Planeta Você b

exoplanets

Todos os 786 planetas conhecidos (em junho de 2012) em escala (alguns tamanhos de planetas baseadas em sua massa).

Do sempre sensacional xkcd de Randall Munroe, no centro do diagrama há um pequeno retângulo destacado em cinza.

Esse é o nosso sistema solar. Todo o resto orbita outras estrelas e foram descobertos apenas recentemente. A maior parte deles é enorme porque esse é o tipo que aprendemos a detectar primeiro, mas estamos agora descobrindo que os menores são de fato mais comuns.

Não sabemos nada sobre o que há em qualquer um deles. Com melhores telescópios, isso pode mudar.

Vivemos em uma época excitante.

Há menos de duas décadas os primeiros exoplanetas foram confirmados. Até não muito mais tempo atrás, não se sabia mesmo se sistemas planetários seriam ou não comuns – hoje sabemos que praticamente todas as estrelas possuem planetas ao seu redor.

Em uma geração fomos do primeiro planeta fora do sistema solar para mais de sete centenas de planetas gigantescos orbitando estrelas a muitos anos-luz de distância, com uma ubiquidade ainda maior de planetas menores, mais parecidos com a Terra.

Isso é extraordinário, revolucionário. Pensadores falam por milênios da pluralidade de mundos, da vastidão do Universo, de como há muitas estrelas e de como devem existir muitos e muitos mundos. Eram especulações visionárias, otimistas. Mal conheciam todos os planetas do sistema solar até recentemente.

Foi porém durante nossas vidas, durante cada aniversário que fizemos nos últimos anos, que astrônomos deixaram de especular e estão de fato encontrando muito mais planetas do que existem no sistema solar, fora dele. Já não são especulações, não são visões, são observações. São mundos de verdade, cada um deles com coordenadas e órbitas definidas, ao redor de estrelas catalogadas. Sabemos que estão realmente lá.

“Explorar novos mundos, buscar novas formas de vida e novas civilizações, audaciosamente indo aonde ninguém jamais esteve”.

Durante nossas vidas os primeiros passos para transformar nossos sonhos de exploração em realidade estão sendo tomados. Durante nossas vidas o primeiro planeta fora do sistema solar a ser visitado por nossos descendentes será catalogado.

E você pode ser a pessoa a descobri-lo! Você pode descobrir o lar da primeira colônia humana interestelar. Talvez não possamos explorar outras estrelas em nossas vidas, talvez tenhamos sorte se pudermos fazer um passeio pelo espaço.

Mas algum de nós, daqueles que cresceram enquanto os primeiros exoplanetas foram catalogados, será um daqueles que descobrirá o primeiro exoplaneta que nossa espécie irá visitar. E este alguém pode ser você. Não é um sonho, é uma possibilidade. Coletivamente, é uma certeza: durante os próximos anos muitos milhares de exoplanetas de todas as classes nas proximidades de nosso sistema solar serão descobertos.

Podemos construir para nossos descendentes o futuro extraordinário sonhado por nossos antepassados, descobrindo o conhecimento sobre o qual irão viver suas vidas. Vivemos em uma época excitante.

Um Divulgador de Ciência para o Novo Milênio

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Carl Sagan + Lando Calrissian = Neil deGrasse Tyson

Tyson participa da produção da nova versão de ‘Cosmos’. [via GAS]

Psico-história e pesquisas eleitorais

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“Hari Seldon desenvolveu a psico-história modelando-a na teoria cinética dos gases. Cada átomo ou molécula em um gás se move aleatoriamente, de forma que não podemos saber a posição ou velocidade de qualquer um deles. Ainda assim, usando estatística, podemos descobrir as regras governando seu comportamento coletivo com grande precisão. Da mesma forma, Seldon quis descobrir o comportamento coletivo das sociedades humanas ainda que as soluções não se aplicassem ao comportamento de seres humanos individuais”. – Isaac Asimov

Pensando aqui com meus botões sobre como meu “voto útil” tem sido influenciado pelas pesquisas eleitorais, lembrei da psico-história, conceito central da série “Fundação” de Asimov. Somos mais de 135 milhões de eleitores, em um país que se aproxima de 200 milhões de habitantes. Pesquisas eleitorais com amostras de um punhado de milhar são uma aproximação razoavelmente confiável da manifestação coletiva de centenas de milhões de pessoas. Fãs de Asimov podem se revoltar, mas Ibope, Datafolha, CNT/Sensus são uma espécie de pré-Fundação.

