Carta de Isaac Asimov aos futuros leitores de uma nova biblioteca
“16 de março de 1971
Caros Meninos e Meninas,
Parabéns pela nova biblioteca, porque não é apenas uma biblioteca. É uma espaçonave que os levará aos mais distantes confins do Universo, uma máquina do tempo que os levará ao passado longínquo e o futuro a perder de vista, um professor que sabe mais do que qualquer ser humano, um amigo que os divertirá e os consolará – e, acima de tudo, um portal para uma vida melhor, mais feliz e mais útil.
Isaac Asimov”
É uma das 97 cartas enviadas por personalidades às crianças na abertura da nova biblioteca de Tory, Michigan, EUA, em 1971 por uma iniciativa de Marguerite Hart, que simplesmente escreveu às figuras famosas pedindo que dirigissem palavras de incentivo aos leitores.
Quatro décadas depois, a mesma biblioteca, como muitas, enfrenta dificuldades e pode ser fechada.
[via BoingBoing, LettersofNote, Demotivatio.us]
Ilustrando o Grande Colisor de Hádrons (LHC)
Em busca do Bóson de Higgs. Para uma abordagem mais informativa, confira nosso post de 2008: LHC Smörgåsbord: que, como, quando, para onde?
Pedalternorotandomovens Centroculatus Articulosus
“O Pedalternorotandomovens Centroculatus Articulosus foi criado (generatiospontanea!) a partir da insatisfação com o fato de que na natureza não há criaturas em forma de roda capazes de se mover rolando. A criatura mostrada aqui, conhecida popularmente como ‘Enrolado’ [Wentelteefje] é uma tentativa de preencher esta necessidade profundamente sentida. Suas características biológicas são incertas: seria um mamífero, um réptil ou um inseto? Ele tem um corpo alongado consistindo de placas articuladas com chifres e três pares de pernas, que terminam em pés similares aos pés humanos. No meio da cabeça arredondada e gorda, que tem um bico bem curvado, há dois olhos protuberantes, fixos em hastes e estendendo-se de cada lado da cabeça. Quando está desenrolada, a criatura é capaz de se mover em qualquer substrato vagarosa e cuidadosamente, usando suas seis pernas (se necessário, ela pode subir e descer escadas, penetrar mata densa ou escalar rochas). No entanto, assim que precisa viajar qualquer distância em um caminho relativamente livre, ela empurra sua cabeça para baixo, enrola-se tão rápido quanto um raio, embalando-se com seus pés, se estes ainda estiverem tocando o chão. Quando está enrolada ela tem a aparência de um disco, no qual o pivô central é formado pelos olhos nas hastes. Ao impulsionar-se sucessivamente com cada um de seus três pares de pernas, a criatura pode atingir uma alta velocidade. Enquanto rola, ela pode retrair suas pernas o quanto desejar (por exemplo, ao descer uma ladeira) e assim rolar livremente. Quando necessário, é capaz de voltar à posição para andar de duas formas: seja abruptamente ao estender seu corpo de forma repentina, mas então ela acaba com as pernas para o ar, ou gradualmente ao reduzir sua velocidade (usando suas pernas como freio) e lentamente se desenrolando de volta enquanto para”.
De M.C. Escher, litografia de novembro de 1951
Mal sabia Escher que a natureza já havia criado seu Pedalternorotandomovens Centroculatus Articulosus. Sem “generatiospontanea”, como fruto da sempre surpreendente evolução. E várias vezes. Read on para descobrir como a natureza inventou a roda.
Almost there…
Nossa evolução de Lablogatórios para ScienceBlogs Brasil devia ter acontecido no último dia 17, mas novidades de última hora – que valem bem a pena – adiaram um pouco nossa estréia, que ainda deve ocorrer nos próximos dias.
Pedimos desculpas pela confusão, e neste meio-tempo vamos preparando mais conteúdo para uma nova fase. Quando a mudança for completada, você que acessa o 100nexos pela web será redirecionado automaticamente, bem como vocês que assinam nosso feed não precisarão alterar endereços.
Mas caso o impensável ocorra, nos vemos em breve em:
http://scienceblogs.com.br/100nexos
Até lá!
100nexos em mudança: ScienceBlogs.com.BR!
Nos próximos dias estaremos de mudança para uma das maiores redes de blogs sobre ciência no mundo: o Lablogatórios deve se transformar no ScienceBlogs.com.br!
O pessoal de apoio estará trabalhando para que todas as mudanças sejam automáticas – de redirecionamentos aos feeds – mas não deixem de já incluir o novo endereço do condomínio em seus favoritos:
Ainda não está online, e novos posts e comentários aqui no Lablog estarão bloqueados até o lançamento do Sb.com.br no próximo dia 17, terça-feira.
Nos vemos de novo por lá!
O efeito borboleta na roda de Lorenz
Uma roda d’água com reservatórios furados. Simples assim, mas esse pequeno detalhe transforma a milenar e monótona roda girando em um sistema caótico, uma roda d’água de Lorenz que altera a velocidade e mesmo o sentido de sua rotação de forma praticamente imprevisível. É o caos, e em particular, o efeito borboleta em ação.
