganando que joga bola…), ou cair na marginalidade de uma vez (nem que seja na “marginalidade transformada em virtude” de ser “apadrinhado de político”)… Física é um “luxo” ao qual brasileiros pobres não podem se permitir… Você até pode ser a honrosa excessão que confirma a regra. Eu conheço um filho de peão e lavadeira (ambos analfabetos), negro, cuja infância se dividiu entre o colégio público e o trabalho como engraxate nas ruas de Corumbá, que fez Serviço Militar como Marinheiro em Ladário, MS, estudou como um desesperado, passou para a Escola Naval, fez carreira como Oficial e, com seu soldo, sustentou os estudos de seus irmãos. Ele é a excessão: todos os amigos de infância dele morreram ou entraram para o narcotráfico e contrabando na fronteira.
E a Emenda Constitucional da Heloisa Helena, incluindo a pré-escola na Educação Pública Básica, aprovada e sancionada após quatro anos na “gaveta”, só aguarda ser posta em funcionamento… Mas os recursos oficiais são poucos (principalmente para alimentar os “Caixa 2” dos partidos, governo e oposição…)
Nada a ver?… Muito ao contrário. E não sou eu que digo por “achismo”: queiram ver A importância da Pré-escola; um estudo da Universidade de Minnesota, com foco em Chicago…
(depois eu volto ao assunto… ainda tenho muito o que “espernear”…)

Que raios de ensino é esse?…

Uma notícia publicada em “O Globo” de hoje mostra a que ponto chegamos no sucateamento da educação no Brasil:

Estudo do MEC revela que 70% dos professores de ciências não têm formação na áreaRIO – Um estudo do Ministério da Educação (MEC) revela que sete em cada dez professores de ciências das escolas no Brasil não têm formação específica para lecionar a disciplina. A maioria fez faculdade em outra área e alguns não têm sequer diploma universitário. O problema se agrava entre os professores de física: 90% e 86% deles, respectivamente, não concluíram o curso apropriado. A pesquisa foi feita com base em dados de 2003 para turmas de 5ª a 8ª série do ensino fundamental (ou 6º ao 9º ano, onde o ensino fundamental dura nove anos). A projeção terá uma atualização em breve, quando o MEC concluir o novo Censo Escolar (Educacenso).
Especialistas avaliam que a má formação dos professores seja uma das principais causas do fraco desempenho dos estudantes brasileiros no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que deixou o Brasil em 52º lugar entre 57 países avaliados . O estudo, coordenado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi divulgado foi divulgado na última quinta-feira.
A capacitação inadequada dos professores aliada à falta de infra-estrutura para aulas práticas e experimentação nas escolas também foram apontadas por especialistas como causas que contribuem para o fraco desempenho dos alunos e os resultados do ensino brasileiro. O secretário regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e diretor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Adalberto Cardoso, considera que o país não deixa a desejar apenas no ensino de ciências, mas em ‘toda a educação fundamental’.
(A notícia prossegue…)

Vou me permitir grifar o início da matéria: (…) sete em cada dez professores de ciências das escolas no Brasil não têm formação específica para lecionar a disciplina. A maioria fez faculdade em outra área e alguns não têm sequer diploma universitário. O problema se agrava entre os professores de física: 90% e 86% deles, respectivamente, não concluíram o curso apropriado.
Agora, eu pergunto: de que adianta matricular um monte de crianças em escolas que não têm professores capacitados? Fica muito bonitinho nas estatísticas: “trocentos por cento das crianças em idade escolar freqüentam escolas”… E não aprendem chongas!
O governo finge que ensina, as crianças brincam de “ir à escola”, o IDH do país cresce e o governo faz propaganda… E os brasileiros continuam ignorantes com um “canudo” que não vale o papel onde foi escrito.
“… E cosi, male il Brazile vá…”
Atualizando: O Adilson publica uma matéria com base na mesma notícia, no seu “Por dentro da ciência”: O nosso ensino de Ciências continua ainda muito precário.

