A Física contra-intuitiva das Caixas de Cereais

tradução autorizada do fenomenal Fogonazos, de Antonio Martínez Ron

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Imagem:
Universidade de Stanford

Se é um consumidor habitual de cereais, já deve ter observado mais de uma vez um estranho fenômeno: os pedaços maiores e pesados ficam na parte mais alta do saco, ao invés do fundo, como seria de se esperar. Este fenômeno, batizado na´física como o “efeito muesli”, é também conhecido como “efeito castanha-do-pará”, uma vez que em latas de castanhas é esta variedade (a maior) que costuma aparecer na parte superior.

O efeito tem uma importância vital para algumas indústrias dedicadas ao empacotamento e foi descoberto na década de 1930 ao se observar que os objetos mais pesados tendiam a ascender no interior de uma mistura se esta era agitada. Para comprová-lo, basta tomar um recipiente cilíndrico, enchê-lo de alguma substância homogênea, introduzir um objeto mais pesado em seu interior e agitá-lo. O resultado, como verá no vídeo de Sixty Symbols, é o contrário do que nos diz a intuição:

Mas por que os objetos mais pesados sobem ao invés de descer? A explicação obedece a uma variedade de fatores físicos que vão desde a aceleração que o movimento produz, a corrente de convecção (o movimento relativo das partículas em relação a outras) bem como a temperatura ou a densidade dos materiais.

Mas não é o único fenômeno físico inspirado pelo mundo dos cereais. Na mecânica de fluidos também se conhece o “efeito Cheerios” (em referência a uma conhecida marca deste produto) como a propriedade de certos objetos flutuantes de atrairem-se mutuamente. Um exemplo muito ilustrativo ocorre ao verter alguns cheerios sobre uma tigela com leite e observar que muitos se atraem e terminam juntando-se no centro do recipiente.

A explicação está na tensão superficial, que permite à superfície de um líquido atuar como uma espécie de fina membrana e pela qual flutuam alguns insetos. Em função da densidade do objeto esta superfície se deforma e faz com que se desloquem um em direção aos outros (mais exemplos). [via Reddit]

Veja também: Diez reacciones de la materia que quizá no te esperabas | Be maicena, my friend! (Fogonazos)

Dinossauros tinham gosto de… frango?

Qual seria o gosto da carne de uma iguana? Pomba? Ou um… Tiranossauro? Pois em “Tastes Like Chicken” (PDF em inglês), ou “Tem gosto de frango“, Joe Staton do Museu de Zoologia Comparada de Universidade de Harvard aborda a questão. Com ciência! E oferece este diagrama:

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Como Staton informa, os organismos com caixas antes das legendas foram usados como “fontes de dados no modelo”, leia-se, ele mesmo experimentou a carne onde possível ou confiou no relato de pessoas que o fizeram. Isso inclui humanos, que teriam gosto de porco. Aqueles sem caixas, como o rato, a salamandra gigante ou o Tiranossauro tiveram seu gosto inferido baseado em ancestrais comuns.

Pois este artigo publicado nos Annals of Improbable Research, publicação da organização mais conhecida por conceder o prêmio IgNobel, faz rir e então pensar. De todas as formas de verificar e aplicar conhecimentos de biologia e zoologia, incluindo a teoria da evolução, o gosto da carne de animais tetrápodos – com quatro patas – parece razoavelmente compatível com o esperado. Animais com ancestralidade comum geralmente têm gosto parecido.

É esta segurança que leva Staton a sugerir que dinossauros, ancestrais da própria galinha, tinham gosto de galinha. Ou vice-versa. Ou melhor, como ele conclui,

“Como resultado deste estudo, devo concluir que o sabor de uma carne depende mais de herança comum … Muitos animais têm gosto parecido porque evoluíram de um ancestral comum que tinha tal gosto. O cerne de nosso argumento é que o sabor “como de frango” é ancestral (isto é, plesiomórfico) para pássaros e muitos outros vertebrados. De fato, a ênfase em galinhas na declaração ‘tem gosto de galinha’ é imprecisa. O ancestral comum da maiorr parte dos tetrápodos teria um gosto similar, se ele apenas estivesse por aí para ser cozinhado e comido. Eu assim proponho que o uso da expressão ‘tem gosto de frango’ seja banida do uso comum, substituída por ‘tem gosto de tetrápodo‘”.

