Duas notícias interessantes:


Publicadas na Seção de Ciência de “O Globo on line”. (Eu vou deixar os links, mas o site exige inscrição – por isso vou transcrever parte dos textos)
A primeira é Identificados genes determinantes para evolução humana, e começa assim:

Reuters
LONDRES. Eles podem ser os elos perdidos da nossa evolução, áreas do DNA humano que se alteraram dramaticamente depois da separação evolutiva em relação aos chimpanzés, mas que haviam permanecido praticamente inalterados durante os milênios anteriores. Cientistas dos Estados Unidos, da Bélgica e da França identificaram 49 “regiões humanas aceleradas” (HAR, na sigla em inglês) onde há grande atividade genética.
Na mais ativa delas, chamada HAR1, eles descobriram que 18 dos 118 nucleotídeos haviam mudado desde a separação dos humanos e dos chimpanzés, há cerca de 6 milhões de anos, enquanto apenas 2 nucleotídeos haviam se alterado durante os 310 milhões de anos transcorridos desde a separação das linhas evolutivas de chimpanzés e galinhas.
“Agora temos evidências muito sugestivas de que [esses genes] podem ter se envolvido em um passo critico no desenvolvimento cerebral, mas ainda precisamos provar que realmente fez diferença” – disse o chefe da equipe, David Haussler, do Instituto Médico Howard Hughes e da Universidade da Califómia (Santa Cruz).
Os outros participantes da equipe são ligados à Universidade de Bruxelas e à Universidade CIaude Bemard, da França.
“É muito excitante usar a evolução para olhar regiões do nosso genoma que não exploramos ainda”, disse Haussler. É extremamente improvàvel que a evolução de apenas uma região do genoma tenha feito a diferença entre o nosso cérebro e os cérebros de primatas não-humanos. É muito mais provável que seja uma série de muitlssimas pequenas mudanças, cada uma muito importante, mas nenhuma fazendo todo o trabalho por si só. [o artigo prossegue…]

A outra é Cientista contesta inteligênica dos golfinhos, que começa assim:

Reuters
JOANESBURGO – Tamanho não é documento. É O que sugere um artigo recém-publicado na revista “Biological Reviews of the Cambridge Philosophical Society”. Segundo o neurologista sul-africano Paul Manger, apesar de terem cérebros super-desenvolvidos, os golfinhos seriam tão intelectualmente capazes quanto ratos de laboratório. Ou até menos.
– “Coloque um animal qualquer dentro de uma caixa e a primeira coisa que ele fará será tentar escalar a parede para sair dali. Esqueça de tampar o aquário e o seu peixinbo dourado certamente pulará, na tentativa de expandir o ambiente em que vive (…) Um golfinho jamais fará isso. Repare. Nos parques aquáticos, as paredes dos tanques que separam este animais dos demais são baixas o suficiente para que eles pulem. Mas eles não o fazem” – aponta o cientista.
A explicação para este comportamento, segundo Manger, é simples. A idéia sequer passa pela mente pouco desenvolvida do animal.[o artigo prossegue]

Uma observação, mais adiante, diz: “O cérebro dos golfinhos é pobre em neurônios e rico em neuróglias, que são células e fibras do sistema nervoso central que sustentam e preenchem os espaços entre os neurônios e produzem calor. Ele não é feito para processar informações complexas, mas para combater as alterações térmicas a que o organismo do animal – um mamífero – é submetido a baixas temperaturas.”
Notem a diferença de tom das duas notícias. A primeira apresenta, em tom de esperança, uma descoberta que pode levar a uma melhor compreensão dos mistérios da evolução. A segunda, tem um tom sombrio de “viu só?… a gente tinha razão…”
A primeira, vale só como divulgação. Mas a segunda merece um comentário. Tinha que ser um cientista sul-africano… Eu fiz questão de transcrever a “explicação científica” (a coisa dos neurônios e neuróglias) que pode ter fundamento. Mas o raciocínio apresentado pelo eminente doutor, quanto à reação de luta-ou-fuga, é de uma cretinice apavorante. Qualquer imbecil sabe que os golfinhos são uma espécie que interage tranqüilamente com os humanos. Eles não se sentem ameaçados por nós! (Isso pode ser mesmo um indício de que não são inteligentes…) Aliás, qualquer espécie que não conheça o potencial destrutivo dos humanos interage assim (vide exemplos citados em “Montanha dos Gorilas” e “Caninos Brancos”). Será que ocorreu ao distinto cientista que os golfinhos podem ser tão inteligentes que percebem que não há futuro em “escalar as paredes da caixa”? Que eles sabem que não adianta pular para fora da piscina, sair rebolando pelos corredores e pegar um ônibus para a praia mais próxima?
Este tipo de raciocínio primário me lembra aquele – divulgado com certo estardalhaço pela “mídia” – de um médico (americano, se não me engano…) que, ao constatar que mulheres que engravidavam após os 40 anos, eram particularmente saudáveis, “deduziu” que “engravidar após os 40, fazia bem à saúde das mulheres”.
Para mim isto mostra que, não importa o quão competente você possa ser em um determinado ramo do conhecimento científico, você pode continuar sendo um imbecil. Muitas vezes, chi fá, non sá, não porque lhe faltem os conhecimentos, mas porque lhe falta o discernimento.
Atualizando (Obrigado pelo link Caio de Gaia!):
O antropólogo John Hawks também comenta esta notícia sobre os golfinhos. Eu destaco a seguinte parte:

Mas, então, eu pensei com meus botões: “Ora, não é que o cérebro de Einstein tinha um número de glia incomumente alto?” Sim, é certo, mas apenas em uma única área do córtex, o que foi atribuído a uma resposta a uma desusadamente alta demanda metabólica da atividade neurônica.
Alta demanda metabólica neurônica. Hmm… Bom, pensando que seus grandes cérebros só são úteis para suas vidas aquáticas, não haveria quaisquer golfinhos com cérebros pequenos, certo? O que funciona perfeitamente, exceto para golfinhos de rios…

Quem precisa de Bush?

