Novo tema de dicussão para o Roda de Ciência

Para quem também acompanha as discussões no “Roda de Ciência” (olha o selinho aí na barra lateral), eu peço que ajude a escolher o tema para o próximo período (agosto/setembro). É só clicar aqui, votar e pronto!
Quem tiver sugestões para temas que gostaria de ver discutidos lá, pode deixar um “comentário” lá (até como “anônimo”).
Para quem ainda tem alguma dúvida sobre a capacitação dos contribuidores do “Roda de Ciência”, eu sugiro uma”visitinha” ao dito cujo e uma consulta aos “Blogs Participantes”. (Como não podia deixar de ser, o único “furreca” sou eu…)

Por que um Blog sobre ciências?

Pegando no tema pela “ponta” que a Maria deixou, eu vou tentar prosseguir no tema “Por que um blog”? E, mais especificamente, por que um Blog sobre ciências?
No meu caso, a resposta à primeira pergunta é fácil: porque eu gosto de expor minhas opiniões. Claro que isso é um bocado arrogante, mas o fato é que eu gosto de ensinar e de discutir o que eu aprendo. Se não fosse para trocar conhecimentos adquiridos, de que adiantaria adquirí-los?… E qual a melhor forma de expor seus conhecimentos (ou a falta destes) do que em uma publicação que pode ser livremente acessada por pessoas dos mais variados matizes?
A segunda pergunta é que fica mais difícil de responder… Afinal, eu não sou nenhum cientista. Por que, então, eu me meto a escrever sobre ciência?
A verdade é que eu não escrevo sobre ciência: eu apenas me limito a traduzir artigos sobre ciência que encontro em fontes em inglês (eventualmente em francês), porque constato que a imprensa em geral, daqui e do estrangeiro, não consegue “traduzir” as informações dos relatos de novas descobertas de maneira correta e, a cada tradução de “tradução”, a correção das reportagens diminui.
Por outro lado, em meus esforços de autodidata, eu encontrei sítios como “Queremos Saber” da UFCE (link na barra lateral) onde quem sabe um pouco mais, orienta quem sabe menos, indicando fontes de pesquisa. Mas a principal dificuldade das pessoas que “querem saber” nem é tanto a falta de sítios para pesquisa: é a falta desses sítios em português claro.
E aí chegamos a outra qustão: “para quem você escreve?” Bom… Eu imagino que escrevo minhas sandices para qualquer um… Não tenho um “público-alvo” específico. Dei alguma “respeitabilidade” a este Blog traduzindo as edições do Boletim “Physics News Update”, mas procuro manter o Blog com notícias sobre outros assuntos, além da física.
É claro que seria muita pretensão minha, me achar um “divulgador”. Eu me enquadro mais na parte do título que diz “qui fá, non sá”. Mas acredito que, ao menos, estou ajudando um pouquinho a estimular a curiosidade das pessoas e o Sitemeter me informa que, de alguma forma, eu estou sendo bem sucedido (pelo menos, eu “engano” direito…)
Comentários aqui, por favor.

