Como pegar uma idéia boa e esculhambá-la com politicagem barata

Dia Mundial Sem Carro

Uma iniciativa louvável, né?… Não se você deixar na mão de idiotas que gostam de dar a bunda dos outros barretadas com o chapéu alheio.

Reproduzido da página do G1: (os grifos são meus)

Fiscalização intensa

A fiscalização foi intensa na manhã desta terça-feira (22) no
Centro do Rio, onde o estacionamento foi proibido em algumas
ruas por
causa do Dia Mundial Sem Carro.
Agentes da CET-Rio,
Guarda Municipal e da Secretaria Especial de Ordem Pública
(Seop) começaram cedo o trabalho. Com a proibição, muita gente
optou por deixar o carro em casa
e seguir de ônibus, metrô ou
trem para o Centro. Com isso, o trânsito ficou melhor em
diversos pontos da cidade.

A conclusão do parágrafo é patética: se nem com a remoção de uma porrada de carros, o trânsito melhorasse, estava na hora de demolir o centro da cidade e construir outro. Grande novidade!…

Mas o parágrafo começa traindo nas entrelinhas o verdadeiro móvel: onde se lê “fiscalização intensa”, leia-se “oba! mais umas multinhas!” Porque se fosse para a Prefeitura gastar algo em prol da sociedade, o “entusiasmo” das “otoridades” seria bem outro (meu neto estuda em uma Escola Municipal… preciso dizer mais?…)

Segunda mentira deslavada: ninguém “optou” por deixar o carro em casa; “foi constrangido”, isso sim! E o que diz o Código Penal a respeito?

Constrangimento ilegal

Art. 146 – Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe
haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que
a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:

Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Como é que fica esse negócio de “fazer o que ela [a lei] não manda”? No meu entender, a “violência” fica caracterizada com a ação excepcional da fiscalização e a restrição, também excepcional, do número de vagas disponíveis – sem falar da “grave ameaça”… Ou bem há uma legislação que restringe a circulação de carros particulares no centro da cidade (como há em São Paulo), ou não há. No momento em que o poder público se vale de uma “otoridade”, bem ao gosto dos tão xingados governos da ditadura militar, que, de resto, ninguém lhe conferiu, para constranger o cidadão, alguma coisa está podre… Ou há regras nesse jogo, ou não há: o que não pode haver é uma mudança das regras só porque o prefeito quer parecer “preocupado com o meio ambiente” e, a título de “dar o exemplo”, vai demagogicamente para o trabalho de bicicleta, mas, antes, cuida de estar em boa companhia: você também não vai poder ir de carro!

Trânsito e poluição nos centros das grandes cidades são questões sérias e merecem medidas até drásticas.

Não medidas “para inglês ver” e obter espaço na mídia (que deveria, também, ter vergonha na cara e não publicar asneiras).


PS: Me ocorreu que eu posso ser mal entendido por estar sempre defendendo os proprietários de carros particulares. Então, eu quero sugerir um outro cenário.

Ninguém vai discutir que os ônibus contribuem enormemente para a poluição, certo?… E, se juntássemos às restrições de tráfego de carros particulares, uma restrição aos ônibus?… Com uma “fiscalização intensa” em cima daqueles com motor desregulado, pneus carecas, suspensão defeituosa, ou simplesmente em péssimas condições de conservação?…

Será que a população pedestre (e a prefeitura, por falar nisso…) ia topar?…

O “Mar do Lixo” no Oceano Pacífico

A primeira expedição científica ao que é chamado de “Grande Mancha de Lixo do Oceano Pacífico” – realizada pela Instituição de Oceanografia Scripps, com o navio de pesquisas New Horizon –  acaba de retornar a seu porto. San Diego, Califórnia. Como já se esperava, a coisa está feia… O press-release da Fundação Nacional de Ciências dos EUA diz o seguinte:

Cientistas descobrem a “Grande Mancha de Lixo do Oceano Pacífico”

Resíduos de plásticos flutuantes são descobertos a 1.000 milhas da costa

Photo of a large net tangled with plastic in the garbage patch.

Os pesquisadores da SEAPLEX acharam essa grande rede emaranhada com plástico na “mancha de lixo”.
Crédito e imagem ampliada

27 de agosto de 2009

Os cientistas acabam de completar uma viagem sem precedentes à enorme e inexplorada “Grande Mancha de Lixo do Oceano Pacífico”. A Expedição Ambiental quanto à Acumulação de Plástico da Scripps (Scripps Environmental Accumulation of Plastic Expedition = SEAPLEX), os pesquisadores tiveram uma primeira visão detalhada dos detritos plásticos que flutuam nessa remota região do oceano.

Não era nada bonito.

O navio de pesquisa da Scripps New Horizon
partiu do porto de San Diego em 2 de agosto de 2009 e foi até o Giro Pacífico Norte, a umas 1.000 milhas marítimas da costa da Califórnia’s, retornando em 21 de agosto de 2009.

Os cientistas estudaram a abundância e a distribuição dos plásticos, colhendo amostras para análises em laboratório e avaliação do impacto dos detritos sobre a vida marinha. Antes desta pesquisa, pouco se sabia acerca do tamanho da “mancha de lixo” e das ameaças que ela oferece para a vida marinha e o ambiente biológico do Giro. A expedição contou com uma equipe de alunos de pós-graduação da Instituição Scripps de Oceanografia (SIO, na sigla em inglês) e o apoio financeiro da Universidade da Califórnia, Fundação Nacional de Ciências e do Projeto Kaisei .

Photo of plastic bottles, many with an assortment of inhabitants.

Os cientistas coletaram milhares de garrafas de plástico, muitas delas com vários habitantes.
Crédito e imagem ampliada

Após uma travessia de seis dias, os pesquisadores chegaram ao primeiro ponto de coleta intensiva de amostras, em 9 de agosto. A partir daí, as equipes de coleta passaram a funcionar 24 horas por dia, usando várias redes de arrasto para colher detritos em diferentes profundidades. Miriam Goldstein do SIO, cientista-chefe da expedição, disse:

— Nós nos concentramos nas áreas que continham mais plásticos, de forma a podermos começar a entender a extensão do problema. Também estudamos tudo, do fitoplâncton, passando pelo zooplâncton, até os pequenos peixes de alto mar.

