Efeito Placebo

Notícia extraída da News @ Nature , diz o que já era meio óbvio. Eu comento no fim…

Revelado: como a mente processa o efeito placebo

Esperar por uma grande recompensa ajuda a recompensa a se realizar.

Michael Hopkin

Neurocientistas descobriram que pessoas que experimentam uma forte dose de prazer com a idéia de uma recompensa futura, são mais suscetíveis ao efeito placebo.

A pesquisa mostra como o efeito placebo, no qual os pacientes esperam um benefício de um tratamento médico, a despeito do mesmo não ter qualquer atividade terapêutica, confiam no “centro de recompensa” do cérebro — uma região que prevê nossas expectativas futuras de experiências positivas e que também está envolvida na prática de jogos de azar e vícios em drogas. Uma maior atividade nesta região do cérebro, chamada “nucleus accumbens”, está ligada ao efeito placebo, mostra a nova pesquisa.
Este tipo de compreensão da mecânica de como o cérebro reage aos tratamentos com placebos, pode auxiliar os médicos a ampliar o efeito, argumenta Jon-Kar Zubieta da Universidade de Michigan, em Ann Arbor, que liderou a pesquisa.
“Isto está levando à idéia de que se pode manipular o efeito placebo, para aumentá-lo para tratamento terapêutico”, diz ele.
Ao contrário, reduzir ou eliminar as variações no efeito placebo pode aumentar a acurácia de testes médicos, que avaliam os efeitos de novas terapias, em confronto com os placebos. Reduzir as variações do efeito placebo entre diferentes voluntários, pode auxiliar a padronizar os resultados dos testes.
Grandes expectativas
Zubieta e sua equipe avaliaram o efeito placebo, dando nos voluntários uma dolorosa injeção de solução salina no queixo. Os pacientes eram, então, avisados de que teriam tomado, aleatoriamente, uma injeção de analgésico ou de placebo. De fato, todos os voluntários receberam um placebo. Mais tarde, alguns dos mesmos pacientes eram re-testados e nenhuma segunda injeção era oferecida.
Os participantes geralmente relatarem mais redução na dor quando receberam injeções de placebo, do que aqueles que não receberam qualquer tratamento de placebo, relatam Zubieta e seus colegas na publicação Neuron. Mas os voluntários mostraram significativas variações na força de seus efeitos placebo.
Os pesquisadores suspeitam que o efeito pode estar ligado ao centro de recompensas do cérebro, que é ativado quando uma recompensa (neste caso, liberação da dor) é esperada. Eles escanearam os cérebros de 14 de seus 30 voluntários, para monitorar a produção no “nucleus accumbens” de uma substância química, sinalizadora de atividade cerebral, chamada “dopamina”, que é liberada em resposta à antecipação de uma recompensa.

A atividade no “nucleus accumbens” foi maior nos pacientes que esperavam um efeito placebo mais forte, foi o que descobriram os pesquisdores “Se seu sistema de dopamina não funciona muito bem, seu efeito placebo provavelmente vai feder”, diz Zubieta.

Mais ainda, as pessoas que tendem a mostrar um forte efeito placebo, também têm expectativas mais altas por recompensas em geral, como demonstrado por um jogo em que lhes era dito que receberiam variáveis somas em dinheiro. Durante o jogo, seus cérebros eram escaneados para avaliar seus níveis de otimismo em que a recompensa fosse uma bem grande.
Amplificador do cérebro


As descobertas aumentam a possibilidade de que pacientes possam receber medicamentos eficazes para ativar ou amplificar o efeito placebo, embora Zubieta alerte que nós ainda não sabemos como fazê-lo. Já existem drogas que amplificam o sistema de dopamina do cérebro, mas que podem apresentar efeitos colaterais bizarros, inclusive tornar os pacientes em jogadores irresponsáveis, na medida em que seu centro de expectativa de recompensas entre em overdrive, ele frisa.

Uma maneira melhor para enfocar o problema pode ser encorajar os médicos a se demonstrarem exageradamente otimistas, quando forem contar aos pacientes sobre seus tratamentos, sugere Chris Frith, um neuropsicólogo do University College London. Isto deve amplificar a antecipação de recompensa e cura pelos pacientes. “Os médicos que são melhores, são aqueles que são mais iludidos pela eficácia de seu tratamento”, diz ele.
Ainda não está claro como qualquer antecipação de recompensa possa, então, especificamente afetar o problema fisiológico sofrido pelo paciente. É possível que a antecipação de recompensas dispare a produção de analgésicos chamados “opiácios endógenos”, por exemplo. Se for assim, pode ser possível para as pessoas controlar a liberação dessas substâncias químicas através do pensamento (e da fé) somente. “Será possível liberá-los pela vontade?” pergunta Frith.
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Bom… Agora vamos aos comentários…
O fato é que a pesquisa “descobriu” o que já se sabe, há tempos: a fé cura. A circunstância da liberação de dopaminas é um ponto novo e interessante (que comprova um efeito psicossomático). Mas não explica o próprio “efeito placebo”, como o título do artigo quer fazer crer.
“Efeitos placebo” muito mais espetaculares são obtidos por diversas “pseudo-ciências” e por práticas religiosas, ou de concentração e meditação sem caráter religioso.
Infelizmente, não seria ético testar o “efeito placebo inverso”: administrar uma droga eficaz, dizendo ao paciente que trata de um placebo ou de uma droga apenas parcialmente eficaz. Mas eu garanto que os resultados seriam igualmente surpreendentes.
O Daniel uma vez publicou uma matéria, intitulada “Say what?!…” (que deve ter se perdido no crash do HD dele), onde desancava um sujeito que disse que a matemática era “uma crença, como qualquer outra”. Na verdade, o sujeito não estava errado: é muito mais fácil “acreditar” em fatos comprovados. O grande problema é acreditar em coisas que não se pode comprovar experimentalmente.
Mas, em essência, o presente artigo, e os recentes filme e livro “O Segredo”, dizem a mesma coisa. O artigo, em uma abordagem científica; os últimos, em uma abordagem mística.
(Agora, leiam o artigo precedente…)