Ainda sobre ciência e ética…

Eu deveria ter ficado de boca fechada, já que eu não sou cientista e sou praticante de uma religião particularmente discutível, mas… A discussão também pode ser encarada do ponto de vista do “usuário final”, ou seja, do cidadão comum que não consegue entender direito os termos técnicos e as sutilezas do linguajar dos cientistas (mais ainda quando eles partem para a matemática…), mas que emprega em seu dia-a-dia os efeitos práticos dessa ciência: os avanços tecnológicos.
Acabei me embaralhando todo em um artigo onde eu pretendia dizer uma coisa e acabei me perdendo nos meandros de tentar explicar onde as religiões tinham ido buscar seus “dogmas” e “revelações divinas”…
Então, vamos voltar à vaca-fria e, pelo processo de exposição de idéias predominante no idioma francês, começar cada parágrafo com uma assertiva e discutí-la ao longo da exposição.
Tanto a “ciência”, como a “religião”, nasceram da observação que o ser humano faz da Natureza. Só que a ciência, a partir de um certo estágio, deixou de encontrar nas “explicações” baseadas na “vontade divina” as respostas para os fenômenos observáveis e passou a confiar no que passou a se chamar “método científico”: observação do fenômeno, busca de explicações para o mesmo em hipóteses onde o “sobrenatural” não tivesse que intervir, extrapolação para hipóteses genéricas, previsões experimentáveis a partir dessas hipóteses e a realização de experiências em ambientes controlados para verificar a exatidão dessas previsões. (“Até aí morreu Neves”… calma… eu chego lá…)
Para a ciência, nada é “sobrenatural”: tudo tem uma explicação “natural”. E aí começou a “briga”. A partir deste posicionamento, uns radicalizaram afirmando que “religião é tolice”, e seus opositores querendo “tapar o Sol com uma peneira” e se recusando a admitir o óbvio: se os “dogmas” não se enquadram na realidade, provada e comprovada, o dogma é que é a tolice… Isso é particularmente verídico para a civilização ocidental (as religiões orientais não são muito afetadas pela ciência…), onde as Igrejas majoritárias insistiam (e até hoje insistem) em igualar Π a 3, porque isso consta das “Sagradas Escrituras”…
Até hoje, tanto a “ciência”, como as “religiões” têm um ponto (errado) em comum: tomam o ser humano como unidade de medida. E esse erro persiste, por mais que a ciência tenha descoberto que a Terra não é o “Centro do Universo” e que o Homo Sapiens é apenas um primata “que deu certo” (pelo menos, mais “certo” do que os outros…). Esse “paroquialismo” também é um entrave à compreensão da Natureza, porque, mesmo os céticos empedernidos, têm esse preconceito tão imbuído em sua mentalidade que até “fabricam” dados para “comprovar” essa “superioridade”, embora não exista uma só habilidade do “ser humano” que não seja encontrável em outra espécie da Terra (e, quando se afirma isto, chovem argumentos em contrário, todos eles com o mesmíssimo ranço de preconceito que os “bons cientistas céticos” atribuem aos “reacionários religiosos”…) Ninguém está disposto a conceder o “benefício da dúvida” sobre, por exemplo, a capacidade dos chimpanzés de exprimirem abstrações (coisa já demonstrada), ou de admitirem que o cérebro dos golfinhos pelo menos parece ter uma capacidade de processar informações igual ou superior à do Homo Sapiens
Todo conceito de “ética” que não possa ser resumido a “não faça aos outros aquilo que não quer que façam com você”, é apenas uma “racionalização” de algum preconceito. Só que esta noção também está tendo sua abrangência atualizada pelo progresso da ciência. A espécie humana já está começando a entender (nem que seja pelo processo mais doloroso) que seu meio ambiente não é “casa da sogra”: o princípio TANSTAAFL vale para tudo, inclusive para as modificações introduzidas, mesmo que inadvertidamente, sobre o meio ambiente. E existem muitos “efeitos borboleta” que não foram ainda adequadamente estudados… Infelizmente, a grande maioria das pessoas ainda não se deu conta disto e continua discutindo o inevitável, com base em paradigmas paroquianos e escalas de valores mesquinhos que não vão além da vaga noção de um país… As mesmas pessoas que rezam “seja feita a Sua Vontade”, não são capazes de mentalizar um “Deus” que não atenda a seus caprichos vãos, e estão certíssimas de que podem ensinar ao “Criador” a gerir sua “Criação”…
As “elites”, antes de terem qualquer “direito”, têm OBRIGAÇÕES para com seus “súditos”. Isso era um princípio básico no nascimento das “aristocracias”… (e, por falar nisso, nas religiões, também…) Os “mais fortes” têm a obrigação de defenderem os “mais fracos”. Os “mais sábios” têm a obrigação de ensinar os “menos sábios”. Os “mais rápidos” ou “mais espertos” têm o dever de servir de isca para despistar o predador. Os “mais hábeis” têm a obrigação de realizarem os serviços mais difíceis. Etc… Foi assim que esse “macaquinho metido a besta” conseguiu chegar onde chegou… Só que “tem macaco demais”… O próprio “sucesso” da espécie humana traz, em si, o germe de sua perdição: a arrogância. Um dos “Livros Sagrados” diz que “Deus” disse: “crescei e multiplicai-vos”. Deveria ter “desenhado”… A parte do “multiplicai-vos” foi bastante fácil de entender (claro!… é a mais prazerosa!…) Mas a parte do “crescei” parece que foi mal entendida. Continuamos achando que somos “filhos únicos de papai rico” e que podemos gastar sem repor, usar e abusar, sujar sem limpar e destruir aquilo que obsta nosso caminho. As pessoas ficam “adultas”; a humanidade, não… E o que começou como reverência perante o desconhecido, transformou-se em mero instrumento de dominação e, atualmente, serve de pretexto para “justificar” selvagerias e obscurantismo. A “Glória de Deus” tem limites!… Limites impostos pela conveniência dos “poderosos” e dos espertalhões… O tal “Criador” não pode ter criado um universo tão grande assim, porque, se assim for, Ele não vai perder seu tempo para ouvir os choramingos e louvaminhas dos incompetentes. Não vai ter traçado um “processo evolutivo” que não pare nestes macaquinhos arrogantes. Não vai ter criado tudo, se não for para servir de play-ground para uma espécie que apareceu ainda agora no universo e acha que todos os segredos podem ser revelados com sua “arte e engenho”…
E o que isso tudo tem a ver com “O Papel do Cientista nas Decisões Éticas”? Bom… Para começo de conversa, para lembrar aos cientistas de que eles têm algumas das perguntas e muito poucas das respostas. São seres humanos como quaisquer outros e sujeitos a erros de avaliação, inclusive quanto ao significado dos dados matemáticos que colhem. A ciência é um meio, não um fim em si. Nenhum cientista que se preze diria, como um jurista, fiat cientia, pereat mundus… E que, se há na Natureza alguma “ética”, ela nada tem a ver com as necessidades da espécie humana. O universo andou certinho, durante muito tempo, antes da humanidade aparecer. E não vai sentir a menor saudade se formos extintos… E que sua única obrigação – enquanto cientistas – é a de apresentar os fatos conhecidos. Se, a partir de seus conhecimentos, adquirirem alguma convicção quanto a questões “éticas”, se conformarem com o fato de que a grande maioria não possui estes conhecimentos e pode decidir em sentido contrário… por mais que se arrependam depois.
A informação pode estar disponível para todos. O discernimento para o uso dessa informação é que varia. E, por enquanto, nem a ciência, nem qualquer religião conhece uma “cura da estupidez”. Asimov usou como título para um de seus livros de sci-fi parte da frase (que ele atribui a Schiller): Contra a estupidez, os próprios Deuses lutam em vão…
Eventuais comentários aqui, por favor)

