Diversidade dos peixes = sobrevivência dos corais?…

(Essa é meio que uma homenagem à Lucia Malla…) Via EurekAlert:
Georgia Institute of Technology Research News

Diversidade de peixes herbívoros pode ser a chave para a recuperação dos recifes de coral

Experiência no Caribe mostra um crescimento



Um mergulhador nada em direção ao laboratório submarino Aquarius no Centro Nacional de Pesquisas Submarinas na Flórida.
Crédito: National Undersea Research Center, University of North Carolina at Wilmington.
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Para os ameaçados recifes de coral, nem todos os peixes herbívoros são criados iguais.

Um relatório a ser publicado nesta semana na edição do periódico Proceedings of the National Academy of Sciences sugere que a manutenção de um equilíbrio adequado entre os peixes herbívoros pode ser um ponto crítico para a restauração dos recifes de coral, que estão desaparecendo dramaticamente pelo mundo todo. A conclusão é resultante de um estudo de longo prazo que encontrou uma significativa recuperação em seções de recifes de coral onde peixes de duas espécies complementares ficaram enjaulados.

Os recifes de coral dependem dos peixes que comem as algas com quem os corais competem e, sem que haja essa limpeza, os recifes desaparecem na medida em que os corais são substituídos pelas algas. Peixes diferentes comem diferentes tipos de algas por causa das diferentes propriedades químicas e físicas das ditas algas.

“Das várias espécies diferentes de peixes que fazem parte do ecossistema de um recife de coral, pode haver um pequeno número de espécies que sejam realmente críticas para impedir que as macroalgas se alastrem e matem os corais”, explica Mark Hay, o Professor Harry and Linda Teasley de Biologia no Instituto de Tecnologia da Geórgia. “Nosso estudo mostra que, além de ter um número suficiente de herbívoros, os ecossistemas dos corais precisam também da mistura certa de espécies para suplantar as diferentes táticas defensivas das algas”.

Sabendo quais as espécies de peixe são as mais críticas para manter a saúde do coral, os gerentes dos recursos podem se focalizar em proteger e ampliar as espécies com o maior impacto. Em situações onde a população local depende da pesca, ela pode fazer mais pela manutenção dos recifes, dos quais ela depende, pescando apenas as espécies menos críticas.

“Isso pode oferecer um novo modo de agir para os gerentes de recursos”, acrescenta Hay. “Se os ecossistemas forem devidamente geridos para manter as misturas críticas das espécies herbívoras, poderemos ver uma recuperação mais rápida dos recifes”.



A mergulhadora Anne Prusak trabalha em uma jaula usada para conter peixes no topo de um recife de coral para o estudo do papel da diversidade entre os peixes herbívoros.
Foto: Deron Burkepile.
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Esta pesquisa que se acredita ser o primeiro estudo a demonstrar a importância da diversidade de herbívoros na melhoria das condições de recuperação dos recifes de coral, foi conduzida pelo Centro Nacional de Pesquisas Submarinas em Key Largo, Florida. Ela recebeu apoio da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), da Fundação Nacional de Ciências e do Fundo Teasley na Geórgia Tech.

Trabalhando a uma profundidade de 60 pés (quase 20m), próximos do laboratório submarino Aquarius, Hay e o co-autor Deron E. Burkpile — que atualmente está na Florida International University em North Miami — construíram 32 jaulas em um recife de coral. Cada jaula era um paralelepípedo de dois metros quadrados de superfície por um de altura e era vedado para que os peixes maiores não pudessem nem entrar, nem sair.

O  número e tipos de peixes colocados em cada jaula de quatro metros quadrados variava. Algumas jaulas tinham dois peixes que eram capazes de comer as algas duras e calcificadas; outras tinham dois peixes capazes de comer as tenras, porém quimicamente defendidas, espécies de algas; outras mais tinham peixes dos dois tipos; e algumas não tinham peixe algum. As jaulas foram observadas por um período de dez meses, começando em novembro de 2003, e as mudanças na cobertura de coral e o crescimento das algas foi medido.

“Nas jaulas onde misturamos as duas espécies de herbívoros, os peixes foram capazes de remover muito mais das algas maiores e os corais nessas áreas cresceu em mais de 20% nesses dez meses”, diz Hay. “Para um recife do Caribe isto é uma taxa de crescimento espantosa”.

Apesar da percentagem de crescimento ter sido impressionante, o crescimento real em tamanho de cada coral foi pequeno, observou Hay. Antes da experiência, as áreas de recifes de coral estudadas tinham apenas entre 4 e 5% de cobertura de coral vivo. Depois de dez meses, os corais enjaulados com as duas espécies mostravam uma cobertura de 6 a 7%. Os corais enjaulados com apenas um tipo de peixe, ou sem peixe algum, perderam até 30% de sua cobertura durante o mesmo tempo.



O peixe-papagaio vermelho foi uma das espécies estudadas como parte da pesquisa sobre a importância da divesidade para a saúde dos recifes de coral.
Foto: Deron Burkepile
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Hay e Burkepile tentaram repetir sua experiência com uma espécie diferente de peixe, porém as gaiolas submarinas foram varridas pelo furacão Dennis em julho de 2005 após apenas sete meses de estudo.

Os pesquisadores estudaram os efeitos do peixe-papagaio  vermelho (Sparisoma aurofrenatum) e o peixe-cirurgião (Acanthurus bahianus) na primeira experiência, e o peixe-papagaio vermelho e o peixe-papagaio princesa (Scarus taeniopterus) na segunda. Os dois peixes por jaula representava a extremidade superior do gráfico de densidade de peixes encontrada nos recifes de coral do Caribe, nos dias atuais, porém as densidades históricas podem ter sido muito maiores, antes da pesca extensiva no Caribe, disse Hay.

