Divulgando ciência “errada” do jeito certo
“O Sol é uma Massa de Gás Incandescente” pode soar como mais um daqueles “fatos científicos” de um monótono livro. Mas em sua versão em inglês já permite perceber a rima que pode formar mesmo um refrão: “The Sun is a Mass of Incandescent Gas” – repita três vezes, ou assista ao fantástico clipe da música acima cantada pelos They Might Be Giants, todo legendado para vocês.
Já havíamos destacado as excelentes canções de divulgação científica da banda TMBG no ano passado, mas um detalhe passou despercebido. A música acima é a nona faixa do CD e DVD, intitulada “Por que o Sol Brilha?”. Ela é seguida pela última faixa, “Por que Realmente o Sol Brilha?”. Porque, muito simplesmente, a divertida música original de divulgação científica estava errada.
Confira a próxima faixa, também legendada, “Por que Realmente o Sol Brilha?”:
O refrão é agora “O Sol é um Miasma de Plasma Incandescente”, ou na rima em inglês, “The Sun is a Miasma of Incandescent Plasma”. Não é realmente feito de gás, e sim de plasma, “nem gás, nem líquido, nem sólido”, o quarto estado da matéria.
É sensacional apresentar duas músicas bacanas, uma após a outra, em que a segunda contraria a primeira. Alguns estranhariam, mas esta é a própria natureza do processo científico, e pode ser bem entendida porque a música original ensinando que o Sol é uma massa de gás foi originalmente escrita da década de 1950, baseada em um livro de divulgação de 1951.
A série original de discos de vinil de onde a banda TMBG tirou a música sobre o Sol foi produzida há mais de meio século por Hy Zaret e Lou Singer, e algo fortuitamente curioso é que Zaret também escreveu a letra de “Unchained Melody”, uma das mais tocadas músicas de todos os tempos, conhecida mesmo das gerações atuais como “a música do filme Ghost”. Da próxima vez que escutar o refrão “oooohhhh my love”, você pode se lembrar que o mesmo compositor ensinava que “the sun is a mass of incandescent gas”. e tantas outras lições que ao contrário desta continuam válidas – mas podem se mostrar não tão válidas em mais alguns anos.
Em tempos de Internet, Jef Poskanzer converteu todos os discos da série original “Baladas para a Era da Ciência” ao formato digital e disponibiliza as músicas para download, são imperdíveis. Clique para conferir:
Imperdíveis, ainda que algumas contenham conhecimento datado, e que de fato, já era datado na década de 1950. A divulgação científica não raro caminho com um pouco de atraso em relação aos avanços da ciência, e antigamente isso era ainda mais verdade. Mais importante que uma coleção de “fatos”, seja o sol gás ou plasma, é entender que a ciência envolve o método científico através do qual o conhecimento é constantemente atualizado.
O caso das músicas lembra outro episódio de letras de música com referência à ciência sendo corrigidas, como “Nine Million Bicycles” de Katie Melua, que já foi blogado por aqui em 2008. Você também pode conferir Michael Shermer comentando o caso no final de sua apresentação TED em 2006 (pouco depois dos 11 minutos), clique em “view subtitles” para legendas.
Cientistas ou mesmo divulgadores de ciência não são seres perfeitos. Além dos erros, há fraudes e há mau caráter como em todo empreendimento onde houver seres humanos. Mas em nenhum outro empreendimento humano a busca, exposição e reconhecimento de erros e enganos é um dos mecanismos centrais e essenciais como é na ciência, e é fabuloso que esta capacidade de reconhecer e lidar com erros se transmita mesmo na forma como divulgadores de ciência possam lidar com suas próprias trapalhadas. Quem dera outras instituições e figuras tratassem suas próprias limitações com tanta naturalidade.
Como bem resumiu Shermer, “quão sensacional não é isto?”.