Outra notícia do The Observer traz um exemplo a mais da infinita capacidade da estupidez humana em se superar.

Gays fogem do Iraque, fugindo dos esquadrões da morte xiítas
Indícios mostram um aumento no número de execuções, enquanto homossexuais pedem asilo na Grã-Bretanha
Jennifer Copestake
Domingo, 6 de agosto de 2006 The Observer

Grupos de insurgentes “linha-dura” no Iraque passaram a visar um novo tipo de vítima, com a total proteção da lei iraquiana [nota do tradutor: esta alegação é feita pela repórter. Eu suspeito que possa ser verdade, mas não tenho coragem de afirmar], The Observer pode revelar. O país está experimentando um súbito aumento de ataques brutais contra aqueles chamados de “imorais” – homens homossexuais e meninos, até de 11 anos, que tenham sido forçados à prostituição homossexual.
Existem indícios crescentes de que as milícias xiítas vêm matando homens suspeitos de serem gays e crianças que tenham sido vendidas a quadrilhas de criminosos para exploração sexual. Esta ameaça levou a um rápido aumento no número de homossexuais iraquianos que buscam asilo no Reino-Unido, porque se tornou impossível para eles viver em segurança em seu próprio país.
[Nota do tradutor: o artigo prossegue, mas eu parei para vomitar… quem quiser pode ler o original; o link está no título]

Isso é uma atitude típica do pior tipo de covarde: não têm cojones para enfrentar os Marines e vão descontar sua frustração nas pobres bichinhas… Quantas dessas bichas morreram em combate, enfrentando os invasores patrocinados pela ONU? A grande m**** com o Oriente Médio é exatamente isso: os americanos e seus “poodles” são uns atrabilhários criminosos, que só estão lá por causa do petróleo? Evidente que sim. Mas será que esses pústulas de radicais xiítas não mereciam coisa até pior?…
Meu consolo (eu sou religioso) é que Allah está de olho: esses cretinos não sabem o que os espera “do lado de lá”…

Esse filme eu já vi…

Notícia publicada no Le Monde:

Instalado o Governo de Coalizão Esquerda–Extrema Direita
O governo eslovaco de coalizão “vermelho-pardo” do Primeiro Ministro Robert Fico obteve, nesta sexta-feira 4 de agosto, um “voto de confiança” dos deputados, após uma maratona de debates de dois dias. Mesmo com a maioria já garantida, por causa da confortável maioria com um gabinete que reúne social-democratas, populistas e nacionalistas (85 assentos em 150), cerca de cinqüenta deputados eleitos pela oposição criticaram com virulência o programa de governo. [… a notícia prossegue com detalhes que não vêm ao caso… Se alguém se interessar, é só clicar no link do título]

Em um certo país lusófono da América do Sul, há quatro anos que uma “coalizão” desse tipo vem produzindo um governo pífio, com discurso esquerdista, política econômica de direita e um sem-número de escândalos de corrupção e “arreglos” para garantir uma suposta “governabilidade”. Será que vai funcionar na Eslováquia?
E algo pior acaba de me ocorrer: a última tentativa de unir populismo—direita–nacionalista em um país próximo da Eslováquia foi feita por um tal Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (mais conhecido pelo diminutivo “nazi”)… E a “República de Weimar” também era parlamentarista…
«Aqueles que não se lembram do passado, estão condenados a repetí-lo.» – Santayana
«O aforismo de Santayana deveria ser invertido: freqüentemente são aqueles que podem lembrar do passado que estão condenados a repetí-lo.» – Arthur M. Schlesinger, Jr.

H5N1 – A ameaça continua


Um novo artigo no Blog Effect Measure sobre a Gripe Aviária.

A ameaça da Gripe Aviária continua
Karo, Indonésia, está de volta às manchetes sobre a gripe aviária. Uma outra vila no distrito de Karo foi palco do maior foco da gripe aviária até hoje (oito casos, dos quais, sete fatais). A transmissão de pessoa a pessoa foi reconhecida, de má vontade, pela Organização Munidial de Saúde, embora as autoridades da saúde da Indonèsia ainda resistam a admití-lo. Agora é o local de mais sete casos suspeitos, inclusive ao menos um foco familiar.

« Se se trata de um novo foco, isto deve ser cientificamente comprovado», disse Runizar Ruesin, chefe do Centro de Informações sobre Gripe Aviária no Ministério da Saúde da Indonésia.
Ele disse que sete pessoas foram internadas no hospital local Kaban Jahe, sendo três enviados a um hospital estatal.
Os últimos três são crianças – dois irmãos de 10 e 6 anos, e seu vizinho de 18 meses. « Eu ainda estou esperando o resultado dos exames», disse Ruesin. (Reuters via Thanhnien News)