Os cientistas descobriram que, em muitas áreas do Giro, novelos de plástico eram abundantes e facilmente visíveis em contraste com as águas azuis do oceano. Entre os itens recolhidos, estavam garrafas de plástico com uma variedade de habitantes biológicos. Os cientistas também coletaram águas-vivas conhecidas como by-the-wind sailors (Velella velella) [Nota do tradutor: não consegui encontrar um nome em português para esse tipo de cnidário. A tradução literal é algo como “navegador-ao-sabor-dos-ventos”]. Em 11 de agosto, os pesquisadores encontraram uma grande rede, toda emaranhada com plásticos e vários organismos marinhos. Eles também recolheram várias garrafas de plástico cobertas de animais oceânicos, inclusive grandes cracas.

Photo of plastic that floated at the surface and carried a crab, algae and flying fish eggs.

Um pedaço de plástico que flutuava na superfície, levava um caranguejo, algas e massas de ovas de peixe-voador.
Crédito e imagem ampliada

No dia seguinte, Pete Davison, um estudante de pós-graduação da SIO que estuda peixes de alto mar,
coletou várias espécies no Giro, inclusive o olho-de-pérola (“pearleye” = Benthalbella dentata), um peixe predador com olhos voltados para cima, de forma a ver as presas que nadam acima, e o peixe-lanterna (“lanternfish =Tarletonbeania crenularis), que migra desde 700 metros de profundidade até a superfície do oceano todos os dias.

Ao final da expedição, os cientistas ficaram espantados com a quantidade de lixo no Giro. Goldstein se pergunta como tanto lixo pode se acumular em um local remoto do oceano a 1.000 milhas de terra.


O blog com o relato dia a dia da expedição é aqui.

Mudanças climáticas: a natureza dá alertas antecipados






[ Traduzido daqui: Sudden Collapse in Ancient Biodiversity: Was Global Warming the Culprit? ]

Cientistas descobrem sinais de alerta antecipado emitidos por ecos­sistemas em risco

Photo of ancient fossil leaves.

Antigas folhas fósseis contam uma história sobre uma súbita perda de biodiversidade que pode acontecer novamente.
Crédito e imagem ampliada

18 de junho de 2009

Os cientistas desenterraram um contundente indício da ocorrência de um súbito colapso da biodiversidade entre as plantas na antiguidade. O achado de folhas fossilizadas com 200 milhões de anos de idade no Leste da Goenlândia conta essa saga, trazendo sua mensagem através dos tempos até o dia de hoje.

Os resultados da pesquisa aparecem na edição desta semana da Science.

Os pesquisadores ficaram surpresos em descobrir que um provável suspeito de ser o responsável pela perda de vida vegetal, era um pequeno aumento do gás de efeito estufa dióxido de carbono que fez com que a temperatura da Terra subisse.

O aquecimento global vem sendo por muito tempo considerado como o culpado por extinções – a surpresa reside em que muito menos dióxido de carbono na atmosfera pode ser necessário para levar um ecossistema além do ponto sem retorno do que se pensava antes.

“Os registros da história climática da antiguidade da Terra têm produzido des­cobertas espantosas que abalam as fundações de nossos conhecimento e com­preensão das mudanças climáticas nos tempos modernos”, diz H. Richard Lane, diretor de
programa na Divisão de Ciências da Terra da Fundação Nacional de Ciências (NSF), que financiou parcialmente a pesquisa.

Jennifer
McElwain do University College Dublin, autora principal do artigo, alerta que o dióxido de enxofre emitido por extensas erupções vulcânicas, pode ter tido também um papel na extinção das plantas.

“Nós não temos meios, atualmente, para detectar mudanças no dióxido de en­xofre no passado, de forma que é difícil avaliar se o dióxido de enxofre, além da elevação do dióxido de carbono, influenciou ou não esse padrão de extinção”, diz ela.

O intervalo de tempo em estudo, no limite entre os períodos Triássico e Jurás­sico, é conhecido há tempos pelas extinções de plantas e animais.

Até esta pesquisa, pensava-se que o ritmo das extinções tinha sido gradual, ocorrendo ao longo de milhões da anos.

Segundo os cientistas, tem sido notoriamente difícil esclarecer os detalhes acer­ca do ritmo da extinção através dos fósseis, porque os fósseis só podem dar ima­gens instantâneas ou vislumbres de organismos que uma vez existiram.

Cientistas recolhem fósseis na Groenlândia

Cientistas recolhem fósseis na Groenlândia
Crédito e imagem ampliada

Empregando uma técnica desenvolvida pelo cientista Peter Wagner do Museus de História Natural de Washington da Smithsonian
Institution
, os pesquisadores puderam detectar, pela primeira vez, sinais muito anteriores de que esses antigos ecossistemas já estavam se deteriorando – antes das plantas come­çarem a se extinguir.

O método revela os sinais de alerta antecipado de que um ecossistema está com problemas, em termos de risco de extinção.

Wagner explica: “As diferenças de abundâncias de espécies nos primeiros 20 me­tros dos penhascos [no Leste da Groenlândia] onde os fósseis foram cole­tados, são do tipo esperado. Mas os 10 metros finais apresentam perdas de di­versidade dramáticas que excedem em muito o que poderíamos atribuir a um erro na coleta: os ecossistemas tinham cada vez menos espécies”.

Acredita-se que, por volta de 2100, o nível do dióxido de carbono na atmosfera do planeta possa chegar até duas e meia vezes o nível atual.

McElwain diz: “Esse é o cenário da pior hipótese, mas é exatamente esse o nível [900 partes por milhão] em que detectamos a falência da biodiversidade na anti­guidade”.

“Precisamos prestar atenção aos sinais de alerta antecipado da deterioração dos ecossistemas atuais. Nós aprendemos com o passado que altos níveis de extinção de espécies – até 80% delas – podem ocorrer muito de repente, mas eles são precedidos por um longo intervalo de mudanças ecológicas”.