“O bater das asas de uma borboleta no Brasil pode provocar um tornado no Texas?”. Foi com essa pergunta que o meteorologista Edward Lorenz popularizou poeticamente o conceito central da teoria do caos, onde alterações minúsculas nas condições iniciais de um sistema dinâmico podem provocar consequências radicais em seu comportamento futuro. Porque a propósito, a resposta à pergunta é sim.
Uma simples gota d’água, alguns micrômetros de diferença no diâmetro dos furos, gramas de variação no peso das varetas na roda d’água exibida no vídeo, e seu comportamento se alterará radicalmente. Isso significa que, ao contrário (ou ao extremo) de um certo filme de Hollywood, se você viajasse ao passado, sua mera presença por lá, o impacto diferente de um grão de poeira, uma baforada que fosse, já causaria alterações imensas e irreversíveis no curso da história. Que se dirá interagir com seus antepassados.
[JurMous]
De fato, Lorenz formulou originalmente seu comentário em um trabalho publicado em 1963 como “uma batida de asas de uma gaivota poderia mudar o curso do clima para sempre”. Isto não é apenas mote para filmes sobre escolhas em sua vida quando confrontado com bizarras viagens no tempo: se alterações minúsculas podem afetar imensamente fenômenos gigantescos, qualquer variação a todo momento está constantemente alterando o rumo de sistemas caóticos que estão por toda parte ao nosso redor. É efetivamente impossível prever seus resultados a longo prazo ainda que algum dia decifrássemos todas as leis que governam o mundo.
Fenômenos imprevisíveis não são nenhuma surpresa – de fato, poder prever fenômenos naturais como o próximo eclipse solar é que é uma grande conquista. A teoria do caos e o efeito borboleta são extremamente relevantes, contudo, porque emergem de sistemas determinísticos. Isto é: ainda que nenhuma arbitrariedade, nenhuma aleatoriedade governe o comportamento de tais sistemas, eles parecerão aleatórios.
É, em uma analogia muito temerosa mas que pode ser útil, um tanto como se agindo completamente de acordo com a lei, você acabasse praticamente indistinguível de um criminoso. Conhece aquela piada de advogado?
Em 1961, ao inserir a variável arredondada .506 ao invés de .506127 em uma simulação de computador, Lorenz notou que a previsão do tempo resultante foi completamente diferente. Perceba que mesmo .506127 também é em si mesmo um valor arredondado.
Computadores, até hoje, são incapazes de produzir aleatoriedade verdadeira, e nada melhor para ilustrar a emergência de aleatoriedade aparente que uma roda de Lorenz se comportando de forma caótica mesmo no mundo perfeitamente determinado de… uma simulação computadorizada da roda de Lorenz:
Você também pode brincar com uma simulação em seu computador, alterando seus parâmetros e vendo aleatoriedade aparente surgir a partir de ordem determinada. Confira e baixe o programa de Goran Vlahovic (para Windows).
Mesmo uma criatura conhecedora de todas as leis naturais deve ser assim incapaz de fazer uma previsão do tempo 100% certa para daqui a dez anos. Seria incapaz mesmo de prever para que direção a roda d’água do vídeo estará girando.
Baldes furados desafiando a onisciência de deus, em teorias fundamentadas com rigor matemático. É a beleza da ciência descobrindo seus próprios limites.
Decifrando os Beatles — com ciência!
“Neste artigo usaremos matemática e a física do som para decifrar um dos mistérios do rock’n’roll – como os Beatles tocaram a nota de abertura em A Hard Day’s Night? A música pode nunca soar a mesma para você”.
É desta forma completamente fenomenal que Jason Brown da Dalhousie University resume seu artigo “Matemática, Física e A Hard Day’s Night”. O vídeoclipe para a música, incluindo a famosa e até então misteriosa nota você confere logo acima.
Muitos músicos tentaram reproduzir a nota de abertura, que é literalmente um grande tcham. Sem muito sucesso. Nas últimas quatro décadas, diferentes acordes de diferentes instrumentos tocados pelo quarteto vêm sendo sugeridos, mas foi apenas Brown que através de uma análise matemática parece ter solucionado o enigma.
Efetuando uma transformada de Fourier em um segmento da música digitalizada, Brown detalha como das 29.375 frequências, 48 eram mais altas. Convertendo-as a tons, em sua “música forense”, combinando aí seu conhecimento da física dos instrumentos musicais, o cientista pôde identificar as cordas de George Harrison e John Lennon, o baixo de Paul McCartney… e algumas notas sobrando que, em um momento de intuição, Jason Brown reconheceu como um piano. E estava resolvido o mistério.
Em uma participação nunca creditada, o produtor George Martin teria tocado cinco notas de piano para completar a entrada, em um som que “se mescla bem com as notas dos instrumentos de corda. As amplitudes mostram por que o piano está tão bem escondido; ele se mistura perfeitamente, com amplitudes quase idênticas àquelas das cordas mais agudas tocadas na guitarra de Harrison”.
