O que há de errado com o ensino?



«When I think back
of all the crap
I’ve learnt in High School,
it’s a wonder that
I can still think att all”

Paul Simon


Eu travei conhecimento com o Daniel (Doro Ferrante) através de um site chamado “Queremos Saber”, na época, restrito ao Instituto de Física da Universidade Federal do Ceará. Apesar desse site, em particular, ter crescido e se tornado muito mais abrangente, eu só gostaria de mencionar uma pergunta, feita por um vestibulando de Direito: «Para que raios eu tenho que saber o “Número de Avogadro”?».

Eu levo a coisa mais adiante: para que servem dois terços das baboseiras que aprendemos nos ensinos fundamental e médio? O que adianta recitar como um papagaio os tempos verbais, se a pessoa não sabe quando e onde usá-los?
De que adianta saber o nome dos afluentes da margem direita do Amazonas, se as próprias ruas da sua cidade lhe são desconhecidas?
Todo o mundo sabe que o Brasil foi descoberto em 1500, certo? Errado! Os índios já tinham descoberto esta terra bem antes.
E tome história pela visão eurocêntrica, tome geografia de decoreba, gerúndios e adjuntos adverbiais de instrumento, mesóclises, e conhecimentos tais como que a ponta dos ossos se chama epífise… Será que é de estranahr que o estudante fique divagando, enquanto espera tocar o sinal do recreio, ou mesmo que “mate aula” para ir se divertir?…
E a matemática, então?… No lugar de se expor a beleza de que tudo que existe tem uma expressão baseada na matemática, não!… Vamos apavorar os meninos com expressões aritméticas de assustar um Gauss. Vamos propor problemas chatos e insossos.
E, sobrtudo, jamais vamos ensinar às crianças a pensar com a própria cabeça! O “conteúdo programático” é mais importante… Ou seja, despeje a matéria sobre as cabeças cheias de imaginação, para soterrar a criatividade. Quanto mais cópia da matéria garatujada a giz em um quadro-negro, melhor!
As “ciências” devem ser apresentadas como uma decoreba dos sistemas do corpo humano, da tabela periódica dos elementos e dos braçais cálculos sobre o “Número de Avogadro” (que, por falar nisso, nem dele é…).
Sabem por que eu sou uma rematada besta em biologia? Porque eu nunca aguentei decorebar o latinório. E, como me faz falta a física de 2º grau, escondida atrás de fórmulas que tinham que ser decorebadas.
Eu devo muito a minha cultura geral a duas professoras de Português do ginásio (ambas pegaram a minha turma como “coroamento”): elas me ensinaram a redigir, a ter carinho pela linguagem como forma de comunicação entre as pessoas, e a buscar o modo mais correto para exprimir meus pensamentos (o que me levou a expandir meu vocabulário, para poder empregar os termos mais exatos possíveis).
Alguns, como eu, nascem curiosos; outros só enxergam as aplicações práticas das coisas. Vá explicar a uma “garota de programa” (que fatura em uma noite mais do que uma professora em muitos meses) que a juventude não é eterna…
E, enquanto isso, a mídia enche nossos sentidos com um “consuma! consuma!” dos mais variados produtos inúteis ou de eficácia duvidosa. E fica o rapaz a se imaginar um famoso jogador de futebol, para ter uma Ferrari, e as meninas sonhando com o status de Maria Chuteiras
Enquanto isso, os professores que acabaram de aprender o mais novo modismo em ténica de ensino (a última notícia que eu tive foi quando as “inteligências múltiplas” perderam seu status de “novidade” para o “construtivismo”), correndo atrás de técnicas de ensino e deixando de lado o mais importante: ensinar as crianças a raciocinar.
O rendimento dos alunos está baixo? Não tem problema: aumente-se a carga horária… (com que professores, eu não sei…)
E não pensem que eu estou falando apenas das mazelas do Brasil. Robert A. Heinlein já denunciava, nos idos de 1960, que a maior parte dos americanos que chegava à academia, era semi-analfabeta. Então, não é só “falta de recursos financeiros”.
Toda a estrutura do ensino precisa passar por uma re-engenharia urgente. Senão, o gap entre os letrados e os analfabetos funcionais só tende a aumentar. E qualquer nação de semi-analfabetos está pronta para cair nas mãos dos caudilhos, sejam do tipo Bush, seja do tipo Chavez, seja do tipo Bin Laden…
Brecht já punha na boca de Galileu: “infeliz do povo que precisa de heróis”. E eu pergunto, como botar na cabeça de um infeliz que nem sabe se expressar direito, noções como “civilidade”, “meio-ambiente” e “cidadania”?
As escolas de hoje estão parecidas com os Comandos na Marinha: o atual sempre dá saudades do anterior…
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Aquecimento Global