A maior parte dos ecossistemas modernos ainda não chegou ao ponto sem re­tor­no em resposta às mudanças climáticas, segundo os cientistas. Porém muitos já entraram em um período de mudança ecológica prolongada.

“Os sinais de aleta antecipado são ofuscantemente óbvios”, declara McElwain. “As maiores ameaças à manutenção dos atuais níveis de biodiversidade são as mudanças no uso da terra, tais como o desflorstamento. Porém até mudanças relativamente pequenas no dióxido de carbono e na temperatura podem ter consequências inesperadamente severas sobre a saúde dos ecossistemas”.

O artigo, “Fossil
Plant Relative Abundances Indicate Sudden Loss of Late Triassic
Biodiversity in East Greenland”, 
tem como co-autores McElwain, Wagner
e Stephen Hesselbo da Universidade de Oxford.


Agência Espacial Européia estende a missão Envisat

[ Traduzido daqui: ESA extends Envisat satellite mission ]


Artist's impression of Envisat
O Envisat (concepção artísitca)

5 de junho de 2009

Os Estados Membros da ESA votaram unanime­mente pela extensão da missão Envisat até 2013. O Envisat – o maior satélite do mundo e o mais sofisticado já construído – vem propor­cionando aos cientistas e utilizadores opera­cionais dados inestimáveis para monitoramento e previsões globais desde seu lançamento em 2002.

“A decisão de estender as operações da missão Envisat, tomada durante o último encontro da Direção do Programa de Obser­vação da Terra da ESA, é um reconhecimento do sucesso da missão, em termos do grande número de usu­ários científicos e operacionais atendidos, e do bom estado técnico do satélite após sete anos de funcionamento”, declarou o Gerente da Missão Envisat, Henri Laur.

O Envisat – sigla para ENVIronmental SATellite (Satélite Ambiental) – tem uma singular combinação de 10 instrumentos diferentes que coletam dados acerca da atmosfera, das terras, dos mares e das superfícies geladas da Terra – fornecendo aos cientistas o quadro mais detalhado, até hoje, do estado do planeta.

ESA’s global land cover map
Mapa da cobertura global do Envisat

Os dados do Envisat jamais tiveram tanta procura como hoje em dia e muitos dos serviços estabelecidos dependem da obtenção dos dados em tempo quase-real (near-real time = NRT). Os dados estão sendo cada vez mais empre­gados em aplicações de rotina, tais como o monitoramento das calotas de gelo sobre os mares, vazamentos de petró­leo e repressão à pesca ilegal, que precisam do acesso mais rápido possível aos dados, de forma a permitir a rápida to­ma­da de decisões.

Os dados em NRT do Envisat possibilitam fornecer diaria­mente temperaturas da superfície do mar, mapas de incêndios por todo o mun­do, previsões de níveis de radiação UV e de ozônio, tudo acessível através da página Today’s Earth check-up no website da ESA.

Outro motivo para a extensão da missão foi a necessidade dos cientistas de po­de­rem acessar dados que cubram longos períodos de tempo, a fim de identificar e analisar tendências e mudanças climáticas de longo prazo (tais como as con­cen­trações de gases de efeito-estufa, temperaturas da superfície do mar, ní­veis dos mares e extensão das calotas de gelo sobre os mares).

Interpreted Envisat interferogram
Interferograma do Envisat do terremoto em L’Aquila

O Envisat obtém isso mantendo a continuidade do fluxo de dados  que começou, no início dos anos 1990, com os saté­lites anteriores da ESA, ERS-1 e ERS-2. Com a prorrogação, o Envisat vai cobrir a lacuna nos dados que existiria até o lançamento dos satélites da série Sentinel que farão parte da iniciativa Global
Monitoring for Environment and Security (GMES)
(Monitoramento Global para Ambiente e Segu­rança).

O Sentinel-1 vai assegurar a continuidade do imageamento por radar. O Sentinel-3 vai dar continuidade às funções de altímetro por radar e sensores ópticos do Envisat. E a mis­são precussora do Sentinel-5 vai dar continuidade aos sensores atmosféricos do Envisat.

A missão Envisat gera uma grande quantidade diária de dados, através da rede de estações de aquisição e centros de processamento, que se estende por toda a Europa. O acesso aos dados do Envisat tem recebido contínuos up­grades desde seu lançamento, disponibilizando uma crescente quantidade de dados online inteiramente de graça.


A conversa entre as algas e os corais

[Corals’ “Internal Communication” Process Critical to Maintaining Healthy Reefs ]

A quebra nas comunicações está causando o declínio dos recifes de coral por todo o mundo

Photo of fish swimming around a coral reef.

Os cientistas descobriram que a “Comunicação” é de importância vital nos corais.
Crédito e imagem ampliada

28 de maio de 2009

Parece que os corais têm uma complexidade genética que rivaliza com a dos se­res humanos, tendo sofisticados sistemas de comunicação biológica que estão sob a pressão das mudanças globais, e só conseguem sobreviver apoiados pelo ade­quado funcionamento de um intrincado relacionamento simbiótico com as al­gas que vivem no interior de seus corpos – afirmam os pesquisadores em um ar­ti­go publicado na edição desta semana da revista Science.

As rupturas nesses sistemas biológicos e de comunicações são a causa básica do branqueamento do coral e do colapso dos ecossistemas dos recifes de coral por todo o mundo.

Virginia Weis, uma zoóloga da Universidade do Estado do Oregon diz: “Já conhe­cíamos por algum tempo o funcionamento em geral dos corais e os problemas que eles vêm enfrentando por causa das mudanças climáticas”.

“Mas, até bem recentemente, se sabia muito menos acerca de sua biologia fun­damental, da estrutura de seu genoma e da comunicação interna. Só quando en­ten­dermos realmente como sua fisiologia funciona, poderemos saber se eles podem se adaptar às mudanças climáticas, ou se temos algum modo de aju­dá-los”.