Há apenas  duas décadas, a cobertura de corais no Caribe era, comumente, de 40 a 60%. Os cientistas culpam muitos fatores — doenças, pesca excessiva, poluição, excesso de nutrientes e a mudança climática global — pelo rápido declínio, que também foi observado em diferentes graus nos recifes de coral do mundo inteiro.

“Algumas pessoas questionam que os recifes de coral não existem mais como ecossistemas funcionais no Caribe”, declara Hay. “Os melhores recifes que temos atualmente são primos pobres daqueles que eram o normal há 20 anos”.

Para o futuro, Hay gostaria de expandir as experiências para estudar os efeitos de outras espécies e repetir os estudos em áreas diferentes, tais como as Ilhas Fiji, onde os moradores estão preocupados com a sustentabilidade dos recifes de coral. Apesar de depender da proteína dos peixes para sua dieta, ele disse que os habitantes das Ilhas Fiji são capazes de mudar seus hábitos de pesca, se os pesquisadores puderem estabelecer quais peixes devem ser protegidos para ajudar os recifes.

“Os dados que estamos observando nas Ilhas Fiji sugerem que a diversidade pode ser ainda mais importante lá do que no Caribe”, declarou ele. “Existem várias espécies diferentes, fazendo várias coisas diferentes. Esses consumidores são muito importantes e, em áreas onde eles são pescados em excesso, os recifes estão desmoronando”.

O estudo fornece mais provas do quanto pode ser importante a biodiversidade para a manutenção de ecossistemas saudáveis.

“A diversidade de espécies é criticamente importante, mas estamos perdendo componentes críticos do ecossistema da Terra em uma taxa alarmante”, disse Hay. “Houve pouco trabalho sobre o papel da diversidade entre os consumidores e o efeito que isso tem sobre as comunidades. Este estudo auxiliará a adicionar a nosso conhecimento sobre essa área crítica”.

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Contatos: Mark Hay (404-894-8429); E-mail: (mark.hay@biology.gatech.edu).

Ensurdecendo as baleias

Via EurekAlert, cheguei a este release do Monterey Bay Aquarium Research Institute(MBARI):

MBARI News Release:
29 de Setembro de 2008

Elevando o volume — O Som chega mais longe debaixo d’água à medida em que os oceanos do mundo se tornam mais ácidos

É de conhecimento geral que os oceanos e a atmosfera do mundo estão se aquecendo, na medida em que a espécie humana libera mais e mais dióxido de carbono na atmosfera da Terra. No entanto, menos pessoas compreendem que a composição química dos oceanos também está mudando — a água  do mar está se tornando mais ácida no mesmo passo em que mais dióxido de carbono da atmosfera se dissolve nos oceanos. De acordo com um artigo a ser publicado nesta semana pelos químicos marinhos do Insituto de Pesquisa do Aquário da Baía de Montery (Monterey Bay Aquarium Research Institute), essas mudanças na temepratura e na composição química do oceano terão um efeito colateral inesperado — os sons vão chegar mais longe debaixo d’água.


Esta ilustração mostra como o aumento do dióxido de carbono na atmosfera leva a um aumento da acidificação da água do mar, que, por sua vez, permite que os sons (tais como os emitidos por baleias) cheguem mais longe debaixo d’água.
Imagem:©2008 MBARI
(Imagem original: cortesia de David Fierstein)

Projeções conservadoras feitas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change = IPCC) sugeriam que a composição química da água do mar pudesse ser modificada em até 0,3 unidades de pH nas alturas de 2050 (vida abaixo informação adicional sobre o pH  e a acidificação dos oceanos). Em na edição de 1 de outubro de 2008 de Geophysical Research Letters, Keith Hester e os coautores calculam que essa mudança na acidez dos oceanos permitirá que os sons cheguem até 70% mais longe debaixo d’água. Isto vai elevar o ruído de fundo nos oceanos e pode afetar o comportamento dos mamíferos marinhos.

Os químicos oceânicos sabem, há décadas, que a absorção do som pela água muda com a própria composição química da água. Quando o som se propaga através da água do mar, faz com que grupos de átomos vibrem, absorvendo os sons em freqüências específicas. Isso envolve várias interações químicas que não são inteiramente compreendidas. No entanto, o efeito em geral é fortemente controlado pela acidez da água do mar. A linha de base é que, quanto mais ácida a água do mar, menos sons de baixa e média freqüência ela vai absorver.

Desta forma, à medida em que os oceanos se tornam mais ácidos, os sons chegarão mais longe debaixo d’água. De acordo com os cálculos de Hester, uma mudança assim na composição química terá maior efeito nos sons abaixo de cerca de 3.000 ciclos por segundo (duas oitavas e meias acima do “dó” do meio do teclado em um piano).

Esta faixa de freqüências de som inclui a maior parte dos sons de “baixa freqüência” usados pelos mamíferos marinhos para procurar alimento e para acasalamento. Também inclui muitos dos sons subaquáticos gerados por atividades industriais e militares, bem como por barcos e navios. Este ruído gerado pela atividade humana aumentou dramaticamente nos últimos 50 anos, na proporção em que as atividades humanas no oceano aumentaram.