O Fiasco da Inteligência
Em um futuro distante, a humanidade finalmente descobre sinais de uma civilização alienígena no planeta “Quinta” próximo de Beta Harpiae, e uma ambiciosa missão é enviada para estabelecer contato. Mas este é um romance de Stanislaw Lem, “Fiasco” (1987), e a história é muito diferente dos lugares comuns da ficção científica.
Depois de vencer as enormes distâncias, a missão se depara com um pequeno problema: os alienígenas não estão minimamente interessados em estabelecer contato. Descobre-se que, de certa forma, pior do que encontrar uma civilização alienígena hostil é encontrar uma civilização alienígena completamente indiferente à existência da humanidade. O oposto do amor não é o ódio, é a indiferença.
Com o orgulho mais do que ferido, os humanos da missão não se contentarão até cumprir o objetivo tão simples de estabelecer “contato”. Tomarão medidas cada vez mais drásticas para chamar a atenção dos Quintanos, completamente alheios ao fato de que os Quintanos, como alienígenas, simplesmente pensam de forma alienígena.
O final do romance é o fiasco do título, enquanto o protagonista finalmente descobre por que os ETs não receberam os humanos de braços abertos, no tão almejado e presumivelmente simples “contato”.
Provocador como possa ser, e leitura mais do que recomendada, não é preciso viajar até Beta Harpiae para encontrar inteligências diferentes da nossa.
Cérebros de Passarinho
Incrivelmente, uma destas inteligências superiores é a dos pombos. Em um trabalho publicado recentemente, Walter Hebranson e Julia Schroder demonstraram como pombas comuns (Columba livia) podem aprender a melhor tática para o problema de Monty Hall muito mais rapidamente que os tais orgulhosos seres humanos, que de fato podem jamais adotar a melhor estratégia.
Isso ocorre porque o problema de Monty Hall é literalmente uma “pegadinha” com um resultado contra-intuitivo. Já escrevi sobre o tema em um texto anterior, mas basicamente envolve três portas, uma das quais tem um prêmio. Você escolhe uma porta, e então uma das outras duas portas, que não contém o prêmio, é aberta. Finalmente vem a pergunta que testará se sua inteligência é superior à de um pombo: é vantajoso trocar a porta que você escolheu inicialmente pela porta que restou?
A maioria das pessoas utilizará parte de seus 100 bilhões de neurônios e concluirá que, restando duas portas, apenas uma das quais tem o prêmio, as chances de que qualquer uma delas seja a premiada é de 50%. Não faria diferença trocar ou não de porta.
E é aqui que pombos, com seus cérebros menores que uma noz, o humilharão. Treinados no experimento de Hebranson e Schroder, onde o prêmio era algo tão simples como alpiste, eles ajustaram sua estratégia para a melhor resposta, que é… trocar. Porque no problema de Monty Hall, ao trocar você terá o dobro de chances de levar o prêmio. Se permanecer com a escolha inicial, terá apenas 1/3 de chances de ganhar. Se isto lhe parece absurdo, confira o texto, ou experimente simular o problema milhares de vezes aqui, aqui ou aqui, porque este é um resultado tão matematicamente certo quanto 1+1=2.
Pombos não são, claro, realmente mais inteligentes que eu ou você, esta foi apenas uma provocação. Porém neste caso específico, apesar ou exatamente por causa de sua inteligência limitada, foram capazes de perceber após muitas e muitas tentativas que trocar é a melhor estratégia. Um ser humano é capaz de dar uma resposta – errada – antes mesmo de qualquer tentativa, simplesmente porque é capaz de modelar o problema mentalmente e aplicar raciocínios lógicos. Ainda que incorretos.
A lição fabulosa está neste trecho do sumário do trabalho:
“A replicação do procedimento com participantes humanos mostrou que os humanos falharam em adotar estratégia ótimas, mesmo com extenso treinamento”.
