O Diabo nem sempre veste “Prada”…

Estão vendo esta senhora, aí do lado?…
FOI ELA A MANDANTE DO ASSASSINATO DE JEAN CHARLES DE MENEZES! Esta mesma senhora que atende pelo nome de Cressida Dick, que é Oficial Superior da Scotland Yard, que, mesmo sabendo que a Equipe de Vigilância não tinha uma identificação positiva do “alvo”, mesmo sabendo que uma equipe de polícia desarmada estava pronta para abordar o “suspeito” (aliás, quase que o primeiro policial que abordou Jean quase foi assassinado, também, pelas hienas da Polícia Armada), autorizou a execução, sem qualquer outra consideração sobre legalidade, segurança dos demais passageiros do metro, ou mera decência, de um desconhecido, cujo único “crime” era morar no mesmo edifício de suspeitos de terrorismo.
Sabem o que vai “pegar” para ela?… Nada!… Sabem por que?… Porque na Grã-Bretanha ninguém faz filminhos tipo “Tropa de Elite”. Porque, para os civilizadíssimos britânicos, Jean era apenas um “estrangeiro” (leia-se um “ser inferior” cuja permanência na Grã-Bretanha se devia apenas à “generosidade” do Governo de Sua Majestade).
Isso me leva a concluir que os britânicos sabem bem porque sua Polícia habitualmente anda desarmada. Ponha uma arma na mão de um “hooligan” e você terá uma “Bloody Tuesday”, como os norte-irlandeses já sabem…
Vamos lá, Krishnamurti: estou aguardando um comentário…
Adendo em 16/10/07 — Notícia da BBC-Brasil: Policial chora durante em depoimento sobre Jean Charles. ‘Tá vendo só!… E eu que pensei que as hienas só rissem… Vá chorar na cama que é lugar quente!

Estava demorando…

Imaginem que tipo de matéria você poderia esperar encontrar no Eurekalert, Seção de Notícias sobre Física e Química? Vocês podem encontrar, por exemplo, uma choradeira sobre a “quebra de patentes de medicamentos”, tal como “Estudo declara urgente uma abordagem com base compensatória no licenciamento compulsório de patentes de remédios” (original, em inglês, aqui). O autor é um tal Daniel Cahoy, professor associado de Legislação Comercial na Penn State’s Smeal College of Busines.
Eu nem vou entrar no mérito da choradeira do repulsivo Dr. Cahoy. Basta ter lido o livro do extinto Senador (do Congresso Americano) Estes Kefauver, “Em poucas Mãos”, para tomar conhecimento de que a única indústria a não sofrer os efeitos da Grande Depressão foi exatamente a farmacêutica… (Só para lembrar, Estes Kefauver foi um dos autores da Lei Anti-Trust americana).
O que é de lamentar, sob todos os pontos de vista, é que lixo tendencioso como este apareça em um noticiário pretensamente científico…

Não prendam o fôlego…

Salve, Pessoal!
Eu estou em processo de traduzir uma matéria excelente sobre “profiling”, publicada na The New Yorker, chamada “TROUBLEMAKERS: What pit bulls can teach us about profiling” cujo link eu achei no Blog do Daniel aqui.
Mas, além da matéria ser longa e complexa, eu estou sendo avassalado por probleminhas idiotas tais como o meu monitor ficar sem o canhão vermelho, chuvas de verão que acabam com a luz de repente (levando meia hora de trabalho junto…) e coisinhas aporrinhantes como uma invasão de baratas e ratos, expulsos dos esgotos pelas enxurradas.
Quem não tiver paciência para esperar a tradução, pode clicar no link acima. Mas vai perder algumas das considerações que eu pretendo tecer sobre as técnicas de “profiling”.
Por enquanto, é só… (eu já ouvi isso antes…)

Três artigos do The Sunday Times

Salve, Pessoal! Uma rápida vista no The Sunday Times (on line) de Londres, e três artigos de capa me chamaram a atenção. Eu não vou passar uma tradução completa dos três, primeiro porque são muito extensos, segundo porque eu dou os links (quem quizer conferir, vá lá e leia…)
O primeiro traz o auspicioso título “Chefe da Polícia Metropolitana: Eu posso ser forçado a pedir demissão” (Met boss: I may be forced to quit), escrito por Robert Winnett and David Leppard. Começa assim:

SIR IAN BLAIR, o Comissário da Polícia Metropolitana, admitiu que ele pode ser brevemente forçado a pedir demissão, por conta do caso do assassinato de um brasileiro inocente no Metrô de Londres.
O mais alto policial da Grã-Bretanha declarou, a uma reunião privada de líderes de negócios e altos funcionários que ele terá que ir embora “muito breve” por causa da morte de Jean Charles de Menezes.
Descrevendo a pressão que está sofrendo por causa da malfadada operação, ele disse: “Onde a demissão termina? É claro, ela pode terminar muito em breve”
Ele acrescentou: “Eu prefiro renunciar do que ser demitido”.
[….]
Oficiais do alto escalão da polícia disseram que o inquérito sobre a operação revelará um “conto de terror”, quando for completado antes do Natal. Uma dessas fontes internas disse: “Ele (Blair) ficou obviamente prejudicado. Sua auto-confiança ficou prejudicada. Vocês podem ver que ele parece visivelmente mais velho”.
Blair explicou, na reunião, que sua atuação pessoal no caso estava sendo agora investigada pela Comissão Independente de Queixas da Polícia (IPCC). Blair tentou bloquear uma investigação imediata da IPCC do tiroteio na estação de metrô de Stockwell.
Em uma carta enviada ao Home Office (nota do tradutor: O ministério Inglês da Justiça), escrita poucas horas depois do tiroteio, ele dizia que ele deveria ter o poder de suspender as investigações por questões de segurança nacional. Ele foi derrotado (no original: “overruled) por Sir John Gieve, o principal funcionário do Home Office.
[….]
Ao menos 10 oficiais envolvidos no tiroteio devem ter recebido notificações disciplinares da polícia. Inclusive os agentes especiais (no original: “marksmen”) do CO19, que dispararam 11 tiros em Menezes depois que ele embarcou em um trem em Stockwell. Oficiais superiores, até o grau de Comissário Assistente podem enfrentar acusações de assassinato.
[….]
À medida em que a IPCC examina se Blair realizou declarações falsas ao público, fica claro que alguns de seus oficiais mais graduados estavam cientes, na metade da tarde de 22 de julho, que Menezes era inocente. Um Oficial Superior disse ao Sunday Times que Blair estava em uma posição que lhe permitia saber aquilo que seus oficiais já tinham descoberto.
Outra fonte interior disse: “Sérias dúvidas acerca de se eles tinham atirado no homem certo, apareceram logo após o incidente. Tudo o que eles tinham a fazer era olhar os documentos de identidade na carteira dele para ver que ele não era um terrorista”.
O Comissário também deve encontrar dificuldades em justificar sua decisão de ativar a Operação Kratos, o “procedimento padrão” secreto que autoriza os “peritos” da polícia a atirar na cabeça dos suspeitos de serem “homens-bomba”.
Essa política foi estabelecida por um comitê especial sobre terrorismo da Associação de Chefes de Polícia em 2003. Muitos dos Chefes, entretanto, estão preocupados com a base legal para tal política.
Blair continua a defender esse “procedimento padrão” em público, mas vários outros Chefes de Polícia se afastaram dessa política e diversas forças planejam jamais utilizá-la.
Copyright 2005 Times Newspapers Ltd.

O segundo artigo tem o seguinte título: Oficial da RAF enfrenta a prisão por ser contra a “Guerra Ilegal” (RAF officer faces jail over ‘illegal war’). Artigo de David Leppard. O início do artigo diz assim:

Um oficial da RAF pode ser preso por se recusar a servir no Iraque, porque ele acredita que a guerra lá foi ilegal.
O Flight-Lieutenant (Primeiro-Tenente) Malcolm Kendall-Smith deve ser submetido à Corte Marcial por “se recusar a cumprir uma ordem legal”, após dizer a seu Comandante que ele não iria para Basra.
Ele é o primeiro oficial britânico a enfrentar acusações criminais por desafiar a legalidade da guerra.
Kendall-Smith, 37, oficial médico da unidade da RAF de Kinloss em Morayshire, foi condecorado por sua atuação no apoio às operações militares no Afeganistão e por duas passagens prévias no Iraque.
Entretanto, após estudar os aspectos legais, inclusive a orientação do Lord Goldsmith, o Advogado-Geral, ele decidiu, este ano, que a guerra era ilegal e, portanto, seria errado que ele retornasse.
[…]
O principal argumento da defesa de Kendall-Smith vai ser o manual da RAF que declara que um oficial, em serviço, pode se recusar a obedecer a uma ordem, se esta for ilegal. Seus advogados também argumentam que sua comissão, concedida pela Rainha, o obriga a agir de acordo com “as regras e disciplina de guerra”.
[…]