Há relatos de galinhas mortas na área, mas nenhum outro histórico de exposição foi dado. Os ministros da Saúde, Bem-estar Social e Agricultura viajaram até a área, mas foram recebidos por uma população hostil que arrancou as máscaras dos ministros e forçou-os a remover suas roupas de proteção. O planejado abate das aves do local teve que ser cancelado e foi necessário chamar o exército para restaurar a ordem. «Esta é a primeira vez em que ocorre uma rejeição ao abate das aves» foi a declaração atribuída ao Ministro da Saúde. Isto é uma mentira deslavada, uma vez que a resistência ao abate tem sido uma marca registrada da situação na Indonésia, desde o começo. Uma questão é a grande afeição dos indonésios a suas aves e outra, certamente, é de natureza econômica. O governo está pagando uma indenização muito pequena.
As três crianças foram hospitalizadas com sintomas de gripe, em condições estáveis. Elas agora estão no hospital da capital da província, após terem sido removidas do hospital da vila. Diz-se que uma das crianças está com pneumonia. Outras quatro pessoas da mesma área estão senfo igualmente removidas para o hospital provincial, mas nenhum detalhe desses casos está disponível. (Forbes)
Ainda estamos em agosto mas a temporada de gripe parece já ter começado [nota do tradutor: hemisfério Norte; lá é pleno verão] . O que ela vai trazer, ninguém sabe. A ameaça da gripe aviária está longe de ser descartada, a despeito dos bem divulgados comunicados à imprensa em contrário.
Addendum: A TV da África do Sul diz que seis destes casos foram descartados, com base em exames feitos pelo Governo da Indonésia e pelo Laboratório da Marinha Americana, NAMR2. Não existem informações sobre o sétimo caso. Uma outra possível morte foi relatada na Tailândia, portanto a gripe aviária continua impávida, a despeito das boas notícias provisórias vindas de Karo.

Soa meio paranóico, não é?… Mas essa cepa H5N1, quando pega, mata! Então, qualquer cuidado é pouco. Se essa praga vier a sofrer a mutação que lhe permita se tornar uma pandemia, coitadinho do mundo… Só para se ter uma noção, a Gripe Espanhola também começou como uma gripe aviária, passou para os porcos e, daí, para as pessoas. E havia muito menos pessoas, em cidades bem menores e sem o tráfego aéreo atual…

H5N1

O Daniel colocou no Blog dele (It’s Equal but It’s Different), hoje, um link para outro Blog (Effect Measure) especificamente para a matéria abaixo traduzida, sobre os estudos acerca da possibilidade de mutação do famoso vírus H5N1 (Gripe Aviária).
A matéria é cheia de links para outros sítios (todos em inglês) e eu recomendo a quem quer mais informações, que tente ler o original.

Nova Publicação sobre a transmissibilidade e recombinação no PNAS
A experiência de 1977, cujo resultado foi longamente aguardado, sobre a recombinação do virus H5N1 com uma cepa de vírus de gripe sazonal humana (H3N2), está sendo publicada, hoje, nos “Procedimentos da Academia Nacional de Ciências” – em inglês, Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS, conhecida coloquialmente entre os cientistas como “penis”). Eu não fui capaz de obter um .pdf desse artigo, portanto, tudo o que eu sei é o que está sendo divulgado pelas agências noticiosas como resultado de uma conferência de imprensa feita pelo Diretor do CDC, Gerberding, e a co-autora do estudo, Dra. Jacquiline Katz do CDC. É difícil saber a real importância desse trabalho, até ver a verdadeira publicação, mas aqui está a sinopse, tal como foi dada aos repórteres.
Uma das grandes preocupações com respeito à evolução da gripe aviária é que ela se recombine com uma cepa humana quando ela co-infectar uma célula em uma pessoa ou outro animal, tal como um porco, capaz de ser infectado tanto por virus humanos como aviários. O material genético do virus Influenza A não fica em uma única peça, mas dividido em oito segmentos, com os códigos de 11 proteínas. Cada um dos segmentos pode sofrer uma modificação genética (alterações herdáveis do material genético, chamadas “mutações”); ou que os segmentos de um virus possam ser embaralhados com o da outra, de forma a criar uma nova cepa com alguns segmentos de um e outros, do outro. Isso é chamado “recombinação”. Acredita-se que a recombinação seja o caminho pelo qual começaram as pandemias de 1957 e 1968, enquanto que o vírus de 1918 – acredita-se, agora – apareceu por moficiações de alguns segmentos que permitiram que o virus, que antes infectava aves, passasse a infectar pessoas.
Nós temos apenas uma nebulosa idéias das modificações genéticas necessárias para tornar um virus aviário em um virus pandêmico. Uma das possibilidades é uma recombinação com uma cepa humana que esteja em criculação. Usando uma técnica chamada “genética reversa”, que atualmente é usada para criar rapidamente as sementes para a rápida produção de vacinas, os pesquisadores do CDC recombinaram os segmentos do H5N1 e H3N2 para produzir novos virus com várias combinações. Eu calculo que haja 62 maneiras possíveis de produzir um novo H5N1 desta forma (isto é, mantendo os segmentos H5 e N1 e permutando as várias combinações dos outros seis segmentos, sem contar os dois originais). Não fica claro nas notícias quantas dessas combinações foram tentadas, ou se todas foram. A publicação deve ser interessante em revelar quais foram as combinações permitidas, ao menos para essas duas cepas de H5N1 e H3N2. Uma vez obtido um segmento de virus replicável, ele era testado em uma doninha (achadq um bom modelo para a gripe humana) para ver se ele se tornava mais facilmente trasnmissível. Uma notícia disse também que a capacidade de causar uma doença grave também foi investigada e deixava implícito que nenhuma das combinações foi capaz disso. Uma vez que o H5N1 não conseguiu causar dorenças graves, isso também implica que a virulência deste virus é moderada pelos recombinantes, mas, até ver a publicação, não sabemos o que se quiz dizer com isso.
Parece que a conferência de imprensa que anunciou os resultados foi relativamente livre de sensacionalismo, embora as reportagens tivessem muita bombasticidade induzida peas manchetes do que em seu conteúdo. Um exemplo de uma manchete mais ou menos precisa aparece na matéria de Randolph Schimd da AP: Flu Viruses Don’t Transmit Easily in Test (Virus da Gripe não se transmite facilmente durante os testes). Um exemplo de uma manchete ruim pode ser encontrada na chamada da reportagem de Amanda Gardern (HealthDay): Bird Flu Pandemic May Not Develop: Virus doesn’t show signs of mutating easily, U.S. government researchers now say (Pandemia de Gripe Aviária pode Não se Desenvolver: o Virus não mostra sinais de mutações fáceis, dizem agora os pesquisadores do governo dos EUA). A despeito da manchete terrivelmente enganosa, o artigo de Gardner está entre os melhores e mais completos. Ela não é responsável pelas manchetes e foi muito mal servida por esta.
Eu ainda tenho minhas dúvidas sobre se a publicação poderá sustentar todas as coisas que estão dizendo sobre ela, particularmente que esta experiência mostra que não é fácil mudar um virus de uma cepa não transmissível para uma que seja, e que o processo não seja simples, mas muito complicado. Marc Siegel (que parece ser uma das pessoas mais sensatas sobre o assunto de gripe aviária, nestes dias) é novamente mencionado como tendo dito que seriam necessárias múltiplas mutações para que isto aconcesse, portanto uma pandemia não é iminente. Isto pode ser verdade. Mas pode não ser e esta experiência não lança muita luz sobre esta questão. Pode-se afirmar, plausivelmente, que ela mostra que um tal resultado não é um resultado freqüente da recombinação com um subtipo de gripe humana, e essa informação é um conhecimento váildo. E, embora não diga que algum recombinante não testadp, até agora, não possa fazê-lo, ao menos diz que isso não acontece freqüentemente, nem de várias maneiras. Já que sabemos que a recombinação é muito mais freqüente do que pensávamos antes, isto é um ponto importante.
Por outro lado, sem sabermos os fatores que tornam um virus facilmente transmissível, a experiência não nos autoriza a dizer que isso seja difícil ou complicado. Este virus é capaz de realizar supreendentes “truques de mágica”, e os “truques de mágica” sempre parecem impossíveis, até que se aprende como são feitos. Aí, eles parecem simples. Até que tenhamos um quadro mais nítido de como o virus faz suas várias “mágicas”, nós não sabemos se são simples ou complicadas, fáceis ou difíceis, prováveis ou improváveis. Portanto, isto é um passo à frente, mas um passo pequeno em termos da distância que temos que percorrer.
Adendo: alguém me enviou um .pdf do artigo que eu vou tentar ler amanhã e atualizar se houver qualquer outra coisa interessante a relatar.