Isto é, presos à modelagem mental de que somos capazes com nosso fabuloso cérebro mesmo antes de uma única tentativa, podemos deixar de perceber que ela está incorreta mesmo após inúmeras tentativas reais que deveriam deixar isto claro. A pesquisa ainda indicou algo fascinante: “participantes humanos” mais jovens se saíram melhor que os mais velhos, talvez mais propensos a observar os resultados do experimento do que confiar em seu julgamento prévio.
Alguns poderiam dizer que jovens têm um cérebro mais parecido com o de um “passarinho”, ao que um jovem poderia responder que na mesma medida em que um “passarinho” pode ser mais inteligente que um ser humano.
Antes de louvar as pombas, ou mesmo esta abordagem simplista centrada unicamente na observação de resultados, contudo, vale lembrar que pombas também podem desenvolver comportamentos “supersticiosos”, sem ao que sabemos jamais refletir sobre o que estão realmente fazendo. O equilíbrio da dedução, observação e indução em busca dos melhores resultados pode ser visto justamente como o objetivo do método científico aplicado.
O Dilema dos Camundongos
Em outro trabalho recente atingindo diretamente nosso orgulho humano, pesquisadores portugueses demonstraram que ratos de laboratório também conseguem “resolver” o famoso dilema do prisioneiro, adotando estratégias ótimas de acordo com a estratégia de seus pares. A descrição clássica do dilema:
“Dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia. A polícia não tem provas suficientes para condená-los, mas, mantendo os prisioneiros separados, oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros, confessando, testemunhar contra o outro e esse outro permanecer em silêncio, o que delatou sai livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos de sentença. Se ambos ficarem em silêncio, a polícia só pode condená-los a 6 meses de cadeia cada um. Se ambos traírem o comparsa, cada um passará 5 anos na cadeia. Cada prisioneiro faz a sua decisão sem saber que decisão o outro vai tomar, e nenhum tem certeza da decisão do outro”.
A solução ao dilema simples não é muito “bonita”: trair é a resposta, porque na melhor das hipóteses se sai livre, na pior cumprem-se cinco anos. Silencie e na melhor das hipóteses cumprem-se seis meses, e na pior, dez anos. Trair é a resposta.
Se isto não parece “bonito”, isto curiosamente pode se dever ao fato de que o dilema do prisioneiro, como apresentado acima, raramente ocorre dessa forma. Ou melhor, dilemas muito similares podem sim se apresentar, com a pequena diferença de que se podem se apresentar diversas vezes, de forma imprevisível. Seria o dilema do prisioneiro iterado, e nele, a melhor estratégia… é a “bonita” cooperação.
E foi isto que os ratos de laboratório no experimento português aprenderam. O estudo demonstra que “os ratos possuem as capacidades cognitivas necessárias para a cooperação baseada em reciprocidade emergir no contexto do dilema do prisioneiro”.
Uma demonstração de implicações fantásticas. Um detalhe, no entanto, me pareceu outra lição fabulosa, que também pinçamos do sumário:
“Mostramos que o comportamento dos ratos é dependente de seu estado motivacional (faminto versus saciado)”.
Isto é, os pesquisadores notaram que em experimentos anteriores ratos haviam falhado em desenvolver estratégias mais sofisticadas, incluindo a cooperação, e sugerem que isso pode ter se devido ao fato de que em tais estudos os ratos estavam famintos. Em seus testes, os ratos portugueses estavam devidamente saciados e puderam assim se dar ao luxo de experimentar e desenvolver diferentes estratégias.
O detalhe de desenvolver o experimento levando em conta a saciedade dos ratinhos é genial, óbvio em retrospecto, e lembra um discurso de Richard Feynman sobre o esmero necessário no desenvolvimento da ciência.