O terceiro artigo é mais uma crítica aos costumes britânicos. Se intitula Densas núvens de hipocrisia induzida pelas drogas (Dense clouds of drug-induced hypocrisy). Artigo de Minette Marrin.

“Não conhecemos outro espetáculo tão ridículo”, diz uma citação famosa de Lord Macaulay, “quanto o público britânico em um de seus periódicos ataques de moralismo”. Parece que estamos no meio de um particularmente absurdo agora mesmo. Embora existam muitas questões de grande importância na vida pública em geral e mesmo algumas poucas na luta pela liderança entre os Conservadores, a obsessão da mídia é a tentativa de forçar David Cameron a fazer algum tipo de confissão sobre o uso de drogas. É ridículo e vergonhoso.
Cameron já disse o bastante sobre isso para satisfazer qualquer um com um devido interesse em seu passado e tanto quanto se podia esperar de qualquer figura pública, no entanto tem sido assediado por dias. Questionado, mais uma vez, no programa “Question Time” da BBC1, ele admitiu que, como muitas pessoas, ele fez coisas em sua juventude que não deveria ter feito.
“Eu me permito ter tido uma vida privada, antes de entrar para a política, na qual cometemos erros e fazemos coisas que não devíamos”, disse ele. E prosseguiu, fazendo uma distinção perfeitamente razoável entre sua vida, antes da política e suas atuais responsabilidades. Para qualquer pessoa com a mente não deturpada, isso deveria ser tudo. Fica bem claro o que ele quer dizer.
Insistir em querer que ele diga mais – e eu fico impressionada com a quantidade de pessoas que se dizem liberais e libertárias que reclamam, aos gritos, que ele deveria – é por si só desonestidade. De fato, o que estamos vendo não é tanto um ataque periódico de moralismo, quanto é um, mais comum ainda, ataque de periódico de hipocrisia.
[…]
O uso recreativo de drogas não é, em si próprio, uma matéria de moral. Isso sempre foi um dos maiores prazeres e grandes consolações da espécie humana, encontrado em todas as civilizações. Várias drogas “recreativas” são legais na Grã-Bretanha, a despeito de seus riscos reais.
[…]
Sempre me pareceu que aqueles que se viciam, são impelidos a isso por outros problemas – alguns por suas personalidades dependentes, outros pela pobreza de suas vidas ou expectativas. Uma das grandes injustiças dessa vida que as pessoas mais inclinadas a se meterem em sérios problemas com drogas, são aquelas que já estão com algum outro problema sério e que a lei não parece preocupada em protegê-los.
Por isso é que eu, há vários anos, venho sendo firmemente a favor de descriminalizar as drogas. Eu penso que, a despeito dos altos riscos envolvidos – possivelmente, para alguns – isso poria fim ao tráfico [ilegal] de drogas, ao vício-apoiando-o-crime, a drogas contaminadas e ao vasto império do mal do tráfico ilegal de narcóticos.
[…]