O que mais tem me deixado perplexo quanto à questão do Aquecimento Global é o amadorismo com que o assunto tem sido tratado. Talvez as previsões mais alarmistas sejam apenas isso: alarmismo. Mas minha formação de militar me ensinou que devemos sempre raciocinar com base na previsão de que a pior hipótese se concretize e que as providências devem ser tomadas para encarar as conseqüências mais graves.
O fato indiscutível é que a Terra está passando por um período de elevação das temperaturas médias e, seja qual for o motivo pelo qual isto acontece, a probabilidade da ocorrência de um Efeito Estufa e uma conseqüente Era Glacial são cada vez mais iminentes.
Como um bando de galinhas tontas, cujo galinheiro foi invadido por uma raposa, as pessoas, as organizações e os governos estão muito mais preocupados em lançar as culpas sobre quem deixou a raposa entrar, do que em por a raposa para fora.
O fato – como o Daniel frisou muito bem em seu artigo – é que ninguém utilizou, ainda, as ferramentas já existentes para a criação de modelos que envolvem sistemas estocásticos. Então, o fato que eu julgo mais alarmante, não é se a principal causa é um processo natural, se são as emissões de CO2 dos países do “primeiro mundo”, ou os peidos das vacas. É que ninguém sabe, com uma razoável certeza, o que e quando vai acontecer!
Está cada vez mais difícil fazer pé com cabeça do noticiário sobre o assunto. Vejamos, por exemplo, um período pinçado de uma notícia do New York Times sobre o assunto.

«Os Estados Unidos, onde a agricultura representa apenas 4 por cento da economia, pode suportar com muito mais facilidade uma mudança climática hostil do que um país como o Malawi, onde 90 por cento da população vive em áreas rurais e cerca de 40 por cento da economia é baseada em agricultura dependente de chuvas.»
Não é sensacional?… O problema todo reside na dependência do país em uma agricultura rudimentar… É bem o caso de perguntar ao idiota que perpetrou este artigo de onde os EUA pretendem obter alimentos, caso as mudanças climáticas continuem acelerando? De onde vai chegar o dinheiro que movimenta Wall Street? A que países congelados ou desertificados os EUA pretendem continuar vendendo o software que movimenta a NASDAC?
No artigo (bem antigo) “Sabe qual é o problema com os imbecís?” (11 de outubro de 2005), eu comento sobre uma notícia do mesmo New York Times onde um babaca expunha as vantagens do derretimento da Calota Polar Norte. Essa miopia gananciosa é, em minha opinião, o maior dos óbices a uma mobilização dos recursos de modelagem cibernética das quais o Daniel fala. E se os modelos realmente demonstrarem que a situação é muito pior do que se pensa e que os EUA vão ter que abdicar de seus carrões devoradores de gasolina?… E se os modelos mostrarem que a China vai ter que meter o pé no freio nessa onda de “desenvolvimento”?…
No Malawi, as pessoas vão passar de uma condição de extrema pobreza para pobreza total… Bom… As coisas não andam muito melhor na Somália… Mas, na hora em que o nível dos Oceanos subir (e o fato é que ninguém sabe o quanto vai subir e com que rapidez), os efeitos do Katrina em Nova Orleans vão se multiplicar exponencialmente. Se Bangladesh sumir do mapa, vai ser uma tragédia, mas a maldita “economia globalizada” vai sofrer pouco. Na hora em que os Portos de Haia, Singapura, e todos os dos EUA ficarem debaixo d’água, a coisa vai ser bem diferente…
Está mais do que na hora de parar de fingir que o problema não existe, e fazer um estudo sério, sem histerias “conservacionistas”, nem desdém “conservador”. E parar de procurar “culpados” (enforcá-los em praça pública não resolve coisa alguma) e procurar soluções para salvar o que for possível.
Por favor, poste seus comentários aqui