Obrigado pelos Peixes
Depois de ciência fascinante, do tipo que parece se relacionar diretamente com questões das mais relevantes a nós, não poderia deixar de retornar à ficção científica da melhor qualidade e lembrar de Douglas Adams e como em seu fabuloso Universo <SPOILER!>ratos de laboratório são as protrusões físicas em nossa dimensão de uma raça de seres pandimensionais hiper-inteligentes que construíram a Terra, sendo assim os seres mais inteligentes no planeta. Pensamos que os usamos como cobaias em experimentos, mas em verdade são eles que nos usam em seu grande experimento para a Questão da Vida, o Universo e Tudo Mais.</SPOILER!>
Comédia, evidente, mas que ratos sejam capazes de desenvolver estratégias de cooperação até então vistas em orgulhosos seres humanos deve provocar questionamentos sobre se o que consideramos “bonito”, a cooperação, é algo que advém de uma moral contida em um manuscrito religioso de quase dois mil anos, ou se pode ser melhor explicada por processos evolutivos muito mais antigos. Processo que nossos parentes camundongos, não tão distantes de nós, também partilham e podem exibir, mesmo sem ter contato com qualquer Messias roedor.
Podem ser, como os pombos, tão ou até mais “inteligentes” que nós, embora de formas diferentes. Ao menos quando não estão famintos. [via Not Exactly Rocket Science e The Scientist, imagem do Jumping Brain de Emilio Garcia]
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- Herbranson, W., & Schroeder, J. (2010). Are birds smarter than mathematicians? Pigeons (Columba livia) perform optimally on a version of the Monty Hall Dilemma. Journal of Comparative Psychology, 124 (1), 1-13 DOI: 10.1037/a0017703
- Viana DS, Gordo I, Sucena E, & Moita MA (2010). Cognitive and motivational requirements for the emergence of cooperation in a rat social game. PloS one, 5 (1) PMID: 20084113
Prêmio Bê Neviani
Porque não basta divulgar, tem que dispersar!
Depois do recente anúncio feito pela vetusta Biblioteca do Congresso (Library of Congress), comunicando que arquivará todas as mensagens públicas postadas no Twitter desde o início do serviço de microblog, não restam dúvidas de que esta mídia social veio para ficar.
Segundo os cofundadores Bizz Stone e Evan Williams, hoje o Twitter tem 105 milhões de usuários registrados, e 300 mil novos usuários ingressam no serviço a cada dia. Seu crescimento médio foi de 1.500% por ano, desde a fundação da "Twitter Inc" em março de 2006. O serviço atende a 19 bilhões de buscas por mês. Apenas comparando, o Google atende a 90 bilhões no mesmo período.
Não se pode negar – o Twitter é uma ferramenta 2.0 por excelência: seu conteúdo é gerado e compartilhado pelos próprios usuários. A dinâmica do microblog funda-se primordialmente na atuação dos tuiteiros, que seguindo e sendo seguidos, dispersam conteúdos virtuais.
A ação de tuiteiros que dispersam conteúdos relevantes no universo tuitiano merece destaque e deve ser aplaudida. Foi essa premissa que inspirou a criação do Prêmio Bê Neviani, reconhecendo a incrível capacidade de dispersão de tuítes com conteúdo diversificado, como cultura, ciência, tecnologia, notícias e muito mais, do perfil @Be_neviani.
Hoje, dia 22 de abril de 2010, estamos lançando o Prêmio Bê Neviani: porque não basta divulgar, tem que dispersarRegulamento:
– O Prêmio Bê Neviani é aberto a todos os tuiteiros que tenham blogues de conteúdo informativo: ciências, cultura (literatura, cinema, artes, fotografia, música, etc), filosofia, notícias, dicas e assemelhados.
– Os blogues participantes da campanha tuitarão, no período de 23 de abril de 2010 a 23 de maio de 2010 links para seus posts, publicados em qualquer data e com qualquer temática, obrigatoriamente usando a hashtag #PremioBeNeviani e o encurtador de links Bit.ly.