Comentando rapidamente essas três matérias (auto-explicativas, a meu ver…). A primeira, sobre o infame Chefe da Scotland Yard, mostra que em alguns lugares do mundo o comportamento criminoso das autoridades não acaba, necessariamente, em “pizza”. Mas também mostra que os “poderosos” são iguais, seja em Uganda, seja na Grã-Bretanha: querem todo o poder (inclusive o que a Lei não lhes confere) e não aceitam a responsabilidade por suas cagadas…
O segundo é uma outra faceta da mesma imbecilidade criminosa do governo britânico. O Tenente Kendall-Smith leva grandes chances de criar uma camisa de onze varas para o outro infame Blair. Mesmo que a Corte Marcial decida pela culpabilidade do Tenente, ele pode recorrer à Justiça Real e, como já foi dito, a posição do Advogado-Geral é de que a guerra do Iraque é ilegal, por ser baseada em mentiras comprovadas.
O terceiro, apesar de ser apenas um comentário sobre a disputa pela liderança do Partido Conservador, põe a nú toda a hipocrisia vitoriana dos britânicos e – já que eu estou falando nisso – de toda a subcultura WASP americana, na qual se apoia a camarilha do W. Bush.
Mas o mais importante é ver essas três matérias publicadas em uma mesma edição do The Sunday Times. É notável o quanto uma imprensa realmente independente pode esclarecer os cidadãos e mostrar que “o rei está nú”.
Bem diferente de um certo país da América do Sul, onde a imprensa que adora se fazer de “independente”, desavergonhadamente manipula a informação, para tentar conduzir a opinião pública na direção da “opinião que se publica”, com apelações ridículas e estatísticas distorcidas.
O caso Jean Charles de Menezes, parece estar caminhando para uma punição exemplar das “otoridades” da Scotland Yard. Já o caso Celso Daniel…

Não fui eu quem disse. Foi o London Times:

Alô, pessoal! Para quem acha que a violência no Brasil está fora de controle, que estamos a beira de uma guerra civil, e, principalmente, para os que advogam a proibição da comercialização das armas de fogo, como se isso fosse resolver os problemas da violência no Brasil, eu tive a paciência de traduzir esse pequeno artigo do The London Times:

19 de setembro de 2005
A Escócia no topo da lista dos países mais violentos do mundo
Por Katrina Tweedie
Um relatório da ONU rotulou a Escócia como o país mais violento do mundo desenvolvido, onde a probabilidade das pessoas serem atacadas é três vezes maior do que na América.
A Inglaterra e País de Gales registraram o segundo maior número de assaltos violentos, enquanto a Irlanda do Norte registrou o menor.
O estudo, baseado em entrevistas pelo telefone com vítimas de crimes de 21 países, descobriu que mais de 2.000 escoceses são atacados a cada semana, quase dez vezes mais do que os números oficiais da polícia. Isto inclui crimes não-sexuais de violência e ataques graves.
O crime violento dobrou na Escócia nos últimos 20 anos e os níveis, em termos de densidade demográfica, são comparáveis aos de cidades como Rio de Janeiro, Johannesburg e Tbilisi. (o grifo é do tradutor)
Os ataques têm sido alimentados por uma cultura de “bebida e lâminas” (N.T: no original: “booze and blades”) no Oeste da Escócia, que tirou mais de 160 vidas nos últimos cinco anos. Desde Janeiro, ocorreram 13 assassinatos, 145 tentativas de assassinato e 1.100 ataques graves, envolvendo facas no Oeste da Escócia. O problema é agravado pela violência do tipo sectário, com os hospitais relatando um número maior de atendimentos depois de partidas da “Old Firm”. (N.T: os clubes de futebol “Rangers” e “Celtic”).
David Ritchie, um consultor de acidentes e emergências na “Victoria Infirmary” de Glasgow, disse que esses números são uma desgraça nacional. “Eu fico embaraçado, como escocês, de que estejamos vendo este nível de violência. Os políticos têm que fazer algo a respeito deste problema. Isto é uma séria questão de saúde pública. A violência é um câncer nesta parte do mundo”, declarou ele.
O Superintendente Detetive-Chefe John Carnochan, chefe da unidade de redução da violência da Polícia de Strathclyde, disse que o problema era crônico e que a redução do acesso a bebidas e a limitação da venda de facas, ao menos reduziriam o problema.(o grifo é do tradutor)
O estudo, realizado pelo instituto de pesquisas criminais da ONU, descobriu que 3% dos escoceses foram vítimas de ataques, comparados aos 1,2% na América e aos somente 0,1% no Japão, 02,% na Itália e 0,8% na Áustria. Na Inglaterra e no País de Gales os números são de 2,8%.
A Escócia ocupa a oitava posição no total de crimes, 13ª em crimes contra o patrimônio, 12ª em roubos e 14ª em ataques sexuais. A Nova Zelândia foi a primeira em crimes contra o patrimônio e ataques sexuais, enquanto a Polônia é a 1ª em roubos.
O Condestável-Chefe Peter Wilson, presidente da Associação dos Chefes de Polícias da Escócia, questionou os números. “Deve ser quase impossível comparar o número de ataques, de um país para outro, com base em entrevistas por telefone”, disse ele.
“Nós temos realizado extensas pesquisas sobre o crime violento na Escócia, há alguns anos, e isso mostrou que, na vasta maioria dos casos, as vítimas de crimes violentos se conhecem. Nós aceitamos, entretanto, que, a despeito de suas chances de ser vítima de um ataque na Escócia sejam baixas, existe um real problema”.