Os pesquisadores do MBARI afirmam que o som pode já estar chegando 10% mais longe do que o fazia a poucas centenas de anos atrás. Entretanto, eles predizem que, por volta de 2050, mesmo com as projeções conservadoras sobre a acidificação do oceano, os sons chegarão até 70% mais longe em algumas áreas oceânicas (particularmente no Oceano Atlantico). Isso pode aumentar muito a capacidade dos mamíferos marinhos em se comunicar a longas distâncias. E pode, igualmente, aumentar o ruído de fundo com o qual eles têm que conviver.

Não existem registros de longo-prazo sobre a absorção de sons em grandes áreas oceâncias. Não obstante, so pesquisadores citam um estudo feito ao largo da costa da Califórnia que mostrou um aumento no ruído oceânico entre 1960 e 2000 que não pode ser diretamente atribuído a fatores tais como ventos oceânicos ou navios.

A pesquisa de Hester mostra, mais uma vez, como as atividades hjumanas estão afetando a Terra de maneiras inesperadas e de longo alcance. Com dizem os pesquisadores em seu artigo: “As águas na superfície do oceano estão passando agora por uma transição extraordinária em seu estado químico fundamental, em um passo que não é visto na Terra há milhões de anos, e os efeitos estão sendo sentidos não só em impactos biológicos, mas, também, nas propriedades geofísicas, inclusive na acústica dos oceanos”.

Esta pesquisa foi financiada pela Fundação David e Lucile Packard.
Acidificação dos oceanos — informações complementares

No século passado, carros, usinas de energia e várias atividades humanas liberaram centenas de bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera da Terra. Ao analisar os efeitos dessa experiência química de escala planetária, os cientistas descobriram que cerca de metade deste CO2 foi absorvido pelos oceanos do mundo. Nos últimos cinco a dez anos, químicos oceanográficos chegaram à conclusão que a adição de dióxido de carbono aos oceanos os tornou mais ácidos, tal como a adição de dióxido de carbono à água gaseificada a faz se tornar mais ácida.

Os químicos medem a acidez em unidades de pH, em uma escala que vai de 0 (o mais ácido) a 14 (o menos ácido, ou seja, mais alcalínico). A água neutra da bica (lá nos EUA), por exemplo, tem um pH de cerca de 7. Em termos de comparação, o suco de limão tem um pH de cerca de 2 e o ácido da bateria do seu carro pode ter um pH de 0,8. A água do mar, por outro lado, usualmente é levemente alaclina, com um pH de cerca de 8,1.

Químicos marinhos (inclusive Peter Brewer do MBARI) estimam que o pH dos oceanos do mundo já caiu eem cerca de 0,1 unidades de pH desde o início da Revolução Industrial, há cerca de 250 anos. Eles estimam, ainda, que o pH do oceano possa cair outras 0,2 unidades de pH (para 7,9) por volta do ano 2050. Isto pode parecer uma mudança não muito grande, porém pode ter um impacto significativo nos corais e outros organismos marinhos cuja química corporal é adapatada a milhões de anos de condições químicas relativamente constantes.

Para mais informações sobre esta notícia, por favor entre em contato com:
Kim Fulton-Bennett (Monterey Bay Aquarium Research Institute)
(831) 775-1835, kfb@mbari.org
ou
Peter Weiss (American Geophysical Union)
202-777-7507 pweiss@agu.org


Artigo com a pesquisa:
K. C. Hester, E. T. Peltzer, W. J. Kirkwood, e P. G. Brewer, “Unanticipated consequences of ocean acidification: A noisier ocean at lower pH”. 2008. Geophysical Research Letters, Vol. 35 nº31 (1 de outubro de 2008).
Links relacionados (em inglês):

Traduzido e publicado com a expressa (e gentil) autorização de:

Kim Fulton-Bennett
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Communications Associate
Monterey Bay Aquarium Research Institute (MBARI)

Nova Zona Morta – 2

Via EurekAlert, esta matéria se relaciona com Nova Zona Morta cuja tradução eu publiquei em 07 de agosto de 2006.
Pesquisadores do Oregon estudam amplas áreas de baixa oxigenação ao largo da Costa Noroeste
Cientista de pesca da NOAA trabalha no caso
Uma equipe de cientistas que estudam a Corrente da Califórnia – uma massa de águas frias que se move lentamente para o Sul ao longo da costa, desde a Colúmbia Britânica até a Baja Califórnia – estão encontrando áreas cada vez maiores, ao largo das costas de Washington e Oregon com pouco ou nenhum oxigênio, que possivelmente resultarão na morte de animais marinhos que não conseguem sair dessas áreas de baixa oxigenação.
“Nós estamos vendo agora baixos níveis de oxigênio que estão muito mais difundidos e muito mais intensos do que qualquer registro passado”, declara William Peterson, um dos pesquisadores e um oceanógrafo do centro de ciências do Serviço de Pesca do NOAA em Newport, Oregon.
“Os peixes simplesmente se mudaram dessas áreas e, provavelmente, estão muito bem em outro lugar qualquer”, diz Peterson. “Mas animais que não podem se mudar para águas melhores, tais como o caranguejo Dungeness, anêmonas e estrelas-do-mar, vão morrer”.
Peterson acrescenta que, durante o verão de 2006, a anoxia – uma completa falta de oxigênio na água – foi registrada na região central da costa do Oregon pela primeira vez.
Em um artigo publicado hoje na revista ‘Science’, os pesquisadores dizem que os dados, que remontam a 1950, mostram poucos indícios de baixa oxigenação generalizada ao longo da estreita plataforma continental antes de 2000. Desde então as condições começaram a mudar.
A equipe realizou uma pesquisa com base em submersíveis no verão de 2006 e descobriu que não havia peixes vivendo ao longo dos penhascos rochosos que são, normalmente, o saudável habitat para várias espécies de peixes comercialmente importantes. Isto contrasta com pesquisas semelhantes, realizadas entre 2000 e 2004, que registraram abundantes populações de peixes. Nas áreas de águas rasas, em particular, a equipe encontrou uma quase completa ausência de organismos habitantes do fundo do mar e um aumento no número de bactérias que florescem nas condições de baixa ou nenhuma oxigenação.
Embora as causas para as condições de baixa e nenhuma oxigenação ainda não sejam totalmente compreendidas, é sabido que água com baixa oxigenação é associada com a ressurgência costeira – o processo no qual águas ricas em nutrientes são trazidas do fundo para a superfície do mar. Aí, estes nutrientes alimentam uma produção extraordinariamente alta de pequenos vegetais e animais ao largo das costas do Pacífico Noroeste, durante o verão.
Eventualmente, a maior parte desse plâncton morre e cai para o fundo do oceano, onde se decompõe, reduzindo o conteúdo de oxigênio da água e causando a hipoxia (pouca oxigenação) e até a anoxia (nenhum oxigênio).