Um novo humanismo

Por um novo humanismo
por Salvador Pániker (filósofo e escritor espannhol
Em 1959, C. P. Snow proferiu sua famosa conferência em Cambridge, intitulada “As duas culturas e a revolução científica”, lamentando o cisma acadêmico e profissional entre os campos da ciência e das letras. Em 1991, o agente literário John Brockman popularizou o conceito da Terceira cultura, se referindo ao nascimento do escritor-cientista e, desta formas, se referindo ao nascimento de um novo humanismo, não mais ligado ao sentido clássico do termo, mas, em seu lugar, a uma nova hibridização entre as ciências exatas e as humanas.
Em tanto quanto concerne à filosofia, este novo humanismo deveria estar ciente, não só das novidades científicas, mas, também, de tantas novas tendências do pensamento contemporâneo quanto fosse possível. Isso significava que a filosofia não poderia permanecer trancada em um departamento acadêmico Professional, ao contrário, deveria participar de uma interseção interdisciplinar, “em diálogo —como diria o recentemente extinto Richard Rorty —“com todas as outras ciências”. A Filosofia precisa traçar os mapas da realidade. O Filósofo é, nas palavras de Platão, “aquele que possui uma visão do todo (synoptikos),” como tal, ele organiza o que é a “informação armazenada” mais relevante (cultura) e rascunha as novas visões mundiais (provisórias, porém coerentes). Mais do que isso, a intuição inicial dos filósofos analíticos — que foram os primeiros a realçar as armadilhas colocadas pelas linguagens — não deve ser descartada.
Eu, portanto, acredito que um novo humanismo deve adotar certas reformas lingüísticas. Tomemos, como exemplo, a extensão em que nós ainda estamos hoje condicionados pela construção aristoteliana de sujeito, verbo e predicado, que também forma o modelo cartesiano de cognição sujeito – objeto. Estas convenções são responsáveis — e foram denunciadas tanto por Buddha, como por David Hume — pela falácia de acreditar que a única coisa de que e pode ter certeza é da existência de atos mentais.
De fato, o que ocorre no gênero filosófico, é que palavras devem transmitir conceitos, deixando uma pequena margem para os floreios da retórica. Na filosofia, é muito difícil escapar a um determinado modo gramatical. Martin Heidegger já tinha explicado que havia desistido de escrever a segunda parte de “Being and Time” por causa da inadequação da linguagem da metafísica que sempre identifica um ser com o evento do “ser”, esquecendo a diferença ontológica. Hoje, quando a filosofia tende a se misturar com a literatura, de que outro recurso dispomos? Gregory Bateson costumava dizer que devemos nos adaptar a uma nova maneira de pensar que substitua objetos por relacionamentos. Mas substituir objetos por relacionamentos é contra estórias. Assim, Bateson nos convida a contra estórias.
Mesmo que uma “virada lingüística” tenha ocorrido, nossos hábitos de sintaxe mudaram muito pouco. Em seu Segundo período, clamava que a poesia — cujo exemplo supremo seria Hölderlin — como um modelo de uma linguagem não-objetificante, irredutível a um simples instrumento de informação. Infelizmente, Heidegger conseguiu se inebriar tanto na “escuridão poética” que se tornou difícil de acompanhar. Com respeitos linguagens formais usadas para as ciências exatas, estas são, no fim, acessíveis apenas a um pequeno grupo de especialistas. E, assim, para dar um exemplo, enquanto as pessoas cultas, em seus dias, ainda podiam digerir a teoria da gravidade de Newton e até a teoria da relatividade de Einstein (embora com menos facilidade — a constância da velocidade da luz é estritamente contra-intuitiva); quem, nos dias de hoje, é capaz de seguir a demoníaca complexidade matemática da teoria das supercordas?
Dito isto, nós estamos na direção de um caminho que eu acredito seja inevitável. Aqui, nas margens da linguagem que se usa, nós somos chamados a nos liberar da tirania da intuição, senso comum e outras armadilhas desta natureza.Por outro lado, por que a realidade tem que ser completamente ininteligível? Para começar, o teorema de Gödel’s impugna a própria noção de uma teoria completa na natureza: qualquer sistema axiomático que sejam até, de alguma forma, complexos, levanta questões que os próprios axiomas não podem resolver. Por outro lado, a teoria da evolução confirma nossa obscuridade. Nada nos obriga a pensar que o mundo possa ser completamente inteligível. Pelo menos, para nós símios pensantes. Ao menos em relação ao que nós símios pensantes compreendemos por inteligibilidade.
Em resumo. Um novo humanismo deveria começar com um tratamento de modéstia, talvez abjurando o extremamente arrogante conceito de humanismo, que coloca o animal humano como o ponto central de referência para toda a existência. Um novo humanismo, compatível com a sensibilidade da metafísica, não pode virar as costas à ciência. Naturalmente, não se trata de cair no obscurantismo pseudocientífico que Alan Sokal e Jean Bricmont denunciaram em seu conhecido livro, Intellectual Imposters. Não há necessidade de usar jargão científico quando não for pertinente. Nem há motivo para cair no relativismo epistemológico radical (que pode resultar de uma má digestão dos trabalhos de Kuhn e Feyerabend), nem acreditar que a ciência é uma mera narrativa, ou nada além de um artefato social. Também não devemos procurar por uma absurda síntese entre Ciência e Misticismo. A tarefa atribuída ao Humanismo é mais diferenciada no sentido da autonomia da ciência: compreender, verdadeiramente, nossos condicionamentos mais fundamentais; e assegurar que os paradigmas científicos realmente fertilizem o discurso filosófico e até o literário.
O fato, nesta material, é que a cultura, em sua totalidade, existe em um permanente estado de fluxo e renovação. Sua renovação nasceu da inter-fertilização das disciplinas individuais. Hoje se pode até elaborar sobre uma teoria nova, retirada de um “texto sagrado”, evitando um retorno às velhas fontes exauridas. Por exemplo, é possível que, um dia, sua Santidade o Papa da Igreja Católica escreva algo realmente inspirado, algo rela, sem os detestáveis maneirismos dos documentos oficiais? Não parece provável, nem é necessário. Os verdadeiros “textos sagrados” da tradição ocidental têm sido, por séculos, os dos grandes autores. Platão e Aristóteles, Dante e Shakespeare. Mas também Victoria, Bach, Handel, Beethoven. E Giotto, Fra Angelico, Rembrandt. E Arquimedes, Pascal, Newton, Darwin, Einstein, Heisenberg. E Paul Celan e Bela Bartok. Etcetera. Todos eles são “autores sagrados”. Canônicos. A Física Quântica não é um monumento menos inspirado do que a Bíblia. Nem menos ambígua, O cientista Arthur I. Miller escreve: “Tal como uma grande obra de literatura, a teoria quântica está aberta a múltiplas interpretações”.Em verdade, aqueles que opõem a ciência aos textos sagrados ou ciência à arte, cometem um erro. Pondo de lado as respectivas fronteiras de autonomia, tudo forma uma parte da mesma luta prodigiosa. A busca do real que, em certo sentido, também é a busca pelo absoluto. O absoluto que é intuído, embora permaneça inacessível. Uma fusão de campos, como foi vista na Renascença, certamente não é mais possível; a montanha da especialização se tornou alta demais. Entretanto, se pode exigir que os campos do conhecimentos se comuniquem entre si e sem solaparem entre si. Isto é, em essência, o que Edgar Morin chamou de “transdiciplinaridade”, isso que, sem tentar criar um campo principal para todos os campos do conhecimento (o que seria, também, reducionismo), aspira a uma comunicação entre as disciplinas baseadas no pensamento complexo. Não é toda a física, nem toda a biologia, nem toda a sociologia, nem toda a antropologia; mas vale a pena conectar essas campos ciberneticamente.
Enciclopedismo? Em termos modernos, um sistema realimentável físico / biológico / social / antropológico, encarregado de trazer as grandes questões sobre a condição humana à velocidade necessária, enquanto insiste na permeabilidade entre as ciências, artes e letras se torna um emblema de nossos tempos.
[Publicado originalmente em El Pais, 18 de fevereiro de 2007]