O Papel do Cientista nas Decisões Éticas

Por mais que se queira dissociar o tema deste mês do confronto “ciência vs. religião”, não há como fugir a isto, uma vez que o próprio tema surgiu da atualidade da decisão que o Supremo Tribunal Federal vai ter que tomar (em minha opinião, já devia ter tomado…) sobre uma questão de suposta “ética”, que, na verdade, é apenas sobre um dogma religioso.
Sendo assim, não me resta outro remédio senão analisar, desde a origem, a convivência entre “ciência e religião”, uma vez que sou suspeito por ambos os “lados” desse confronto.
Eu afirmei, em comentário ao artigo do Osame, que as religiões tiveram como base a “ciência” (na sua acepção de “conhecimento adquirido”), só que as religiões não foram capazes de se adaptar ao progresso da ciência e se tornaram, mesmo, um entrave ao progresso da humanidade, quando deveriam ser, ao contrário, um esteio ético para este desenvolvimento.
Voltemos à pré-história e analisemos a “ciência” de então, para podermos avaliar de onde surgiu toda essa idéia de “religião” e qual papel ela deveria ter, bem como sua ligação com os conceitos de “moral” e “ética”.
A primeira coisa que nossos ancestrais devem ter reparado, deve ter sido a alternância quase regular entre o dia e a noite. Recém saídos de uma Era Glacial que, por pouco não encerrou a promissora carreira desse bando de primatas, o Sol e o calor devem ter sido particularmente proeminentes, apesar da grande importância da Lua, principalmente da Lua Cheia que permitia uma melhor vigilância contra os predadores noturnos. [Parêntesis (primeiro de uma série de muitos): existe muita discussão quanto à coincidência dos ciclos lunares e a fertilidade das mulheres. Usando um raciocínio bem primário, se pode aventar a hipótese de que as mulheres que ficavam férteis no período da Lua Nova, teriam uma melhor chance de procriação; nessas noites mais escuras, é de se esperar que os caçadores estivessem de volta à proteção da caverna…] Bom, já temos duas entidades cujo comportamento era particularmente importante para os humanos e, portanto, sérios candidatos a serem deificados…
Mas qual seria a idéia de um “Deus”?… Afinal, com quem os homens podiam se comparar para criar os seres superiores?… Certos animais eram mais fortes, outros mais rápidos, outros demonstravam habilidades especiais de visão, audição, alguns, mesmo, pareciam possuir um “sentido” desconhecido aos homens. Ora, se os homens eram “superiores” aos animais, os “Deuses” deveriam ser “superiores” aos homens na mesma medida: mais fortes, mais inteligentes, mais belos, mais tudo… “Super-homens”. E é exatamente o que vamos encontrar nas primeiras civilizações: “super-homens” com atributos animais. E, como toda tribo tinha um chefe, normalmente escolhido entre os mais “sábios” (ou seja, mais velhos – a figura do guerreiro-chefe só veio aparecer mais tarde) e as mulheres eram naturalmente mais longevas, o matriarcado parece ser apenas um resultado natural. Logo, as Deusas-Mães são apenas um passo lógico adiante. [Parêntesis: em diversas culturas a associação de gênero é inversa à que temos hoje em dia: é A Sol e O Lua…] A “civilização” (“reunião em cidades”) parece ter acabado com o matriarcado: os antigos caçadores-coletores já podiam ficar nas habitações, sem se afastar demais dos rebanhos e plantações, e a força física dos machos da espécie, combinada à fragilidade da mulher gestante, parece ter relegado as mulheres a uma função “subordinada” – a de “reprodutora”, uma vez que a sobrevivência ainda dependia muito dos números. Os Deuses machos começam igualmente a assumir o comando…
E, de uma pletora de “Deuses” que “governavam” todos os fenômenos naturais, cuja imprevisibilidade era uma ameaça à sobrevivência da espécie e precisava de alguma maneira de “ser propiciada”, à exemplo dos homens que os criaram, os Deuses precisavam de um “chefe”. E, como tudo que se conhece e é vivo, nasceu e morre, também os Deuses precisavam ter nascido de algum lugar. “É claro” que vamos precisar de um “criador” que, do nada, criou tudo o que existia…
E chega de digressão acerca de Deuses e Deus… O importante é que todas essas noções nasceram da “ciência” disponível: a observação da Natureza e a comparação das coisas da natureza à única medida disponível: o ser humano.
Passando à questão de “moral” e “ética”, a Teoria dos Jogos está aí mesmo para comprovar, matematicamente, que o “jogo da sobrevivência da espécie” passa, necessariamente, pelo “altruísmo”. Embora em questões menores o “gene egoísta” seja preponderante, para a sobrevivência de uma sociedade é fundamental que o altruísmo seja incentivado. Qual incentivo melhor para forçar um comportamento harmonioso e devidamente cooperativo do que “a vontade divina”?… O medo da morte pode ser habilmente explorado com a crença em uma “vida eterna”, na qual o indivíduo será “julgado” por tudo o que fez e deixou de fazer – segundo um conjunto de normas atribuídas ao(s) Deus(es) – e terá recompensa pelos eventuais sofrimentos injustos a que se submeteu, enquanto os infratores serão severamente punidos, por mais “poderosos” que possam ter sido nesta Terra.
Essa é a base de toda e qualquer religião: “esta vida não é tudo” e “quem se comportar bem, ganha um presente”… E este “se comportar bem” geralmente inclui todas as normas necessárias ao “jogo cooperativo” entre os vivos (e os “mais vivos”, diria o Barão de Itararé…). Toda a ética humana pode ser resumida a: “não faça com os outros o que você não gostaria que fizessem com você”. E todas as “normas morais” que forem além de “mulheres e crianças primeiro, depois os idosos (sua sabedoria é útil…)” é pura conveniência local.
E a humanidade poderia ter ficado nisso e apenas deixado que a inveja, a cobiça e a preguiça assumissem seus aspectos positivos: a inveja estimulando o aperfeiçoamento pessoal (não que os demais piorem); a cobiça estimulando a “ter mais” (não necessariamente tirando de quem tem; quando toda a sociedade prospera, cada indivíduo é beneficiado); e a preguiça buscando soluções mais eficientes e menos trabalhosas para realizar o trabalho inevitável (não postergando o que tem que ser feito).
Mas o ser humano é um bichinho curioso… Quer porque quer saber como, quando, onde e por que… E não descansa enquanto não conseguir controlar tudo, desde o meio-ambiente até a “vontade de (os) Deus(es)”. E como (os) Deus(es) é(são) caprichoso(s) e nunca desvenda todos os seus segredos, o ser humano resolveu que ia estudar, até entender, pelo menos os mistérios da Natureza. E, de repente, descobriu que não morava no Centro do Universo, mas em um planetinha xinfrim, que orbita uma estrela de quinta, na periferia de uma galáxia perfeitamente medíocre, entre um nunca-acabar de galáxias… Aquele “Super-homem” com poderes compreensíveis e bajulável para ser propício, corruptível com meia-dúzia de louvaminhas e “protestos de elevada estima e consideração” (junto com um suborninho…), já não dava mais para a tarefa para lá de hercúlea de criar um universo desse tamanho… O(s) Deus(es) ficou(aram) irremediavelmente paroquiano(s).
Pior: o ser humano descobriu que nem seu aparente controle do meio-ambiente é suficiente… Nem a velha “Mamãe Natureza” está disposta a aguentar indefinidamente os maus modos desse filho bestalhão que gasta como se não houvesse amanhã… Tudo o que o homem tira da Natureza, está fadado a voltar para ela, com direito a uma catástrofezinha para ensinar ao moleque que com “Mamãe não se brinca”… De “ápice da Criação” e “imagem e semelhança do Criador”, o ser humano se viu reduzido, por sua própria curiosidade, a um triste macaquinho “melhorado” que – por muito favor – tem um planeta para morar, mas tem que cuidar dele, senão, é “despejado” e o Planeta nem liga… (e (os) Deus(es) também não…)
Sem este “Deus-bedel” para vigiar e punir/recompensar, sem sequer um “referencial inercial absoluto” para calcular, de onde derivar as certezas sobre o que é “certo” ou “errado”?… Da velocidade da luz no vácuo?… Da absoluta amoralidade da “seleção natural”, um “Jogo de Soma Zero”, onde a fome do lobo tem o mesmo valor que a vida do carneiro?…
Não… Certamente a ciência não tem respostas para a eterna pergunta da humanidade: “o que é que eu estou fazendo aqui?” E pode apenas apontar, estatisticamente, qual comportamento – a curto prazo – pode trazer uma recompensa maior. O ser humano é muito pequeno, mesmo se comparado apenas com o planetinha xinfrim onde vive… A humanidade pode ser apenas uma doença cutânea temporária no planeta e toda a sua filosofia e ciência serem uma “ilusão impermanente”, como afirmam os buddhistas…
E, afinal, qual é o papel do cientista nas Decisões Éticas?…
Apenas isso: buscar os fatos!… Apontar as inconsistências da auto-imagem que o ser humano tem de si próprio e lembrá-lo, sempre, que, se existe um Deus (ou Deusa, ou Deuses…), ele(a, es) é(são) profundamente indiferente(s) a detalhes insignificantes como os enormes dinossauros ou toda a nossa “ciência” E TEMOS QUE PARAR DE NOS COMPORTAR COMO CRIANÇAS MIMADAS E ASSUMIR RESPONSABILIDADE POR NOSSOS ATOS, PORQUE NÃO ADIANTA REZAR QUE A ÁGUA NÃO VAI SUBIR O MORRO!…
Nota de rodapé: seja qual for a decisão do STF sobre as células-tronco embrionárias, nada vai mudar o fato de que aquele embriões estão vivos, mas não são gente… Quer o Papa (o Dalai Lama, ou o Bispo Macedo) goste disso ou não!…
(Comentários aqui, por favor).