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O artigo da “Science”, “Emergence of Anoxia in the California Current,” foi escrito por F. Chan, J.A. Barth, J. Lubchenco, A. Kirincich e B.A. Menge da Oregon State University, H. Weeks com o Oregon Department of Fish and Wildlife, e Peterson.

A Administração Nacional do Oceano e Atmosfera (National Oceanic and Atmospheric Administration = NOAA), uma agência do Departamento de Comércio do governo dos EUA, é dedicada ao aumento da segurança econômica e a segurança nacional, através da previsão e pesquisa de eventos relacionados com o clima e o tempo, e o fornecimento de informações para transportes e a gerência geral dos recursos marítimos e costeiros da nação. Através do nascente projeto Sistema de Sistemas de Observação Global da Terra (Global Earth Observation System of Systems = GEOSS), a NOAA trabalha em conjunto com seus parceiros federais, mais de 70 países e a Comissão Européia para desenvolver uma rede de monitoramento global que seja integrada como o planeta que ela observa, prediz e protege.
Na Web:
NOAA Fisheries Service: http://www.nmfs.noaa.gov

Oceanos tóxicos? (2)

Via EurekAlert, mais uma notícia inquietante, desta vez vinda do Conselho de Pesquisa da Austrália (Australia Research Council – ARC):

ALERTA DE ACIDEZ DOS OCEANOS
Os oceanos do mundo estão se tornando mais ácidos, com conseqüências portencialmente devastadoras para os corais e os organismos marinhos que constroem os recifes e fornecem grande parte do oxigênio respirável da Terra.
A acidez é causada pelo acúmulo gradual de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera e que se dissolve nos oceanos. Os cientistas temem que isso possa ser letal para animais com esqueletos calcários, que perfazem mais de um terço da vida marinha do planeta.
Oceanos Ácidos estarão entre os assuntos a serem explorados pelos principais cientistas de corais da Austrália no fórum público no Shine Dome em Canberra, amanhã. O fórum “O Futuro dos Recifes de Coral 07” acontecerá em 18 e 19 de outubro de 2007 e tem como anfitião o Centro de Excelência para Estudos sobre Corais do ARC (Centre of Excellence for Coral Reef Studies = CoECRS).
“Pesquisas recentes nos corais, empregando isótopos radiativos de Boro, indicam que o oceano ficou um terço de unidade de pH mais ácido nos últimos 50 anos. As pesquisas ainda estão no início e a tendência não é uniforme, mas certamente parece que a acidificação dos mares está se acumulando”, afirma o Professor Malcolm McCulloch do CoECRS e da Australian National University.
“Parece que a acidificação está acontecendo agora em questão de décadas, em lugar de séculos como se previa antes. Está acontecendo até mais rápido nas águas mais frias do Oceano Meridional do que nos trópicos. Está começando a parecer uma questão muito séria”.
Corais e plânctons com esqueletos calcários estão na base da cadeia alimentar marinha. Eles precisam de água do mar saturada com carbonato de cálcio para formar seus esqueletos. Entretanto, à medida em que a acidificação se intensifica, esta saturação decai, tornando mais difícil para os animais formarem suas estruturas esqueléticas (calcificação).
“A análise dos núcleos de coral mostra uma queda constante na calcificação nos últimos 20 anos”, diz o Professor Ove Hoegh-Guldberg do CoECRS e da University of Queensland. “Não há muita discussão sobre como isso acontece: ponha mais CO2 no ar acima e ele se dissolve nos oceanos”.
“Quando os níveis de CO2 na atmosfera chegarem a cerca de 500 partes por milhão, você tira a calcificação dos negócios nos oceanos”. (Os atuais níveis de CO2 atmosférico são de 385 ppm, um crescimento a partir dos 305 em 1960.)
“Não são só os recifes de coral que são afetados – uma grande parte do plâncton no Oceano Meridional, os coccolitoforideos, também são afetados. Estes dirigem a produtividade dos oceanos e são a base alimentar para o krill, baleias, atuns e nossos pescados. Eles também têm um papel vital na remoção do dióxidode carbono da atmosfera, que pode se tornar inviável”.
O Professor Hoegh-Guldberg afirmou que uma experiência na Ilha Heron, na qual se elevou os níveis de CO2 em tanques de ar contendo corais, mostrou que isto fez com que alguns corais parassem de formar esqueletos. Mais alarmante, ainda, algas vermelhas calcárias – a ‘cola’ que mantém as pontas dos recifes de coral unidas em águas turbulentas – começaram, mesmo, a se dissolver. “O risco é que isto possa começar a erodir a Grande Barreira de Recifes em larga escala” afirma ele.
“Esta questão é um pouco como um ‘sleeper’ [nota do tradutor: um agente inimigo ou terrorista disfarçado que entra subitamente em ação]. O Aquecimento Global é algo incrivelmente sério, mas a acidificação dos oceanos pode ser ainda mais”.
Outros assuntos no fórum incluem:

    • as mais recentes observações científicas sobre o “branqueamento” dos corais
    • a crescente praga de doenças nos corais
    • o gerenciamento dos recifes de coral da Austrália sob condições de mudanças climáticas
    • gerenciamento da resiliência nos recifes de coral
    • a proteção da qualidade das águas do mar das atividades terrestres
    • as “zonas verdes” vão ajudar a recuperar os cardumes de peixes na GBR?
    • a ameaça aos tubarões dos recifes e outros predadores maiores.

O fórum terá uma discussão pública patrocinada pelo Dr Robyn Williams sobre o futuro dos recifes de coral da Austrália, às 6 da tarde, em 18 de outubro, no Shine Dome, em Canberra.
Os recifes de coral da Austrália, particularmente a Grande Barreira de Recifes, os Recifes Ningaloo e a “Lord Howe Island World Heritage Area” são ícones nacionais de grande valor econômico, social e estético. O turismo na Grande Barreira de Recifes, sozinha, contribui com aproximadamente $ 5 bilhões anuais para a economia da nação. Rendas oriundas da pesca recreativa e comercial nos recifes tropicais da Austrália, contribuem com outros $ 400 milhões, anualmente. Consequentemente, o gerênciamento com base científica dos recifes de coral é uma prioridade nacional.
Globalmente, o bem-estar de 500 milhões de pessoas é estreitamente ligado aos bens e serviços oriundos da biodiversidade dos recifes de coral. Única entre as nações tropicais e subtropicais, a Austrália tem longos recifes de coral, uma pequena população de cidadãos relativamente ricos e bem educados, e uma infraestrutura bem desenvolvida. Recifes de coral é uma área onde a Austrália tem a capacidade, na verdade a obrigação, de reivindicar a liderança mundial.

Antes, eram só os mares do Hemisfério Norte… Precisa mais o que para constatar que a coisa está “preta”?…

Mais más notícias vindas dos mares

Através do EurekAlert, uma notícia da Instituição Oceanográfica Woods Hole alerta sobre os efeitos da chuva ácida sobre o ambiente dos mares. (Não vou transcrever na íntegra, apenas destacar alguns parágrafos importantes).

Chuva ácida tem um impacto desproporcional nas águas costeiras
A liberação de Enxofre e Nitrogênio na atmosfera por usinas de energia e atividades agrícolas desempenham um papel menor em tornar os oceanos mais ácidos em escala global, mas o impacto é grandemente ampliado nas águas mais rasas das costas dos oceanos, de acordo com nova pesquisa realizada por químicos atmosféricos e marinhos.
A “acidificação” dos oceanos ocorre quando compostos químicos, tais como Dióxido de Carbono, Enxofre ou Nitrogênio se misturam às águas do mar, um processo que diminui o pH e reduz a armazenagem da Carbono.
A acidificação dos oceanos prejudica a capacidade de organismos marinhos, tais como ouriços do mar, corais e certos tipos de plancton, de reclher Carbonato de Cálcio para produzir suas cascas exteriores duras ou “exoesqueletos”. Esses organismos fornecem alimento e habitat essencial para outras espécies, de forma que sua destruição pode afetar ecossistemas oceânicos inteiros.
(para ler a íntegra da notícia em inglês e ver os gráficos, use o link do título do artigo)

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Por enquanto, as conseqüências mais notáveis estão restritas ao Hemisfério Norte, onde o carvão ainda é o principal combustível para termoelétricas. Pelo jeito, as queimadas no Hemisfério Sul, ainda não conseguiram atingir a grau de poluição atmosférica do Norte Industrializado. Até quando?… Ninguém sabe.

Oceanos tóxicos?

Extraído do EurekAlert:


University of Wisconsin – Milwaukee

Quando os bivalves dominavam o mundo

Paleobiologista estuda como o nível elevado de CO2 afetou a vida marinha primitiva



Margaret Fraiser, professora assistente de geociências na UW-Milwaukee, exibe fósseis dos poucos sobreviventes da extinção em massa Permiano-Triássico, a maior da história da Terra.