A medicina é uma pseudo-ciência?

Eu tinha prometido escrever este artigo para o Roda de Ciência, mas fatos e circunstâncias alheias a minha vontade (por exemplo, 10 boletins Physics News Update acumulados) me fizeram postergar o artigo. Se me permitem, vou falar de matéria antiga, fora do prazo.
A uma primeira vista, a medicina parece ter progredido bastante. Mas, aí, eu pergunto: quantos dos “avanços” são realmente da medicina?
A cirurgia realmente se beneficiou muito dos avanços tecnológicos – todos oriundos de outras áreas do conhecimento, notadamente aquelas relacionadas com a exploração do espaço. Mas a “cirurgia” era um “prima pobre” da medicina, coisa à qual médicos respeitáveis não se envolviam.
De resto, os avanços todos são da biologia e bioquímica.
Os médicos, em si, só diferem do Xamã curandeiro porque passam seis anos na Faculdade aprendendo a “falar difícil” e a escrever de modo ilegível.
Não estranha que o “leigo” seja mistificado por esse jargão inútil. Um caso real:
Minha mulher andava particularmente agitada e nervosa. Um médico passou alguns exames para ela confirmar a existência de “Bócio Tóxico”. Resultado do exame (T3, T4 e TSH): “Mal de Grave”… Em resumo: hiper-tireoidismo… Mas esse nome mais manjado não apareceu em qualquer dos documentos.
Quando falarem em pseudo-ciências, não esqueçam de que toda a medicina começa com a famosa “anamnese”: “O que você está sentindo?”…

Uma boa notícia, afinal

Salve, Pessoal!
Eu vivo reclamando das coisas, de que iniciativas simples e eficazes não são tomadas por mero pouco caso e que “quem sabe, não faz”.
Pois é com o maior prazer que eu venho divulgar uma notícia no sentido exatamente oposto.
No site da “Seara da Ciência” da UFC (o link está aí, na barra lateral), estão disponíveis algumas apresentações em formato “Power Point”, sobre questões de física e matemática em nível simples e de fácil compreensão.
São as Animações do Professor Kiko, o Professor Faberval de Oliveira Campos, um dos “craques” do “Queremos Saber” (link aí na barra lateral, também).
São iniciativas como essa que me levam a pensar que nem tudo está perdido. Ainda existem professores que se esforçam por apresentar questões até bastante sofisticadas em um nível facilmente compreensível. Aquilo que eu disse em minha matéria anterior: mostrar que não existe esse negócio de que “estudar é chato”.
Eu recomendo aos cerca de 500 “visitantes” semanais deste Blog megalomaníaco que cliquem no link acima e vejam como é simples. Basta querer!

Adolescentes e Riscos

A TENDÊNCIA AMPLIADA EM CORRER RISCOS, DURANTE A ADOLESCÊNCIA, PROVAVELMENTE É UM IMPULSO BIOLÓGICO E POSSIVELMENTE INEVITÁVEL, DE ACORDO COM UM ESPECIALISTA DA UNIVERSIDADE TEMPLE

Enquanto o governo gasta bilhões de dólares em programas de educação e prevenção para persuadir adolescentes a não fazer coisas tais como fumar, beber ou se drogar, um psicólogo da Universidade Temple sugere que dois sistemas, dentro do cérebro dos adolescentes, que competem entre si, tornam os adolescentes mais suscetíveis a se engajar em comportamentos de risco e perigosos, e que as intervenções meramente educativas provavelmente não são eficazes.

Laurence Steinberg, da Universidade de Temple, delineia seus argumentos no artigo”Assumindo Riscos na Adolescência: Novas Perspectivas das Ciências Cerebrais e Comportamentais”, na edição de abril da revista, Current Directions in Psychological Science.

Laurence Steinberg, Ph.D.
Laurence Steinberg
Photo by Joseph V. Labolito/Temple University

“Embora provavelmente não seja justo afirmar que nenhum dos programas que desenvolvemos tenha funcionado, a maior parte dos esforços para persuadir as crianças a não usar drogas ou álcool, para praticar sexo seguro, ou para dirigir com mais segurança, não foram eficazes”, diz Steinberg, Diretor da Rede de Pesquisa sobre Desenvolvimento de Adolescentes e Justiça Juvenil da Fundação John D. e Catherine T. MacArthur. “Existe um programa aqui ou acolá que funciona, mas, na maioria dos casos, gastamos bilhões de dólares em iniciativas que não tiveram muito impacto”.

Steiberg diz que, nos últimos dez anos, houve uma grande quantidade de novas pesquisas no desenvolvimento do cérebro dos adolescentes que, acredita ele, lança alguma luz sobre os motivos porque os adolescentes se engajam em comportamentos arriscados ou perigosos, e porque os programas educacionais ou intervenções que foram desenvolvidos, não foram especialmente eficazes.

De acordo com Steinberg, correr riscos na adolescência é o resultado de uma competição entre dois sistemas cerebrais muito diferentes, as redes socioemocional e de controle cognitivo, que sofrem um processo de amadurecimento durante a adolescência, mas com cronogramas muito diferentes. Durante a adolescência, o sistema socioemocional se torna mais assertivo durante a puberdade, enquanto o sistema de controle cognitivo somente ganha força gradualmente e após um longo período.