Da importância da Pré-Escola

Duas chamadas no EurekAlert para o mesmo estudo. Uma é “Habilidades acadêmicas precoces, não o comportamento, predizem com mais certeza o sucesso nos estudos”, da Northwestern University. A outra, mais completa e com o link para o paper, é a abaixo traduzida.
American Psychological Association
Habilidades acadêmicas e de atenção precoces das crianças predizem com mais certeza o futuro sucesso nos estudos
Problemas de comportamento e falta de habilidades sociais não estão ligados aos resultados futuros
WASHINGTON – As crianças que entram no Jardim de Infância com conhecimentos de matemática elementar e habilidades de leitura, são os melhores candidatos a se saírem bem nos estudos mais tarde, mesmo que tenham vários problemas sociais e emocionais, afirmam pesquisadores que examinaram os dados de seis estudos sobre quase 36.000 alunos de pré-escolar. Os pesquisadores também descobriram que habilidades relacionadas como a atenção também são importantes.
Estas descobertas estão relatadas na edição de novembro de Developmental Psychology, publicada pela American Psychological Association (APA).
Pela primeira vez, pesquisadores compararam resultados de seis estudos longitudinais de larga escala, comparando dois grupos representativos de crianças dos EUA, dois estudos multi-localizados de crianças norte-americanas, um estudo focalizado em crianças da Grã-Bretanha, e um estudo focalizado em crianças do Canadá, para avaliar em que as habilidades pré-existentes na entrada para a escola e comportamentos davam as melhores indicações sobre melhores rendimentos em provas de leitura e matemática, à medida em que essas crianças progrediam nos estudos. As capacidades cognitivas e as características socio-demográficas foram mantidas constantes para descontar suas influências.
A partir de uma meta-análise dos resultados, o economista Greg J. Duncan, PhD, da Northwestern University e 11 co-autores, descobriram que o domínio de conceitos precoces de matemática, tais como o conhecimento de números e a compreensão da ordem dos números, eram a melhor fonte de previsão de sucesso posterior. O domínio de linguagem precoce e habilidades de leitura, que incluíam vocabulário, conhecimento das letras e compreensão da fonética, eram o segundo em importância. Também as habilidades relacionadas com a atenção, que incluíam a capacidade de controlar comportamento hiperativo, de se concentrar em completar uma tarefa e ser motivada a aprender, contribuíam para o desempenho posterior. Surpreeendentemente, dificuldades em conviver com colegas de turma, comportamentos agressivos ou disruptivos, e comportamentos depressivos ou reclusivos, não afetavam o aprendizado posterior.
As habilidades de “pronto para a escola” e comportamentos foram medidos no ingresso nas escolas (em torno dos 5 anos de idade) e as realizações posteriores foram medidas entre os 7 e 14 anos. Mesmo depois de verificar as habilidades cognitivas pre´-existentes das crianças, os autores descobriram que as habilidades precoces em matemática eram indícios fortes de bom desempenho posterior em matemática e prediziam com a mesma eficácia os resultados posteriores em resultados com leitura que as habilidades precoces de leitura. Estes e outros padrões foram similares para meninos e meninas, e também para crianças de alta classe média e de famílias pobres.
Os autores também descobriram que as habilidades precoces de atenção tinham um papel nos desempenhos futuros. Porém, problemas precoces de comportamento e a falta de habilidades sociais não afetavam grandemente os resultados futuros nesta amostra. Eles advertem que seus estudos são obtidos a partir de populações genéricas e que crianças com diagnósticos de problemas clínicos nessas áreas podem não se encaixar nesse padrão.
A falta de associações entre comportamentos sociais e emocionais, e o desempenho futuro foi a maior surpresa e não pode ser atribuída a diferenças nas maneiras com que as habilidades acadêmicas e sociais precoces foram medidas, descobriram os pesquisadores. “Talvez os profesores sejam capazes de assegurar que o comportamento problemático de uma criança não afete o desempenho dela ou dele,” notou Duncan, porém acrescentou, “fomos incapazes de avaliar se o comportamento problemático de uma criança pode ter afetado o que seus colegas de turma aprenderam.”
Os resultados são consistentes com as recomendações de painéis de experts sobre o desenvolvimento precoce de habilidades de matemática e leitura, para aumentar o rendimento dessas habilidades durante os anos pré-escolares. “Nossos resultados não são direcionados a quais tipos de currículos pré-escolares são mais eficazes para promover essa prontificação para a escola,” afirmou Duncan. “Mas sabemos com certeza que currículos com base emjogos, em oposição aos do tipo ‘exercícios-e-prática’, projetados com as necessidades de desenvolvimento das crianças em mente, podem auxiliar as habilidades acadêmicas e de atenção de maneiras que são atraentes e divertidas.”