Ciência vs, Religião?…

«Ciência sem religião é capenga.
Religião sem ciência é cega.»

Albert Einstein
«A fé é a esperança infundada
na ocorrência do improvável»

Henry Louis Mencken
«Se você fala com Deus, você está rezando.
Se Deus fala com você, você está maluco»

Ditado Popular

O tema deste mês no Roda de Ciência é um pouco delicado para mim: eu não só sou religioso, como pratico uma religião particularmente discutível, a Umbanda.
É… Eu acredito em espíritos, Orixás e todas essas coisas consideradas “coisa de gente de pouca cultura” e que – aparentemente – só são aceitas por pessoas de uma credulidade absurda.
Como é que alguém que se diz apaixonado por ciência consegue conciliar o indispensável ceticismo científico com a necessára credulidade do religioso?
Simples… Eu não misturo uma coisa com a outra. Não procuro explicar fatos científicos com “manifestações divinas”, nem procuro entender os fatos ligados à experiência religiosa, com “explicações científicas”.
Toda a vez que as religiões se meteram a “explicar” o Universo, quebraram a cara. Aliás, eu sou o primeiro a admitir que existe uma enorme quantidade de obras de suposta “inspiração divina”, ou “psicografadas” por médiuns, que são de uma tolice e uma banalidade incríveis. Coisa de “quem ouviu cantar o galo, mas não sabe onde”. E é bem fácil ser mistificado por essas asneiras simplistas: basta pegar em alguns termos pseudo-científicos – com base em termos científicos de difícil compreensão – e você vai ter algo que passa por “alta ciência”. Nem os papers verdadeiramente científicos estão livres desse tipo de asneira.
O chato é que o reverso também é verdadeiro. Toda vez que a ciência se mete a “desprovar” a religião, acaba esbarrando em “efeitos placebo” que desafiam o “estado-da-arte”. Tudo bem… A ciência verdadeira só se preocupa em registrar os fatos experimentais, tenham eles explicação conhecida ou não (vide o Efeito Mpemba) e procurar, dentro das limitações tecnológicas, obter as explicações mais plausíveis para os fenômenos observados.
Todo este blá-blá-blá sobre “ciência vs. religião” se deve a um ressurgimento da intolerância ignorante de fanáticos religiosos – mais exatamente de Cristãos Fundamentalistas e nos Estados Unidos – que insistem em fazer com que a ciência se encaixe em suas concepções pré-moldadas por “Escrituras Sagradas” e são tão arrogantes que pretendem ter percebido um “Intelligent Design” no Universo, porque o mero fato de que estamos aqui demonstra que a evolução do Universo passa pela existência do ser humano, e tomam tal constatação como “prova” de sua megalomaníaca certeza de que fomos “criados à imagem e semelhança de Deus”… embora qualquer análise um pouco mais isenta demonstre claramente que isso – nos próprios termos da religião que dizem professar – seja uma blasfêmia.
Por outro lado, os céticos impedernidos caem na esparrela e procuram demonstar o indemonstrável: a não-existência de algo. E o argumento é sempre o mesmo: a ausência de prova de existência… coisa que qualquer cético que se preze, sabe que não vale como prova.
Não estou aqui para fazer proselitismo religioso: não quero “converter” pessoa alguma. Inclusive acho que a maioria dos ateus é mais decente e merecedora do suposto “Reino dos Céus” do que a maioria dos religiosos. Não me consta que ateu algum tenha mandado alguém para a fogueira por professar uma religião… E – apesar de crer em um “algo maior” que pode ser chamado de “Deus” por falta de termo melhor – não entra em minha cabeça que este “Criador” tenha feito um universo com regras tão rígidas e “universais” (também por falta de termo melhor) e vá ficar quebrando essas regras, só para extasiar os caipiras de um planetinha xinfrim que orbita uma estrela de quinta, na periferia de uma galáxia perfeitamente medíocre…
Enquanto isso, vou continuar traduzindo o Physics News Update, sempre que não estiver fazendo minha macumbinha… E – se acharem que eu sou maluco – eu respondo o que Pai João Benguelê me disse: «Tá malucado, fiaco?… Malucado, mas feliz…»
(Quem quiser comentar, por favor, o faça aqui)

A ciência de fazer arte e a arte de fazer ciência

A arte é uma questão de inspiração e habilidade nata, enquanto a ciência é uma questão de observar os fatos, fazer medições e extrair dessas observações leis genéricas, que possam ser comprovadas por futuras experiências.
Mas será só isso, mesmo? O quanto de ciência contém a produção artística? E o quanto de arte tem a produção científica?
As relações matemáticas nas artes plásticas são bem conhecidas, assim como na música. Mas quanta ciência haveria em um romance, por exemplo?
Por outro lado, o quanto a inspiração tem a ver com o trabalho científico?
É curioso observar que as grandes obras literárias – por exemplo – contém uma grande parcela que se pode identificar como “ciência”. Os equilíbrios e as dissonâncias, o emprego da lógica (principalmente para levar o leitor a um clímax surpreendente) e a forma de abordagem do tema, para a obtenção do efeito desejado: prender a atenção do leitor e transmitir a mensagem pretendida. É isso que diferencia uma grande obra literária, uma bela poesia, uma narrativa bem feita, da grande maioria das obras literárias que poderiam muito bem nem terem sido paridas.
Sempre se pode argumentar que grandes obras artísticas são produzidas por pessoas com pouco ou nenhum conhecimento científico. Concedo… O que não significa que a ciência não esteja lá: apenas o autor não tem a noção consciente disso. A melhor prova disso foi dada por Louis Armstrong – o genial trompetista – que respondeu a uma pergunta sobre como improvisar sobre um tema musical: “cara, se você tem que perguntar, nunca vai entender”. Qualquer um é capaz de improvisar sobre um tema musical, mas só aqueles que sabem como fazê-lo, vão obter resultados que provoquem admiração. Ciência? Em minha opinião, sim.
E o trabalho científico? Em sua maior parte a produção de dados científicos se assemelha àquelas obras literárias a que me referi acima: poderiam muito bem jamais terem sido feitas… É só verificar os anais do “Prêmio IgNobel” para ver quanto do que passa por trabalho científico nada acrescenta à ciência.
Mas toda e qualquer descoberta inovadora tem um “que” de inspiração. Algo que vai além da mera observação dos fatos e seu registro. Aquele momento em que o cientista para de observar o universo com os olhos do cotidiano e tem seu “momento de artista”: a inspiração de raciocinar “e se – em lugar de fazer como sempre – tentarmos uma abordagem diferente?”
Da mesma forma com que o escultor vê no bloco de pedra a estátua e trata de retirar os pedaços que sobram, o cientista busca o oculto na aparência do cotidiano. De igual modo ao poeta que alinhava palavras – gastas na repetição coloquial diária – e delas extrai efeitos comoventes, o cientista associa fatos conhecidos e deles extrai novas linhas de raciocínio que abrem novas fronteiras no conhecimento.
Em resumo: sem o fator “criatividade”, tanto a arte como a ciência já teriam desaparecido. A arte se resumiria a uma contínua repetição de fórmulas consagradas e a ciência a um “saber enciclopédico”, encerrado nas páginas amareladas do já conhecido.
Por isso, eu – que não sou artista, nem cientista – afirmo que, sem sombra de dúvida, existe uma ciência para fazer (boa) arte, assim como uma arte para fazer (boa) ciência.
(Por favor, qualquer comentário deve ser postado aqui)

Internet, Academia e Ética

Minha abordagem inicial sobre o tema foi – necessariamente – superficial. Afinal, “não vá o sapateiro além das sandálias”. Eu não sou acadêmico, nem cientista. Nesta “Roda”, eu represento o leigo que quer aprender. O curioso que é bombardeado por informações diversas, cuja qualidade não sabe avaliar. Em uma palavra: o ignorante.
Só que “ignorante” não quer dizer “tolo”. “Ignorante” é aquele que não sabe, porque não aprendeu (ou porque lhe ensinaram errado). A “ignorância” é mal curável. Já a desonestidade, a arrogância e a tolice, não são.
A Internet é uma formidável ferramenta para o rápido intercâmbio de idéias, para obtenção de dados necessários a uma pesquisa, para a troca de informações e discussão de temas. Infelizmente, certas idéias ficariam melhor restritas, os dados podem ser levianamente usados, certas informações são incovenientes e certos temas não deveriam sequer ser abordados.
Fazer o que? Voltar à Idade Média e restringir o conhecimento a uns poucos “escolhidos”? E qual será o critério para a seleção desses “escolhidos”?
O Daniel criticou o “moto” dos defensores do livre porte de armas nos EUA (National Rifle Association, se não me engano), mas é uma verdade. “Armas não matam pessoas; pessoas matam pessoas”. O mesmo pode ser dito de automóveis. Aliás, qualquer coisa pode ser bem ou mal utilizada (por má-fé, imperícia, imprudência ou negligência).
Mas não deixa de ser sintomático que as Ditaduras escancaradas que ainda existem neste mundo sejam os maiores opositores da Internet. Isso torna o pesadelo de “1984” de Orwell impraticável, porque o “Big Brother” não controla mais a “verdade”. A opinião pública não é mais necessariamente “a opinião que se publica”.
Eu freqüentemente praguejo que “Graham Bell” deveria ter inventado a torradeira, porque o telefone é uma fonte de incríveis aporrinhações, principalmente depois que inventaram a praga do “telemaketing”.
Orkuts, MSNs, Paltalks e coisas assim são – por si só – uma ferramenta de grande utilidade. Não reside nelas a culpa em serem mal utilizadas. A futilidade das pessoas e a preocupação de “espertinhos” (como o que Kinismós menciona) de se mostrarem “mais matreiros” que os “otários comuns”, não servem como desculpa para condenar a Internet, nem na Academia, nem em local algum.
“Abusus non tolit usus!” E, se a maior parte das pessoas que tem acesso à Net o faz para propósitos levianos, maldosos ou simplesmente imbecís, o problema está nessas pessoas.
Da mesma forma que o prelo de Gutenberg revolucionou o mundo, permitindo que o saber se popularizasse, a Internet está fazendo desabar as fronteiras políticas, permitindo que a informação percole todas as camadas da sociedade.
Ainda é muito cedo para se emitir juizos sobre seus efeitos globais. Da mesma forma que a palavra impressa pôs fim à Idade das Trevas, também permitiu a divulgação de “Mein Kampf”.
Os malucos e megalômanos (como eu) são um preço a pagar. Só que a liberdade não tem preço que possa ser estimado como excessivo.

Roda de Ciência: Internet na Academia

Considerando-se que eu nasci na metade do século passado (no tempo em que, para se fazer uma ligação telefônica entre o Rio de Janeiro e Niterói, se passava um bom tempo esperando a telefonista completar a ligação) e que o assunto momentoso da scif-i da época era a humanidade sendo dominada pelos “cérebros eletrônicos”, o assunto para mim tem um sabor nostálgico.
Eu ainda me lembro do sentimento de “maravilhoso” que me ocorreu, ao visitar o CNEN e descobrir que a entidade tinha acesso aos Bancos de Teses (ainda em processo de montagem, em âmbito mundial) e perceber o potencial de disseminação do saber: o acesso instantâneo a todas as fontes de referência!
Eu ainda não tinha um computador pessoal, mas já me maravilhava com a simples possibilidade da existência da “Information Highway” (como o governo americano tentou batizar a Internet). A “Aldeia Global”, prevista por MacLuhan, parecia cada vez mais real.
Para quem dependia do “snail mail” (também conhecido como “Correio”) para se corresponder com parentes e amigos distantes, tudo parecia um sonho…
Só que, como tudo no mundo, a Internet acabou por apresentar um lado positivo e um negativo. Não vou entrar no mérito da quantidade de cretinices e falsas informações, lixo, “spam”, virus e outras chatices menos votadas, que existem. Tudo isso é um pequeno preço a pagar pelos ArXives e outras facilidades.
Mas uma das primeiras coisas que eu aprendi, ao ingressar no “mundo cibernético”, foi que os computadores tinham uma característica semelhante aos automóveis: a maior parte dos defeitos se originavam no “burrinho” (a peça que fica entre o assento e o volante…) E que um dos piores defeitos era a possibilidade do anonimato e da falsa identidade. Basta ver quanta idiotice e desinformação circula por aí (NB: “desinformação” é um jargão militar. Significa uma informação deliberadamente falsa ou meia-verdade distorcida para esconder uma realidade inconveniente).
Também não vou entrar no mérito das teses e pesquisas feitas com “copy & paste”. O degas aqui já faturou muito $$$ prestando “assessoria” para montagem de teses e monografias para incompetentes. Isso é a segunda profissão mais antiga do mundo…
Eu acabo de ler o livro “O Senhor deve estar brincando, Sr. Feynman” e, guardadas as devidas proporções, é gratificante perceber que um físico com Prêmio Nobel fez constatações muito parecidas com as minhas. Mas isto vai ser assunto para outros artigos do “Chi vó, non pó”.
Eu só quero deixar uma “agulhada” final: por que será que os Acadêmicos só se importam com os efeitos da Internet na Academia? Até agora, eu não vi pessoa alguma se referindo ao que a, tão propalada, “Inclusão Digital” pode trazer de bom ou mau ao ensino fundamental e médio…
Gente!… A ciência tem que sair da Torre de Marfim, senão os fundamentalistas religiosos vão ganhar!… E teremos outra “Idade Média”, combinada com o pesadelo de “1984”…
Por favor enderece seus comentários para aqui

Sobre Golfinhos, Cientistas e Jornalistas

Na recente matéria “Duas Notícias Interessantes“, eu desanquei o cientista sul-africano Paul Manger, por conta de uma matéria da Reuters, publicada em “O Globo on Line”, por conta das declarações que ele teria prestado ao jornalista.
Sabiamente, Caio de Gaia, me chamou a atenção para o fato de que eu não deveria desancar um cientista, baseado unicamente em uma notícia de jornal. Com a prestimosidade dos lusitanos, não só correu a ler o paper original, como me enviou um exemplar do dito.
Sou forçado a admitir que, na publicação científica, o Dr. Manger não diz algo tal como “os golfinhos são tão idiotas que nem tentam fugir de suas prisões”, embora possa tê-lo dito (ou não) en passant ao jornalista.
O trabalho do Dr. Manger é extenso (48 folhas), contém diversos dados estatísticos bem fundamentados e traça correlações significativas entre tamanho do corpo e tamanho do cérebro entre diversos tipos de mamíferos (bem como das curvas evolutivas das espécies, obtidas a partir de fósseis). Eu não sou biólogo, nem estatístico, mas o artigo do Dr. Manger foi recebido pela Cambridge Philosophical Society em 05/10/2004 e só foi aceito em 26/01/2006, após cuidadosa revisão. O que me leva a crer que os dados são significativos e corretos. (Embora a frase, atribuída por Mark Twain a Benjamin Disraeli, me venha à cabeça: “Há três tipos de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísitcas”).
Um ponto que também me chamou a atenção é que o Dr. Manger se empenha em contradizer os trabalhos de P. L. Tyler (2000), J. C. Lilly (1962), B. Würsig (2002), S. Budiansky (1998), P. H. Forestell (2002), H. J. Jerison (1978)… e a lista é mais longa – estes são apenas os que ele cita na primeira página.
Bem, para resumir, a relação entre neurônios e glia pode ser siginifcativa, mas o nosso Dr. Manger, quando lhe convém, generaliza “cetáceos” (principalmente nas correlações tamanho do cérebro vs. tamanho do animal) e, somente quando os dados convém a sua hipótese, particulariza sobre esta ou aquela espécie de golfinho (notadamente quando se trata da necessidade de manter o cérebro aquecido durante o período de “sono” dos animais).
E nada como uma declaração bombástica a um jornalista, para atrair a atenção sobre um artigo que passou dois anos “na gaveta”…
Caio de Gaia tem razão: não se deve julgar o mérito de um trabalho científico apenas com base no sensacionalismo de um repórter. Mas a impressão que a notícia me deixou sobre a pessoa do Dr. Manger, apenas foi confirmada pelo artigo. Um “iconoclasta” à procura de notoriedade. E seu país natal apenas reforça minhas suspeitas.
Mas pode muito bem ser que eu esteja sendo preconceituoso…
Em todo caso, se eu tivesse pedido uma ilustração para o problema de comunicação entre os cientistas e o público desinformado, não teria uma melhor…
Atualizando em 24/08/06: minha amiga Veridiana Canas transcreve em seu Blog, uma reportagem, publicada na Revista “Veja” sobre recentes estudos sobre a linguagem dos golfinhos que, caso verídica, torna o caso do Dr. Manger mais perdido ainda. Quem quiser ler a transcrição, veja aqui.

Divulgação científica: o ponto de vista do “usuário final”


Este Blog não nasceu com a idéia de fazer “divulgação científica”, mesmo porque eu não sou um cientista. A idéia era apenas tornar pública minha indignação contra tudo que anda errado, todo o mundo sabe quais são as soluções, só que ninguém faz… O próprio nome do Blog traduz bem a minha quase desesperança, acumulada nesses quase 56 anos de vida.


Aproveitando minhas habilidades como tradutor técnico (adquiridas por auto-didatismo e necessidade de complementar o régio estipêndio que a nação me pagava – e ainda paga – para ser uma competente máquina de destruição), me dediquei, principalmente, a traduzir artigos publicados em periódicos do exterior sobre diversos temas. Como eu sou um frustrado por não ter seguido minha verdadeira vocação: professor, é apenas natural que a maior parte dos artigos contenha material de divulgação científica. Talvez a “pedra de toque” tenha sido a idéia de traduzir os Boletins Physics News Update da AIP, que apresentam as novidades no campo da física, e divulgar este fato pelos grupos de discussão sobre física no Orkut.
Mas meu enfoque sobre a ciência e a divulgação científica é aquele do (ávido) leitor sobre novidades das ciências. Eu gosto de brincar, chamando o Daniel de “meu professor particular de Física de Altas Energias”, porque não deixa de ser verdade. E tive a “cara-de-pau” de me inscrever no “Roda de Ciência” exatamente para representar os leigos, em meio aos cientistas.
Eu me considero um cara particularmente afortunado, porque minha educação formal é bastante… digamos “sofrível”. Mas minha curiosidade e prazer em aprender me fizeram ter o caradurismo de me dirigir a um dos principais colaboradores do site “Queremos Saber” da Universidade Federal do Ceará e manter uma correspondência pessoal para esclarecer minhas dúvidas, nascidas das imperfeições inerentes à “divulgação científica”. Por mera sorte, o Daniel é daqueles que, se não respondem direta e pacientemente às perguntas, lhe encaminha aos links onde você pode obter informações básicas sobre os assuntos. Uma coisa leva a outra e eu me tornei “sócio atleta” do Blog dele.
Mas chega de falar de mim e voltemos ao assunto: o papel da “divulgação científica”.
Eu compreendo a dificuldade de transmitir informações aos totalmente leigos (como eu) porque o leigo não tem condição de aquilatar da veracidade da informação que lhe é passada por um “doutor”. Recente exemplo disso foi a tradução que fiz de um artigo do The Times, e tive que encher a paciência da Maria Guimarães para que ela comentasse sobre certas passagens do artigo que me pareceram suspeitas.
Mas a única fonte de acesso que a maioria possui é exatamente esta: os “divulgadores”, cujo preparo é – para dizer o mínimo – duvidoso. Como pode o leigo discernir se o que está lendo (escrito com foros de autoridade) procede ou não? Nos grupos de discussão do Orkut, este apedeuta aqui é chamado de “professor” por diversas pessoas.
O que me leva a outra triste constatação: o sistema de ensino parece ser estruturado para fazer com que as pessoas percam a vontade de aprender. Fora os CDF (como eu), todos parecem ter a idéia de que “estudar é chato”. E a maioria deles têm razão. (Eu gostaria de que esse fosse um tema a abordar na Roda). Eu costumo dizer que, em matéria de botânica, de vez em quando, eu consigo distinguir um pinheiro de uma bananeira. Biologia, para mim, sempre foi um ramo extremamente árido e o pouco conhecimento que tenho do assunto que tenho, foi obtido para não me deixar impressionar pelos médicos com seu jargão (até hoje eu me divirto dizendo que “Rota-Virus de etiologia desconhecida” é a maneira do médico dizer “não faço a menor idéia do que possa ser, mas não vou confessar isso a você”).
Eu cresci lendo Isaac Asimov, Heinlein e Clarke. Além dos devaneios sobre “impérios galáticos”, me interessava o conhecimento do universo, de como esta geringonça funciona e – a eterna pergunta – “para que isso serve”? Mas é muito difícil encontrar boa “divulgação científica”. E um problema que pode até parecer menor (e que me perdoe Caio de Gaia) a maior parte dos bons livros sobre o assunto é traduzida em português de Portugal. Agora, experimente ler Hawking (que já escreve muito mal) em um idioma razoavelmente parecido com o seu para lhe confundir mais ainda as idéias, e veja o resultado. Sorte minha que, ao lidar com traduções técnicas, eu aprendi a reverter as traduções para o idioma original e compreender (ao menos em parte) o que o autor queria dizer. (para ser um bom tradutor, não só é imprescindível ter um total domínio sobre a língua original, como de sua própria).
O certo é que – aos trancos e barrancos – eu venho tendo um razoável sucesso nessas traduções (e – é claro – aproveito para expressar minhas próprias opiniões). Pelo menos, até agora, ninguém me corrigiu qualquer erro crasso. E tenho conseguido interessar pessoas sobre o andamento das questões científicas mais atuais.
Só a título de curiosidade: o artigo mais visitado em meu Blog (logo após os Physics News Updates) tem sido a tradução do “Crackpot Index” do John Baez…
Talvez o maior problema com a “divulgação científca” seja a de expressar em termos acessíveis aos leigos, coisas que têm, por trás de sua formulação, todo um arcabouço científico inacessível àqueles que não tem a formação de cientista.
Paciência… Talvez seja essa a virtude maior a ser cultivada por aqueles que optam por fazer “divulgação científica”. Paciência para ouvir asneiras e explicar aos asnos onde está a interpretação errada.
E fica por aqui.
Coloque seus comentários aqui.

Roda de Ciência


Esta á para quem gosta de ciência. Já está no ar o Blog “Roda de Ciência”, onde o pessoal que publica matérias – principalmente sobre ciências – vai colocar um tema em discussão. Os colaboradores vão postar “extratos” das matérias publicadas, em seus próprios Blogs, com um link para o artigo completo.
O sem-vergonha aqui pediu inscrição, no meio de todos os “pesos pesados”. Quem achar que é muita pretensão de minha parte, está com toda a razão.
O link já está aí na coluna lateral “meus favoritos”.
Atualização: 05/08/06 – E não é que aceitaram minha inscrição?… Pois é… Se você costumava ler minhas asneiras, agora pode compará-las com as opinões de quem realmente entende do assunto.

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