O sistema socioemocional, que processa informações sociais e emocionais, se torna muito ativo durante a puberdade, permitindo que os adolescentes se empolguem mais facilmente e experimentem emoções mais intensas. e se tornem mais suscetíveis à influência social.

Contrariamente, diz Steinberg, o sistema de controle cognitivo é a parte do cérebro que regula o comportamento e toma as decisões mais drásticas, mas ainda está amadurecendo durante a adolescência e até a metade da segunda década de vida das pessoas, pelo menos.

No artigo, Steinberg diz que a rede socioemocional não fica em um estado de permanente excitação durante a adolescência. Quando a rede socioemocional não está excitada — por exemplo quando os indivíduos não estão emocionalmente excitados ou estão sozinhos — a rede de controle cognitivo fica forte o suficiente para impor um controle regulador sobre comportamentos impulsivos ou arriscados, mesmo no início da adolescência.


Na presença de seus pares, entretanto, ou em situações de alta carga emocional, a rede socioemocional se torna suficientemente ativa para diminuir a eficácia regulatória da rede de controle cognitivo.

“A presença de pares aumenta substancialmente o comportamento de risco entre os adolescentes”, escreve Steinberg em seu artigo. “Em um de nossos estudos em laboratório, por exemplo, a presença de pares mais do que dobrou o número de riscos assumidos por adolescentes em um videogame de direção de veículos. A adolescência não só é mais alegre — é, também, mais cheia de riscos”.

“Existe uma janela de vulnerabilidade nas idades entre a puberdade e do meio para o fim da adolescência, na qual as crianças já começaram a sentir o aumento da influência do sistema socioemocional, mas ainda não têm um sistema de controle cognitivo totalmente amadurecido”, diz ele. “Porque seu sistema de controle cognitivo ainda não está totalmente maduro, ele é mais facilmente corrompido, especialmente quando o sistema socioemocional fica particularmente excitado. E ele se torna excitado pela presença de outras pessoas”.

Steiberg advoga leis e políticas mais rígidas que limitem as oportunidades para julgamentos imaturos que, frequentemente, têm conseqüências danosas. Por exemplo, estratégias tais como aumentar o preço dos cigarros, leis mais rígidas sobre a venda de bebidas alcoólicas, a expansão do acesso pelos adolescentes a serviços de saúde mental e contacepção, ou o aumento da idade para habilitação de motoristas, provavelmente seriam mais eficazes do que campanhas educativas para limitar o uso de cigarros, uso de drogas, gravidez e acidentes automobilísticos.

“Eu não quero que as pessoas pensem que as campanhas educativas não devem continuar”, diz ele. “Eu apenas penso que elas apenas não vão fazer muita diferença na contenção e comportamentos de risco. Algumas coisas levam tempo para se desnvolver e, gostem ou não, o julgamento amadurecido é, provavelmente, uma delas”.

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Traduzido, via EurekAlert, do site da Universidade Temple, nesta página.

Resumindo: o bom doutor Steinberg conclui que os hormônios crescem mais rapidamente do que o discernimento. Pois eu vou me permitir discordar desse eminente cientista, principalmente no tocante às políticas sugeridas.

Eu sugiro, por exemplo, que a mídia e o comércio sejam proibidos de explorar os estímulos ao “sistema socioemocional” dos adolescentes, para induzí-los ao consumo, à rebeldia e à preocupação em “ser diferente dos pais”. Sugiro, também, que todo o sistema de ensino seja inteiramente reformulado, para acabar com a idéia: “estudar é chato; brincar é divertido”. Que os autores de peças teatrais, filmes, novelas e quejandos parem de exaltar, velada ou abertamente, comportamentos anti-sociais, a pretexto de “liberdade de expressão para retratar fielmente as mazelas da sociedade”; e se vocês estão pensando que eu estou advogando a volta da velha “censura”, estão certíssimos: como diz o bom doutor, adolescentes não têm discernimento para entender que o comportamento anti-social do personagem da novela é condenável, não um fato comum.

Mas duvido que isto aconteça… As mesmas autoridades que acham que um garoto de 16 anos tem o direito de eleger representantes no governo, acham que este “menor” não pode ser julgado por um crime bárbaro como um adulto…

Se você flagrar seus filhos “queimando fumo” e enfiar a porrada neles, pode ser preso… Eles são apenas “usuários” e vão receber uma branda “medida sócio-educativa”…

Mas qualquer merda de Juiz de Menores tem poderes ilimitados para usurpar seu pátrio-poder e proibir seus filhos de fazerem algo que você permite…

Chamam a moral “pequeno-burguesa” de “hipócrita”. Que seja… Mas o que se está vendo por aí, não me parece uma grande melhoria quanto à moral “hipócrita” que vigia quando eu era adolescente.

Atualização em 14 de abril de 2007. Notícia do “The Guardian” diz que o programa inglês de combate ao uso de drogas por meio de campanhas educativas “é um fracasso“.

INDECÊNCIA!

Motivado pelo comentário do João Giovanelli em seu Blog “Biodiverso”, na matéria “Presente de Natal”, venho fazer coro ao repúdio dele pelo presentinho auto-conferido pela quadrilha que compõe o Poder Legislativo deste pobre pais: um “reajuste” de mais de 90% em seus próprios vencimentos.
E mais imoral ainda foi a explicação do Deputado Aldo Rebelo, que eu vi no “Jornal Nacional”, de que os recursos para esse “aumentinho” viriam de cortes nos gastos do Legislativo com “obras de manutenção de apartamentos funcionais e construção de anexos”. Prova, com isso, duas coisas: os gastos com as reformas dos prédios funcionais são perfeitamente dispensáveis e os anexos não são necessários; e que os Legisladores não têm a menor vergonha na cara de subtrair dinheiro destinado a aumentar e manter o Patrimônio Público e metê-lo no bolso…
E o Deputado Aldo Rebelo é do Partido Comunista do Brasil!… Ou não se fazem mais comunistas como antigamente, ou temos que dar graças a Deus pelo golpe militar de 1964…
Podem escolher, senhores: autocracia ou latrocracia… “Democracia” é que certamente não é!…

É para desanimar, mesmo…

Notícia publicada hoje, sob o título Grande Conferência sobre Aquecimento Termina, Obtendo Resultados Modestos (o link é só para constar… a menos que você tenha um login no NYT), começa assim:

«A Conferência Anual das Nações Unidas sobre mudanças climáticas terminou nesta sexta feira com apenas resultados modestos, depois que os delegados não conseguiram estabelecer um cronograma para futuros cortes na emissão de poluentes ligados ao aquecimento global.
A despeito de quase duas semanas de encontros que levaram a Nairobi 6.000 participantes de todo o mundo, os delegados não chegaram a um acordo sobre várias questões, especialmente como avançar além do Protocolo de Kyoto que exige cortes nas emissões pela maioria dos países industrializados, mas expira em 2012.
Dois problemas que persistiram foram a relutância dos EUA em concordar com quaisquer limites impositórios nas emissões, e a crescente teimosia da China e da Índia, dois dos poluidores mundiais mais crescentes, que não encaram quaisquer penalidades sob o Protocolo de Kyoto por conta de todos os gases absorvedores de calor que bombeiam para a atmosfera.»