– No período de vigência da campanha, os retuítes (RTs) que os links desses posts receberem serão computados para a apuração de dois ganhadores, um em cada uma das duas seguintes categorias:
Categoria 1: blogueiros – o vencedor será o blogueiro cujo post recebeu mais RTs. O prêmio dessa categoria será o livro "Criação Imperfeita", de Marcelo Gleiser.
Categoria 2: tuiteiros – o vencedor será o tuiteiro que deu RTs em qualquer dos tuítes postados durante a vigência da campanha. Essa categoria terá sua apuração por sorteio. O prêmio para essa categoria será o livro "Além de Darwin", de Reinaldo José Lopes.
O anúncio do prêmio será em 30 de maio de 2010, pelo Twitter.
Para participar, envie um tuíte para as administradoras @sibelefausto ou @dra_luluzita, ou então comente aqui, que entraremos em contato.
Abaixo, segue a relação dos blogues e tuiteiros participantes. À medida que mais blogueiros aderirem a essa campanha, essa listagem será atualizada.
Blog – Blogueiro-tuiteiro
100nexos @kenmori
Amiga Jane @lacybarca
Bala Mágica @balamagica
Blog Bastos @bastoslab
CeticismoAberto @kenmori
Chapéu, Chicote e Carbono 14 @reinaldojlopes
Ciência ao Natural @CienAoNatural
Ciência na Mídia @ciencianamidia
Diário de um Gordo @Edgard_
Discutindo Ecologia @brenoalves e @luizbento
Dicas Caseiras para quem mora só @uoleo
Ecce Medicus @Karl_Ecce_Med
Efeito Azaron @efeitoazaron
Ideias de Fora @IdeiasdeFora
Joey Salgado… mas bem temperado @joeysalgado
Karapanã @alesscar
Maquiagem Baratinha @aninhaarantes
Meio de Cultura @samir_elian
Minha Literatura Agora @jamespenido
O Amigo de Wigner @LFelipeB
O divã de Einsten @aninhaarantes
O que todo mundo quer @desireelaa
Psiquiatria e Sociedade @danielmbarros
Química Viva @quiprona
Quiprona @quiprona
Rabiscos @skrol
Tage des Glücks @nataliadorr
Tateando Amarras @eltonvalente
Terreno Baldio @lacybarca
The Strange Loop @josegallucci
Toda Cultura à Nossa Volta @fabiocequinel
Tuka Scaletti @TukaScaletti
Twiterrorismo @aninhaarantes
Uma Malla pelo Mundo @luciamalla
Uôleo @uoleo
XisXis @isisrnd
Majestosa Imperfeição
A primeira religião monoteísta da história humana, há mais de 3.000 anos, louvava o Sol – Aton – reconhecido como poder supremo e fonte última que alimentava a vida. Não é descabido imaginar que mesmo antes disto, as primeiras reverências de nossos ancestrais proto-humanos já reconhecessem a importância do astro-rei, e mais do que sua importância: a sua perfeição.
Dia após dia, no que por quase toda nossa história foi a própria definição de “dia”, lá surgia pontualmente o disco solar trazendo luz e calor tão essenciais para que sobrevivêssemos. Fácil compreender assim que os raros eventos de eclipses, estas aparentes anomalias na perfeição solar, fossem vistos como maus presságios por culturas isoladas em quase todo o planeta.
Com o tempo, e principalmente, em nossa cultura ocidental, o Sol visto como deus foi deixado um pouco de lado. Heresia, inclusive. Curiosamente, seria então o renascimento da ciência, com observações e argumentações racionais, que viria a ressaltar novamente o que mesmo nossos ancestrais já percebiam como óbvio.
Continue lendo mais uma coluna Dúvida Razoável no blog Sedentário&Hiperativo.