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Artigo: “School Readiness and Later Achievement,” Greg J. Duncan, PhD, Amy Claessens, PhD, Mimi Engel, Northwestern University; Chantelle J. Dowsett, PhD, e Aletha C. Huston, PhD, University of Texas-Austin; Katherine Magnuson, PhD, University of Wisconsin-Madison; Pamela Klebanov, PhD, Princeton University, Linda S. Pagani, PhD, Universite de Montreal; Leon Feinstein, PhD, e Kathryn Duckworth, University of London; Jeanne Brooks-Gunn, PhD, Columbia University; Holly Sexton, University of Michigan; Crista Japel, Universite de Quebec a Montreal; Developmental Psychology, Vol. 43, No. 6.
(O texto completo do artigo está disponível no APA Public Affairs Office e em http://www.apa.org/journals/releases/dev4361428.pdf )

Corais a perigo

Via EurekAlert, mais uma notícia alarmante…
Professor da Universidade de Tel Aviv descobre que o Aquecimento Global está derretendo os corais macios

A extinção dos corais pode significar uma catástrofe mundial com impacto sobre todas as formas de vida marinhas e terrestres

O professor da Universidade de Tel Aviv University Professor Hudi Benayahu (e alunos), chefe da Escola Porter de Estudos ambientais da UTA, descobriu que os corais macios, uma parte integrante e importante dos ambientes dos recifes, estão simplesmente se derretendo e se perdendo. E o Prof. Benayahu acredita que isso pode significar uma catástrofe marinha global.

Hudi Benayahu
Prof. Hudi Benayahu

O stress ambiental, declara Benayahu, está danificando o relacionamento simbiótico entre os corais macios e as microscópicas algas simbióticas que vivem em seus tecidos. Não há dúvida de que o aquecimento global é o responsável, alerta o biólogo marinho, explicando que esta relação simbiótica é a chave para a sobrevivência da maior parte dos corais macios.
Os corais macios auxiliam a manter a saúde e o equilíbrio dos ecossistemas dos recifes e dão proteção a vários animais, tais como “Nemo”, o famoso peixe palhaço do filme de Walt Disney. Eles também são uma rica e promissora fonte de drogas capazes de salvar vidas, contra o câncer e outras doenças infecciosas mortais.
Declara o Prof. Benayahu, “É tarde demais. Nós agora já perdemos o barco em achar alguns fármacos chave. Existe uma grande lacuna em nosso conhecimento de corais macios em ambientes de recifes e, com o ritmo de extinção, nós perdemos certas espécies para sempre.”
Nós podemos jamais recuperar certas drogas terapêuticas e os humanos não podem viver com uma extensa extinção da vida marinha, aponta ele. A vida como a conhecemos não poderá existir se o ambiente marinho, um importante produtor de oxigênio, continuar a seguir este caminho.
Diferentemente de seus “primos” mais rígidos, os corais macios não têm exoesqueletos calcificados para protegê-los. Quando eles morrem, acabam de uma vez, deixando nenhum vestígio de sua existência. Nos lugares onde os corais macios eram encontrados, em 50 a 60% dos locais de estudo do Prof. Benayahu por todo o mundo, poucos anos depois somente cerca de 5% permanecem.