Enquanto eu passei o dia inteiro tentando traduzir o artigo acima (enquanto as mais variadas interrupções me assolavam…), o Daniel já postou um link para o artigo
Lack of transmission of H5N1 avian-human reassortant influenza viruses in a ferret model
, onde há um link para baixar a versão original do artigo em formato pdf (deixo isso para os biólgos, mádicos e outros interessados).
Ataulizando em 3 de agosto de 2006: Em um novo artigo, de ontem, no Blog Effect Measure, o Revere comenta que o artigo do PNAS ainda deixa muitas dúvidas. Eu destaco o seguinte trecho:

Existem diversas maneiras pelas quais as proteínas de sueprfície e internas podem ser produzidas pelo embaralhamento. Se olharmos apenas para a metade pertencente ao H5N1 e nos perguntarmos quantas combinações de proteínas internas, parte aviárias, parte humanas, podem ser obtidas pela recombinação das proteínas internas, a resposta parece ser 63. Sobram seis segmentos, depois que nós misturamos H5 e H1 e 64 maneiras de obter combinações desses dois virus com essas seis peças, uma daas quais é o H5N1 original, o que deixa ainda 63 outras combinações. O documento não nos diz, realmente, quantas combinações foram experimentadas. Os dados na Tabela 2 dão resultados para apenas quatro delas e menciona uma quinta, dando a entender que aoutras combinações foram também testadas, mas não realatadas. Seja qual for o número, provavelmente é apenas uma pequena fração das possibilidades, somente para as cepas desses dois subtipos. Se fizermos isso com outras cepas de H3N2 ou H5N1 e outros subtipos humanos (tais como H2N2 ou H1N1), poderemos obter resultados diferentes.

E encerra com a seguinte afirmação:

Ainda estamos fazendo adivinhações sobre este virus

Hoje (03 de agosto), ele publicou um novo artigo sobre a Gripe Aviária, que eu pretendo traduzir, mais tarde.