Na série de ficção científica, claro, mesmo o escritor de enormes costeletas explicava que a psico-história só começa a funcionar realmente quando as sociedades humanas chegam a muitos bilhões. Mais do que isso, o escritor que será lembrado por criar estes conceitos fabulosos como a própria psico-história ou as leis da robótica, as explorava justamente para desafiá-las, uma vez que ao final todas suas maiores histórias lidavam com problemas e dilemas nestes conceitos.

Mas mesmo isso é um paralelo com o que vivemos. Pesquisas eleitorais influenciam a intenção de voto que pretendem medir, elemento que pode e é usado deliberadamente. São pré-psico-historiadores tentando mudar o futuro… com previsões do futuro. Aos que leram a série Fundação, o paralelo talvez se torne mais claro.

É um tanto bizarro exercer amanhã um direito tão importante, pelo qual se lutou tanto, ao mesmo tempo em que se sabe que seu voto isolado pouco deve influenciar um resultado prenunciado. Já vivemos em um mundo sonhado há muito, e o mais impressionante talvez seja que feitos fabulosos como a previsão da vontade coletiva de 135 milhões de pessoas acabem se tornando razão para apatia. No dia em que Hari Seldon previr o destino do Império Galáctico, poderemos não nos importar em tentar mudar algo uma vez que as pesquisas psico-históricas já indicam um futuro inevitável.

Vídeo: a língua de uma Diva e um MC

Imagens de ressonância magnética das performances de uma soprano e um MC/beatboxer, do grupo SPAN da Universidade do Sul da Califórnia. [via BoingBoing]

O vídeo lembrou-me imediatamente do conto “Eles são feitos de carne”, de Terry Bisson. Um trecho:

“- Sabe quando você bate na carne ou a cachoalha, e ela faz barulho? Eles falam chacoalhando pedaços de carne um contra o outro. Eles até cantam, espremendo ar pela carne.

– Aimeudeus. Carne que canta. Isso já é demais.”

Eles até cantam, espremendo ar pela carne. Isso é realmente inacreditável.

O Fiasco da Inteligência

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rb2_large_gray1 Em um futuro distante, a humanidade finalmente descobre sinais de uma civilização alienígena no planeta “Quinta” próximo de Beta Harpiae, e uma ambiciosa missão é enviada para estabelecer contato. Mas este é um romance de Stanislaw Lem, “Fiasco” (1987), e a história é muito diferente dos lugares comuns da ficção científica.

Depois de vencer as enormes distâncias, a missão se depara com um pequeno problema: os alienígenas não estão minimamente interessados em estabelecer contato. Descobre-se que, de certa forma, pior do que encontrar uma civilização alienígena hostil é encontrar uma civilização alienígena completamente indiferente à existência da humanidade. O oposto do amor não é o ódio, é a indiferença.

Com o orgulho mais do que ferido, os humanos da missão não se contentarão até cumprir o objetivo tão simples de estabelecer “contato”. Tomarão medidas cada vez mais drásticas para chamar a atenção dos Quintanos, completamente alheios ao fato de que os Quintanos, como alienígenas, simplesmente pensam de forma alienígena.

O final do romance é o fiasco do título, enquanto o protagonista finalmente descobre por que os ETs não receberam os humanos de braços abertos, no tão almejado e presumivelmente simples “contato”.

Provocador como possa ser, e leitura mais do que recomendada, não é preciso viajar até Beta Harpiae para encontrar inteligências diferentes da nossa.

 

Cérebros de Passarinho

Incrivelmente, uma destas inteligências superiores é a dos pombos. Em um trabalho publicado recentemente, Walter Hebranson e Julia Schroder demonstraram como pombas comuns (Columba livia) podem aprender a melhor tática para o problema de Monty Hall muito mais rapidamente que os tais orgulhosos seres humanos, que de fato podem jamais adotar a melhor estratégia.

Isso ocorre porque o problema de Monty Hall é literalmente uma “pegadinha” com um resultado contra-intuitivo. Já escrevi sobre o tema em um texto anterior, mas basicamente envolve três portas, uma das quais tem um prêmio. Você escolhe uma porta, e então uma das outras duas portas, que não contém o prêmio, é aberta. Finalmente vem a pergunta que testará se sua inteligência é superior à de um pombo: é vantajoso trocar a porta que você escolheu inicialmente pela porta que restou?

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A maioria das pessoas utilizará parte de seus 100 bilhões de neurônios e concluirá que, restando duas portas, apenas uma das quais tem o prêmio, as chances de que qualquer uma delas seja a premiada é de 50%. Não faria diferença trocar ou não de porta.