Ainda restam esperanças!…

Via EurekAlert, mais uma matéria sobre os Oceanos:
Cientistas marinhos avisam que a segurança e a prosperidade do ser humano dependem de uma melhor sistema de observação dos Oceanos
Um apelo por um sistema inicial adequado para o produção de compreensão, previsões úteis para o público e para os responsáveis pelas politicas
O diagnóstico rápido do temperamento e dos sinais vitais dos oceanos é cada vez mais importante para o bem estar da humanidade, afirma uma distinta comunidade internacional de cientistas, urgindo por apoio para um completo sistema global de monitoramento marinho em até 10 anos.
A Parceria para a Observação dos Oceanos Globais (Partnership for Observation of the Global Oceans = POGO) declara que o aquecimento dos mares, pesca predatória e poluição estão entre profundas preocupações que têm que ser melhor medidas para auxiliar a sociedade para responder de forma bem informada, a bom tempo e com custos bem calculados.
“Um sistema para a observação e previsão dos oceanos que cubra todos os oceanos do mundo e suas principais utilizações, pode reduzir riscos crescentes, proteger os interesses humanos e monitorar a saúde de nossos preciosos oceanos,” afirma o Dr. Tony Haymet, Diretor da Scripps Institution of Oceanography, University of California San Diego, USA, e Presidente do Comitê Executivo da POGO.
“A comundade mundial resolveu construir um sistema abrangente e integrado para a observação dos oceanos a duas décadas. A boa notícia é que nós demonstramos que um sistema global de observação dos oceanos pode ser construído, instalado e posto a funcionar com as tecnologias existentes. Agora, temos que passar da fase de experiência e da prova-do-conceito para o uso rotineiro. Progredimos menos de metade do caminho para nossas metas iniciais. Vamos completar a tarefa antes que sejamos atingidos por mais tsunamis ou calamidades comparáveis.”
O custo de um sistema inicial adequado necessitará de mais investimentos, da ordem de 2 a 3 bilhões de dólares, envolvendo:

  • uma rede estável de satélites para vigiar as vastas extensões das superfícies dos oceanos;
  • estações fixas realizando contínua medição no fundo do mar ou como flutuantes e bóias ancoradas na coluna d’água na superfície;
  • pequenos robôs monitores submarinos, alguns garrando com as correntes, outros realizando monitoramento ao longo de rotas programadas;
  • animais marinhos engenhosamente dotados de “etiquetas” eletrônicas que os equipem para capturar e transmitir dados acerca dos ambientes que visitam;
  • navios mercantes e de pesquisa, aproveitando suas rotas para realizar observações.