Corais que criam recifes estão enfrentando severas ameaças ambientais, afirma Clayton Cook, diretor de programa na Divisão de Sistemas Integrativos e Organísmicos da Fundação Nacional de Ciências (NSF), que financiou a pes­quisa. “As mais evidentes são os eventos de branqueamento ligados à elevação das temperaturas dos oceanos e os efeitos da acidificação dos oceanos na cons­trução de recifes”.

“É um ponto crítico a compreensão das bases celulares e moleculares de como os corais respondem a essas ameaças. Essa pesquisa demonstra a importância de tais processos básicos como respostas imunológicas para essas questões de importância global”.

Coral vivo

Os corais vivos são compostos por pólipos individuais em cima de um esqueleto de carbonato de cálcio.
Crédito e imagem ampliada

Os corais são pequenos animais, pólipos que existem como indivíduos geneticamente idênticos e podem se auto­defender e matar plâncton para comer. Nesse processo eles também secretam carbonato de cálcio que se torna a base do esqueleto externo onde vivem.

Esses depósitos calcificados podem crescer até enormes tamanhos, em longos períodos de tempo, e formar os reci­fes de coral – um dos ecossistemas mais produtivos do mun­do que pode abrigar mais de 4.000 espécies de peixes e muitas outras formas de vida marinha.

Porém os corais não são realmente auto-suficientes. Den­tro de seus corpos eles abrigam algas altamente produ­tivas – outra forma de vida marinha – que pode fixar car­bo­no, usando a energia do Sol para realizar fotossíntese e produzir açúcares.

“Algumas das algas que vivem dentro dos corais são surpreendentemente produ­tivas e, em alguns casos, dão 95% dos açúcares que produzem para o coral usar como energia”, diz Weis. “Em troca, as algas ganham nitrogênio, um nutri­ente limitado no oceano, se alimentando com os dejetos do coral. É uma rela­ção simbiótica precisamente desenvolvida”.

Entretanto, os cientistas estão aprendendo que esse relacionamento também é ba­seado em um delicado processo de comunicação das algas para os corais, dizendo que as algas “pertencem” ao local e que “tudo vai bem”. Se não fosse assim, os corais tratariam as algas como parasitas ou invasoras e tentariam matá­-las.

Matriz de carbonato de cálcio.

Esta ampliação mostra uma colônia de corais, após a remoção dos animais. O que sobra é uma matriz de carbonato de cálcio.
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“Agora acreditamos que o que está acontecendo quando a água se aquece ou alguma outra coisa estressa o coral, é que a comunicação das algas para os corais se rompe e a mensagem de tudo-está-bem não consegue passar”, ex­plica Weis.

“As algas essencialmente saem de seu esconderijo e enca­ram uma resposta imunológica do coral”.

Weis diz que esse processo de comunicação interna não é diferente de alguns outros processos biológicos encon­trados em pessoas e animais. Uma das revelações da pes­quisa recente, diz ela, é a enorme complexidade da biolo­gia do coral e sua similaridade à de outras formas de vida.

Um gene que controla o desenvolvimento do esqueleto nos seres humanos, por exemplo, é idêntico ao gene exis­ten­te no coral que os ajuda a desenvolver um esqueleto externo – conservado em espécies diferentes pelos mi­lhões de anos desde que os caminhos da evolução de ambos se separou, a par­tir de um ancestral comum.

Capa da revista <em>Science</em>.

As descobertas dos pesquisadores foram publicadas na edição de 29 de maio de 2009 da revista Science.
Crédito e imagem ampliada

Ainda há muito o que aprender acerca desse processo, se­gundo os pesquisadores, e existem tremendas variações nele. Existem 1.000 espécies de corais e talvez milhares de espécies de algas, todos se misturando e se combi­nando em uma dança simbiótica.

Essa variação, ao menos, traz alguma esperança – assim esperam os cientistas – de que se encontrará novas com­bi­nações que possam se adaptar melhor às condições mu­tantes das temperaturas e acidez dos oceanos, e outras ame­aças.

Algumas estimativas sugerem que 20% dos recifes de coral do mundo já estejam mortos e outros 24%, amea­çados.

A acidificação dos oceanos prevista para o próxmo século deve diminuir a calcificação do coral em até 50% e pro­mover a dissolução dos esqueletos do coral – observam os pesquisadores.

“Talvez haja alguma coisa que possamos fazer para ajudar a identificar e prote­ger as espécies de coral que possam sobreviver em condições diferentes”, argu­menta Weis.

“Talvez não tenhamos que somente ficar assistindo os recifes de coral do mun­do desaparecerem”.


Esburacando o gelo no Ártico

[ Scientists Return from Expedition to Drill Beneath Frozen Russian Lake ]

Cientistas retiram a maior amostra já colhida de sedimentos no Ártico abaixo da superfície congelada do Lago El’gygytgyn na Sibéria

Photo of the project site near the center of Lake E'gygytgyn; the lake's eastern rim is visible.

O local das perfurações fica próximo do centro do Lago El’gygytgyn; na foto, é visível a margem Leste do lago.
Crédito e imagem ampliada

28 de maio de 2009

Uma equipe de team cientistas dos Estados Unidos, Alemanha, Rússia e Áustria acaba de retornar de uma expedição de perfuração de seis meses a um lago con­ge­lado da Sibéria: Lago El’gygytgyn (“Lago E” para simplificar).

O Lago E foi criado a 3,6 milhões de anos atrás quando um meteoro com quase um quilômetro de largura atingiu a terra e formou a cratera com 20 quilômetros de diâmetro.

A equipe no local da perfuração.

A equipe internacional no local de perfuração, após alcançar o fundo rochoso abaixo do lago, em meados de abril
Crédito e imagem ampliada

Lá, os pesquisadores coletaram as mais longas amostras de núcleos de sedimentos já recolhidas na região do Ártico. Segundo os cientistas, as informações contidas nos núcleos têm uma importância sem par para a compre­ensão das mudanças climáticas no Ártico.

Núcleos extraídos de três diferentes locais perfurados por sob o congelado Lago E, têm mais de 30 vezes o compri­mento dos núcleos da camada de gelo da Groenlândia, de acordo com a geocientista Julie Brigham-Grette da Univer­sidade de Massachusetts em Amherst, a principal cientista dos EUA no projeto..

