Cidadania Elementar: como 2 minutos podem mudar o país

sherlock-holmes

Elementar, meu caro Watson“. Em “O signo dos quatro“, para testar as notórias habilidades dedutivas do detetive Sherlock Holmes, o pobre Dr. Watson lhe entrega um relógio de bolso que acaba de ganhar e pede que Holmes opine sobre o caráter e hábitos do antigo dono. A dedução é devastadora:

Ele era um homem de hábitos desordenados — muito desordenados e descuidados. Iniciou a vida com boas perspectivas, mas desperdiçou as oportunidades, viveu algum tempo na pobreza, com intervalos ocasionais de prosperidade, e por fim, entregando-se à bebida, faleceu“, deduz Holmes, simplesmente analisando o relógio de bolso.

Watson fica consternado, não menos porque o antigo dono do relógio era seu falecido irmão mais velho. A riqueza de detalhes só poderia significar que o detetive havia “decerto andado fazendo indagações sobre a história de seu infeliz irmão, e agora fingia ter deduzido de um modo abstruso aquilo que já sabia“.

Sherlock Holmes logo se desculpa, mas assegura que até então desconhecia que Watson tinha mesmo um irmão. Era apenas a aplicação de seu raciocínio dedutivo:

O que lhe parece estranho o é apenas porque você não acompanhou a linha do meu pensamento nem observou pequenos fatos dos quais se podem tirar grandes deduções. Por exemplo, comecei por certificar-me de que seu irmão era descuidado. Observando a parte inferior da caixa desse relógio, notará que ela não está gasta apenas em dois lugares, mas está toda amassada e arranhada: conseqüência do hábito de guardar objetos duros, tais como chaves ou moedas, no mesmo bolso. Decerto, não é grande façanha supor que um homem que trata tão desdenhosamente um relógio de cinqüenta guinéus seja um homem descuidado. Também não é muito rebuscada a dedução de que uma pessoa que herda um objeto de tamanho valor não esteja bem provida noutros sentidos“.

E continua:

Nas casas de penhor da Inglaterra é muito comum gravarem o número da caução, com um alfinete, na parte interna da tampa. É mais prático do que uma etiqueta, e não há perigo de que o número seja trocado ou perdido. Há pelo menos quatro desses números visíveis para a minha lente, no interior dessa tampa. Dedução principal: seu irmão via-se freqüentemente em apuros financeiros. Dedução secundária: ocasionalmente melhorava de vida, pois, do contrário, não poderia resgatar o penhor. Finalmente, peço-lhe que olhe para a tampa interna, onde fica o buraco da chave. Veja os milhares de arranhões em torno dele… são marcas deixadas pela chave, ao escorregar. A mão firme de um homem sóbrio nunca teria feito esses sulcos. Mas podem-se vê-los sempre no relógio de um bêbado. Quando lhe dá corda, à noite, tem a mão insegura“.

É fácil admirar a perspicácia de um detetive como Sherlock Holmes, mas a triste verdade é que Holmes é um personagem de ficção. A feliz verdade é que na vida real existem exemplos ainda mais impressionantes de perspicácia.

Bundesarchiv_Bild_183-L04352,_Deutschland,_Rüstungsproduktion,_Panzer

Na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, estimar quantos tanques de guerra os nazistas estavam fabricando era algo crucial para decidir estratégias de guerra. Não seria impressionante se, analisando apenas um tanque de guerra nazista, um “Sherlock Holmes” da vida real conseguisse elaborar uma série de deduções fantásticas do inimigo?

Pois o que aconteceu foi que analisando dois tanques nazistas capturados, analistas aliados conseguiram estimar que os alemães estavam produzindo 270 tanques ao mês. O Ricardo Bittencourt lá no blog Caixa Azul explica em Matemática x Tanques de Guerra os detalhes de como estatística foi usada para esta incrível dedução. Ao final da guerra, após verificar os registros de produção dos próprios alemães, descobriu-se que o número de tanques produzidos naquele mês foi de… 276.

De Sherlock Holmes a tanques de guerra, estes nexos foram para chegar às eleições:

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=wQEsHOqXP9s”]

Cito aqui o “Você Fiscal“:

Apesar do que é divulgado, a urna eletrônica brasileira tem falhas gravíssimas de segurança. Ninguém da sociedade civil tem acesso aos detalhes de como os votos são contados pelo software da urna.

Os últimos testes em 2012, mesmo limitados e curtos, quebraram o sigilo do voto com facilidade. O TSE suspendeu a realização de novos testes depois disso.

E o que nós fazemos agora? Bem, podemos aproveitar uma oportunidade única de sermos detetives, ou melhor, fiscais, de verdade, do principal evento de cidadania em nosso país. E não é nada complicado ou burocrático.

Não tão diferente de como os aliados, analisando apenas um par de tanques, puderam estimar a produção de todos os tanques alemães, nós podemos fiscalizar com surpeendente efetividade os resultados das urnas registrando apenas alguns Boletins de Urna. Com um simples celular.

O Você Fiscal é um aplicativo que permite a qualquer eleitor fiscalizar a urna em que votou, registrando o Boletim de Urna (BU) ao fim da eleição para detectar fraudes através de amostragem colaborativa.

O Você Fiscal é iniciativa do Prof. Diego Aranha, da Unicamp, pesquisador respeitado nas áreas de segurança computacional e criptografia. Tudo colaborativo, transparente e simples.

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=3sIE6AxJKkU”]

Podemos duvidar das pesquisas eleitorais, podemos questionar a confiabilidade do processo eleitoral, mas mais do que isso, podemos de verdade fazer algo para garantir que o processo eleitoral seja mais transparente e com isso, válido. Fotografar um punhado de boletins de urna pode não parecer fazer muita diferença, mas com muito menos alguns dos segredos mais guardados pelos nazistas foram revelados.

E, veja, pelos riscos no seu celular podemos deduzir que você pode dedicar o que talvez sejam os minutos mais bem gastos de cidadania.

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