A notícia prossegue, mas só o início já deu para desanimar… Os maiores poluidores e os que têm o maior crescimento de poluição, não estão nem aí para os efeitos.
Pode parecer paranóia de milico, mas dou toda a razão a um (então) Coronel, Comandante do Centro de Instrução de Guerra na Selva, que, em 1980 alertava: “quem não acredita que a guerra pela Amazônia já começou, é porque tem a mãe na zona…”
Aquele final do The day after tomorrow é muito bonitinho, mas eu duvido que seja verdadeiro: ninguém vai “acolher” os americanos “por conta do perdão da dívida”. Eu quero ver quem iria cobrar essa dívida… No mínimo, ela ficaria “congelada”…
Quando a merda começar, a coisa vai ser resovida na marra, mesmo. Umas bombinhas atômicas no Paiol seriam bastante convenientes…

Mais sobre Golfinhos e o Dr. Manger.

Artigo do “The Guardian”, prosseguindo no tema.

Quem é o tolo?
Ninguém ficou mais ultrajada do que Helen Pidd quando um cientista sul-africano anunciou que os golfinhos são estúpidos. Será que passar um dia com Puck, Flo e Roxanne esclareceria as coisas de um jeito ou do outro?
Helen Pidd
Segunda-feira, 11 de setembro de 2006
Guardian
Quantos peixinhos dourados idosos que você conhece, poderiam executar um passo de dança na água até Kylie? Esta é a questão com a qual venho lutando, no momento em que uma golfinho “nariz-de-garrafa” chamado Puck, com 41 anos de idade, desliza para trás através de sua piscina com 6m de profundidade, com seu corpo ereto, sua cauda fazendo ondas regulares ao rítmo de “Can’t Get You Out Of My Head”.
Existe algo claramente especial acerca de Puck e não é só o fato de que ela – em termos de golfinhos – deveria estar aposentada há muito tempo. Entretanto, de acordo com observações controversas, feitas no mês passado por um neurocientista sul-africano, Puck e seus pares são menos avançados do que peixinhos dourados.
Para qualquer um que tenha crescido grudado a Flipper na televisão (o tema do filme, em inglês, dizia, alegremente “ninguém que você conheça/ é mais esperto do que ele), essa é uma afirmação difícil de engolir. Mas, algumas vezes em sua vida, você tem que aceitar que dogmas que você longamente acarinhou – seja acreditar em Papai Noel, fórmulas de juventude eterna, amor eterno ou qualquer outra coisa – podem ter sido apenas uma enorme mentira. Então eu voltei ao delfinário no Boudewijn Seapark em Bruges, para investigar. Com o auxílio de Puck, Roxanne, Flo, Yolta e outros mamíferos supostamente debilóides, eu estava determinada a encontrar a verdade. (Por que Bélgica e não Grã-Bretanha? Desde 1993 é ilegal manter golfinhos cativos neste país).
Os treinadores em Boudewijn, junto com muitos do mundo dos que amam os golfinhos, estavam profundamente indiferentes às afirmações de Paul Manger, um professor de neurociência de 40 anos, na Universidade de Witwatersrand em Johannesburg. Em um volumoso artigo científico, publicado anteriormente este ano na Biological Reviews da Cambridge Philosophical Society, Manger apresentou a hipótese de que «não existe base neurológical para as freqüentemente afirmadas altas capacidades intelectuais dos cetáceos». Em outras palavras, a despeito de seus enormes cérebros, os cetáceos (baleias, golfinhos e botos), são profundamente burros.
Esta afirmativa bateu de frente com quase tudo o que foi publicado sobre os mamíferos, recentemente, e – na verdade – sempre. O que explica porque as pessoas são tão sensíveis acerca disto. «Ninguém com que eu tenha falado no campo científico leva as afirmações de Manger neste paper a sério», responde atravessado a expert Lori Marino, conferencista sênior em neurociência e biologia comportamental na Universidade Emory, Atlanta.
O golfinho deve, em parte, sua reputação como uma “caixa para um cérebro” por causa de algo que os cientistas gostam de complicar, chamando de quociente de encefalização, que diz que a quantidade relativa de cérebro por unidade de tamanho de corpo, pode ser usada como um indício direto da inteligência de uma espécie. Em português claro, isso significa: cérebro grande + corpo não muito grande = animal inteligente. Os seres humanos modernos possuem o mais alto grau de encefalização entre os mamíferos, já que nossos cérebros são sete vezes maiores do que seria de se esperar pelo tamanho de nosso corpo, mas os golfinhos não ficam muito atrás.
A anedota mais antiga que sustenta a suposta super-inteligência dos cetáceos é, provavelmente, a lenda de Arion, o maior tocador de lira de seu tempo (circa 600 AC). Quando atirado pela amurada de seu navio por vilões, esse cara – assim diz a lenda – foi salvo por um golfinho que foi atraído pela singularidade de seu canto agudo.
Mas existem evidências mais recentes. Em maio – por exemplo – pesquisadores da Universidade de St Andrews relataram que golfinhos “nariz-de-garrafa” empregam “assovios-assinaturas” para se identificarem entre si, da mesma forma que os humanos usam nomes. Um outro grupo que estudou golfinhos na Austrália ocidental em 2005, notou que alguns golfinhos usavam ferramentas – pedaços de esponja do mar enrolados e fixados a seus narizes, para impedir que seus narizes ficassem dolorosamente arranhados contra o coral, enquanto pesacavam. Aí aparecem os golfinhos Irrawaddy no rio Ayeyarwady em Mianmar (antiga Burma) que ajudam os pescadores locais a encurralar os peixes para suas redes.
Talvez o melhor de tudo: um grupo de pesquisadores supostamente ensinaram recentemente golfinhos a “cantar” o tema musical de “Batman”. Eu fiquei particularmente cética a respeito desta última, até que cheguei à Bélgica. Em uma das atrações principais do espetáculo ao vivo (duas vezes ao dia) em Boudewijn, uma garota sortuda da audiência é sorteada na audiência e ensinada a como “reger” os golfinhos em um espetáculo particularmente delicioso. Ela o faz girando ambas as mãos como se estivesse abrindo potes, o que parece fazer com que os golfinhos mantenham o rítmo enquanto “cantam” (ok! guincham).
Este giro das mãos não é a única linguagem simbólica que os mamíferos parecem compreender. Com os necessários gestos dos pulsos dos treinadores, eles abrem as bocas, como se fossem rir, balançam a cabeça de um lado para o outro (meu favorito pessoal, junto com a parte que eles jogam futebol com suas caudas), sopram bolhas de ar parecidas com anéis de fumaça na água. Manger diria que isto é um indicativo de condicionamento estímulo-resposta – isto é, pode ser ensinado por um bom treinador e não é, de modo algum, um sinal de comportamento altamente inteligente. Embora isso possa ser verdade – os golfinhos certamente são encorajados pela promessa de comida tirada de baldes brilhantemente coloridos, bem como os apitos de alta freqüência que os treinadores usam em seus pescoços – não há como negar uma coisa: é realmente muito, muito legal.
Mas voltemos às novas afirmações. Na grande possibilidade que você não se interesse em chafurdar através das 46 páginas de Manger, aqui está uma sinopse para idiotas dos pontos chave. Golfinhos têm cérebros maiores do que a média – alguns com mais de 8 kg – mas isto não tem coisa alguma a ver com o brilhantismo neurológico de um Stephen Hawking. Pelo contrário, o cérebro do golfinho não é feito para processamento de informações complexas, mas é projetado mais com a finalidade de contrabalançar as mudanças térmicas a que um mamífero de sangue quente está sujeito em um mundo de águas frias. E, finalmente, o comentário que realmente acaba com o lobby a favor dos golfinhos: embora existam muitos indícios anedóticos que apoiem a idéia de que os golfinhos são excepcionalmente inteligentes, ninguém comprovou isso conclusivamente.