Benayahu at Work
Prof. Benayahu trabalhando

No início deste ano, o Prof. Benayahu observou um recife de corais macios japonês, “Havia um maciço desaparecimento de corais macios. Você nem pode imaginar que se trata do mesmo lugar. Apenas dois anos se passaram e toda a área estava deserta, sem vida.”
Mas ainda há esperanças. O Prof. Benayahu recentemente retornou de Phuket, Tailândia, onde ele ministrou um workshop de treinamento para estudantes da biologia dos corais macios. Futuros biólogos marinhos de países tais como Austrália, China, Índia, Malásia, Israel e Tailândia participaram. O workshop tinha a intenção de aumentar a atenção para o que pode vir a ser uma catástrofe ambiental global.
“Eu espero que esses jovens cientistas usem o que aprenderam para entender melhor como eles podem salvar os corais macios em seus países de origem,” declara o Prof. Benayahu, que também é um professor de biologia marinha no Departamento de Zoologia da Universidade de Tel Aviv.
Com mais de 35 anos de experiência na área, o Prof. Benayahu é um dos poucos experts mundiais que devota sua vida à taxonomia, ecologia e biologia de corais macios. Ele descobriu dúzias de novas espécies de corais macios ao longo da região Indo-Pacífico e ele cuidadosamente estuda, com seus estudantes, o papel dessas espécies no ambiente dos recifes. Ele recebeu numerosos financiamentos para apoiar seu trabalho, inclusive um da National Geographic Society para estudar a vida marinha e corais macios em restos de naufrágios.
O Prof. Benayahu recebeu tanto o grau de Mestrado como o de Ph.D. em biologia marinha na Universidade de Tel Aviv. Em 1982 ele realizou treinamento pós-doutoral em museus de história natural pela Europa, bem como um ano na Florida International University (Florida). Desde 1987 ele é um Professor do Departamento de Zoologia da UTA e já publicou mais de 125 artigos referendados.

Sinularia
Sinularia, um coral macio comum encontrado nos recifes. A foto mostra uma colônia que, sofrendo com as altas temperaturas, perdeu parcialmente suas algas simbióticas e está em perigo de desaparecer.

Xenia
Cladiella, outro coral macio encontrado nos recifes. Tal como a foto da esquerda, esta foto mostra uma colônia que, sofrendo com as altas temperaturas, perdeu suas algas simbióticas e está em risco de desaparecer.

Só um comentário, en passant… A vida no Planeta Terra já se recuperou de coisas piores (vide “Oceanos Tóxicos?”). Já da espécie humana não se pode afirmar a mesma coisa…

Crime e castigo

O trabalho é muito longo e muito técnico para ser traduzido e publicado aqui, mas se trata dos efeitos danosos da impunidade.
Vou traduzir somente o extrato e deixar o link para o original (eu descobri via EurekAlert, mas o Daniel deixou o link para os arXivs)

Crime e punição: o fardo econômico da impunidade

Resumo: O crime é uma atividade econômica importante, algumas vezes chamada de indústria do crime. Ele pode representar um mecanismo de distribuição de riqueza, mas também um fardo econômico e social, por causa dos custos do sistema da manutenção da lei e ordem. Algumas vezes pode ser menos custoso para a sociedade permitir um certo nível de criminalidade. Um efeito negativo de uma tal política é que pode levar a um alto aumento das atividades criminosas que pode se tornar difícil de reduzir. Os autores investigam o nível de manutenção da lei necessário para manter o crime dentro de limites aceitáveis e demonstram que se observa uma brusca transição de fase como função da probabilidade de punição. Os autores também analisam o crescimento da economia, a desigualdade na distribuição de riqueza (o Coeficiente de Gini) e outras quantidades relevantes sob diferentes cenários de atividade criminal e a probabilidade de captura.
(http://arxiv.org/abs/0710.3751)

Em resumo: os autores, usando modelos extremamente simplificados, demonstram que, quanto maior a impunidade, mais a atividade criminosa cresce e maiores danos à economia (e ao desenvolvimento econômico) se verificam.
Um ponto que os autores enfatizam é que a resposta à atividade criminosa não é tão dependente assim do número de policiais, mas depende muito mais diretamente da efetiva aplicação de punições aos criminosos.
Ou, dizendo em uma linguagem que qualquer brasileiro entende: não adianta a polícia prender, se a justiça não condena.

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