A análise dos dados, integrados com observações da atmosfera e outras fontes, e sua assimilação em modelos, podem produzir compreensões e previsões úteis para o público e para aqueles que estabelecem políticas.
“Os oceanos cobrem a maior pare de nosso planeta – 71% – mesmo assim são grandemente sub-amostrados,” diz o Dr. Haymet. “Nós temos uma urgente necessidade e novas maravilhas tecnológicas disponíveis hoje para completar um sistema pelo qual os cientistas marinhos podem diagnosticar com autoridade e antecipar mutações nas condições dos oceanos globais – algo parecido com o sistema que permite aos meteorologistas prever o tempo.
“Um sistema contínuo e integrado de observação dos oceanos vai dar um retorno de muitas vezes o valor do investimento em operações marítimas mais seguras, diminuição dos danos causados por tempestades e a conservação dos recursos marinhos vivos, bem como coletar os sinais vitais dos oceanos que são necessários para monitorar mudanças climáticas.”
O chamado dos cientistas para a complementação deste “primeiro recrutamento” do sistema de observação dos oceanos é feito na hora em que os ministros e oficiais das 71 nações membros do GEO (o intergovernamental Grupo para Observações da Terra = Group on Earth Observations) se reúne em Cape Town, África do Sul, entre 28 e 30 de novembro. O encontro vai revisar o progresso e traçar o mapa dos próximos passos para um esforço no período de 10 anos para construir um sistema com base em terra, se deslocando pelos oceanos, aéreo e espacial, o Sistema Global de Observação de Sistemas da Terra (Global Earth Observation System of Systems = GEOSS) para monitorar todas as condições ambientais da Terra.
Tecnologias
“O passo rápido do desenvolvimento tecnológico está abrindo abordagens inteiramente novas para a medição dos oceanos, inclusive observações físicasa e biológicas a partir de peixes e mamíferos aquáticos. O potencial para a exploração da marinha mercante como plataforma para a monitoração das propriedades dos oceanos, embora bem demonstrada, oferece uma enorme oportunidade para maior desenvolvimento. Técnicas de biologia molecular estão transformando a maneira como identificamos espécies e interpretamos seu desenvolvimento evolucionário; existem importantes oportunidades para combinar dados físicos e biológicos para melhor entender a ligação entre os ecossistemas marinhos e a dinâmica oceânica,” declara David Farmer, da Royal Society e chefe da University of Rhode Island’s Graduate School of Oceanography.
Entre as tecnologias usadas pelos observadores oceânicos:
Sondas Robóticas Mergulhadores
Incluem, atualmente,cerca de 3.000 pequenas e móveis sondas “Argo” que medem a pressão, salinidade e temperatura em profundidades de até 2 km e retornam à superfície a cada 10 dias para transmitir suas leituras via satélite. Os instrumentos medem condições que atuam sobre mudanças climáticas. Os oficiais da POGO dizem que são necessárias até 10 vezes mais dessas sondas para produzir um quadro global de alta resolução das condições marinhas.
Veículos e naves de pesquisa não-tripulados
Estão em andamento testes de campo com os assim chamados ‘air-clippers’: sensores atmosféricos e da superfície dos oceanos pendurados em balões. Com esses sensores, os cientistas conseguiram obter medições concorrentes das condições atmosféricas e da superfície do oceano de dentro o olho de um forte ciclone onde os balões foram capturados.
Enquanto isso, os cientistas que usam equipamentos robóticos submarinos para registrar a vida e as condições nas remotas profundezas oceânicas, dizem que eles ainda apenas arranharam a superfície com os recursos disponíveis.
A bordo de navios de pesquisas, os cientistas podem tirar amostras e monitorar a distribuição e a abundância de espécies marinhas, enquanto desenvolvem tecnologias da próxima geração para observação – por exemplo, dispositivos para realizar, em alto mar, o seqüenciamento do DNA de formas de vida, tais como micróbios, bactérias e plânctons, realizando medições em tempo real semelhantes às “contagens de pólen”.
Novas abordagens com Sonar
A tecnologia de acústica naval para a transmissão de som em todas as direções, porém detectando o som com uma grade de hidrofones, e transformar este sinal em uma imagem dos objetos nos oceanos, foi demonstrada com um sucesso espetacular nas águas costeiras. Imagens cobrindo milhares de km² revelaram a presença de cardumes enormes, contendo dezenas de milhares de peixes e se estendendo por vários quilômetros. Outros sistemas de sonar estão permitindo o mapeamento e a caracterização do leito do mar com uma precisão sem precedentes.
Etiquetas
Como parte do Censo da Vida Marinha Internacional (Census of Marine Life = CoML), aproximadamente 2.000 animais marinhos que viajam para o profundo mar aberto foram etiquetados pelo projeto TOPP (Tagging of Pacific Palagics), criando uma equipe de oceanógrafos animais que revelam locais importantes de biodiversidade, áreas de reprodução e rotas de migração que precisam ser protegidas e também descrevem o estado físico das áreas dos oceanos habitadas por esses animais.
As 22 espécies etiquetadas incluem elefantes marinhos, tubarões brancos, tartarugas de couro, lulas, albatrozes e uma espécie de procelária (para ver um vídeo das etiquetas em funcionamento: arquivo em formato .mpg).
Dados sobre luminosidade, profundidade, temperatura e salinidade capturados pelas etiquetas são transmitidos por satélite à medida em que as criaturas vão se deslocando. Os elefantes marinhos, por exemplo. levam 10 meses no mar e mergulham a profundidades de até 1,5 km abaixo da superfície.
Etiquetas acústicas, espalhadas por outro projeto do CoML, POST (Pacific Ocean Salmon Tracking), permite que os pesquisadores sigam os animais que permanecem nas rasas plataformas continentais, tais como o salmão e o esturjão, criando visualizações sobre suas migrações e sobrevivência onde e porque eles morrem – que sugerem melhores estratégias para pesca auto-sustentável. Mais de 12.000 etiquetas acústicas da POST foram distribuídas pela rede da POST, resultando em mais de 4 milhões de detcções dos movimentos e sobrevivência dos animais etiquetados.
O Cientista Chefe do CoML, Ron O’Dor, diz que se está buscando o aval e o apoio dos ministros em Cape Town para a Rede de Detecção Oceância, recentemente criada para expandir o uso dessas técnicas para um sistema contínuo de âmbito mundial.
Os experts do CoML também querem que os ministros da GEO endossem protocolos padrão para gerenciar um sistema de monitoração de biodiversidade de águas rasas, de baixo custo, que pode se tornar operacional em 5 anos, para lançar luzes sobre espécies invasivas, mudanças climáticas e outros assuntos dignos de nota.
Bóias ancoradas
Ao longo da região equatorial da Terra, aproximadamente 50 bóias ancoradas foram lançadas para medir a temperatura, as correntes, ondas e ventos, salinidade, dióxido de carbono, permitindo aos cientistas estudar os sinais e prever padrões meteorológicos destrutivos, tais como El Niño. Os cientistas dizem que são necessárias quatro vezes mais bóias para criar uma cobertura mais uniforme. Algumas áreas não têm sequer uma estação de coleta de dados.
Em um crescente número de lugares, enquanto isso, sensores de pressão espalhados próximos da costa e no fundo do mar ajudam a detectar tanto a elevação do nível do mar como tsunamis. A operação no alto mar envolve uma bóia de superfície para receber as informações do fundo e retransmití-la para as estações em terra via satélite. Havia seis dessas bóias Deep Ocean Assessment and Reporting of Tsunamis (DART), todas instaladas no Pacífico, na ocasião do terremoto e do devastador tsunami do Oceano Índico de dezembro de 2004. Logo foram anunciadas as instalações de mais 32 bóias DART, inclusive estações no Índico, Caribe e Oceano Atlântico.
Observatórios com cabos
Usando cabos com centenas de km de comprimento no fundo do mar, em profundidades de até 3 km, pontuadas com “nodos” de instrumentos, os cientistas podem acessar e controlar sensores científicos e veículos e câmeras de controle remoto.
A informação coletada vai melhorar a compreensão das florações de plânctons, migrações de peixes, mudanças nas condições dos oceanos, mudanças climáticas, erupções vulcânicas submarinas, terremotos e o processo que os causa, e vai auxiliar no alerta de aproximação de tsunamis.
Satélites
O sistema de observação do oceano sofre de grandes descontinuidades na cobertura de observação por satélites, que fornecem uma janela de grande altitude em características marinhas tais como os enrugamentos da superfície oceânica, temperatura, correntes, cobertura glacial e bancos de sargaços.
Benefícios sociais
Os oceanos estão absorvendo menos carbono e, assim, perdendo a capacidade de diminuir as mudanças climáticas? Estará o fluxo de águas profundas no Atlântico Norte vagarosamente freando atá o congelamento – a premissa do filme apocalíptico de Hollywood “O Dia Depois de Amanhã”? Os recifes estão sendo branqueados? Os cientistas visam um contínuo e integrado sistema de observação do oceano que pesquise e monitore rotineiramente as condições e ofereça prontos diagnósticos e oportunas previsões de problemas – informações práticas em benefício da humanidade de diversos modos:
Diminuir os danos de desastres naturais e mau tempo
Um a compreensão mais profunda do comportamento do oceano vai ajudar a sociedade a prever e se proteger melhor de tempestades catastróficas tais como furacões, tufões e tsunamis.
Melhores informações sobre o oceano vão melhorar a previsão do tempo e do clima em curto e longo prazo, reforçando assim a preparação para os desastres e mitigação de danos, assim como estratégias para colheitas agrícolas e marinhas. Bem como uma melhor observação do oceano vai melhorar a segurança do transporte marítimo – que transporta 90% das mercadorias internacionalmente comercializadas – com informações acuradas e a tempo sobre as condições oceânicas.
Saúde humana e bem estar
Entre os benefícios oferecidos por uma melhor observação dos oceanos: a medição das temperaturas da superfície dos mares pode prever a movimentação dos peixes de águas tradicionais, e até surtos de doenças associadas comágua mais quentes, enquanto a monitoração da eutroficação induzida pela poluição ajudará a predizer o crescimento de algas tóxicas.
Energia
Oa oceanos são uma fonte crescente de energia – petróleo e especialmente gás natural – na medida em que as operadoras procuram no leito do mar e em águas cada vez mais profundas, com instalações de muitos bilhões de dólares. “Fazendas de ventos” em alto mar também dependem de informação confiável e a tempo sobre as condições oceânicas. Uma melhor observação do oceano vai ajudar a coletar várias fontes de energia segura e eficientemente, com efeitos mínimos sobre o meio ambiente.
Clima e acidez dos mares
Um sistema de observação do oceano totalmente desenvolvido vai fornecer novas abordagens sobre como condições alteradas nos mares, inclusive águas mais quentes e acidificação dos mares, afetam o clima, o tempo e o papel do oceano como absorvedor de carbono. Os cientistas querem saber como águas mais quentes, por exemplo, têm impacto sobre as formas de vida microscópicas que consomem 50 gigatons de carbono por ano, mais ou menos o mesmo do que todas as plantas e árvores na terra.
Ecossitemas marinhos e biodiversidade
Uma maioria da vida na Terra come, nada, rasteja, luta e vive nos oceanos. As temperaturas das águas afetam onde as espécies vivem e viajam, assim como a distribuição de nutrientes, dos plânctons para cima na cadeia alimentar. Um sistema integrado de observação oceânica vai iluminar o impacto de mudanças nas condições do oceano e da poluição nos ecossistemas marinhos e costeiros e a distribuição, abundância e biodiversidade de organismos.
Chamada para a Ação
D. James Baker, antigo diretor da Administração Nacional Oceânica e Atosférica dos EUA, diz: “O excitante progresso até a presente data também mostra o tamanho da oportunidade restante. Nós temos uma quantidade pateticamente pequena de medições dos oceanos, com relação a sua importância sobre a vida na Terra e da extensão na qual dependemos dele para energia, clima, alimentação e recreação.”
De acordo com o oceanógrafo Sulafricano John Field, presidente do Scientific Committee of the Global Ocean Observing System: “Nas primeiras poucas décadas deste século nós podemos desenvolver um sistema de observação do oceano comparável em valor ao sistema que tanto apreciamos de meteorologia. Se no ano de 2020 a monitoração e previsão do oceano estiver tão desenvolvida, poderemos nos lembrar dessa reunião de Cúpula de Cape Town como quando os governos intensificaram suas adesões chaves.”
“O povo que vigia e se preocupa com cada mar que se una em apoio a um sistema de observação oceânica global mais aperfeiçoado e integrado,” diz o Prof. Howard Roe, Director Emeritus, National Oceanography Centre, Southampton, U.K. e antigo presidente da POGO Chair, que vai liderar a delegação da POGO em Cape Town.
Finalmente, nota Jesse Ausubel, diretor do programa CoML para a Fundação Alfred P. Sloan Foundation: “2012 será o centenário do afundamento do Titanic. Eu penso que o Capitão Smith ficaria desapontado com a continuação da hesitação em firmar nosso sistema de observação do oceano.”