A equipe de pesquisa vai comparar esse registro do Ártico com outros registros de amostras colhidas no oceano e em terra em latitudes menores para compreender melhor as mudanças climáticas globais.

Alojamento de campanha da expedição.

Um alojamento de campanha abrigou 40 cientistas e membros do staff por quatro meses.
Crédito e imagem ampliada

Quase 3,5 ton de núcleos de sedimentos serão transportados, em condições contro­ladas de temperatura, em aviões especialmente prepa­rados da Sibéria para São Petersburgo no início de junho, e daí para um laboratório na Alemanha para serem analisa­dos por paleoclimatologistas.

As metades de núcleos catalogadas seguirão, mais tarde, para a instalação de LacCore da Universidade de Minne­sota, onde serão preservados em criogenia.

Brigham-Grette diz que a equipe recolheu um total de 385 metros de sedimentos; estes sedimentos representam um registro de aproximadamente 3,5 milhões de anos.

Paul Filmer, diretor de programa da Divisão de Ciências da Terra da Fundação Nacional de Ciências (NSF), declara: “O estudo dos sistemas de alta latitude é de grande importância para uma com­preensão do clima na Terra em todas as latitudes. O primeiro ponto de interesse é estabelecer como e por que o Ártico evoluiu de um ecossistema quente e co­ber­to por florestas para um ecossistema de permafrost entre dois e três milhões de anos atrás”. A Divisão de Ciências da Terra participou da expedição junta­mente com o Escritório de Programas Polares da NSF.

O registro contínuo coletado neste lago singular “nos proporciona um modo de observar as mudanças climáticas glaciais/inter-glaciais do passado”, explica Brigham-Grette.

“Os ciclos quentes e frios da Terra, no ultimo milhão de anos, variou a cada 100.000 anos em certas ocasiões. Antes disso, no entanto, as mudanças climá­ticas, especialmente nas altas latitudes, variou em ciclos de 41.000 e 23.000 anos. Os registros do Lago E irão mostrar o que causou essa aceleração no pro­cesso de mudança climática da Terra”.  

Vista aérea do campo na margem do lago.

Vista aérea do campo na margem do lago, 100 km ao Norte do Círculo Ártico.
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Abaixo dos sedimentos do lago, os núcleos perfurados no leito rochoso vão porporcionar aos geólogos uma rara opor­tunidade de estudar as rochas derretidas pelo im­pac­to de um meteoro, vindas de um dos locais de impacto de meteoro melhor preservados na Terra e o único formado sobre rocha vulcânica rica em silício.

A equipe recolheu aproximadamente 40 metros do início da história do lago, no quente período do Pliocene Médio. Esse período geológico, segundo Brigham-Grette, é fasci­nante por ser um possível exemplo do clima futuro.

Os resultados iniciais das perfurações ainda são limitados. Os núcleos de sedimentos não puderam ser abertos no campo por causa da natureza remota do local de perfu­ração e das más condições de transporte terrestre no local.

Cientistas trabalhando.

Cientistas trabalhando na investigação sobre a história do clima da região Ártica no passado.
Crédito e imagem ampliada

Durante as perfurações-piloto, realizadas em novembro, os cientistas recolheram 141 metros de sedimentos que exi­biam depósitos de leque aluvial e lacustres no perma­frost
na borda Oeste do lago, fora do talik (solo não con­ge­lado em uma área de permafrost).

Após a perfuração, o buraco da mesma ficou perma­nentemente dotado de instrumentos para futura monito­ração da temperatura do solo, como parte da Rede Global Terrestre para o Permafrost.

O Projeto de Perfuração do Lago El’gygytgyn é um esforço internacional financiado pelo Programa Intercontinental de Perfurações Continentais (International Continental Drilling Program= ICDP), a Divisão de Ciências da Terra e o Escri­tório de Programas Polares da Fundação Nacional de Ciên­cias dos EUA, o Ministério da Educação e Pesquisa (BMBF) da Alemanha, Alfred Wegener Institute (AWI), GeoForschungs­Zentrum-Potsdam
(GFZ), o Ramo do Extremo Oriente da Acade­mia Russa de Ciências, a Fundação Russa para Pesquisa Básica e o Ministério de Ciência e Pesquisas da Áustria.

Perfuradores russos e norte-americanos recolhendo os núcleos.

A grossa cobertura de gelo do lago foi usada como plataforma por perfuradores para recolher os núcleos.
Crédito e imagem ampliada

As principais instituições russas envolvidas incluem o Insti­tuto Nordestino Interdisciplinar de Pesquisas, o Instituto de Geologia do Extremo Oriente e o Instituto
Roshydromet de Pesquisas Árticas e Antárticas.

O sistema de perfurações profundas para as operações no Ártico foi desenvolvido pela DOSECC
Inc.; a manutenção dos núcleos ficou a cargo da Lac-Core da Universidade de Minnesota.

O projeto foi desenvolvido e organizado pelos investi­gadores principais de quatro países em colaboração: Julie Brigham-Grette
(cientista-chefe pelos EUA, Universidade de Massachusetts em Amherst), Martin
Melles (cientista­chefe pela Alemanha, Universidade de Colônia), Pavel Minyuk
(cientista-chefe pela Rússia, NEISRI Magadan) e Christian Koeberl
(cientista-chefe pela Áustria, Universidade de Vienna).


Quer esquentar as coisas?… Derreta o que está congelado.






[ Arctic Tundra May Contribute to Warmer World ]

Pesquisadores predizem que o derretimento do permafrost vai inten­sificar as mudanças climáticas

As areas with permafrost thaw and more old carbon is released, the carbon balance changes.

As áreas com permafrost derretem, mais carbono antigo é liberado e o equilíbrio do carbono muda.
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27 de maio de 2009


Um estudo publicado na edição de 28 de maio da Nature ajuda a definir a contri­buição potencial do derretimento do permafrost para o aumento das concen­trações atmosféricas de carbono, que já alcançaram níveis sem precedentes.