A Evolução do Homem – e da Mulher
Em uma das variações do ícone “Marcha do Progresso”, original que todos conhecem mas não pelo nome, o artista Tom Rhodes criou “A Evolução do Homem e da Mulher”, explorando com uma boa licença artística o gênero Homo, do habilis até o neanderthalensis e o sapiens, vulgo “é nóis”. Clique na imagem para a versão completa e sem censura.
Como explica no processo de criação, Rhodes pentelhou um tanto os antropólogos da Universidade de Calgary, com várias contribuições da dra. Anne Katezenberg, que sugeriu o detalhe mais interessante na arte: retratar também uma mulher. Por incrível que pareça em retrospecto, todas as representações derivadas da Marcha do Progresso são da evolução do gênero masculino. É ainda mais incrível dado que a evolução não aconteceria se homem e mulher não fizessem o que homens e mulheres podem fazer.
Como Tim Dean nota, contudo, a ilustração também tem seus problemas, como o que parece uma tendência à cor da pele ir clareando, algo que de forma alguma é sugerido pela evidência, que indica em verdade o contrário. Os primeiros indivíduos de nossa espécie deviam ser negros. Mesmo outras tendências aparentes, como o aumento de estatura, não são tão claras assim – até porque, ao contrário do que a imagem parece indicar, até onde se sabe Neandertais não foram nossos antepassados.
“Mas, ei, não é uma ilustração científica, é uma ilustração de algo científico”, perdoa Dean. É mesmo uma divertida ilustração dos últimos milhões de anos.
O Guia Mangá de Física
“A Física tira você do sério?”
Já no prólogo o Guia Mangá de Física Mecânica Clássica (Novatec, 2010) faz a pergunta que a maioria dos estudantes nem precisaria responder: bastaria uma olhada em sua expressão talvez idêntica ao desenho acima. É uma das matérias mais odiadas por alunos em todo o planeta, do Japão ao Brasil. Poderia bem ser uma lei da natureza considerar a Física simplesmente “difícil”, mas essa dificuldade é em grande parte devida à falta de contato com os conceitos e ferramentas usados.
Aqui entra o Guia Mangá de Física, que pode familiarizar o público com os principais conceitos de Física Mecânica, das Leis de Newton à Conservação de Energia, seguindo o modelo popular no Japão de usar quadrinhos para explicar de tudo. Já resenhamos aqui o Guia Mangá de Eletricidade, e o guia de física é ainda melhor.
Talvez mais condizente com o currículo escolar brasileiro, e também por abordar apenas uma das áreas da física, os conceitos são explorados com mais calma. São quatro capítulos: Lei da Ação e Reação; Força e Movimento; Momento Linear e então Energia, abordados enquanto Megumi aprende a matéria com seu colega Ryota. No melhor estilo Mangá, eles logo se tornam mais do que amigos, tudo começando com uma partida de tênis. Afinal é física!
Como nos outros livros da série Guia Mangá, a história é o fio que une uma grande densidade de informação em cada página, com exemplos práticos e ilustrações sensacionais, complementados por textos mais técnicos expondo por exemplo as temidas fórmulas entre cada capítulo. As principais equações, no entanto, como F=ma, são abordadas nos próprios quadrinhos. E, se você reparar bem, a presilha que Megumi usa no cabelo é um sinal de igual, “=”.
São detalhes assim que tornam este guia mangá algo que me pareceu que crianças podem realmente acabar gostando. Não é um livro mágico: se o pimpolho não gostar de ler, se já tiver aversão por física, talvez acabe odiando ainda mais a matéria. Mas para crianças que possam apreciar primeiro a história do mangá enquanto têm um contato com idéias fundamentais na física apresentadas de forma divertida – com conceitos mais complexos separados nos textos que elas poderão pular e conferir depois – talvez… acabem até gostando de física?
Veja como o guia mangá ilustra o conceito da conservação da energia:
É ou não sensacional? O autor e o desenhista não perdem a oportunidade de brincar depois com a idéia da energia como um sujeito todo musculoso de sunga. Há várias outras ilustrações cheias de imaginação e humor para conceitos físicos que em livros didáticos comuns são apenas palavras ou quando muito fotos.