Antes da pior extinção em massa da vida na história da Terra – a 252 milhões de anos – a vida oceânica era diversa e organismos semelhantes às ostras, chamados braquípodes, dominavam. Depois da calamidade, quando pouca coisa mais existia, um tipo diferente de organismo semelhante à ostra, chamado bivalve, passou a dominar.
O que os destinos diferentes desses dois invertebrados podem contar aos cientistas acerca de sobrevivência a um evento de extinção em massa?
Muito, diz a paleoecologista da UWM Margaret Fraiser. Sua pesquisa sobre esta questão particular não só responde esta questão; ela também apoia uma teoria relativamente nova para a causa da extinção em massa que ocorreu quando o Período Permiano terminou e começou o Período Triássico: oceanos tóxicos criados por um excesso de dióxido de Carbono (CO2) atmosférico.
A teoria é importante porque pode auxiliar os cientistas a prever o que aconteceria nos oceanos durante um “evento CO2” moderno. E poderia dar-lhes uma idéia de quanto seria o tempo necessário para a recuperação.
O estudo da recuperação da ecologia é igualmente significativo, afirma Fraiser. A evolução das espécies sobreviventes na seqüência da extinção em massa, estabelece o cenário para a evolução dos dinossauros no final do Triássico.
Dos registros fósseis a céu aberto aos subaquáticos, tudo sugere que o trauma nos oceanos realmente começou no ar.
“As estimativas do CO2 na atmosfera de então ficam entre seis a 10 vezes mais do que a atual”, afirma Fraiser, uma professora assistente de geociencias. Faz sentido, diz ela. A maior erupção vulcânica contínua da Terra – conhecida como as “Armadilhas Siberianas” – estiveram exalando CO2 por cerca de um milhão de anos antes da extinção em massa Permiano-Triássica.



A escala de tempo mostra o intervalo de tempo entre a extinção em massa Permiano-Triássica e a menos grave extinção em massa que eliminou os dinossauros.



A extinção Permiano-Triássica varreu 70 por cento da vida na terra e perto de 95 por cento no oceano – quase tudo exceto os bivalves e um pequeno número de gastrópodes (caracóis).
O C02 é um gás de efeito estufa que influencia as temperaturas globais. Porém, afirma Fraiser, de acordo com o registro fóssil, altos níveis de C02 e os correspondentes baixos níveis de Oxigênio causam muito mais do que isso.
A hipótese se desdobra da seguinte maneira: Altos níveis de CO2 aumentariam as temperaturas, resultando em um aquecimento global em larga escala. Sem água fria nos Polos, a circulação oceânica teria estagnado. Os oceanos teriam se tornado pobres em Oxigênio, matando a vida nas águas mais profundas onde não havia a oportunidade para a água se misturar com o pouco Oxigênio restante na atmosfera.
Mais Dióxido de Carbono teria sido criado, à medida em que formas de vida iam morrendo e os micróbios os fossem decompondo, o que, por sua vez, teria criado o venenoso Sulfeto de Hidrogênio. Os oceanos teriam se tornado um coquetel inabitável.
Acompanhamento do CO2
De fato, muitos eventos de CO2 ocorreram na escala de tempo geológica e eles, literalmente, deixaram sua marca.
“Pode-se ver onde as rochas se tornam escuras”, diz Fraiser, apontando as camadas multicoloridas em uma amostra fóssil do período. “Isto é uma indicação de baixos níveis de Oxigênio na época. Estes são de locais que estavam submersos no início do Período Triássico”.
Fraiser, que acabou de concluir seu primeiro ano na UWM, é titular de uma de várias novas cadeiras de geociências e seu emergente programa de paleobiologia.
Ela coletou amostras fósseis dos sobreviventes do período nos locais onde hoje são a China, Japão, Itália e o Oeste dos Estados Unidos. As semelhanças entre os fósseis de todos esses lugares foi surpreendente.
“É algo inesperado ver isso”, afirma Fraiser. “Parece que esses bivalves e gastrópodos foram os únicos sobreviventes em todo o mundo”.
Eles possuíam todas as características certas para tolerar a falta de Oxigênio, diz ela. Eles eram pequenos habitantes de águas rasas, com um alto metabolismo e formato chato que lhes permitia se espalharem para extrair mais do limitado Oxigênio quando se alimentavam.
As condições tóxicas também inibiam a vida marinha em produzir conchas. O tamanho, de repente, tornou-se significativo para os moluscos e somente os muito pequenos sobreviveram, erodindo a cadeia alimentar marinha.

Recuperação ultra lenta

À medida em que organiza os registros rochosos de logo após a extinção em massa Permiano-Triássica, Fraiser também desenterrou indícios que explicam porque levou tanto tempo para a vida se recuperar. A resposta parece ser mais do mesmo: os níveis de CO2 permaneceram altos por muito tempo após a matança inicial.
“ Após outros eventos de extinção em massa na Terra, a vida ressurgiu dentro de 100.000 a um milhão de anos”, diz ela. “Mas com a extinção em massa Permiano-Triássica, nós não vemos uma recuperação por 5 milhões de anos. Existe uma complexidade e diversidade ecológica muito baixa por todo este tempo”.
Outro aspecto intrigante deste intervalo da história da Terra, diz Frasier, é que, de acordo com o registro das rochas do Triassico, ele foi limitado por dois eventos de CO2.
O primeiro foi o desaparecimento dos recifes de coral. “Esta falta acionou o alarme”, diz ela. “Isso era o que indicava que os níveis de C02 estavam elevados”.
No final, grandes comunidades de bivalves prevaleceram em números tão grandes que eles formaram seus próprios recifes.
O mapeamento de Fraiser do “efeito dominó” do CO2 na vida marinha do Triássico inicial tem valor para o estudo científico das alterações climáticas atuais, afirma o Professor de Geologia da UWM John Isbell.
“O sitema da Terra não se importa de onde vem o CO2”, diz Isbell. “Ele vai responder da mesma maneira”.

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Precisa acrescentar algo?… Talvez apenas que já se está observando um “branqueamento” na Grande Barreira de Coral da Austrália…
Atualizando a matéria em 07/09/2007:
Por favor, consultem o artigo “O fim de (minha) igenuidade ambiental da Lúcia Malla. Principalmente a seçâo dos comentários.