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Um Oceano de Problemas

“Na terra onde o mar não bate,
não bate o meu coração.
O mar onde o céu flutua,
onde morre o Sol e a Lua,
e acaba o caminho do chão”

(Gilberto Gil, Beira Mar)

É, no mínimo, curioso que, tendo mais de 71% de sua superfície coberta por águas, este planeta seja chamado “Terra”. E este “bairrismo” do ser humano vai mais longe.
Vai tão longe quanto o Sputnik 1, lançado para além da atmosfera em 04 de outubro de 1957, enquanto que o fundo da Fossa das Marianas só foi atingido pelo “Trieste” em 23 de janeiro de 1960…
O fascínio pelas estrelas é quase tão velho como a humanidade e seu estudo, como as mais antigas civilizações. Mas o mar – berço de toda a vida no planeta – continuou a ser um inimigo a ser conquistado. Os “anjos” habitavam o “céu”, enquanto as profundezas marinhas eram a morada de “monstros”. O “Gigante Adamastor” estava lá, à espreita, para destruir aquele que se atrevesse a cruzar sua superfície. E, se a vastidão das terras maravilhava os homens, a vastidão ainda maior dos oceanos o intimidava. Nos astros, a humanidade buscava indícios de seu futuro. Mas o mar era a sepultura dos destemidos e incautos. Para nós, macumbeiros, o Cemitério é a “Calunga Pequena”, o mar é a “Calunga Grande”… Jeová, quando resolveu se livrar da humanidade que criou e que não lhe prestava as devidas homenagens, mandou que as águas cobrissem as terras…
Pois é…
Mapeamos os céus muito antes de conhecermos mais sobre as profundezas dos mares. Até mesmo “recuperamos” áreas de terra, não só dos pântanos e alagadiços, mas até do próprio mar. Dos mares, só se tirou… Tiraram os peixes, cetáceos e crustáceos. Nas últimas décadas, até o bendito petróleo conseguiram tirar do fundo dos mares. Minto!… Não “só se tirou”… Ao contrário: todos os dejetos e lixos que produzimos foram atirados às águas (afinal, os mares são grandes…)
E, como mariposas atraídas pela lâmpada, nos esforçamos em arte e engenho para desvendar os segredos do Cosmo… e esquecemos daquilo que estava do nosso lado, o tempo todo: o mar. Só agora os físicos aplicam seus modelos matemáticos (criados para explicar as curvaturas do espaço-tempo) para estudar as interações entre as correntes marinhas e o clima (no que afeta os continentes, é claro… quem se importa – além dos marinheiros – se chove ou neva nos mares?…)
Apenas agora é que esses habitantes de parte dos 29% restantes da superfície do planeta estão se dando conta de que aqueles 71% são bem mais importantes do que nossa vã filosofia percebia…
Se as condições climáticas mudarem – pouco importa se brusca ou paulatinamente – e esta espécie arrogante que chama a si mesma de “Sábia” for varrida da face da terra, junto com o restante da vida nesses 29% da superfície, a natureza voltará a povoar o planeta… a partir dos mares. Os registros fósseis estão aí para comprovar isso: vide “Oceanos Tóxicos?”. E ainda há tempo suficiente: o Sol ainda vai continuar estável por tempo suficiente para que outra espécie evolua o suficiente para se adonar da Terra.
E, afinal?… Essas mudanças climáticas serão somente decorrentes das ações humanas ou serão um ciclo natural do planeta?… Que as emissões de poluentes estão agravando o problema, não há mais dúvida plausível. Corais branqueados, corais macios derretidos, níveis de acidez crescentes nas águas rasas, saturação da capacidade dos mares em absorver o CO2, concentrações de O3 na superfície, furacões e tufões cada vez mais freqüentes e devastadores… faltou alguma coisa?… sei lá!… Plantar árvores para “sequestrar CO2” é uma boa medida… Mas – e o CO2 nos mares?… 71% da superfície, lembram?… Não adianta coisa alguma tentar salvar as terras, se os mares estiverem mortos. E mortos não só pela absorção direta das emissões de poluentes atmosféricos, mas também pela poluição dos rios que vazam para os mares, com lixo, agrotóxicos, esgoto in natura e até com resíduos de transgênicos.
Qual terá sido o erro maior: interromper a conquista do espaço exterior (pelo menos teríamos para onde fugir) ou ignorar sistematicamente a maior parte da superfície do planeta?
Ah!… Tanto faz… Daqui a pouco o H5N1 arruma uma mutação que vai tornar isso tudo bem mais fácil de resolver…
Comentários aqui, por favor.