E é aqui que pombos, com seus cérebros menores que uma noz, o humilharão. Treinados no experimento de Hebranson e Schroder, onde o prêmio era algo tão simples como alpiste, eles ajustaram sua estratégia para a melhor resposta, que é… trocar. Porque no problema de Monty Hall, ao trocar você terá o dobro de chances de levar o prêmio. Se permanecer com a escolha inicial, terá apenas 1/3 de chances de ganhar. Se isto lhe parece absurdo, confira o texto, ou experimente simular o problema milhares de vezes aqui, aqui ou aqui, porque este é um resultado tão matematicamente certo quanto 1+1=2.

Pombos não são, claro, realmente mais inteligentes que eu ou você, esta foi apenas uma provocação. Porém neste caso específico, apesar ou exatamente por causa de sua inteligência limitada, foram capazes de perceber após muitas e muitas tentativas que trocar é a melhor estratégia. Um ser humano é capaz de dar uma resposta – errada – antes mesmo de qualquer tentativa, simplesmente porque é capaz de modelar o problema mentalmente e aplicar raciocínios lógicos. Ainda que incorretos.

A lição fabulosa está neste trecho do sumário do trabalho:

“A replicação do procedimento com participantes humanos mostrou que os humanos falharam em adotar estratégia ótimas, mesmo com extenso treinamento”.

Isto é, presos à modelagem mental de que somos capazes com nosso fabuloso cérebro mesmo antes de uma única tentativa, podemos deixar de perceber que ela está incorreta mesmo após inúmeras tentativas reais que deveriam deixar isto claro. A pesquisa ainda indicou algo fascinante: “participantes humanos” mais jovens se saíram melhor que os mais velhos, talvez mais propensos a observar os resultados do experimento do que confiar em seu julgamento prévio.

Alguns poderiam dizer que jovens têm um cérebro mais parecido com o de um “passarinho”, ao que um jovem poderia responder que na mesma medida em que um “passarinho” pode ser mais inteligente que um ser humano.

Antes de louvar as pombas, ou mesmo esta abordagem simplista centrada unicamente na observação de resultados, contudo, vale lembrar que pombas também podem desenvolver comportamentos “supersticiosos”, sem ao que sabemos jamais refletir sobre o que estão realmente fazendo. O equilíbrio da dedução, observação e indução em busca dos melhores resultados pode ser visto justamente como o objetivo do método científico aplicado.

 

O Dilema dos Camundongos

Em outro trabalho recente atingindo diretamente nosso orgulho humano, pesquisadores portugueses demonstraram que ratos de laboratório também conseguem “resolver” o famoso dilema do prisioneiro, adotando estratégias ótimas de acordo com a estratégia de seus pares. A descrição clássica do dilema:

“Dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia. A polícia não tem provas suficientes para condená-los, mas, mantendo os prisioneiros separados, oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros, confessando, testemunhar contra o outro e esse outro permanecer em silêncio, o que delatou sai livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos de sentença. Se ambos ficarem em silêncio, a polícia só pode condená-los a 6 meses de cadeia cada um. Se ambos traírem o comparsa, cada um passará 5 anos na cadeia. Cada prisioneiro faz a sua decisão sem saber que decisão o outro vai tomar, e nenhum tem certeza da decisão do outro”.

A solução ao dilema simples não é muito “bonita”: trair é a resposta, porque na melhor das hipóteses se sai livre, na pior cumprem-se cinco anos. Silencie e na melhor das hipóteses cumprem-se seis meses, e na pior, dez anos. Trair é a resposta.

Se isto não parece “bonito”, isto curiosamente pode se dever ao fato de que o dilema do prisioneiro, como apresentado acima, raramente ocorre dessa forma. Ou melhor, dilemas muito similares podem sim se apresentar, com a pequena diferença de que se podem se apresentar diversas vezes, de forma imprevisível. Seria o dilema do prisioneiro iterado, e nele, a melhor estratégia… é a “bonita” cooperação.

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E foi isto que os ratos de laboratório no experimento português aprenderam. O estudo demonstra que “os ratos possuem as capacidades cognitivas necessárias para a cooperação baseada em reciprocidade emergir no contexto do dilema do prisioneiro”.

Uma demonstração de implicações fantásticas. Um detalhe, no entanto, me pareceu outra lição fabulosa, que também pinçamos do sumário:

“Mostramos que o comportamento dos ratos é dependente de seu estado motivacional (faminto versus saciado)”.