“Em um trabaho anterior nós estimamos que o derretimento geral do permafrost po­­de­ria liberar até entre 0,8 a 1,1 gigatons de carbono por ano”, diz Ted Schuur, um ecologista da Universidade da Flórida e autor principal do estudo. “Antes deste estudo, não sabíamos quão rápido o carbono poderia ser liberado do permafrost e como isso realimentaria as mudanças climáticas com o tempo”.

Uma grande quantidade de carbono orgânico na tundra fica armazenado no solo e permafrost. Esse depósito de carbono, depositado ao longo de milhares de anos, permanece trancado no chão permanentemente congelado. Nos últimos anos, essa área começou a derreter, permitindo o acesso a plantas e bactérias que podem tirar o carbono da terra e liberá-lo na atmosfera.

O ciclo do carbono.

O ciclo de carbono é a troca de carbono da biosfera para a geosfera, hidrosfera e atmosfera.
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É preciso uma melhor compreensão sobre a taxa de liberação de carbono para poder estimar a força da realimentação positiva (positive feedback) para as mudanças cli­máticas, uma provável consequência do derretimento do permafrost. Os cientistas usam o termo realimentação positiva para descrever o seguinte efeito bola-de-neve: um clima mais quente permite o derre­ti­mento do permafrost, liberando mais car­bono na atmosfera, o que, por sua vez, vai aumentar mais ainda a temperatura global.

De 2004 a 2006, Schuur e sua equipe usaram datação por radio-carbono, uma técnica tipicamente empregada para determinar a idade de artefatos, para rastreas o movimento de carbono orgânico “antigo”, acumulado dentro dos solos e do permafrost em um local do Alaska. A capacidade de distinguir o carbono antigo do novo, permitiu aos pesquisadores rastrear o atual metabolismo de carbono anitgo na área onde o derretimento do permafrost está aumentando.

Surpreendentemente, essa pesquisa revelou que, durante os estágios iniciais do derretimento do permafrost, aumentam o crescimento de plantas e a fotos­síntese, o que retira carbono da atmosfera. Esse aumento contrabalança o au­mento da emissão de carbono causado pelo derretimento. No entanto, um derretimento continuado eventualmente vai liberar mais carbono do que as plan­tas podem absorver, suplantando sua capacidade de compensação. Colocando isto em um contexto global, se a tempertatura média global continuar a subir, os cálculos atuais predizem que a realimentação positiva do derretimento do per­mafrost poderia adicionar anualmente à atmosfera tanto carbono quanto outra fonte significativa, a modificação do uso das terras.

Foto do sitio de pesquisa do permafrost no Alaska.

A datação por rádio-carbono foi usada para detectar a perda de carbono velho pelo solo neste sitio de pesquisa no Alaska.
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O sitio no Alaska onde Schuur e seus cole­gas realizaram sua pesquisa, foi monito­rado ao longo das duas últimas décadas, sendo que as medições da temperatura do permafrost começaram antes que o perma­frost começasse a derreter. Esse registro detalhado, junto com o estudo de Schuur do sistema de troca de carbono do ecos­sis­tema e da liberação do carbono antigo, fornecem um quadro abrangentes da dinâ­mica das trocas de carbono em resposta ao derretimento do permafrost.

Segundo Schuur, “Os registros existentes desse sitio são em uma escala de déca­das, o que quer dizer que podemos seguir mais acuradamente o lento ritmo das mudanças no sistema. No geral, esta pesquisa documenta as mudanças de lon­go prazo nas plantas e no solo que ocorrem com o derretimento do permafrost, o que nos dá uma base para fazer previsões de longo prazo acerca do equilíbrio de carbono do ecossistema com maior confiança”. 


Ratatouille…

[ City Rats Loyal to Their ‘Hoods, Scientists Discover ]

Descoberta significativa para o rastreamento de doenças transmitidas por roedores

Row houses separated by an alley.

Os ratos em Baltimore, e provavelmente em outras áreas urbanas, são bairristas.
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27 de maio de 2009

Nessa vida de ratos, uma coisa é certa: não há lugar como nossa casa.

Agora, um estudo publicado nesta semana em  Molecular Ecology descobre que isso é verdade tanto para pessoas, como para ratos.

Embora os ratos urbanos pareçam circular livremente, a maioria forma bairros dis­tin­tos onde passam a maior parte de suas vidas.

Tal com qualquer outra cidade grande, Baltimore, Matyland., tem vários bairros movimentados – cada um com personalidade própria. Porém, os cientistas da Escola de Saúde Pública Bloomberg da Universidade Johns Hopkins afirmam que os humanos não são os únicos habitantes de Baltimore bairristas.

Foto de um rato marrom.

Em Baltimore, os cientistas descobriram que ratos — e as doenças que eles carregam — permanecem perto de casa.
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Os ratos tipicamente permanecem perto de suas moradias, raramente se aventurando a mais de um quarteirão de distância. Entretanto, em face do perigo, alguns roedores podem viajar quase quinze quilômetros para repovoar áreas abandonadas.

Uma compreensão sobre como os ratos nas áreas urbanas se interconectam fornece informações sobre quais popu­lações podem espalhar doenças, segundo Sam Scheiner, diretor de programa na Divisão de Biologia Ambiental da Fun­dação Nacional de Ciências (NSF), que financiou a pes­quisa através do programa de Ecologia de Doenças Infec­ciosas (em conjunto com os Institutos Nacionais de Saúde).

O porto de Baltimore já foi um grande terminal de grãos, o que pode explicar por onde os ratos marrons (Rattus norvegicus) foram introduzidos na cidade. Os ratos mar­rons, também conhecidos como rato castanho e ratazana, podem chegar a pesar um quilo e transmitem várias doen­ças para as pessoas.

A despeito dos custosos esforços para erradicação deles, o número de ratos em Baltimore não mudou nos últimos 50 anos, afirma o cientista Greg Glass da Johns Hopkins, co-autor do artigo na Molecular Ecology junto com outros pes­qui­­sadores da Johns Hopkins e da Escola de Medicina da Universidade Yale.

Pegadas de rato.