Ora, ora… quem diria… quer dizer que miséria, falta de educação, de condições de cidadania, enfim, não são os únicos motivos para a violência urbana, afinal!…
E que quem não tem arma de fogo, usa arma branca, mesmo… (afinal, a vítima, no máximo, tem outra faca…)
Como eu já disse alhures: “todo problema complexo tem uma solução simples, elegante e errada!

Estados Unidos da Vergonha…

Salve, Pessoal!
Este artigo está no top dos most emailed do New York Times, desde que foi publicado em 3 de setembro. Para quem não tem saco para ler em inglês, o besta aqui fez uma tradução. Os trechos em [itálico] são meus. Lá vai:

3 de setembro de 2005
Estados Unidos da Vergonha
por MAUREEN DOWD
Coisas acontecem.
E, quando você combina um governo limitado com um governo incompetente, coisas letais acontecem.
A América está de novo mergulhada em um poço de serpentes com anarquia, morte, pilhagens, bandos de malfeitores fazendo incursões, inocentes sofrendo, uma infra-estrutura aos pedaços, uma força policial impotente, quantidades de tropas insuficientes e planejamento governamental criminosamente negligente. Mas, desta vez, isto está acontecendo na América.
W. trouxe seu Chevy “corta-orçamentos” para os diques e eles não estavam secos. Bye, bye, vidas americanas [isto é um trocadilho, intraduzível com a letra da música “The day the music has died”]. “Eu não acho que ninguém pensou que os diques pudessem se romper”, disse ele a Diane Sawyer.
Com as mangas arregaçadas, W. finalmente pousou no Inferno, ontem, e falou sorridente de seus dias de bebedeiras na “grande cidade” de “N’Awlins”. Ele estava visivelmente emocionado. “Vocês sabem, eu vou ter que voar para longe daqui em um minuto”, disse ele na pista do Aeroporto Internacional de Nova Orleans, “mas eu quero que vocês saibam que eu não vou esquecer o que eu vi”. Fora do alcance das câmeras, e evitado por W., estava um comboio de milhares de pessoas doentes e à morte, alguns espalhados pelo chão ou empilhados em carrinhos de bagagens em um Hospital de Campanha improvisado [o termo em inglês é “makeshift M*A*S*H*”] dentro do terminal.
Por que será que esse arrogante presidente, tipo “nós podemos”, sempre recai nessas velhas desculpas do tipo “quem podia saber disso”?
Quem na face da Terra poderia saber que Osama bin Laden queria nos atacar, jogando aviões contra edifícios? Qualquer autoridade que tivesse se incomodado de ler e interpretar os relatórios de inteligência antes de 11 de setembro.
Quem na face da Terra poderia saber que uma invasão americana ao Iraque iria levantar uma brutal insurgência, um “boom” de recrutamento de terroristas e uma possível guerra civil? Qualquer autoridade que se desse ao trabalho de ler os relatórios pré-guerra da CIA.
Quem na face da Terra poderia saber que os diques avariados de Nova Orleans corriam risco de não agüentar um forte furacão? Qualquer um que se desse ao trabalho de ler os inúmeros avisos, ao longo dos anos, sobre a situação [em inglês: “the Big Easy’s uneasy fishbowl”].
Em Junho de 2004, Walter Maestri, Chefe da Defesa Civil [“emergency management chief”] da Paróquia [equivalente a uma administração municipal na Louisiana] de Jefferson, se queixava ao Times-Picayune [jornal local] de Nova Orleans: “Parece que o dinheiro desapareceu no Orçamento do Presidente para a Segurança Nacional e a Guerra no Iraque, e eu acho que esse é o preço que temos que pagar. Ninguém, aqui, está feliz com o fato de que os diques não possam ser terminados e estamos fazendo tudo o que podemos para o caso de que isso se torne uma questão de segurança para nós”.
Não somente o dinheiro foi desviado para a loucura de Bush no Iraque; 30 por cento da Guarda Nacional e cerca de metade de seu equipamento estão no Iraque.
Ron Fournier da Associated Press relatou que o Corpo de Engenharia do Exército [nos EUA, a Engenharia do Exército é a responsável por todas as obras em aquavias interiores] pediu US$ 105 milhões para programas para prevenção de furacões ou inundações em Nova Orleans, no ano passado. A Casa Branca reduziu-os a cerca de US$ 40 milhões. Mas o Presidente Bush e o Congresso concordaram com projeto superfaturado de US$ 286,4 bilhões para uma estrada, com 6.000 pequenos projetos, inclusive uma ponte de US$ 231 milhões para uma pequena e desabitada ilha no Alaska.
Ainda no ano passado, as autoridades da Agencia Federal de Controle de Emergências [Federal Emergency Management Agency = FEMA] ensaiaram como responderiam a um furação fictício que causaria inundações e isolaria os moradores de Nova Orleans. Imaginem como seria ridícula a resposta da FEMA à Katrina se eles não tivessem ensaiado.
Michael Brown, o idiota chapado encarregado da FEMA – um cargo para o qual ele se capacitou por dirigir algo chamado Associação Internacional de Cavalos Árabes – admitiu que ele não sabia, até a 5ª feira, que havia 15.000 vítimas da Katrina, desesperadas, desidratadas, famintas, enraivecidas e à morte no Centro de Convenções de Nova Orleans.
Ele foi demitido instantaneamente? Não, nosso presidente, que só escuta o que quer [em inglês: “tone deaf”], elogiou-o em Mobile, Alabama, ontem: “Brownie, você está fazendo um trabalho dananado de bom”.
Seria uma outra coisa se ao Presidente Bush e seu círculo interno — Dick Cheney estava de férias no Wyoming; Condi Rice estava comprando sapatos na Ferragmo da 5ª Avenida e antendeu “Spamalot” antes que os bloggers a caçassem de volta a Washington; e Andy Card estava fora, no Maine — faltasse a empatia, mas pudessem fazer o trabalho. Mas é uma assustadora falta de empatia, combinada com uma espantosa falta de eficiência que poderia fazer esta administração implodir.
Quando o presidente e o vice-presidente rudemente sacudiram nossos aliados e nosso respeito às leis internacionais para perseguir uma guerra constuída sobre mentiras, quando eles sancionaram a tortura, eles abalaram a fé do mundo nos ideais americanos. Quando eles se mostraram surdos por tanto tempo à horrorosa miséria e aos gritos por socorro das vítimas de Nova Orleans — a maioria delas pobres e negras, tais com aquelas enfiadas no final das filas de evacuação ontem, enquanto os 700 hóspedes e empregados do Hotel Hyatt eram embarcados antes nos ônibus — eles abalaram a fé de todos os americanos nos ideais americanos. E nos envergonharam.
Quem somos nós, se não podemos cuidar dos nossos?
E-mail: liberties@nytimes.com
Copyright 2005 The New York Times Company

Preciso acrescentar algo?

Deu no “The Sunday Times”

Salve, Pessoal! Abaixo vai a tradução da matéria publicada no The Sunday Times, de Londres, nesta data. Meus comentários, eu faço depois da tradução.