«Se você põe um animal em uma caixa, mesmo um rato de laboratório ou uma cobaia, e a primeira coisa que ele quer fazer é sair de dentro dela»., diz Manger em entrevistas para divulgar seu artigo. «Se você nãp puser uma tampa em cima do aquário, um peixinho dourado eventualmente vai pular para fora, para aumentar o ambiente em que vive. Mas um golfinho jamais o fará».
Em fico pensando nisso, enquanto fico sentada nos lugares vazios do delfinário, após o espetáculo ao vivo, e dois golfinhos nadam diligentemente em uma pequena piscina de espera, enquanto seus colegas no tanque principal praticam duplos mortais com o treinador. Eu sei que o par selecionado pode saltar a distância necessária: eu os vi fazer isso no espetáculo, mais cedo. Mas, tal como crianças obedientes, eles só entram na piscina principal quando as portas subaquáticas são abertas.
Então, a observação de Manger pode ser correta, mas será que ela realmente nos diz qualquer coisa útil? Não, de acordo com Lori Marino, conferencista sênior em neurociência e biologia comportamental na Universidade Emory. Ela estudou golfinhos por 15 anos e é uma das maiores críticas de Manger. «Esse estudo com peixinhos dourados de que ele está falando, nunca foi publicado», diz ela. «Ele foi apresentado em uma reunião em 2000 e nunca passou pela “revisão-por-pares”, e eu estava lá, e haviam tantas incorreções nele que eu nem sei por onde começar».
Marino afirma que, embora seja verdade que os golfinhos tenham problemas em saltar sobre redes de pesca de atum, por exemplo, isso não diz nada sobre sua falta de inteligência. «É a mesma coisa que humanos presos em um edifício em chamas: eles entram em pânico. Golfinhos, tal como humanos, ficam estressados com muita facilidade – na verdade, eles podem morrer de estresse – e, quando entram em pânico, eles não conseguem pensar direito».
Mas, de acordo com Manger, Marino e seus colegas com dúvidas, são tão crédulos que nem conseguem considerar uma nova afirmação arrojada como a sua. «As pessoas simplesmente não querem acreditar nisso», disse Manger em uma entrevista ao Guardian. «É uma reação como um reflexo de uma pancada no joelho. Eu acho que é “engraçadinho” que as pessoas fiquem tão perturbadas com isso».
Nem todos enxergam esse lado “engraçadinho”. Golfinhos, com seus alegres “sorrisos” e imressionante repertório de truques e emoções, são universalmente amados – cerca de 77.000 pessoas aparentemente pertencem à Sociedade pela Conservação das Baleias e Golfinhos em todo o mundo – e desprezá-las é heresia. Manger foi até acusado de levar os golfinhos a uma extinção prematura. Um expert em golfinhos sul-africano, Nan Rice, que trabalhou por 35 anos com o Grupo de Ação e Proteção aos Golfinhos em Cape Town, diz que a pesquisa de Manger pode levar à exploração dos animais – e sua possível extinção. «Se você diz às pessoas que os golfinhos não são inteligentes, elas começarão a explorá-los e não restarão muitos deles».
Deixando de lado se os comentários de Manger são perigosos ou não, um grande problema na discussão da neurologia dos golfinhos é o fato de que, por causa das leis que protegem os mamíferos marinhos, nenhuma experiência invasiva do cérebro dos cetáceos foi feita. Diferentemente de – por exemplo – ratos, você não pode simplesmente captuara um golfinho e escavucar seu cérebro e fazer experiências com eles vivos. Similarmente, por questões de praticidade, bem como de ética, a grande maioria das experiências com golfinhos foi realizada com golfinhos nascidos em cativeiro. E quem sabe o quão representativos, esses animais que nunca viram águas abertas, podem ser, realmente, da espécie como um todo?
O outro principal problema é definir o que nós chamamos de inteligência. Não existe um processo confiável, universalmente aceito, para medí-la em seres humanos. Um teste Mensa? Esses testes de múltipla escolha nas revistas femininas?
Não obstante, ao contrário das afirmações de Manger, existem verdadeiramente um grande número de experiências que parecem indicar que os glfinhos não são apenas criaturas bonitinhas. Um dos mais interessantes diz respeito ao auto-reconhecimento e vem de Diana Reiss da Universidade de Columbia, em parceria com Marino. Em um artigo de 2001, elas mostraram que os golfinhos podem se reconhecer em um espelho – uma habilidade que se pensava ser apenas de humanos e macacos. As cientistas expuseram dois golfinhos “nariz-de-garrafa” a superfícies refletivas, após marcar os golfinhos com tinta preta, aplicando um corante a base de água ou não marcando-os. A equipe previa que, se os golfinhos – que tinham experiências anteriores com espelhos – reconhecessem seus reflexos, eles mostrariam novas respostas sociais; eles levariam mais tempo na frente do espelho quando marcados; e eles iriram mais rápido para os espelhos quando marcados ou falsamente marcados. A experiência revelou que todas as previsões estavam corretas. Além disso, os animais escolhiam a melhor superfície refletiva para ver suas marcas.
«Eu vi isso ser feito», diz Johan Cottyn, treinador chefe em Boudewijn. Seu colega, Piet de Laender, aprova entusiasticamente. «Golfinhos percebem que estão olhando para si próprios. Isso não funciona com cães. Digamos que você ponha uma marca na cabeça de um cachorro e o ponha na frente4 de um espelho; eles pensarão “oh, olha lá um cachorro com uma mancha na cabeça; vou lá dizer olá”. Um golfinho ficariam e inspecionaria sua nova aparência». Isto não nos diz apenas que os golfinhos são vaidosos: istomostra que eles têm consciência de si próprios como indivíduos, o que requer um alto nível de habilidade cognitiva.
Tanto quanto apontar a capacidade dos golfinhos em aprender rapidamente e entender linguagens complicadas – tais como comandos (o que também é verdadeiro para os grandes primatas), Cottyn ficou mais impressionado ainda com a facilidade que ele e sua equipe tiveram em fazer com que os golfinhos aceitassem intervenções médicas sem fazer confusão. «Um deles tinha um problema nos rins, o que significava que tinha que tomar uma injeçãqo diária. Embora fosse realmente doloroso para ela, porque a agulha tinha que atravessar sua camada de gordura, ela parecia entender que, para sobreviver, ela tinha que levar a picada, e se apresentava para isso automaticamente todos os dias».
Cottyn fala de como os golfinhos de Boudewijn podem se comunicar com os humanos aém daquilo que tenham sido explicitamente ensinados. «Uma vez, quando uma das golfinhos estava parindo, o bebe ficou preso a meio caminho. Nós viemos ver o que estava acontecendo e a mãe esfregou seu ventre para nos mostrar onde estava o problema». diz ele.
Numerosos estudos também lançaram luz sobre a racionalidade dos golfinhos, alto grau de sociabilidade, percepção social e funções cognitivas.
Mas de Laender não tem tempo param todo este debate e especialmente para qualquer um quem tente antropomorfizar os golfinhos. «Eles não são humanos e tentar julgá-los pelos padrões humanos de inteligência é inútil», diz ele. «No fim das contas é pura perda de tempo tentar dizer definitivamente se golfinhos são inteligentes ou não, e qualquer um que disser que tem a resposta está falando babaquice».
Guardian Unlimited © Guardian Newspapers Limited 2006