Ratos marrons e outros deixam rastros de sua passagem.
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Para entender por que, os pesquisadores capturaram perto de 300 ratos de 11 áreas residenciais de Baltimore e realizaram estudos genéticos para saberem se os ratos eram aparentados. Os cientistas descobriram que os ratos de Baltimore Leste eram separados de suas contrapartes, não aparentadas, do lado Oeste por um largo curso de água, conhecido como Jones Falls.

Dentro desses hemisférios, as famílias de ratos formam comunidades menores que ocupam áreas de cerca de 11 quarteirões. Cada comunidade se subdivide em bairros que abrangem pouco mais do que um beco médio. Para um rato da cidade, esse beco é o lar doce lar.

As descobertas indicam que, embora os ratos raramente emigrem, os esforços de erradicação restritos a certos bairros podem sair pela culatra, encorajando os roedores a repovoar outras áreas e espalhar ainda mais as doenças. A melhor solução pode ser um esforço em uma escala muito maior, direcionado a famílias inteiras.


A volta da Arca de Noé

[ Racing the Clock: Rapid Climate Change Forces Scientists to Evaluate Extreme Conservation Strategies ]

Cientistas debatem se, quando e como recolocar plantas, animais e inse­tos cujos habitats tenham sido danificados pelas mudanças climáticas

Photo of a tortoise on the edge of Athens, Greece.

Uma tartaruga na periferia de Atenas, Grécia.
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25 de maio de 2009

Os cientistas estão, pela primeira vez, avaliando objectivamente meios para au­xi­liar as espécies a se adaptarem a rápidas mudanças climáticas e outras amea­ças ambientais, através de estratégias que eram consideradas radicais demais para serem levadas a sério a meros 5 a 10 anos. Entre essas estratégias radi­cais que estão sendo consideradas, está a assim chamada “relocação geren­ciada”. A relocação gerenciada, também conhecida como “migração assistida”, en­volve levar manualmente espécies para habitats mais favoráveis onde elas não são atualmente encontradas.

Uma nova ferramenta revolucionária para auxiliar os responsáveis pela tomada de decisões a estabelecer se, quando e como usar a relocação gerenciada é des­crita na edição de 25 de maio de 2009 da Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) por um grupo de trabalho multi-disciplinar.

Parcialmente financiada pela Fundação Nacional de Ciências (NSF), o grupo de trabalho é co-liderado por Jessica Hellmann e Jason McLachlan da Universidade de Notre Dame, Dov Sax da Universidade Brown, e Mark Schwartz da Univer­sidade da Califórnia em Davis. David Richardson da Universidade Stellenbosch da África do Sul liderou a redação do artigo.

A ferramenta dos pesquisadores é revolucionária porque a relocação gerenciada tem sido repudiada por alguns cientistas por medo de que as espécies relocadas sobrepovoem seus novos habitats, causem a extinção de espécies locais, ou entupam canalizações de água, como os mexilhões zebra, invasores, fizeram nos Grandes Lagos. Mesmo assim, alguns conservacionistas e grupos já usaram a relocação gerenciada ou estão considerando fazê-lo atualmente.

Fazer alguma coisa ou fazer coisa alguma?

Então por que a relocação gerenciada, uma estratégia considerada tabu e po­ten­cialmente danosa, está sendo agora considerada seriamente? Helman diz: “Porque está se tornando avassaladoramente patente que as mudanças climá­ticas são uma realidade – e elas são rápidas e grandes. As consequências vão sur­gir em décadas, não em séculos. Por isso as ações parecem muito mais im­por­tantes agora do que pareciam a 5 ou 10 anos atrás, quando as concen­trações atmosféricas de gases de efeito estufa eram menores. Agora, nós esta­mos confrontando graus maiores de mudanças climáticas”.

O que é pior, uma resposta “fazer coisa alguma” às mudanças climáticas envol­ve riscos significativos. Hellman prossegue: “Nós antes podíamos dizer ‘deixe a natureza seguir seu curso’. Mas, por causa das alterações que a humanidade já causou no mundo, não existe mais isso de deixar a natureza seguir seu curso. Agora, tanto a ação, quanto a inação têm consequências negativas em poten­cial”. E Richardson acrescenta: “Portanto, temos que desenvolver novas ferra­mentas e novas maneiras para aquilatar os riscos da ação em comparação com a inação”.

A relocação gerenciada não é a única estratégia de adaptação controversa que está sendo considerada pelos cientistas. Outras estratégias que tais, incluem a fertilização dos oceanos para aumentar sua capacidade de absorção de gases de efeito estufa e, assim, reduzir as mudanças climáticas, a conservação de enor­mes corredores de migração que podem se estender por milhares de quilô­metros, e a preservação da diversidade genética das espécies ameaçadas em bancos de sementes.

A pressa pode matar

Muitas espécies sobreviveram a períodos anteriores, mais lentos, de mudanças climáticas através da evolução ou pela migração para habitats mais hospi­taleiros por seus próprios meios. Mais tais estratégias de sobrevivência estão agora frequentemente impedidas por: 1) a presença de cidades e outros obstá­culos não naturais que impedem que os organsmos alcancem novos locais; e 2) a velocidade das mudanças climáticas, que podem aumentar a temperatura média da terra em até 6 graus nos próximos 100 anos — uma mudança grande e rápida pelos padrões da natureza.

Na medida em que as temperaturas aumentam, porcentagens significativas de espécies do mundo acabam apanhadas em uma armadilha — como peixes fora da água — em habitats que se tornaram muito quentes, muito secos, ou muito qualquer-coisa para elas. Assim, elas podem se extinguir ou perder segmentos gene­ticamente importantes de suas populações. Tais perdas podem estragar grandes ecossistemas e causar danos a sistemas agriculturais, culturais e econômicos.

Negócio arriscado

As considerações do grupo de trabalho sobre a relocação gerenciada não encer­raram as controvérsias que cercam o emprego dessa estratégia que, algumas vezes, colocava os próprios membros do grupo em confronto. Por que a relo­cação gerenciada é tão controversa? Porque ela não responde à pergunta: Nós real­mente sabemos o suficiente para predizer como os organismos irão se com­por­tar nas novas localizações e se eles serão prejudiciais aos habitats que os receberem?