Elementary, dear Watson!…

Mesmo com esta Roda meio bagunçada e apesar de ter dito que eu iria ficar “na arquibancada” neste tema, não consigo resistir a publicar uma matéria sobre as desastradas declarações do Dr. James Watson sobre a “inteligência dos negros”.
O Adilson bem poderia tê-lo feito com seu artigo “A estupidez de um ganhador do prêmio Nobel”, publicado quase que imediatamente no seu Por dentro da ciência. Mas, já que ele deixou a oportunidade passar, eu aproveito para inserir o artigo dele na discussão.
Um episódio lamentável, mas, infelizmente, continuamente repetido: um cientista de renome emite publicamente uma opinião pessoal sobre um assunto fora de sua área de especialização. E a mídia – mais ignorante ainda – reverbera essa opinião, mal fundamentada e mal expressa, usando o suposto “aval” que um Prêmio Nobel confere a seu ganhador para opinar sobre qualquer coisa.
E as coisas se complicam ainda mais quando o referido cientista, em lugar de se recolher a sua insignificância, volta à mídia e apresenta “desculpas” – não por ter emitido uma opinião burra e tendenciosa – mas pela repercussão negativa que a mesma teve (vide BBC-Brasil: Nobel se desculpa por declarações sobre inteligência negra…)
Nosso grande César Lattes cometeu o mesmo tipo de tolice: falar alto demais, perto de um repórter… No dia seguinte, estava estampado em todos os jornais: “Lattes declara: Einstein era uma besta!”
E as verdadeiras bestas se riem, deliciadas… Um tipo de besta, porque publicou uma notícia de arromba… outros, porque – incapazes de compreender a ciência – dizem a si próprios: “Está vendo, só!… E ainda querem que eu acredite nessas maluquices!…”
Cada vez mais eu me convenço de que existe um “nicho profissional” promissor (vide o artigo da Ana Cláudia, Sobre jornalistas e geneticistas na Nature Reviews Genetics): o do “marketing para ciência”…
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Bom… Já que ninguém topou a provocação…

“Estar consciente de sua própria ignorância é um grande passo para o conhecimento”.
Bejamin Disraeli, “Sybil”
Eu adoraria iniciar este artigo com uma citação de Isaac Asimov, de um de seus artigos sobre a “relatividade do erro”, mas minha biblioteca ficou em Araruama… Nele, Asimov nos lembra que somos, desde a mais tenra idade, a aceitar “absolutos”: isto é “certo”; aquilo é “errado”.
A título de exemplo, ele apresenta o caso hipotético de uma prova de matemática elementar, onde aparece a questão: “2+2=?”. Joãozinho responde “azul” e Mariazinha responde “3,99999…” Pelas regras em vigor, ambas as respostas estão “erradas”, mas a de Mariazinha está “quase certa”.
Este tipo de classificação é nefasto. Incute nas crianças uma falsa certeza de que existem “verdades absolutas” e que, o que delas se afastar, por menos que seja, está “errado”. O grande problema é que o Universo não é feito de “certezas”. E, antes que algum matemático se levante com quatro pedras na mão, eu lembro que existem mais números irracionais do que racionais.
Se eu fosse um fabricante de rodas de carroça e quisesse calcular o tamanho da barra chata para revestir a banda de rodagem de uma roda recém-fabricada, eu poderia medir o diâmetro da roda e aplicar a fração 22/7 para cortar a barra. O trabalho de ajuste com uma lima seria bem pequeno. 3,1416 é “errado”… menos “errado” do que 3,1415925536 (usando o mnemônico: “que o cabo é ponto terrestre, eu sabia desde que nasci”), mas não existe um valor “certo” para Π…
A provocação do artigo anterior estava na passagem: Bom… Se os “Livros Sagrados” são duvidosos, só nos resta acreditar nas afirmativas dos sábios e aceitar esse novo “Deus”, a “Ciência”… E ninguém mordeu o anzol…
É exatamente essa aura de “misticismo” que não podemos permitir que a ciência seja revestida.
A ciência é a eterna pergunta, onde a solução de um problema leva, não a certezas, porém a mais questionamentos. É muito fácil rotular as coisas e fingir que elas fazem sentido (aliás, é o que os místicos vêm fazendo desde sempre…), mas chamar as propriedades dos quarks de “cores” (por semelhança ao processo de adição/ subtração das três cores básicas) e pregar-lhes rótulos de “up”, “down”, “strange”, “charm”, “top” e “bottom” (as primeiras propostas para os dois últimos eram “truth” e “beauty”, mas logo perceberam que “verdade” e “beleza” não se encaixavam muito bem na coisa…), não nos diz coisa alguma que possamos comparar com nossa experiência cotidiana.
Eu quase me urinei de rir na cara de um médico que se saiu com a resposta sobre o que meu filho, febril e amuado, tinha: “um rotavirus de etiologia desconhecida”. E respondi: “O que quer dizer que você não faz a menor idéia do que seja!…”
Mas parece que aos nossos acadêmicos falta a seriedade de transmitir, principalmente à onipresente mídia, a não-conclusividade de suas conclusões… Que “teorias”, por embasadas que sejam em experimentos, são apenas isso: “teorias”.
É claro que existem “teorias” e “teorias”… Da mesma forma que a resposta do Joãozinho de que “2+2 = azul”, existem “teorias” que são obviamente ridículas, em face das provas de que estão erradas. E quem prefere acreditar nessa resposta, porque a de Mariazinha não é, a rigor, correta, que se dane!… Deixem esses “casos perdidos” recorrerem a seus “Livros Sagrados”, onde se “prova” que o valor de Π é exatamente 3,000 (as rodas das carroças deles vão se escangalhar rapidamente…)
Quem sabe o maior incentivo para quem está ainda aprendendo o básico, não seja exatamente a idéia de que nenhuma conclusão é, ainda, definitiva e que se pode ir ainda mais longe, extraindo da Natureza mais segredos. Que ainda não chegamos (e, provavelmente, nunca chegaremos) ao “porto seguro” do conhecimento absoluto sobre tudo, mas que sabemos onde fica o Norte e podemos traçar as rotas do progresso com uma segurança sempre maior.
E que essa “incerteza”, onde os céticos enxergam apenas o acaso e os místicos, a presença divina, obedece a regras claras e nada misteriosas, e que o “sobrenatural” é apenas aquilo para o que ainda não se encontrou explicação — porque, assim que um “sobrenatural” for explicado, diversos outros “sobrenaturais” vão aparecer.
Isso, quando mais não fosse, nos pouparia de contra-argumentar (à maneira de Bizâncio) os arreganhos obscurantistas daqueles que menosprezam a “ciência”, “porque ela não tem todas as respostas”… Afinal, eu sempre gosto de repetir: “Todo problema complexo tem uma resposta simples, elegante e errada”.
Prefiro o bom e velho Einstein: «A hipocrisia do não-crente é, para mim, quase tão engraçada como a hipocrisia do crente.»
(Por favor, comentários aqui )