O Guia Mangá de Física Mecânica Clássica não irá, contudo, substituir um livro didático da matéria com centenas de páginas e exercícios não tão divertidos, mas necessários, para fixação. No entanto, aborda sim todos os principais conceitos da física mecânica que um estudante verá até o final do ensino médio, em uma linguagem realmente divertida e acessível para todos. Mesmo para adultos que tenham esquecido do que viram no ginásio, é uma leitura rápida e divertida com novos exemplos para as idéias. Altamente recomendado.
Você pode conferir o sumário e baixar um trecho (incluindo os homens-energia acima) no site da editora, que enviou um exemplar para resenha por este que escreve aqui. E eu irei sortear esse exemplar para vocês! Acompanhe o 100nexos para mais detalhes em breve.
Sem depender de sorte, o desconto de 20% no site da editora Novatec continua valendo até o dia 30/04/2010! Basta utilizar o código promocional “100NEXO” no carrinho de compras.
Lançamento da Apollo 11 em câmera lenta
Os primeiros instantes de uma viagem histórica de 400.000 km, registrados a 500 quadros por segundo, agora em alta definição. Incomensuravelmente imperdível (clique no vídeo para a versão em HD no Youtube).
A narração também é muito boa, explicando em detalhes o que estamos vendo:
- Logo no início vemos as chamas subindo, que são então sugadas para baixo. É porque a queima de querosene e oxigênio líquido logo alcança a potência total e é tanto material sendo ejetado para baixo, com tanta força – mais de 3.000 toneladas de empuxo -, que o ar circundante também é sugado.
- Também podemos ver muitas partículas brancas caindo. É o gelo que havia se formado ao redor dos tanques de oxigênio líquido, a -184 graus Celsius, caindo com as trepidações.
- Outro detalhe curioso: logo na saída dos foguetes, vemos um gás escuro, que só depois fica brilhante. O gás escuro vem direto das turbinas, e é escuro porque é realmente mais frio. Sendo mais frio, é direcionado como um envoltório na parte exterior da queima, servindo como uma espécie de isolante térmico protegendo em parte o bocal de saída.
- Mais adiante, todo o quadro fica branco, e quando voltamos a enxergar podemos ver algo queimando. Mesmo isto foi projetado, com uma espécie de tinta desenvolvida para não só queimar como, ao fazê-lo, também proteger o material abaixo, para que a plataforma possa ser reutilizada mais vezes. O material fica ao final completamente negro, carbonizado.
- Um detalhe é que a esta altura tudo queima… em meio a jatos de água, que já estão sendo despejados para resfriar a plataforma. Boa parte da água
sublimaevapora instantaneamente, daí todo o vapor dominando a cena. A água só se torna mais reconhecível momentos depois, e fica mais clara nos instantes finais do vídeo, quando atinge a câmera.
Já escrevi por aqui sobre como as distâncias das missões Apollo, traduzidas em pixels, poderiam fornecer uma noção do quão espetacular foi a façanha. O vídeo e a explicação dos fenômenos, indicando a extensão em que os mínimos detalhes de algo descomunal foram planejados, é mais uma forma de apreciar o feito.
“Não se pode enfatizar o quanto de mais valoroso o sucesso do projeto Apollo representa, as conquistas são intermináveis”, começou a série “A Humanidade não merece ir à Lua“, que seguiu com as partes II, III, IV, V e… a parte final, que ainda deve ser publicada levando em conta as reviravoltas recentes na política espacial americana.
As missões Apollo foram e são motivo de orgulho e inspiração, registrados em vastas distâncias ou mesmo a 500 quadros por segundo, com tantos eventos, fenômenos e detalhes que poderiam se estender por ainda mais tempo. [via Nerdcore]
Um bug no código de barras
Uma ladybug, para ser mais específico. Quando vi a imagem, levei alguns segundos para entender que não era algum líquido marrom que havia pingado sobre o código, e sim uma joaninha.