Bom… Já abrindo uma concessão ao Caio de Gaia, este artigo é muito mais emotivamente do que cientificamente carregado. E tem tanta relevância para uma real avaliação do trabalho do Dr. Manger, quanto a reportagem que eu abordei inicialmente.
Apenas apresenta uma série de outros pesquisadores que acham que o cartapácio do Dr. Manger não tem o significado revolucionário que ele próprio se atribui.
Por falar nisso, meu cachorro sabia muito bem se reconhecer em um espelho. E ficava reparando quando se colocava uma fita em seu “topete”. Portanto, o Sr. de Laender falou “bullshit”, também. Talvez ele não conheça cachorros tão bem como golfinhos.

Em qual país é esta eleição?

Esse é título do artigo, publicado originalmente no “Estadão”, reproduzido no “Jornal da Ciência” da SBPC. Dou um destaque aos parágrafos introdutórios do artigo:

É inquietante observar que, a poucos dias das eleições para presidente da República, governos dos Estados, parlamentos federais e estaduais, as mal chamadas questões ambientais – as que dizem respeito ao meio físico, concreto, em que vivemos – continuam, como nos pleitos anteriores, tão distantes das discussões que se travam que se pode, no final das contas,perguntar: mas em que país se disputam essas eleições? Será em Plutão, que acaba de ser rebaixado, nem planeta mais é?
Muitas vezes tem sido citado aqui o pensamento do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, segundo quem os problemas que ameaçam a sobrevivência da espécie humana são as mudanças climáticas em curso e a insustentabilidade dos padrões mundiais de produção e consumo. Se é assim, essas questões deveriam estar no centro das discussões sobre o futuro do País. Mas não estão.

E o que será que surpreende o Sr. Washington Novais? As questões ambientais deveriam estar no cerne dos Programas de Governo dos candidatos, mas dificilmente, serão preocupações imediatas para os eleitores em 1º de outubro.
Questões um pouquinho mais imediatas, tais como desemprego, falência da segurança pública, escândalos de malversação dos parcos recursos públicos, certamente serão preocupações mais agudas para os eleitores.
A preocupação é em eleger um governo com um mínimo de competência para gerir questões básicas de administração pública. Se conseguirmos este mínimo, poderemos passar a cobrar preocupações de nível mais elevado, tais como a conservação do meio-ambiente e a exploração racional dos recursos naturais.
Em um país que há gente morrendo de fome, morrendo na porta dos hospitais públicos, saindo pela porta da escola tão ignorante quanto quando entrou, morrendo estupidamente com balas perdidas, a conservação do meio-abiente até que está razoavelmente bem encaminhada, com a legislação já existente.
Quem parece estar saindo da órbita de Plutão e se dirigindo à Nuvem de Oort é o Sr. Washington Novais. Uma coisa eu posso responder à pergunta dele: certamente não é nos EUA!…