Estão procurando chifre em cabeça de cavalo…

Outra notícia do Jornal da Ciência, me deixou preocupado… Negros são apenas 33% na escola privada.
“Apenas??? Considerando que os negros foram trazidos à força para o Brasil, como escravos, e, após a “Abolição”, nunca houve qualquer política de integração dos negros libertos à sociedade (com o racismo extra-oficial e mal disfarçado que predomina na sociedade), um terço dos estudantes de escolas privadas se declararem negros ou pardos é um fato digno de comemorações efusivas (a notícia dá conta de que cerca de 20% dos pesquisados se recusou a preencher o campo referente à cor no questionário).
Se alguma coisa essa pesquisa mostra – sem sombra de dúvida – é o emporbrecimento geral da classe média e que os negros e mestiços (“afro-descendente” é a PQP!… O falecido humorista Leon Eliachar (que era Caucasiano) se auto-denominava “Cairoca”, porque tinha nascido no Cairo – e, que me conste, o Egito fica na África) estão, apesar de todo o racismo, ascendendo por seus próprios méritos na escala social.
Surpreendente? Nem um pouco… Eu mesmo cunhei o bordão: “Para três coisas não há substituto: dinheiro, juventude e competência”. A “competência” é a chave da coisa.
O que me preocupa é esta recente “preocupação” com os negros (“consciência pesada”, em dúvida…) e com iniciativas assistencialistas popularescas (Sim! eu estou falando do sistema de quotas nas Universidades!) que – para variar, só um pouco… – não são dirigidas ao verdadeiro problema: a falência dos Serviços Públicos, e tentam ludibriar o povão com paliativos discriminatórios.
Não se deve tratar de “negros”, “pardos”, “silvícolas”, etc. Se deve tratar de brasileiros pobres, tenham eles o grau de melanina que tiverem. O resto, é demagogia barata!

Um novo nível de código genético

Notícia publicada no New York Times.

Cientistas Dizem Ter Encontrado um Código Além do Genético no DNA
Figura: (Loren Williams/Chemistry and Biochemistry, Georgia Institute of Technology). Em uma célula viva, a dupla hélice do DNA se dobra em torno de um nucleossoma (no meio, em verde) e se liga a algumas de suas proteínas, conhecidas como histonas.
O código genético especifica todas as proteínas que uma célula faz. O segundo código, superposto ao primeiro, estabelece o posicionamento dos nucleossomas, carretéis proteínicos miniaturizados, em torno dos quais o DNA é enrolado. Os carretéis tanto protegem como controlam o acesso ao próprio DNA.
Esta descoberta, caso confirmada, pode abrir novas perspectivas na mais alta ordem de controle dos genes, tal como o crítico, porém ainda misterioso, processo pelo qual cada tipo de célula humana é permitida a ativar os genes que precisa, mas não pode ter acesso aos genes usados por outro tipo de células.
O novo código é descrito na corrente edição da Nature por Eran Segal do Instituto Weizmann (Israel) e Jonathan Widom da Northwestern University do Illinois e seus colegas. Existem cerca de 30 milhões de nucleossomas em cada célula humana. São necessários tantos deles porque a cadeia de DNA se enrosca em cada um somente 1,65 vezes, em uma trança que contém 147 de suas unidades, e a molécula de DNA, em um único cromossoma pode ter até 225 milhões de unidades de comprimento.
Os biólogos suspeitaram, por anos a fio, que algumas posições do DNA, notavelmente aquelas onde ele se dobrava com mais facilidade, poderiam ser mais favoráveis a nucleossomas do que outras, mas não havia um padrão aparente. Os Doutores Segal e Widom analisaram a seqüência em cerca de 200 lugares no DNA do genoma do levedo, onde os nucleossomas sabidamente se uniam, e descobriram que, com efeito, existe um padrão oculto. Conhecendo o padrão, eles foram capazes de predizr a localização de cerca de 50% dos nucleossomas em outros organismos. O padrão é uma combinação de seqüências que torna mais fácil para o DNA se dobrar e se enrolar apertadamente em torno de um nucleossoma. Mas o padrão necessita da presença de apenas algumas das seqüências em cada ponto de união de nucleossomas, de forma que não é óbvio.
O grau de liberdade desses requisitos é, presumivelmente, a razão pela qual ele não entra em conflito com o código genético, que também tem um pouco de redundância ou espaço de variação em sua composição. Ter uma seqüência de unidades no DNA que determinam a localização dos nucleossomas, explicaria uma característica intrigante dos fatores de transcrição, as proteínas que ativam os genes. Os fatores de transcrição reconhecem curtas seqüências de DNA, com cerca de seis a oito unidades de comprimento, que jazem bem em frente ao gene a ser transcirto.
Mas essas curtas seqüências ocorrem tão freqüentemente no DNA que os fatores de transcrição, parecia, deveriam se ligar freqüentemente aos errados. O Dr. Segal, um biólogo computacional, acredita que, de fato, as posições erradas são inacessíveis porque elas ficam na parte do DNA enrolada no nucleossoma. Os fatores de transcrição só podem “ver” as partes do DNA “nú” que ficam entre os nucleossomas.
Os nucleossomas freqüentemente se movimentam, deixando o DNA flutuar livremente quando um gene deve ser transferido. Dado este constante fluxo, o Dr. Segal disse que estava surpreso que pudesse prever tantos como a metade das posições preferenciais para os nucleossomas,
Mas, tendo quebrado o código, «Acreditamos que, pela primeira vez, temos um controle quantitativo real» para a exploração de como os nucleossomas e outras proteínas interagem para controlar o DNA», disse ele. Os outros 50% das posições podem ser determinadas pela competição entre os nucleossomas e outras proteínas, sugere o Dr. Segal. Muitos experts disseram que o novo resultado é plausível porque ele generaliza a antiga idéia de que o DNA é mais encurvável em certas seqüências, que deveriam, assim, favorecer o posicionamento dos nucleossomas.
«Eu penso que é realmente interessante», disse Bradley Bernstein, um boólogo do Massachusetts General Hospital. Jerry Workman do Instituto Stowers Institute em Kansas City disse que a detecção do código dos nucleossomas era «uma visão profunda, caso verdadeira», porque ajudaria a explicar muitos aspectos de como o DNA é controlado.
Os nucleossomas são feitos de proteínas conhecidas com histonas, que são das mais conservadas pela evolução, o que quer dizer que elas mudam muito pouco de uma espécie para outra. Uma histonade uma ervilha e a de uma vaca diferem em apens duas de suas 102 unidades de amno ácidos. Essa conservação é usualmente atribuída à necessidade do perfeito encaixe entre as histonas e o DNA enrolado em torno delas. Mas outra razão, sugere o Dr. Segal, poderia ser que qualquer mudança iria interferir com a capacidade dos nucleossomas encontrarem suas posições designadas no DNA.
No código genético, conjuntos de três unidades de DNA especificam várias espécies de ammino ácidos, as unidades das proteínas. Uma característica curiosa desse código é que ele é redundante, o que significa que un determinado amino ácido pode ser definido por qualquer um de vários tripletos diferentes. Os biólogos têm especulado longamente que a redundância tenha sido projetada para coexistir com outro tipo de código, e este, diz o Dr. Segal, pode ser o código dos nucleossomas.

Uma idéia fascinante! Imaginem o que a obtenção do controle sobre esse suposto código de nucleossomas pode faciltar na cura de doenças geneticamente transmissíveis. Ou em termos de imunologia. E até das neoplasias…
Como dizia o falecido Robert Anson Heilein: “a era dos milagres ainda nem começou…”

Nova ameaça ao meio ambiente: falta de insetos


Artigo publicado no “Le Monde” (on line), dá conta de uma nova ameaça ao meio ambiente: a extinção dos insetos polinizadores. Reparem bem na frase final do artigo.

O número e a variedade dos insetos polinizadores diminui na Europa de maneira importante
LE MONDE | 22.07.06 | 15h06 • Atualizado em 22.07.06 | 15h06
Os insetos polinizadores são indispensáveis à reprodução de plantas com flores que geram sementes, o que representa 80% do reino vegetal terrestre: voando de flor em flor para recolher o pólen (o elemento fecundante masculino), eles o transportam até o estigma de de uma flor fêmea, permitindo a fecundação. Ora, após alguns anos, os cientistas pensam que este serviço gratúito, oferecido pela natureza por 140 milhões de anos, está ameaçado pela baixa na biodiversidade.
Uma pesquisa realizada por Jacobus Biesmeijer e William Kunin (Universidade de Leeds, no Reino Unido) e uma equipe de pesquisadores britânicos, alemães e holandeses confirma, na revista Science de 21 de julho, que a ameaça é séria. Ao estudar diferentes zonas na Grã-Bretanha e nos Países Baixos, os cientistas constataram que as abelhas selvagens pagaram o tributo mais pesado, com uma baixa de 52% de sua diversidade, no primeiro caso, e de 67% no segundo, em comparação com a situação antecedente aos anos 1980. Em contrapartida, a situação é menos catastrófica para as moscas polinizadoras, cuja população diminuiu em 33% na Grã-Bretanha, mas aumentou em 25% nos Países Baixos.
Os pesquisadores também viram qual era a influência dessa situação sobre as plantas visitadas pelos insetos. Dessa forma, constataram que, na Grã-Bretanha, 75 plantas selvagens que precisam ser polinizadas por insetos, viram sua distribuição diminuir, ao passo que 30 outras, polinizadas pelo vento ou pela água, ao contrário, expandiram sua presença. Nos Países Baixos, somente as plantas polinizadas pelas abelhas selvagens foram reduzidas. Jacobus Biesmeijer e William Kunin, suspeitam, então, que exista uma ligação de causa e efeito entre o declínio dos insetos polinizadores e das plantas polinizadas, sem poder precisar qual é o elemento motor dessa situação: a evolução das práticas de cultura agrícola, a utilização de produtos químicos na agricultura ou a modificação climática? Eles estão inquietos porque «seja qual for a causa constatada, o estudo sugere enfaticamente que o declínio de algumas espécies pode deslanchar uma cascata de extinções localizadas entre outras espécies associadas».
Para Guy Rodet, entomologista no Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola (Institut national de la recherche agricole = INRA) de Avignon (Departamento de Saúde das Plantas e Ambiente), este artigo é importante porque «é o primeiro a por em evidência, cientificamente, o declínio dos insetos polinizadores. E o faz com um grande número de dados e sobre uma longa escala de tempo». Os autores do artigo da Science, com efeito, trabalharam sobre um milhão de registros, feitos no passado por naturalistas, dos quais alguns remontam ao tempo da Rainha Vitória. Aplicando técnicas destinadas a tornar esses dados comparáveis entre si, os pesquisadores dividiram os Países Baixos e a Grã-Bretanha em quadrículas de 10 km de lado e compararam a diversidade dos insetos polinizadores antes e depois de 1980. Esta data foi estabelecida porque ocorreram grandes modificações na agricultura durante este período.
Este estudo foi realizado dentro do quadro do programa europeu Alarm, destinado a avaliar os riscos nos quais incorrem as biodiversidades terrestre e aquática. Uma pesquisa similar foi realizada na França, pela equipe de pesquisa sobre polinização entomófila do INRA-Avignon, liderada por Bernard Vaissière e que tinha como objetivo avaliar o declínio dos polinizadores, sobre um período de tempo muito curto. Dez localizações foram escolhidas na França, na Alemanha, na Polônia, na Suécia e no Reino Unido.
A baixa na diversidade dos insetos polinizadores pode ter diversos efeitos. Ela pode se traduzir, desde já, em «uma mudança na paisagem», como explica Guy Rodet, «porque há um risco de ver desaparecer diferentes espécies de plantas». Mais grave ainda, «nós podemos ter dificuldades em produzir frutas e legumes, se bem que se pode, em certos casos, usar insetos produzidos em criadouros», afirma Guy Rodet. «Mas para grandes superfícies cultivadas, como nos Estados Unidos, isto corre o risco de ficar muito caro».
Christiane Galus
Artigo publicado na edição de 23.07.06

Repararam na última linha? (NÃO? Pombas!… Eu avisei lá em cima!…) Quando falam em «grandes superfícies cultivadas», eu fiquei logo pensando no “avanço da fronteira agrícola brasileira” pelo cerrado adentro (isso, sem falar nas regiões desmatadas da Amazônia…)

Novo Mar na África?