Isto é, os pesquisadores notaram que em experimentos anteriores ratos haviam falhado em desenvolver estratégias mais sofisticadas, incluindo a cooperação, e sugerem que isso pode ter se devido ao fato de que em tais estudos os ratos estavam famintos. Em seus testes, os ratos portugueses estavam devidamente saciados e puderam assim se dar ao luxo de experimentar e desenvolver diferentes estratégias.

O detalhe de desenvolver o experimento levando em conta a saciedade dos ratinhos é genial, óbvio em retrospecto, e lembra um discurso de Richard Feynman sobre o esmero necessário no desenvolvimento da ciência.

 

Obrigado pelos Peixes

Depois de ciência fascinante, do tipo que parece se relacionar diretamente com questões das mais relevantes a nós, não poderia deixar de retornar à ficção científica da melhor qualidade e lembrar de Douglas Adams e como em seu fabuloso Universo <SPOILER!>ratos de laboratório são as protrusões físicas em nossa dimensão de uma raça de seres pandimensionais hiper-inteligentes que construíram a Terra, sendo assim os seres mais inteligentes no planeta. Pensamos que os usamos como cobaias em experimentos, mas em verdade são eles que nos usam em seu grande experimento para a Questão da Vida, o Universo e Tudo Mais.</SPOILER!>

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Comédia, evidente, mas que ratos sejam capazes de desenvolver estratégias de cooperação até então vistas em orgulhosos seres humanos deve provocar questionamentos sobre se o que consideramos “bonito”, a cooperação, é algo que advém de uma moral contida em um manuscrito religioso de quase dois mil anos, ou se pode ser melhor explicada por processos evolutivos muito mais antigos. Processo que nossos parentes camundongos, não tão distantes de nós, também partilham e podem exibir, mesmo sem ter contato com qualquer Messias roedor.

Podem ser, como os pombos, tão ou até mais “inteligentes” que nós, embora de formas diferentes. Ao menos quando não estão famintos. [via Not Exactly Rocket Science e The Scientist, imagem do Jumping Brain de Emilio Garcia]

– – –

  • Herbranson, W., & Schroeder, J. (2010). Are birds smarter than mathematicians? Pigeons (Columba livia) perform optimally on a version of the Monty Hall Dilemma. Journal of Comparative Psychology, 124 (1), 1-13 DOI: 10.1037/a0017703
  • Viana DS, Gordo I, Sucena E, & Moita MA (2010). Cognitive and motivational requirements for the emergence of cooperation in a rat social game. PloS one, 5 (1) PMID: 20084113

Humans got served!

Manoi Go, o robô breakdancer. Japonês, claro. Confira seu blog.  Fabricado pela Kyosho, o Manoi custa em torno de U$1.500, e pode ser visto fazendo exercícios aqui.

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Bonus track: Kobian, o robô capaz de expressar emoções. Um robô emo. Foi criado combinando a cabeça emotiva WE-4RII(2) e o corpo WABIAN-2, ambos da Universidade de Waseda. Japão, claro.

[via Nerdcore, Xataka]

Reconhecimento automático de faces em Star Trek

Qual é o rosto que mais aparece em Jornada nas Estrelas, a série original? A resposta é óbvia, mas como Spock e McCoy dividem o papel de coadjuvantes em diferentes episódios?

O vídeo acima é um demo da tecnologia desenvolvida pela PittPatt, que reconhece rostos automaticamente a partir do vídeo. Os polígonos coloridos indicam aonde o software detectou e reconheceu um rosto, e se pode ver que o elenco principal é reconhecido com precisão impressionante. Os polígonos brancos indicam quando o programa notou um rosto, mas não pôde identificá-lo – ele ainda está limitado a faces de frente.

Visite a página de demonstração para muito mais clipes e dados garimpados pelo programa a partir de 67 episódios da série original ou a sofisticação técnica do sistema (inclui um clipe do The Office).

trekface.jpg [via Technovelgy]

Da Pré-História ao Trans-Humanismo em um pote de cerâmica

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Os vasos de cerâmica parecem rústicos e primitivos, mas foram criados com uma das mais sofisticadas técnicas de fabricação – com um toque pré-histórico.

Desenvolvidos no Laboratório de Fabricação Rápida de Solheim, em Seattle, EUA, os potes inspirados em cerâmica de nativos americanos (leia-se: “índios”) foram impressos. Tridimensionalmente.

A impressão tridimensional em si mesma não é uma novidade tão grande, mas cabe aqui uma breve descrição. Uma das tecnologias de prototipagem rápida, consiste na fabricação de objetos camada por camada – assim como sua impressora imprime a página linhas por linhas, na impressão tridimensional camadas sucessivas vão sendo dispostas umas sobre as outras até formar o objeto completo. Livres de limitações convencionais, a técnica permite a fabricação de objetos extremamente complexos.