O milagre da ressurreição

Eu ia traduzir uma notícia do The Times intitulada “Death squad policemen ‘killed hundreds’ in revenge attacks” (Esquadrões da Morte de Policiais “mataram centenas” em ataques de vingança”), acerca dos supostos “inocentes” que a polícia matou quando o PCC lançou sua onda de terror em SP. Mas se um repórter inglês tem a cara-de-pau de falar de polícia assassina (ou já esqueceram Jean Charles de Menezes?), que mata inocentes por histeria, e um jornal que se pretende respeitável publica isto na primeira página da edição de domingo, isso só exibe bem o nível de burrice e provincianismo ao qual chegaram os britânicos. Quem quizer, leia o original: o link está aí em cima.
Prefiro o artigo do The Observer que trata de uma nova descoberta sobre células tronco. Lá vai:

Cientistas transformam células mortas em tecidos vivos
Descoberta pode significar novos tratamentos para os males de Alzheimer e Parkinson mas, em vez de diminuir a oposição, é mais provável que levante novos dilemas éticos
Antony Barnett e Robin McKie
Domingo 24 de setembro de 2006
The Observer
Cientistas que trabalham em um laboratório britânico conseguiram uma das realizações mais controversiais jamais obtidas no campo da ciência das células-tronco, tomando células de embriões mortos e transformando-as em tecidos vivos.
A técnica pode ser usada em breve para criar tratamentos para pacientes que sofrem de doenças tais como os males de Alzheimer e de Parkinson. dizem os pesquisadores. A realização foi saudada por vários cientistas e experts em ética, porque poderia desbordar a oposição às experiências com células-tronco.
«Isso deveria evitar a oposição às experiências com células-tronco porque não será mais necessário usar embriões vivos em todas as experiências», disse o Professor Miodrag Stojkovic, o pesquisador que realizou as experiências no Centro de Biologia de Células-Tronco na Universidade de Newcastle, no ano passado.
Mas outros experts avisaram na noite passada que o uso de células de embriões mortos pode levar a mais dilemas éticos, não menos. «Como saber se um embrião está morto?», disse Eric Meslin, diretor do Centro de Bio-ética da Universidade de Indiana.
Células-tronco extraídas de embriões são valorizadas pelos cientistas porque são capazes de se transformar em qualquer tipo de célula ou tecido no corpo. Ao menos elas poderiam ser usadas no tratamento de doenças cardíacas e diabetes e outras doenças, argumentam os pesquisadores.
Mas a tecnologia envolve a criação e a destruição de embriões vivos para a extração das células-tronco. Usualmente, esses embriões são criados em clínicas de fertilidade, quando casais recorrem a elas para fertilização in vitro.
Entretanto, o trabalho de Stojkovic sugere que o uso de embriões vivos pode ser evitado; em lugar disso, os cientistas odem usar aqueles dos embriões que morreram naturalmente, durante o processo de fertilização in vitro. Isso significaria, também, que muitos embriões a mais ficariam disponíveis para a pesquisa e o eventual tratamento das doenças, acelerando os avanços na ciência de ponta.
As experiências de Stojkovic foram realizadas quando ele esteve trabalhando para o Centro de Biologia de Células-Tronco em Newcastle, no ano passado. Em um paper, publicado na semana passada no website do jornal Stem Cells, Stojkovic revela que ele e seus colegas usaram 13 embriões, criados para fertilização in vitro. Todos os 13 pararam de se desenvolver poucos dias após a concepção. «Eles estavam em um estágio muito inicial de desenvolvimento», disse Stojkovic, atualmente chefe da Sintocell, um centro de pesquisas médicas na Sérvia.
A equipe esperou por 24 horas para verificar que os embriões não estavam mais se dividindo, antes de começar suas experiências. «Todos eles estavam destinados a serem embriões gorados», disse Sotjkovic. «Em outras palavras, eles estavam mortos. [Porém] eles tinham a capacidade de se desenvolver em qualquer tipo diferente de célula que você pensar, inclusive células de rim, de fígado e de pele».
«Eu acho que isso é um desenvolvimento muito importante, embora células-tronco criadas dessa forma, não devessem ser encaradas como uma alternativa às criadas a partir de embriôes vivos. Elas deveriam ser vistas como uma fonte alternativa».
Nesta última noite os militantes pelo “direito-à-vida” pediram cautela. «Em teoria, se um embrião for obtido eticamente e uma célula-tronco pode ser obtida após esse embrião ter morrido naturalmente, então isso removerá todas as objeções, porque não haverá a destruição de um organismo vivo», disse Josephine Quintavalle, da “Comentários sobre Ética Reprodutiva”, um grupo de ativistas católicos. «Nós não temos objeções ao uso de tecidos e órgãos doados em outras áreas da medicina».
Mas Quintavalle alertou que o caso para o uso de células de embriões mortos não foi provado. «A questão crítica é como se sabe se um embrião está morto ou não».
George Daley, do Instituto de Células-Tronco de Harvard, disse que a abordagem do paper levanta preocupações científicas. «Se havia algo errado com o embrião, que fez ele gorar, não haveria algo errado com essas células? Nós não sabemos».
Entretanto, o trabalho de Stojkovic recebeu forte apoio de Donald Landry, no Centro Médico da Univesidade de Colúmbia em Nova York, que o chamou de uma importante contribuição para o campo. «Não importa o como você se sinta quanto à “pessoalidade” de embriões, se o embrião estiver morto, a questão da “pessoalidade” está resolvida», disse Landry.
«Isto, então, reduz a ética da geração de células-tronco de embriões humanos à ética de – por exemplo- doação de órgãos. Então, agora você estará dizendo, na verdade: “Podemos retirar células vivas de embriões mortos da mesma forma que tiramos órgãos vivos de pacientes mortos?»

Eu vou acrescentar que mesmo a maioria dos embriões gerados para fertilização in vitromesmo aqueles que não morrem – acabam sendo “descartados”. Ou seja, morrem, sem que pessoa alguma se proveite disso, sem que uma “personalidade” venha a habitar aquele “corpo em perspectiva”.
Eu duvido e faço pouco de que histéricos defensores do “direito-à-vida” como essa tal Quintavalle pensem da mesma forma ao dar de cara com uma barata… Mas a gente sempre pode esperar o embrião apodrecer e não servir para mais nada, para aplacar os pruridos éticos de Quintavalle, Meslin, et al. Enquanto isso, os pacientes com Alzheimer e Parkinson esperam esses idiotas morram, junto com suas objeções (e, se existe Justiça Divina, de um desses males degenerativos…)
Da mesma forma que os vegetarianos se esquecem que plantas também são seres vivos. Mas a capacidade humana de ser hipócrita consigo mesmo parece inesgotável…

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