“Os resultados da introdução intencional ou acidental de espécies em novos habitats nos ensinou um bocado sobre as implicações de levar organismos a novos habitats”, diz Richardson. “Não obstante, as predições sobre se as espé­cies introduzidas irão dominar as novas áreas e os possíveis impactos, sempre envolverão incertezas. Mas podemos fazer uma previsão razoavelmente boa, dentro de margens de incerteza pré-estabelecidas”.

Para isso, a ferramenta dos pesquisadores é projetada para auxiliar a expor os riscos da relocação gerenciada, os compromissos e custos — considerações que frequentemente estão ausentes da tomada de decisões quanto aos recursos naturais. Ela fornece, especiicamente, aos detentores do poder decisório um sistema de pontuação individual para cada relocação proposta com base em critérios multidisciplinares. Esses critérios multidisciplinares incluem a probabi­lidade de sucesso de uma relocação proposta, seu potencial risco de danos ao ecos­sistema hospedeiro, seus custos, seu potencial de violação da Lei de Proteção às Espécies Ameaçadas e a importância social e cultural das espécies atingidas.

As comparações dos escores dos tomadores de decisões os auxiliarão a iden­tificar as fontes de suas divergências de forma a poder resolvê-las. A ferra­menta não consegue., entretanto, produzir recomendações de gerenciamento.

“A ferramenta tira vantagem do fato de que, embora a ciência não possa nos dizer exatamente o que acontecerá no futuro, ela pode nos dizer o quanto um resultado favorável é possível — o que é útil para os tomadores de decisões”, diz a Diretora de Programa da NSF Nancy Huntly.

Aplicável não só a especies ameaçadas

Além de abordar relocações gerenciadas de espécies ameaçadas, a ferramenta dos pesquisadores pode abordar também:

  • Relocações gerenciadas de espécies que não estão ameaçadas. Por exemplo, o artigo do grupo de trabalho na PNAS aplica a ferramenta ao debate acerca do plantio de certas espécies de madeiras de lei norte-americanas além do seu limite Norte, em florestas de coníferas. Essa aplicação seugere que tais relocações podem ser apoiadas por madeireiras comerciais que valorizam seu alto potencial em prover retornos econômicos, bem como a sua grande possi­bilidade de execução e baixo risco de prejudicar o ecossistema hospedeiro. Em oposição, os conservacionistas que valorizam a herança natural dos ecos­sistemas hospedeiros podem perceber benefícios menores e maiores riscos.
  • Outras estratégias controversas de adaptação relacionadas com as mudan­ças climáticas que estão sendo atualmente consideradas pelos cientistas, além da relocação gerenciada.


O quão firme é o rastro de carbono do concreto?


[ How Solid Is Concrete’s Carbon Footprint? ]

O concreto pode absorver mais dióxido de carbono do que era estimado

Illustration showing that concrete absorbs carbon dioxide over time reducing carbon footprint.

O concreto absorve dióxido de carbono com o tempo, de forma que seu rastro de carbono pode ser menor do que se pensava.
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18 de maio de 2009

Muitos cientistas atualmente pensam que ao menos 5% do rastro de carbono da humanidade venha da indústria de concreto, tanto pela energia usada, como pela emissão de dióxido de carbono (CO2) como subproduto da fabricação de cimen­to, um dos principais componentes do concreto.

Entretanto, vários estudos mostram que pequenas quantidades de CO2 são re­absorvidas pelo concreto, posteriormente, até décadas depois do concreto ser colocado, quando os elementos do material se combinam com o CO2 para formar calcita.

Um estudo que será publicado na edição de junho de 2009 de Journal of Environmental Engineering, sugere que a reabsorção pode ir além da formação de calcita, aumentando a quantidade total de CO2 removido da atmosfera, dimi­nuindo o rastro de carbono geral do concreto.

Embora de modo preliminar, a pesquisa da professora de engenharia civil e ambiental Liv Haselbach da Universidade do Estado de Washington reenfatiza descobertas observadas inicialmente a quase meio século – que compostos químicos com base me carbono podem se formar no concreto, além da calcita – agora sob a luz dos correntes esforços para mitigar o aquecimento global.

“Mesmo que esses compostos químicos neutralizem apenas 5% do subproduto de CO2
da fabricação de cimento, em escala global os números são signi­fi­cativos”, argumenta Haselbach. “Concreto é o material de construção mais em­pre­gado em todo o mundo”.

Os pesquisadores sabem há décadas que o concreto absorve CO2 para formar calcita  (carbonato de cálcio, CaCO3)
durante sua vida e até mais, se o concre­to for reciclado para novas construções – e, porque o concreto é algo permeá­vel, esse efeito se estende além das superfícies expostas.

Embora tais mudanças possam ser uma preocupação com relação à armação do concreto, onde uma mudança no nível de acidez pode danificar o metal ao longo das décadas, o CaCO3 é, na verdade, mais denso do que alguns materiais que ele substitui e pode aumentar a resistência.

Várias amostras de pavimentos de concreto no laboratório de Liv Haselbach.
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A análise cuidadosa de Haselbach em amostras de con­creto parece mostrar que outros compostos, além da cal­cita, podem estar se formando. Embora esses compostos continuem não identificados, ela está otimista acerca de seu potencial.

“Compreender a complexa química da absorção de dióxido de carbono no concreto pode nos auxiliar a desenvolver métodos para acelerar esse processo em materiais tais como o concreto reciclado ou pavimentação. Talvez isso possa nos ajudar a conseguir um rastro de carbono próximo do zero, ao menos para as reações químicas, ao longo do ciclo de vida de tais produtos”.

Isso é o que move o atual trabalho de Haselbach, finan­ciado pela NSF, no qual ela atualmente está procurando avaliar o rastro de carbono do ciclo de vida de várias apli­ca­ções de concreto, novas e tradicionais, e procurando maneiras para melhorá-las.

Bruce Hamilton, diretor do programa de sustentabilidade ambiental da NSF, acrescenta:  “Este trabalho é parte do elenco de estudos financiados pela NSF nessa área vital. Pesquisas relacionadas com mudanças climáticas são uma prioridade”.


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