The Sunday Times On Line

31 de julho de 2005
Atirar para matar, sem aviso
Jon Ungoed-Thomas & David Leppard
Altas fontes na polícia confirmaram que os policiais envolvidos na operação que levaram-nos a atirar em Jean Charles de Menezes, o brasileiro inocente, não teriam que ter gritado um aviso, antes de atirar.
A morte de de Menezes foi um terrível erro que devastou sua família e ameaça diminuir o moral da polícia em um momento crítico da guerra contra o terror. Isto agora ameaça se tornar uma cause celebre entre os ativistas dos direitos humanos.
Os parentes que velavam de Menezes em seu funeral, reclamaram que ele teria sido “exterminado” sem qualquer chance de se render. Um grande cartaz em seu funeral, em sua cidade natal de Gonzaga, exibia: “Jean, mártir do terrorismo britânico”.
Gareth Pierce, um dos mais proeminentes Advogados de Defesa da Grã-Bretanha, vai representar a família de Menezes contra a polícia. A Comissão Independente de Queixas contra a Polícia está examinando as fitas dos circuitos fechados de vigilância que registraram os últimos momentos de Menezes. O que já está claro é que os comunicados oficiais de sua morte em 22 de julho estavam errados.
Quando o tiroteio na Estação de Metro de Stockwell foi confirmado inicialmente, uma alta fonte da polícia disse aos repórteres, off the record, que eles tinham matado um dos prováveis homens-bomba que estava em fuga, após falharem nos ataques de 21 de julho. Sir Ian Blair, o Comissário da Polícia Metropolitana, disse que o tiroteio estava “diretamente ligado” à operação terrorista.
O homem, de acordo com a polícia, era suspeito por causa de “sua indumentária e comportamento”. Ele tinha sido seguido, a partir de uma casa que estava sob vigilância. Quando foi intimado na Estação de Stockwell, ele teria ignorado as instruções e corrido. Ele teria pulado sobre as catracas da bilheteria e estaria usando um casaco escuro e pesado, que poderia esconder uma bomba.
Uma testemunha descreveu Menezes como um asiático com barba e fios saindo do peito. A verdade é mais mundana. Menezes, um eletricista, estava indo para a zona Norte de Londres para reparar um alarme contra incêndios…
Ele não estava vestindo o que a testemunha chamou de “um casaco preto de homem-bomba”, mas uma jaqueta de jeans. A temperatura era de 17°C e sua indumentária não teria nada de extraordinário.
Ele não pulou sobre a catraca da bilheteria, como afirmado. Ele usou um bilhete de múltiplas viagens, passando pela estação de maneira normal. Seus familiares acreditam que ele começou a correr simplesmente porque ouviu o trem parando na estação — uma coisa que os londrinos fazem todos os dias. De fato, um trem estava parado na plataforma quando ele chegou.
A polícia claramente acreditava que Menezes poderia ser um homem-bomba, embora não estivesse carregando uma mochila. Isto levanta uma questão chave: por que deixaram Menezes tomar um ônibus em Tulse Hill e viajar até a Estação de Stockwell, se os policiais acreditavam que seu corpo poderia estar cheio de explosivos? Também levanta questões acerca do novo protocolo de “atirar-para-matar”. O protocolo − que é específico para alvos individuais − só podem ser acionados quando a polícia tiver razões para acreditar que o suspeito possa estar portando uma bomba. A ordem só pode ser dada por um “Gold Commander” na Scotland Yard.
A ordem, uma vez expedida, permite aos policiais que atirem na cabeça do alvo, se eles acreditarem que ele esteja pronto para ativar uma bomba. A idéia e não dar tempo ao indivíduo para reagir. A polícia não tem que gritar um aviso antes de agir: fazer isso negaria a eficácia do tiro na cabeça.