Pode não ser tão poético quanto desvendar o arco-íris ou entender cientificamente a beleza de uma flor, mas caramba, matemática e física aplicadas para entender rock. How cool is that?
Todos os (bebês) japoneses são (ainda mais) iguais?
Deve ser fácil perceber que os dois rostos acima pertencem a duas pessoas diferentes. Mas e quanto aos bebês abaixo? Seriam mesmo dois bebês?
Cognitive Daily comenta um estudo liderado por Dana Keufner em que estudantes italianos precisavam identificar rostos de bebê, e provavelmente como você acima, os resultados de dois experimentos indicaram que “adultos reconhecem mais facilmente faces de adultos do que faces de recém-nascidos e crianças”. Todos os bebês realmente parecem ter cara de joelho.
Em um terceiro experimento, no entanto, conduzido com adultos que passam muito tempo com crianças – professores de pré-escola – a diferença foi muito menor. Passar pelo menos 30 horas por semana olhando para rostos de criança realmente fez com que percebessem as diferenças das caras de joelho muito melhor.
Nossa dificuldade em diferenciar rostos de pessoas muito mais novas ou velhas é o chamado “efeito da outra idade”, e como brincamos no título deste post, o efeito da outra idade é análogo ao mais bem documentado “efeito da outra raça”, que nem deve ser necessário explicar.
Há várias pesquisas fascinantes também sobre o efeito da outra raça, como este indicando como o efeito se desenvolve em bebês, e é curioso descobrir que bebês de alguns meses de idade não só não exibem os efeitos de outra idade ou raças, como também podem reconhecer a diferença entre faces de animais de outras espécies. Se para você todo chimpanzé é igual, a um bebê que só sabe mamar e sujar as fraldas as diferenças podem ser óbvias.
Depois de nove meses, contudo, os efeitos de outras idades, raças (e espécies) já entram em ação. Mas há outro estudo evidenciando como o efeito é reversível (PDF): crianças coreanas adotadas entre as idades de 3 a 9 anos por famílias caucasianas européias identificaram faces… caucasianas com maior facilidade, exatamente como o grupo de controle de crianças francesas. O cérebro pode se adaptar a novos tipos de rostos sem tanta dificuldade, como os professores de jardim de infância já devem ter sugerido.
Tudo isso sugere que não são tanto as faces de outras idades ou raças que são todas iguais, e sim as faces com que convivemos mais que se tornam mais facilmente diferenciáveis. Perceber rostos como diferentes é pelo visto um processo cognitivo rápido mas que só funciona em determinado tipo de faces. Nós trocamos a habilidade de diferenciar uma ampla variedade de rostos que quase nunca vemos, mas a grande esforço e tempo, pela capacidade de diferenciar sem dificuldade em uma fração de segundo os rostos que vemos todos os dias.
No experimento de Keufner com bebês, inverter os rostos apresentados fez não só com que a precisão da identificação diminuísse tanto para adultos como para bebês, mas que também se tornasse igual. De cabeça para baixo, todos têm cara de joelho, sejam adultos, bebês, caucasianos ou asiáticos.
Descobrir estes atalhos e “bugs” de como nosso cérebro processa rostos não deve ser tanto surpresa, em especial rostos de ponta cabeça.
- Cognitive Daily: Are all adults doomed to think all kids look alike?
- Dana Kuefner, Viola Macchi Cassia, Marta Picozzi, Emanuela Bricolo (2008). Do all kids look alike? Evidence for an other-age effect in adults. Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance, 34 (4), 811-817 DOI: 10.1037/0096-1523.34.4.811
- Pascalis, O. and de Haan, M. and Nelson, C.A. (2002) Is face processing species-specific during the first year of life? Science, 296 (5571). pp. 1321-1323
- Kelly, D. J., Quinn, P. C., Slater, A. M., Lee, K., Ge, L., & Pascalis, O. (2007). The other-race effect develops during infancy: Evidence of perceptual narrowing. Psychological Science, 18, 1084-1089.
- Sangrigoli, S., Pallier, C., Argenti, A.-M., Ventureyra, V.A.G., & de Schonen, S. (2005). Reversibility of the other-race effect in face recognition during childhood (PDF). Psychological Science, 16(6), 440-444.
Governo corta 18% do orçamento dedicado à ciência
A notícia:
A repercussão:
- SBPC: Congresso penaliza ciência e tecnologia
- Corte de 18% na verba em Ciência em 2009?
- Enquanto isso, no brasil… Corte de verbas para Ciência
- Atrasado mas ainda em tempo: um pequeno manifesto contra o corte no orçamento do MCT!
- Congresso amputa as pernas da ciência, e agora?
E então:
Visualizações do DNA
Criadas por Drew Berry para o Walter and Eliza Hall Institute of Medical Research, você confere versões do vídeo em melhor qualidade aqui. [haha.nu]