Cadê minha certeza que eu deixei aqui?…

Ah!… Como tudo era bom e simples, antigamente. Tudo em seus lugares certos. Um Deus “todo-poderoso” tinha criado a Terra, bem no meio de tudo que havia, posto um Sol para iluminar o dia e uma Lua para não ficar escuro demais de noite. E um monte de luzinhas cintilando naquele telhado para nos orientar durante as viagens e prover maneiras de adivinhar o que ia acontecer no futuro…
Os filósofos discutiam se primeiro existiu a idéia, ou se a idéia nasceu da constatação das coisas. Mas, em uma coisa todos eram unânimes: tudo está como sempre foi e nunca vai mudar. Existem coisas vivas que nascem, crescem, envelhecem e morrem. E existem coisas que não são vivas e não mudam nunca.
Qualquer um podia constatar: existiam coisas duras, com formas definidas, coisas moles com formas maleáveis, coisas que não dava para segurar nas mãos, como a fumaça e os vapores, e aquela substância misteriosa, roubada dos Deuses, que era assustadora, mas extremamente útil: o fogo.
A Natureza era razoavelmente previsível. Depois do calor do verão, começava o outono, vinha o frio do inverno e, na primavera, tudo o que parecia morto, ressuscitava. Isto é… quando os Deuses estavam bonzinhos… Se eles estivessem de mau humor, sempre havia como fazer umas cerimônias propiciatórias e, se não desse certo, bom… troca o sacerdote por outro…
Aí, começaram a aparecer uns chatos, metidos a espertinhos, que não se limitavam a especular sobre os misteriosos caminhos dos Deuses, mas achavam que tudo o que existia tinha que ter um “motivo”, que tudo podia ser tratado como os carneiros no rebanho, contados, ou como as distâncias, medidas, ou como as cargas, pesadas. Aquilo que era domínio dos Magos, as relações numéricas ocultas, passou a ser objeto de “experiências”. Até os monges que deviam saber mais sobre a onipotência divina, se puseram a fazer especulações perigosamente blasfemas: era possível descobrir os segredos divinos!
Um deles, o franciscano Roger Bacon, ousou mesmo desmentir o que era de conhecimento geral: nossos sentidos sempre têm razão!… Ousou afirmar que era necessário dissecar o que “todo o mundo sabia” e repetir as peripécias da Natureza em ambientes controlados por instrumentos de medição!
E, dái para a frente, foi um “salve-se quem puder”. Um tal Galileu meteu as mãos em um instrumento que ampliava a visão e ousou olhar para o Céu! Não viu Deuses nem Anjos, mas veio com uma estória absurda de que a Terra não era o Centro do Universo… Que disparate!… Só faltava, agora, me aparecer um Charles Darwin e dizer que o homem não era criado à imagem e semelhança de Deus, mas um “macaco-que-deu-certo”.
O próximo passo era inevitável: os Deuses eram desnecessários. Tudo podia ser explicado pelas interações entre minúsculas partículas invisíveis e as coisas não foram sempre iguais: todas mudam com o tempo.
E agora?… Depois que o tal do Einstein mostrou (lá para os comparsas dele) que nem o tempo era confiável, onde é que vamos parar?… Afinal, o que vamos ensinar para nossos filhos para que eles sejam cidadãos de respeito? Bom… Se os “Livros Sagrados” são duvidosos, só nos resta acreditar nas afirmativas dos sábios e aceitar esse novo “Deus”, a “Ciência”…
Mas – que coisa mais difícil!… Os cientistas jamais chegam a uma conclusão definitiva… Quer dizer, então, que os átomos (“não divisíveis”) não são a menor coisa que existe?… Como assim “o espaço é curvo”?… De onde veio esse universo que “explodiu” e continua se afastando (afastando do que?…)?… Espere um pouco: como assim? A tal da “evolução das espécies” nem sempre “evolui” para “melhor”?… Que raios quer dizer esse negócio de que uma onda é uma partícula e uma partícula é uma onda?… E essa tal de “incerteza”?… Quer dizer que eu, se bobear, posso, de repente, passar por dentro de uma parede e sair do outro lado?… Como não?… Você acabou de me dizer que um respeitável núcleo de Hélio faz isso toda hora e isso é a tal da “radiatividade”, à qual eu estou tão acostumado naquelas fotografias dos ossos dentro do corpo e tenho tanto medo, porque é veneno…
Ah!… Sem essa!… Você quer que eu aprenda essas maluquices que você chama de “matemática” (matemática, para mim, é aquela chatice de “taboada”… 2+2=4, sempre… Heim?… Que negócio é esse de “na base dez”?…), para poder me enrolar…
Não meu amigo, eu sou uma pessoa prática! Quero certezas e segurança! Quero a tranqüilidade para ensinar meu filho, como meu pai me ensinou e o meu avô ensinou para ele… Esse negócio de “raciocinar” dá muito trabalho e trabalho é o que não me falta! Afinal, alguém tem que pagar as contas do armazém. E eu não vejo por que vamos gastar um dinheirão com essas “pesquisas científicas” que só trazem mais dúvidas e perplexidades, se há tanta miséria por aí…
O que?… Lá vem você com essa lenga-lenga de “se não fosse a ciência…”
Esse computador?… É… ele é muito útil!… Eu passo o dia no MSN e no Orkut (mas não conta pro meu chefe, tá?…) discutindo sobre um monte de coisas… Não, “ciência” não… Isso é coisa de quem tem tempo para perder, estudando. Quando eu quiser saber sobre ciência, eu abro a página de meu jornal preferido e leio as reportagens. Lá, tudo está bem claro, em termos que eu posso entender… quer dizer, quase sempre… Eu ainda não entendi direito esse negócio de células-tronco, mas não deve ser boa coisa porque o Procurador-Geral está processando (é assim mesmo que diz?…) a tal Lei de Bio-não-sei-que-lá…
Quer saber?… Eu preferia os bons tempos em que tudo o que se precisava saber, estava na tal da Bíblia. Meu vizinho diz que essa tal de “ciência” é “coisa do demônio” e que ele sabe as respostas para tudo. E quando não sabe, vai perguntar para o Pastor.
Sabe de uma coisa?… Está bem!… Eu fico muito grato por vocês terem inventado a eletricidade para eu poder ver TV, mas, me desculpe… agora é hora do futebol. Vamos deixar esse “papo-cabeça” para outra hora, tá?…
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1 ano de “Roda de Ciência”

O Meta-Blog “Roda de Ciência”, do qual este Blog é contribuidor, completou neste Agosto passado, um ano de existência.
Nove temas estiveram em discussão:
– Ciência x divulgação científica (agosto 06)
– Internet na Academia: the good, the bad and the ugly (setembro 06)
– Relação entre ciência e arte (outubro e novembro 06)
– Falar e escrever simples (dezembro 06 e janeiro 07)
– Ciência e religião (fevereiro 07)
– Aquecimento global (março e abril 07)
– Existem raças na espécie humana? (maio 07)
– A rebelião nas Universidades (junho 07)
– Ensino básico, criatividade e curiosidade (julho 07)
O post comemorativo é este aqui.
(quem quiser comentar, que o faça lá…)

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