Suas pintas têm quase exatamente o mesmo tamanho e espaçamento que os pontos hexagonais do “maxicode”, que não é exatamente um “código de barras”, mas um código bidimensional.
O código deve ter redundância então é possível que mesmo com a joaninha ele possa ser lido corretamente, mas deve causar certa confusão. [via Cute Overload]
Cartocacoete: as Américas são um Pato
Já vimos que a América do Sul em um combo com a África produz um T-Rex.
Agora vem a revelação de que as Américas como um todo formam um pato.
E o mais perturbador é que parece um certo pato argentino comentado pelo Reinaldo.
Cartocacoete. [via Eu Podia Tá matando]
A barra de progresso de download é uma ilusão
Olhar uma barra de progresso avançando lentamente não é um dos momentos mais emocionantes ao mexer em um computador, mas já inclui uma ilusão de percepção. Um estudo de Chris Harrison, Zhiquan Yeo e Scott Hudson, da Universidade de Carnegie Mellon, mostra que barras de progresso animadas, que hoje são onipresentes em sistemas operacionais, aparentam ser até 11% mais rápidas do que realmente são.
No vídeo acima, cortesia da New Scientist, todas as barras com animações variadas avançam com a mesma velocidade, mas é possível perceber que algumas parecem andar mais rápido que outras. Posteriormente vemos como uma barra em que a variação de cor se torna mais rápida à medida que a barra se aproxima do final parece acelerar – quando a velocidade é, em verdade constante. Finalmente, vemos como uma animação com “ondas” movendo-se na mesma direção do progresso da barra parece fazê-la andar mais devagar. Ondas no sentido contrário, ao invés, aceleram a percepção de avanço.
Tudo ilusão, e uma baseada em estudos anteriores que já haviam mostrados como estímulos rítmicos – como ondas piscando – podem alterar a percepção de tempo, e também como nossa percepção de movimento depende do contexto. O primeiro efeito explicaria a ilusão de movimento acelerado com piscadas gradualmente acelerando, o segundo responderia pela aceleração aparente à medida em que as ondas viajam no sentido contrário parecem destacar o movimento da barra de progresso.
Fãs de produtos Apple ficarão animados com o fato de que barras de progresso com animações similares alcançaram os computadores da empresa de Steve Jobs já há mais de uma década, mas usuários Windows vêm apreciando barras de progresso mais animadas em versões recentes do sistema. Tais melhorias visuais não parecem ter levado em conta tais efeitos de percepção: as animações foram originalmente inseridas provavelmente como um simples indicador de que o sistema não travou e então também como atrativos visuais.
Curiosamente, talvez por isso mesmo nenhum desses sistemas aplica as ilusões da forma mais efetiva indicada agora pelo trabalho de Harrison. A direção em que as “ondas” de movimento na barra viajam deveria ser invertida, e as mudanças pulsantes de cor poderiam, ao invés de ser constantes, acelerar à medida em que a tarefa chegasse perto do fim.
São apenas ilusões de progresso: a velocidade das barras continuará exatamente a mesma, mas este é um caso em que o usuário poderá gostar de ser enganado, vendo o tempo passar mais rápido.
Só torçamos para que operadores de telemarketing não passem a explorar também ilusões auditivas. [via Gizmodo BR]
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Harrison, C., Yeo, Z., and Hudson, S. E. 2010. Faster Progress Bars: Manipulating Perceived Duration with Visual Augmentations. In Proceedings of the 28th Annual SIGCHI Conference on Human Factors in Computing Systems (Atlanta, Georgia, April 10 – 15, 2010). CHI ’10. ACM, New York, NY. (22% acceptance rate, Best Paper Nomination)