Algumas testemunhas dizem que Menezes nem teve chance de se render. Eles dizem que, logo que entrou no trem, ele foi derrubado e imobilizado no chão e fuzilado.
Lee Ruston, 32, estava na parte de baixo da escadaria pela qual Menezes desceu correndo. Ele acredita ter ouvido cada palavra dita pelos policiais.
De acordo com ele, os policiais não disseram a palavra “polícia” ou deram voz de prisão a Menezes. “Eu ouvi uma voz gritando ‘no chão, deita no chão’. Uma outra voz disse a mesma coisa: ‘deita no chão’. Então eu ouvi os disparos”, disse ele.
Se Menezes foi avisado — como alega a polícia — vai ser uma questão crítica, bem como a identificação do “Gold Commander” que decidiu que Menezes era uma ameaça e pôs em ação o protocolo de “atirar-para-matar”.
Menezes vivia em um bloco de apartamentos que estava sob vigilância, por causa de suas ligações com os ataques terroristas, mas qual é a prova de que ele era um risco específico? Será um ultraje para a família se ele foi assassinado por causa de seu comportamento aparentemente suspeito e da infelicidade de morar em um endereço associado ao terrorismo.
Blair disse que o público deveria também apreciar a bravura dos policiais que se acercaram de um suspeito que eles pensavam que poderia se explodir.
Como disse um policial, ontem: “Eles fizeram um bom trabalho pelo seu país. Mas, é claro, eles estão muito tristes”.
“Eles pensaram que estavam agindo no melhor interesse de todos e com as informações que lhes deram. É uma coisa muito triste, não é?”
Informações adicionais: Michael Smith, Andrew White
Pinçando alguns trechos da matéria, podemos chegar a algumas conclusões preliminares alarmantes. Em primeiro lugar, é sempre bom lembrar que a Scotland Yard é considerada uma polícia-modelo e que os ingleses se acham o povo mais civilizado da terra.
Mas vamos aos trechos que interessam:
1. A Comissão Independente de Queixas contra a Polícia está examinando as fitas dos circuitos fechados de vigilância que registraram os últimos momentos de Menezes. Se as imagens não foram reveladas, até a presente data, é porque comprometem diretamente a Scotland Yard! Três dias depois do primeiro ataque, o mundo inteiro viu as imagens dos terroristas, gravadas pelo mesmo sistema de segurança. Quero ver se as autoridades britâncias não vão dar uma de ” Universidade Estácio de Sá” e apagar exatamente as imagens que mostram o assassinato…
2. O homem, de acordo com a polícia, era suspeito por causa de “sua indumentária e comportamento”. Ele tinha sido seguido, a partir de uma casa que estava sob vigilância. Quando foi intimado na Estação de Stockwell, ele teria ignorado as instruções e corrido. Ele teria pulado sobre as catracas da bilheteria e estaria usando um casaco escuro e pesado, que poderia esconder uma bomba.
Uma testemunha descreveu Menezes como um asiático com barba e fios saindo do peito. A verdade é mais mundana. Menezes, um eletricista, estava indo para a zona Norte de Londres para reparar um alarme contra incêndios…
Ele não estava vestindo o que a testemunha chamou de “um casaco preto de homem-bomba”, mas uma jaqueta de jeans. A temperatura era de 17°C e sua indumentária não teria nada de extraordinário.
Ele não pulou sobre a catraca da bilheteria, como afirmado. Ele usou um bilhete de múltiplas viagens, passando pela estação de maneira normal. Seus familiares acreditam que ele começou a correr simplesmente porque ouviu o trem parando na estação − uma coisa que os londrinos fazem todos os dias. De fato, um trem estava parado na plataforma quando ele chegou.