Nova “Zona Morta”

O lixo que as superpotências lançam na atmosfera, está voltando para suas praias. Vejam este artigo do New York Times.

Reaparece uma “Zona Morta” ao largo da costa do Oregon
Por CORNELIA DEAN
Publicado em 6 de agosto de 2006
Pelo quinto ano em seguida, padrões incomuns de ventos ao largo da costa do Oregon produziram uma grande “Zona Morta”, uma área com tão pouco oxigênio que os peixes e caranguejos sufocam. A zona ocupa uma área aproximadamente do tamanho de Rhode Island [nota do tradutor: o menor estado dos EUA, com uma superfície de 3.144 km²].
Esta zona morta é diferente daquelas no golfo do México e em outros lugares, resultantes do acúmulo de fertilizantes, esgotos e emissões de cirações de porcos e aves. A zona do Oregon aparece quando o vento gera fortes correntes que levam água rica em nutrientes, mas pobre em oxigênio, do mar profundo para a superfície próxima à costa,um processo chamado de ressurgência.
Os nutrientes estimulam o crescimento de plancton, o qual, eventualmente, morre e desce para o fundo do oceano. Bactérias consomem o plancton, usando oxigênio.
Jane Lubchenco, uma bióloga marinha da Oregon State University, diz que o fenômeno não parce ter ligação com os recorrentes El Niño ou La Niña, ou ciclos de longa duração dos movimentos oceânicos. Isso fez com que a Dra. Lubchenco imaginasse se a mudança climática poderia ser um fator, disse ela, acrescentando: «Não existe outra causa, em tanto quanto podemos determinar».
A zona morta, que aparece no fim da primavera e dura algumas semanas, quadruplicou de tamanho, desde que apareceu em 2002 e, neste ano, cobriu uma área quase tão grande quanto o Estado de Rhode Island, disse a Dra. Lubchenco. A zona se dissipa quando o vento muda.
Não se sabe ainda o efeito que a zona morta possa ter na futura pesca e captura de caranguejos, disse a Dra. Lubchenco. Até agora, disse ela, a zona morta não tem se formado antes que a estação de captura de caranguejos Dungeness [N.T: cancer magister] tenha quase acabado.
Hal Weeks, um ecologista marinho que dirige o Marine Habitat Project para o Departamento de Pesca e Vida Selvagem do Oregon, disse que a formação de áreas com pouca oxigenação, ou hopóxicas, até agora têm causado “disrupções localizadas” na pesca, mas nenhum declínio nas capturas e nenhuma interferência na pesca recreativa.
O Dr. Weeks disse que essas áreas podem ter ocorrido no passado e não terem sido percebidas. Mas ele acrescentou que, quando ele realizou uma reunião entre cientistas e pescadores, cerca de 18 meses atrás, para discutir a questão, os pescadores disseram não se lembrarem de problemas ocorrendo com uma tal regularidade.
«Com base nas lembranças das pessoas», disse o Dr. Weeks, «ele não tinham um padrão ou periodicidade para isso».
Ele e a Dra. Lubchenco disseram que os cientistas levarão um barco de pesquisas para o mar e, na terça-feira, baixarão um veículo-robô para fotografar o fundo do mar para verificar a mortalidade de peixes e caranguejos.
«Você, normalmente, não puxa para cima uma armadilha e acha quaisquer caranguejos mortos nela», disse a Dra. Lubchenco. «E todos os caçadores de caranguejos com quem falei, mencionaram caranguejos mortos».
O Dr. Weeks disse esperar que o cruzeiro de pesquisa ajude a explicar o que está acontecendo. «Eu deveria dar a melhor acessoria técnica a meus superiores», disse ele, «e receio que, agora mesmo, eu não tenha as respostas para eles».
Em 2002, quando a zona morta apareceu pela primeira vez, disse a Dra. Lubchenco, ela e outros pesquisadores deram pouca atenção ao que pensaram ser uma anomalia interessante. «Mas, agora, cinco anos em seguida, nós estamos começando a pensar que houve alguma mudança fundamental nas condições do oceano ao largo da Costa Oeste», disse ela, provavelemente por causa das mudançaas nas “correntes de jato” causadas pelo aquecimento global.

Enquanto isso, ainda há gente (e gente de nomeada) que acha que o “Protocolo de Kioto” é junk science e apoia o indizível presidente arbusto em seus delírios de pascácio ganancioso…

Ainda sobre o Aquecimento Global…

Salve, Pessoal!
Após um período de (festejada por alguns, eu sei…) ausência, eis que retorno a um tema que tem me incomodado muito: as grandes mudanças climáticas, em especial o “aquecimento global” e a “elevação dos níveis dos oceanos”.
Tá bem… Eu sei que a maioria das previsões sombrias são puro alarmismo, coisa de “eco-chato” delirante, etc. Mas será que, realmente, podemos nos dar ao luxo de descartar esses avisos que prenunciam catástrofes generalizadas? Será que tudo isso é só delírio? E se não for?…
Olhem só a matéria que eu encontrei no “Le Monde”