Notícia publicada no site da BBC em português:

20 de julho, 2006 – 14h57 GMT (11h57 Brasília)
Helen Briggs
Novo oceano pode estar se formando na África
A maior fenda da crosta terrestre vista em décadas, ou talvez em séculos, pode ser o início de um novo oceano, de acordo com dados recolhidos por satélite.
Geologistas dizem que a fenda de 60 km, aberta no ano passado, pode chegar a atingir o Mar Vermelho, isolando grande parte da Etiópia e Eritréia do resto da África.

A fenda chega a 8m de largura em certos pontos

Ela foi aberta por um terremoto em setembro e, segundo observações de cientistas publicadas na revista Nature, estaria crescendo com uma velocidade sem precedentes.
A fenda reflete movimentos subterrâneos, onde algumas das placas tectônicas que formam a África estão se distanciando gradualmente da placa Arábica, obrigando a crosta a se abrir.
À medida em que a fenda cresce, rochas derretidas são empurradas para a superfície, se solidificando e formando o piso de um eventual novo oceano.
Os cientistas calcularam que 2.5 km cúbicos de lava afloraram da fenda aberta na crostra terrestre, volume suficiente para encher um estádio de futebol de grande porte pelo menos duas mil vezes.
Tim Wright, da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, diz que, se o movimento continuar, a região conhecida como o Chifre da África vai se separar do resto do continente em cerca de um milhão de anos.
Ele afirma que, neste caso, a fenda “vai alcançar o Mar Vermelho e o oceano vai jorrar por ela”.
Primeira vez
Wright integra uma equipe da Grã-Bretanha e Etiópia que vem monitorando a criação da nova bacia oceânica, um evento raro em terra firme.

Uma equipe internacional está monitorando os eventos

Eles utilizam instrumentos sísmicos de ponta, medidores de campo e imagens de satélite da Agência Espacial Européia, Envisat, para a pesquisa.
“Obtivemos um mapa bastante preciso”, diz ele.
“É a maior fenda que se abre desde os anos 1970 e, talvez, em centenas de anos.”
“Esta é a primeira vez que podemos usar imagens de satélite para investigar o processo fundamental no momento em que ele acontece.”
Os movimentos nas placas terrestres vêm acontecendo gradualmente nos últimos dois milhões de anos, mas de tempos em tempos, terremotos e erupções vulcânicas causam rupturas repentinas.



Imagem obtida na WikiPedia.
A notícia para por aí, mas este fenômeno parece ser um agravamento da conhecida Falha da África Oriental (onde, por mera coincidência, foram encontrados, na Garganta de Olduvai, os fósseis humanos mais antigos).
A falha em questão parece ser aquela marcada pela linha pontilhada mais à direita (junto à inscrição “Gulf of Aden”).

Os olhos da cara

O Daniel Doro Ferrante publicou no Blog dele, It’s Equal but it’s different um link para um artigo no Boletim Eurekalert, da Associação Americana para o Progresso da Ciência. Como eu não consigo me conter, lá vai a tradução:
Cientistas descobrem porque a córnea é transparente e livre de vasos sanguíneos, permitindo a visão
Os resultados são promissores para o tratamento de doenças dos olhos e do câncer
Boston, MA – Cientistas do Instituto Schepens de Pesquisa dos Olhos e da Enfermaria de Olhos e Ouvidos de Massachussets (MEEI), do Departamento de Oftalmologia de Harvard são os primeiros a aprender por que a córnea, a clara janela do olho, é livre de vasos sanguíneos – um fenômeno único que torna a visão possível. A chave, dizem os pesquisadores, é a inesperada presença de grandes quantidades da proteína VEGFR-3 (vascular endothelial growth factor receptor-3) no topo da camada epitelial das córneas normalmente saudáveis. De acordo com as descobertas, a VEGFR-3 para a angiogênese (crescimento dos vasos sanguíneos), atuando como um “ralo” para juntar ou neutralizar os fatores de crescimento enviados pelo corpo para estimular o crescimento dos vasos sanguíneos. A córnea era, há muito tempo, conhecida por não ter vasos sanguíneos, mas os motivos exatos para isso permaneciam desconhecidos.
Estes resultados, publicados na edição de 25 de julho de 2006 em “Proceedings of the National Academy of Sciences” e em edição online em 17 de julho, não só resolvem um profundo mistério científico, como também traz grandes promessas para a prevenção e cura de doenças dos olhos e males como o câncer, nos quais os vasos sanguíneos crescem de maneira anormal e incontrolável, uma vez que esse fenômeno, presente normalmente na córnea, pode ter emprego terapêutico em outros tecidos.
«Esta é uma descoberta muito significativa» dir o Dr. Reza Dana, Cientista Sênior do Instituto Schepens de Pesquisa dos Olhos, chefe do Serviço de Córneas da Enfermaria de Olhos e Ouvidos de Massachussets e Professor Associado da Escola de Medicina de Harvard, também autor sênior e principal investigador do estudo. «Uma córnea clara é essencial para a visão. Sem a capacidade de manter uma córnea sem vasos sanguíneos, nossa visão seria significativamente prejudicada», diz ele, acrescentando que córneas claras e sem vascularização são vitais para qualquer animal que precise de um alto grau de acuidade visual para sobreviver.
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A córnea, um dos poucos tecidos do corpo que se mantêm ativamente desvascularizados (o outro é a cartilagem), é o fino tecido transparente que cobre a frente do olho. É a clareza da córnea que permite que a luz passe para a retina e, dela, para o cérebro, para interpretação. Quando a córnea é embaçada por ferimentos, infecção ou crescimento anormal de vasos sanguíneos, a visão é seriamente prejudicada, se não for destruída.
Os cientistas têm lutado com o mistério da “claridade” por muitas décadas. E, embora alguns estudos anteriores tenham dado pequenas pistas, nenhum apontou um mecanismo principal, até o presente estudo.
Na maior parte dos tecidos do corpo, o crescimento dos vasos sanguíneos ou angiogênese, ocorre em resposta a uma necessidade pelo aumento do fluxo de sangue para curar uma área ferida ou infeccionada. O sistema imunológico envia para lá fatores de crescimento, tais como o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) para se ligar a uma proteína receptora, chamada VEGFR-2, nos vasos sanguíneos, para ativar o crescimento dos vasos. Três tipos de VEGF
– A, C e D – se ligam a este receptor. Dois deles – C e D – também se ligam com a VEGFR-3, que é usualmente encontrada nas células que revestem os vasos linfáticos, para estimular o crescimento dos vasos linfáticos.