Mentiras, histeria, cagada e assassinato! Frescura de “testemunhas” que viram o que a polícia mandou elas verem!
3. A polícia claramente acreditava que Menezes poderia ser um homem-bomba, embora não estivesse carregando uma mochila. Isto levanta uma questão chave: por que deixaram Menezes tomar um ônibus em Tulse Hill e viajar até a Estação de Stockwell, se os policiais acreditavam que seu corpo poderia estar cheio de explosivos? Também levanta questões acerca do novo protocolo de “atirar-para-matar”. O protocolo − que é específico para alvos individuais − só podem ser acionados quando a polícia tiver razões para acreditar que o suspeito possa estar portando uma bomba. A ordem só pode ser dada por um “Gold Commander” na Scotland Yard.
Ou seja, um filho da puta, em um escritório com ar-condicionado, no centro da City, com base em informações furadas passadas por policiais histéricos e xenófobos, tem autoridade para mandar executar um “suspeito”. Puta que os pariu! Se isso é que é civilização e “democracia”, podem fazer supositório dos dois.
E aposto que todo o mundo já reparou no nome do Comissário-Chefe da Scotland Yard: Sir Ian Blair!
Nada mais a declarar: os fatos falam por si… Os terroristas já ganharam esta guerra…
Como disse um policial, ontem: “Eles fizeram um bom trabalho pelo seu país. Mas, é claro, eles estão muito tristes”.
“Eles pensaram que estavam agindo no melhor interesse de todos e com as informações que lhes deram. É uma coisa muito triste, não é?”

Triste, senhor Policial da Scotland Yard, a polícia mais “fodosa” do mundo, é ver que pimenta, nu cú dos outros, é refresco! Não foi nenhum parente seu, né?…

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM