ANO DE DARWIN 2009 no Brasil
É com grande alegria que inicio essa nova fase do MARCO EVOLUTIVO aqui no Lablogatórios, sempre ensinando e dispersando ciências. E nada mais animado do que falar de comemorações. Sim as comemorações históricas na Biologia do ano 2009 serão, literalmente, um marco evolutivo não só para a Biologia, mas para a Ciência brasileira.
Aqueles que acompanham o blog acompanharam também os desdobramentos das movimentações para que o ano de 2009 fosse considerado o Ano da Biologia. Viram no Dia de Darwin que as comemorações estão espalhadas pelo mundo. Acompanharam quando alguns órgãos internacionais apoiaram a idéia brasileira, mas infelizmente a UNESCO já tinha planos estelares para 2009. Vimos também, no aniversário de 150 anos da Seleção Natural, o porquê grande parte das comemorações serão no ano que vem, menosprezando a importância de Wallace.
Agora veremos que o “Ano da Biologia” virou “Ano de Darwin” e que a movimentação brasileira está indo muito bem. A mudança começou quando houve uma reunião com representantes de diversas instituições e associações, realizada por iniciativa do professor Ildeu de Castro Moreira (UFRJ, MCT) no dia 15 de julho de 2008, durante a 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A idéia foi reunir esforços nacionais em torno das comemorações sobre as imensas contribuições de Charles Darwin. Dito e feito!
Essa reunião levou à formação de um Grupo de Trabalho, e uma das contribuições mais importantes para a organização nacional das comemorações evolutivas foi a criação do site para a divulgação de informações sobre o “Ano de Darwin” no Brasil e no mundo. Vale a pena acessar esse o site e divulga-lo não só para alunos de Biologia. Além disso no site você pode acompanhar todas as iniciativas (atualmente 11) já programadas de comemoração no Brasil.
E o Grupo de Trabalho estabelecerá contato com todas as instituições nacionais interessadas em desenvolver ações relativas ao “Ano de Darwin”, estimulando colaborações, divulgando as iniciativas planejadas, sugerindo atividades e atuando junto aos órgãos de fomento à pesquisa, à educação e à cultura, em todos os níveis, para obter o apoio necessário à concretização dessas ações.
Estão sendo programados: encontros científicos (Salvador, Manaus, Rio…); exposições sobre a evolução por seleção natural, Darwin, Wallace, Fritz Müller etc; publicação de livros de/sobre Darwin e Wallace; números especiais de revistas; reportagens em jornais e TVs; atividades nas escolas etc. Por falar nisso a exposição DARWIN já saiu de Brasília e está em Goiânia de 19 de agosto até 5 de outubro. Como sempre cheia de palestras paralelas interessantes: uma das palestras no Descobrindo a Árvore da Vida será sobre “Psicologia Evolucionista: a evolução da mente humana” ministrada por Dwain Santee da UCG no dia 20 /09.
Será importante criar um movimento intenso para que possamos fazer com que Darwin, “o Sol do séc XIX” possa bronzear com segurança e serenidade as pessoas aqui do século XXI, e que isso possa repercutir na discussão sobre o ensino deste tema na educação básica, superior formal e não-formal.
Crianças + Chocolate = Egoísmo ou Altruísmo?


Nossas predisposições cognitivas pró ou anti-sociais são manifestadas segundo características do contexto social em que nos encontramos. Conhecer as pessoas do seu meio social, confiar nelas, reencontrá-las de tempos em tempos são algumas das condições muito importantes para a evolução do altruísmo recíproco, ou seja, a cooperação com não parentes.

Segundo a professora Dra. Emilia Yamamoto, “tentamos entender como é a cooperação do ponto de vista evolutivo, ou seja, quais atitudes das crianças são dirigidas a um benefício comum, e quais revelam certo egoísmo.” E pra fazer isso é só criar um engenhoso jogo envolvendo chocolate em que colocava as crianças em posição de doar algum para que o benefício comum aumente ou não doar nada em prol apenas do benefício individual. Isso em grupos pequenos e grandes de crianças.
Eles encontraram que no grupo pequeno as atitudes pró-sociais foram mais comuns, pois a possibilidade de monitorar indiretamente o comportamento dos colegas era maior. Já no grupo grande as doações diminuíam bastante, segundo ela “revelando que o egoísmo prevalece quando o indivíduo não percebe um ambiente propício para a cooperação”. Entra em jogo então o raciocínio que acaba rapidamente com os recursos naturais: se é de todo mundo então não é de ninguém e se eu não aproveitar muito agora outros o farão já já.
É interessante lembrar que a superpopulação não é um problema só da China, mas sim do planeta Terra. E que as conseqüências prejudiciais da superpopulação não são só ambientais mais também anti-sociais. Os estudiosos da evolução do comportamento humano apontam que o tamanho da tribo humana ancestral girava em torno de 200 pessoas, algo muito longe do tamanho das cidades atuais.
Uma versão resumida escrita e em áudio do presente trabalho pode ser encontrada no novíssimo site de divulgação científica da UNESP: o Toque da Ciência, destinado à divulgação da produção científica brasileira por meio de uma linguagem simples e atraente, com periodicidade diária e contando com um acervo de mais de cem programas. Toque da Ciência têm formato de PODCAST disponibilizando áudios de um minuto e meio de duração, com o relato do processo de pesquisa pelo próprio pesquisador, aproximando público e cientista e tornando eficaz a comunicação e os fins da divulgação científica.
Um bom exemplo de altruísmo com o conhecimento científico e cooperação com a sociedade.
MARCO EVOLUTIVO na Europa

Apresentarei trabalhos em colaboração com José Henrique Ferreira e nossa orientadora Dra. Vera Bussab (1;2;3;4) tanto no XIX Bienal International Conference of the International Society for Human Ethology, que acontecerá na Bolonha, Itália, entre os dias 13 e 17 de julho, quanto no XXIX International Congress of Psychology, em Berlim, Alemanha, entre os dias 20 e 25 de julho.
Muitos outros pesquisadores brasileiros de diferentes estados, entre professores e alunos de pós-graduação, membros do Instituto do Milênio de Psicologia Evolucionista (CNPq) farão parte da participação brasileira apresentando pesquisas em Psicologia Experimental, Etologia Humana e Psicologia Evolucionista.
A International Conference of the International Society for Human Ethology acontece de dois em dois anos e abrange trabalhos de Etologia Humana e de Psicologia Evolucionista.



Agradeço apoio do CNPq, do IP-USP e do Instituto do Milênio de Psicologia Evolucionista.
Psicologia Evolucionista e Natureza Humana

Sugiro às pessoas que antes de despejarem seus “ismos” indignados: biologismo, determinismo, sexismo, naturalismo, reducionismo, fatalismo, conformismo entre outros, leiam o texto sobre se nós somos realmente dominados por nossos genes ou apenas por mal-entendidos. E descubram quantas noções preconceituosas sobre a natureza humana temos enraizadas.
Os livros estão mais voltados para resolver esses entendimentos equivocados são o O Que Nos Faz Humanos de Matt Ridley e o Tabula Rasa de Steven Pinker. Nesses livros uma coisa fica bem clara, que nossa velha noção sobre a natureza humana é uma das coisas que devemos desaprender e deixar muito dos preconceitos que impedem nosso entendimento sobre a Psicologia Evolucionista para trás.
E o programa “Coisas que nunca deviamos aprender” sobre Psicologia Evolucionista, em espanhol, que veremos abaixo, trata justamente da questão das novas noções sobre a natureza humana que estão desafiando concepções pautadas em entendimentos equivocados. Com a participação de Steven Pinker, ricamente ilustrado e com uma discussão final sobre as mudanças de paradigmas este programa tem três vídeos bem interessantes.
No primeiro vídeo veremos a discussão sobre nossa tendências agressivas e medos de cobra, sobre a antiga visão da tabula rasa, as inter-relações entre natureza e criação, as ligações com o projeto genoma e com a discussão das células tronco, veremos ainda que existe um grande preconceito frente as sociedade de caçadores coletores tribais, mas na verdade as habilidades mentais são as mesmas em todas culturas.
No segundo vídeo serão discutidas as diferenças entre homens e mulheres, seu desenvolvimento ontogenético, as influências mútuas entre cultura e circuitos cognitivos inatos, veremos que os seres humanos não têm menos se não mais instintos do que os outros animais, e como exemplo a linguagem, os tabus sexuais, ainda veremos as diferencias entre os sexos nas estratégias sexuais e o movimento hippie enquanto mais uma utopia sexual.
No último vídeo veremos o mal-entendido da suposta impossibilidade de mudança social, analisaremos a tabula rasa para perceber que diferença não é desigualdade, e na conversa final teremos a discussão sobre a revolução científica e as mudanças de paradigmas. E mudança é o que está acontecendo em todo o mundo quando se fala da natureza humana, pois como Hamilton disse em 1997 “a tabula da natureza humana nunca foi rasa e agora está sendo decifrada”.
150 anos da Seleção Natural!

Existem pelo menos três aniversários de 150 da Seleção Natural em 2008. Tem a descoberta independente da Seleção Natural por Wallace durante uma grande febre em fevereiro de 1858; tem o anúncio público da idéia conjunta na Sociedade Linneana em 1º de Julho de 1858; e tem a publicação dos artigos de Darwin e Wallace sobre a Seleção Natural em 20 de agosto de 1858. Estamos no meio dos aniversários.
Na noite de 1º de Julho de 1858, há 150 anos, ocorreu um evento que foi um dos maiores divisores de água da história do conhecimento. Os membros da Sociedade Linnean de Londres em Piccadilly ouviram dois fragmentos não publicados sobre a evolução, escritos pelo famoso naturalista Charles Darwin, e um artigo meticuloso escrito por um desconhecido, Alfred Russel Wallace. Nem Darwin nem Wallace estavam presentes. Darwin ficara em sua casa na Inglaterra em luto pela morte de um filho de febre escarlate e Wallace estava na distante Nova Guiné, caçando borboletas e besouros.
O texto com os artigos de Darwin e Wallace escrito no dia 30 de junho chama-se “On the Tendency of Species to form Varieties; and the Perpetuation of Varieties and Species by Natural Means of Selection” A comunicação para a Sociedade Linnean foi feita pelo botânico Joseph Hooker e pelo geólogo Sir Charles Lyell, ambos amigos de Darwin, que reuniram documentos de ambos mostrando que a descoberta da Seleção Natural foi feita independentemente por Darwin e Wallace.

Em todo caso, todos concordam que a idéia da Seleção Natural é tão poderosa que se assemelha a um ácido universal que corroi tudo o que toca. Todas as crenças cosmológicas que partiam de uma mente superior que cria toda a complexidade de cima pra baixo foi dissolvida pelo poder cego e não-intencional da Seleção Natural em criar a complexidade biológica de baixo pra cima.
E cego mesmo foi o presidente da Sociedade Linnean, Thomas Bell, que escreveu em seu relatório anual de 1858 que o ano “não foi marcado por qualquer daquelas descobertas que faz uma revolução instantânea no departamento de ciências no qual ocorre”.

A Voz Inconfundível do Período Fértil

Nossas vozes dizem muito sobre nozes, ou melhor nós. Mas apesar de falarmos muito, falamos pouco sobre nossas vozes. O que tem que ser dito é que cada vez mais é estudado as influências da seleção sexual sobre a voz humana, principalmente com relação ao período fértil.
Atualmente é crescente entre os pesquisadores do comportamento humano a opinião de que essa história de ovulação oculta está por fora! A ovulação na nossa espécie nunca foi oculta, pois a cada mês são encontradas pesquisas que apontam mudanças psicológicas relevantes e evolutivamente previsíveis relacionadas ao período fértil.

O sexo chimpanzé e o conflito de gerações
E nada mais interessante do que falarmos sobre o sexo dos nossos parentes mais próximos. As chimpanzés fêmeas não apresentam menopausa, ficando fértil por todos seus 40 anos médios de vida, ao contrário dos humanos. Então, será que os machos chimps apresentam a mesma preferência por fêmeas mais novas que homens apresentam? Foi exatamente essa questão que motivou uma pesquisa feita pelo antropólogo Martin Muller da Boston University. Ele observou a faixa etária das fêmeas mais abordadas para cópula num grupo de chimps no Kibale National Park em Uganda.
Ele obteve que, ao contrário dos homens, os chimpanzés machos preferem fêmeas mais velhas. Os machos competem intensamente pelas fêmeas mais velhas, enquanto as mais novas têm que se esforçar mais para atrair a atenção. Comparado com as mais novas as fêmeas mais velhas são mais abordadas, acasalam mais comumente no período do estro, copulam com maior freqüência com os machos dos altos postos da hierarquia e geram intensa disputa entre os machos na época de acasalamento.
Bom, vocês perceberam que existe hierarquia entre as fêmeas sendo as mais velhas as mais dominantes, e assim elas obtêm um acesso melhor a melhores alimentos. E uma fêmea bem nutrida apresenta maior fecundidade, ou seja, maior a probabilidade de darem à luz em qualquer ciclo fértil. Então seria de se esperar que as fêmeas mais novas desenvolvessem estratégias para contornar essa influência dominante das mais velhas e também se dar bem na reprodução (duplo sentido opcional).
E foi exatamente isso que o psicólogo Simon Townsend da University of St Andrews e colegas obtiveram em seus estudos sobre as eróticas vocalizações de cópula que as fêmeas emitem, quase como gemidos sexuais. A hipótese vigente dizia que essas sinalizações vocais das fêmeas funcionavam indicando sua fertilidade para os machos, incitando a competição de modo que quem copulava era o melhor macho, o que ganhou a competição. Mas eles não encontraram suporte para essa hipótese, pois não houve relação entre os chamados de cópula e o período fértil.
Ao invés disso eles obtiveram que as fêmeas gemiam mais quando copulavam com machos de dominância mais elevada, mas elas suprimiam as vocalizações quando fêmeas de maior dominância estavam por perto. Essa flexibilidade estratégica na emissão dos chamados de cópula acaba por prevenir a competição social, que muitas vezes é violenta, entre as fêmeas de diferentes idades.
As fêmeas chimpanzés parecem estar muito mais interessadas em fazer sexo com diferentes machos sem que as fêmeas dominantes descubram para não gerar confusão pra cima delas, do que gerar competição barulhenta entre os machos. Não esperávamos que o conflito de gerações entre as chimps fosse originar cópulas silenciosas e veladas.
Darwin na Capital: Exposição e Palestras



Os “Ricardões” da Evolução e da Seleção Sexual


Douglas Futuyma na UNICAMP


Esse ciclo de palestras evolutivas foi organizado pelo Seminários do Instituto de Biologia – uma iniciativa da Pós-Graduação em Ecologia com o apoio da Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular da Unicamp.
O tema das palestras é bem interessante e atual, vale a pena ir e prestigiar.
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3a. feira 27/5 (16h, Sala de Defesa de Tese, Prédio PG/IB): A Biologia Evolutiva, 150 anos após a publicação da “Origem das Espécies”. Um balanço geral do avanço e novos desafios desta área fundamental para a Biologia atual. Descubra mais detalhes sobre essa data tão importante pra Biologia em: 2009 o “ANO DA BIOLOGIA” e em 2009 Ano da Astronomia ou da Biologia?
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4a. feira 28/5 (16h, Auditório IB-02, IB): Evolução e o Ataque à Ciência. Futuyma foi importante no primeiro grande embate da ciência com os criacionistas americanos na década de 80 (escreveu um livro sobre isto, “Science on Trial”), e continua ativo nestes confrontos, como recente presidente do American Institute of Biological Sciences.
Para mais informações ou contatos com Douglas Futuyma:Thomas Lewinsohn (ramal 16333)Secretaria PG Ecologia / Célia (ramal 16381)