[via RicBit]

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ATUALIZAÇÃO

O trabalho de Staton é original de 1998, e busca tanto fazer rir como pensar, em linha com o IgNobel. Ainda assim é interessante indicar esta notícia, escrita pelo SciBling Reinaldo José Lopes e indicada pelo Roberto Takata na ciencialist, de que:

Dino tinha gosto de frango, diz estudo
Americanos conseguiram extrair colágeno de tiranossauro com 65 milhões de anos.
Proteína se parece com equivalente de galinha, reforçando ligação de dinos com aves.

A ligação entre dinossauros e aves é proposta há mais de um século, desde não muito tempo depois que a própria teoria da evolução foi formulada, em verdade. Assim não é uma surpresa tão grande, e Staton não merece o Nobel por seu trabalho gastronômico.

Não deixa de ser curioso notar ainda assim como diferentes evidências e linhas de raciocínio apóiam a biologia moderna. Um tour gastronômico de carnes exóticas é plenamente compatível com a mais avançada paleobiologia molecular.

Aprenda a cozinhar um ovo… com ciência!

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Cientistas noruegueses oferecem uma ferramenta online para cozinhar o ovo perfeito: com a gema exatamente no ponto em que você gosta. Clique para conferir.

As opções estão em norueguês, mas se as imagens não ajudarem aqui vai uma rápida tradução:

Primeira opção: O perímetro, a circunferência do ovo (multiplique o diâmetro por pi)

Segunda opção: Se você quer seu ovo com a gema dura (hard), mais ou menos (middels) ou mole (bløtt).

Terceira opção: A temperatura inicial do ovo.

Quarta opção: A sua altitude, em metros.

Na imagem capturada acima, as opções valem para mim – sim, eu medi o diâmetro de um ovo agora mesmo, e gosto da gema um pouco mole. O ovo deve sair direto da geladeira, e estou em São Paulo, a aproximadamente 750 metros acima do nível do mar.

Graças aos magníficos poderes da ciência, sei que basta ferver a água e então colocar o ovo por exatos 4:33. E como não devemos confiar cegamente na ciência – afinal, isso não seria muito científico – ainda preciso experimentar tudo isso.

A fórmula por trás da ferramenta oferecida pela Universidade de Oslo foi desenvolvida pelo Dr. Charles D.H. Williams, da Universidade de Exeter. É interessante brincar com a ferramenta norueguesa para ver que, por exemplo, para um ovo comum saído diretamente do congelador são necessários algo como 30 segundos a mais do que um ovo a temperatura ambiente. Claro, ele está mais frio. A diferença entre uma gema mole e uma dura é de dois minutos, mais do que eu imaginava. E no alto do Everest você levaria ainda mais 30 segundos para cozinhar seu ovo no ponto do que na praia.

Martin Lersch, comentando sobre a ciência dos ovos cozidos, lembra ainda que a casca dos ovos é porosa, e eles não devem ser guardados próximos de comidas com cheiro forte como cebolas. Mais curioso é que a questão das cascas trincadas durante o cozimento também já foi analisada e publicada em um estudo.

De fato, dois experimentos, “envolvendo aproximadamente 1.000 ovos“, foram realizados para averiguar se furar a casca na extremidade mais larga evita que ela trinque durante o cozimento. A prática realmente ajuda, principalmente os ovos mais velhos. O estudo publicado conclui que:

Donas de casa devem furar os ovos antes de cozinhá-los, já que se estão frescos isso não causará problemas e se estão velhos isso prevenirá o trincamento”.

Como Lersch nota, “podemos presumir que o conselho também se aplica a homens!”.

Adicionar sal e vinagre à água também ajuda, fazendo com que a clara coagule mais rápido e feche qualquer rachadura formada.

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[via Lifehacker, com referências a Towards the perfect soft boiled egg]

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