Logo teremos milhões de refugiados expulsos pelo oceano
LE MONDE | 17.12.05 | 14h03 • Atualizado em 17.12.05 | 14h03
No mês de agosto, a centena de habitantes de Lateu, no arquipélago de Vanuatu, na Oceania, entraram de maneira bastante involuntária para a história. Sua vila, às margens do Pacífico na ilhota de Tegua, foi a primeira no mundo a ser deslocada em função do aquecimento global e da subida dos níveis dos oceanos. Com as raízes dos coqueiros submersas, os ciclones e as grandes marés se encadeando em uma cadência inédita, a modesta barreira de coral de 1 metro, última linha de defesa contra as inundações, se erodiu; os mosquitos portadores de diversas doenças prosperavam nas poças de água estagnada…
Foi, portanto, necessário partir para algumas centenas de metros para o inteiror da ilha. Lateu hoje é um símbolo. Seu caso foi evocado, em 6 de dezembro, na conferência em Montreal sobre as mudanças no clima.
Hoje, Vanuatu. Amanhã, as Ilhas Tuvalu. Este será o primeiro Estado a desaparecer por causa do clima, já que a altitude média desse arquipélago não passa dos dois metros. Em 2001, o país concluiu um acordo para que os cerca de 11.000 tuvaluanos sejam acolhidos pela Nova Zelândia. Depois de amanhã, será a vez de Bangladesh, onde uma grande parte do território se situa ao nível do mar, e que já é freqüentemente atingido por inundações catastróficas. Segundo o relatório do grupo de experts intergovernamental de 2001, sobre a evolução do clima (GIEC), se os oceanos subirem 1 metro, o que provavelmente vai acontecer neste próximo século (sic), 30.000 km² de Bangladesh vão desaparecer sob as águas, ou seja, 20% de seu território. Atualmente, nesta imensa zona “alagável”, vivem 15 milhões de pessoas… Para onde irão elas?
O fenômeno dos “eco-refugiados”, como são chamdos os deslocados por mudanças climáticas, só agora começa a ser bem identificado, apesar de ter aparecido desde um relatório de 1985 do Programa das Nações Unidas para o Ambiente. «Na época, a definição de “refugiados do ambiente” era extremamente abrangente», relembra Véronique Lassaily-Jacob, professora de geografia na Universidade de Poitiers e pesquisadora especializada em migrações forçadas no laboratório Migrinter. «Ela incluia todas as populações obrigadas a deixar suas residências em decorrência de uma ruptura nas condições ambientais, tais como terremotos, catástrofes industriais. Atualmente, a orientação para a definição é mais restrita aos fatos ligados a mudanças climáticas.»
Nos dias de hoje, as principais causas das migrações ambientais são as secas e a desertificação – notadamente na África Subsaariana –, bem como as inundações. Mas «existem razões fundamentadas para crer que o número de pessoas em fuga de condições ambientais insustentáveis, aumente de maneira exponencial no momento em que o mundo seja submetido aos efeitos da mudança climática», afirma Janos Bogardi, diretor do Instituto para o Ambiente e a Segurança Humana da Universidade das Nações Unidas (Bonn. Alemanha).
Além dos arquipélagos pouco elevados do Pacífico e de Bangladesh, a elevação dos mares deverá ameaçar os grandes deltas, como o do Mekong e o do Nilo, 70% da costa da Nigéria, bem como a maioria das “megacidades” do futuro. Das 21 cidades que, em 2015, deverão ter mais de 10 milhões de habitantes, se constata que 16 delas estão situadas em regiões costeiras. Mas a elevação dos níveis dos oceanos não fará apenas desaparecer os territórios: ela também tem efeitos colaterais perversos, como a salinização de terras agricultáveis e a poluição de lençóis freáticos que ainda permitem a difícil agricultura, e mesmo a vida, nas costas. O relatório do GIEC prevê, notadamente, uma redução generalizada dos rendimentos agrícolas e uma diminuição da disponibilidade de água em certas zonas que causarão migrações forçadas.
O aquecimento do planeta acentuará, igualmente, os acidentes climáticos extremos, tais como furacões e as secas. Assim, na China, o deserto de Gobi ganha mais de 10.000 km² a cada ano, um fenômeno também encontrado no Marrocos, na Tunísia e na Líbia. Quanto à temporada de furacões excepcional que fustigou o Golfo do México em 2005, ela pode muito bem ser uma amostra da norma para o século XXI. Teremos que reconstruir New Orleans a cada dez anos, no futuro?
Bem mais ao Norte, as populações Inuits vêem, a cada dia, seu ambiente, suas tradições e seu modo de vida se moficiar, em função do encurtamento da estação fria, da fonte dos gelos e do encharcamento do solo (Le Monde, 16 de novembro).
Bogardi avalia em 25 milhões o número atual de eco-refugiados – para os quais não existe status jurídico algum – e estima que esse número deve dobrar até 2010. O especialista britânico em ambiente Norman Myers adianta para 2050 uma cifra de 150 milhões de emigrantes atribuíveis ao aquecimento climático, ou seja, em torno de 1,5% da população mundial naquela época… «Todas essas estimativas têm pouca credibilidade, variando extremamente, conforme a fonte», tempera Véronique Lassaily-Jacob. «Elas têm um objetivo alarmista: criar o pânico coletivo de ver chegar hordas de refugiados do ambiente que viriam invadir os países do Norte. Mas se esquecem que essas migrações se fazem, geralmente, para o inteiror dos países de
origem e que as populações, ao menos em um primeiro estágio, colocam em prática estratégias de adaptação às transformações climáticas». Enfim, se a Holanda, habituada de longa data a lutar contra o mar, dispõe da tecnologia e do dinheiro para contemplar futuras cidades flutuantes, este certamente não será o caso de Bangladesh.
Pierre Barthélémy

Sem maiores comentários…

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