A equipe de Dana começou a suspeitar do envolvimento da VEGFR-3 no impedimento do crescimento dos vasos sanguíneos nas córneas, quando perceberam inesperadamente que grandes quantidades da proteína pareciam existir naturalmente no epitélio corneal sadio, um local anteriormente desconhecido para este receptor. Dana e sua equipe já tinham conhecimento, a partir da experiência clínica, que o epitélio provavelmente tinha um papel na supressão do crescimento de vasos sanguíneos, tendo testemunhado o crescimento de vasos sanguíneos em córneas despidas de suas camadas epiteliais.
Eles começaram a aventar a teoria de que grandes quantidades de VEGFR-3, nesta nova e não-vascularizada localização, poderia estar atraíndo e absorvendo todos os fatores de crescimento VEGF C e D, impedindo-os, assim, de se ligarem com o VEGFR-2. E, porque essa ligação ocorria em um ambiente não-vascularizado, os fatores de crescimento eram neutrlizados.
Para verificar sua teoria, a equipe conduziu uma série de experiências.
Usando tecido corneal de ratos, a equipe fez o seguinte.
Eles realizaram análises químicas que demonstraram que a VEGFR-3 e o gene a ela associado, estavam realmente presentes no epitélio corneal. A seguir, em duas experiências separadas, eles compararam córneas com e sem camadas epiteliais que estavam feridas. Eles descobriram que somente as córneas sem a camada epitelial desenvolviam vasos sanguíneos, o que implicava no papel do epitélio na supressão do crescimento dos vasos sanguíneos. Para demonstrar ainda mais sua teoria, eles adicionarm um substituto da VEGFR-3 em córneas despidas de suas camadas epiteliais e descobriram que o crescimento dos vasos continuava suprimido, substituindo o papel anti-angiogênico normal do epitélio. Finalmente, eles expuseram córneas intáctas a um agente bloqueador da VEGFR-3 e descobriram que os vasos sanguíneos começaram a crescer, demonstrando formalmente que o epitélio corneal é a chave para a supressão de vasos sanguíneos e que o mecanismo chave é a presença da VEGFR-3.
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«Os resultados desta série de testes confirmou nossa crença de que a presença da VEGFR-3 é o principal fator na prevenção da formação de vasos sanguíneos na córnea», diz Dana, que diz que a descoberta terá um impacto de longo alcance no desenvolvimento de novas terapias para os olhos e outras doenças.
«Drogas projetadas para manipular os níveis desta proteína podriam curar córneas que sofreram severos traumatismos ou auxiliar a encolher tumores alimentados por vasos sanguíneos de crescimento rápido e anormal», diz ele. «De fato, o próximo passo de nosso trabalho é exatamente este».
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Outros autores do estudo incluem: Claus Cursiefen¹ ², Lu Chen¹, Magali Saint-Geniez¹, Pedram Hamrah¹, Yiping Jin¹, Saadia Rashid¹, Bronislaw Pytowky³, Kris Persaud³, Yan Wu³, J. Wayne Streilein¹†, Raza Dana¹.
¹ – Intituto Schepens para Pesquisa de Olhos e a Enfermaria de Olhos e Ouvidos de Massachussets, do Departamento de Oftalmologia, Escola de Medicina de Harvard, Boston, Massachuessets, EUA;
² – Departamento de Oftalmologia, Universidade Friederich-Alexander de Erlanger-Nuremberg, Erlangen, Alemanha;
³ – ImClone Systems, Inc., Nova York;
†Dr. J. Wayne Streilein, falecido em 15 de março de 2004.
Acerca da Enfermaria de Olhos e Ouvidos de Massachussets: é um hospital especializado independente e um centro internacional para tratamento e pesquisa, bem como um hospital-escola da Escola de Medicina de Harvard.
O Instituto Schepens para Pesquisa sobre Olhos é afiliado à Escola de Medicina de Harvard e é o maior instituto independente de pesquisa sobre olhos no mundo.

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