O que é a oportunidade para inserir um clipe de “O Quinto Elemento” por aqui:

Embora esta seja uma apresentação fictícia, é claro, ilustra bem a idéia de fabricação tridimensional por camadas.

Que é a que criou os potes primitivos vistos no início desta nota – olhe com atenção e perceberá as linhas horizontais nos vasos, evidência das finas camadas de frações de milímetro sobrepostas. Com uma diferença muito importante:

Enquanto a matéria-prima usada na impressão tridimensional comum tem um custo de até $100/Kg, o material usado pela equipe de Seattle custa menos de $1/Kg. O segredo?

Ao invés de materiais compostos caros e patenteados não por coincidência pelas empresas que vendem as impressoras 3D, utilizaram pó de cerâmica. Como aglutinante misturaram açúcar de confeiteiro e maltodextrina, e a receita e os processos utilizados foram partilhados abertamente na edição de fevereiro da revista Ceramics Monthly.

Poderia haver algo mais fabuloso que isso? Poderia. A solução de etanol-água utilizada na receita por eles é baseada em vodka.

Depois de impressos tridimensionalmente, os objetos ainda precisam passar por um forno e outros processos dependendo de seu uso. Ao final, encolhem um tanto e se transformam em uma cerâmica porosa, semelhante a uma esponja. A fragilidade pode ser remediada banhando o objeto em diferentes soluções, tornando os objetos mais densos e duráveis:

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No meio de toda a tecnologia, que se retorne a uma das primeiras formas de manufatura criadas pela espécie humana – a cerâmica antecede mesmo a civilização em países como o Japão – é algo da poesia histórica do desenvolvimento tecnológico e científico.

E não para aqui, longe disso. Cabem mais alguns nexos.

Há alguns anos o “Evil Mad Scientist Laboratories” já havia criado uma impressora 3D em que a matéria-prima era açúcar puro, solidificado camada por camada com jatos de ar-quente:

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O custo do açúcar comum é ainda mais barato que a mistura de cerâmica, mas a utilidade prática de objetos de açúcar derretido não vai muito além de guloseimas.

Outro projeto que busca disseminar as enormes possibilidades dessa técnica de fabricação é o RepRap, que utiliza policaprolactona (PCL), um polímero com um custo em torno de $10/Kg. O projeto RepRap tem como principal objetivo no entanto não apenas utilizar materiais baratos como também ser capaz de se auto-reproduzir. Uma impressora 3D capaz de produzir outra impressora 3D idêntica a si mesma. Já comentei das enormes possibilidades dessa técnica de fabricação?

Algum dia, talvez, até possamos imprimir Millas Jovovichs. [via MAKE]

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The Printed Pot by Mark Ganter, Duane Storti and Ben Utela

3-D Printing Hits Rock-bottom Prices With Homemade Ceramics Mix

Solid freeform fabrication: DIY, on the cheap, and made of pure sugar

RepRap Project

Pinguins robô voadores

É preciso dizer mais? Novas criações da Festo, que vem explorando seus músculos pneumáticos com outros exemplos tantalizantes como o braço humanóide, a medusa, arraia ou o peixe.

Bônus: o BigDog da BostonDynamics vai à praia:

Tenha medo. Tenha muito medo. [Fogonazos, Nerdcore]

Problemas com o motor de dobra, capitão

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“Mostramos como … é possível modificar o espaço-tempo de forma a permitir que uma espaçonave viaje a uma velocidade arbitrariamente grande. Através de uma expansão puramente local do espaço-tempo atrás da espaçonave e uma contração oposta a ela, movimento acima da velocidade da luz … é possível. A distorção resultante lembra o ‘motor de dobra espacial‘ da ficção científica. No entanto, assim como ocorre com buracos de minhoca, matéria exótica será necessária para gerar uma distorção de espaço-tempo como a discutida acima”.

É como o físico Miguel Alcubierre definiu de forma tão sucinta idéias tão cheias de esperança e significado para a Humanidade. Afinal, era o sumário de seu paper científico publicado em 1994, e sumários devem ser sucintos. Ainda que informem como as mais tresloucadas fantasias espaciais seriam possíveis. Cruzar a Galáxia em uma Enterprise se tornava algo fisicamente plausível, distanciando-se do reino dos unicórnios rosa voadores e se aproximando do mundo em que pagamos nossas contas.

Provar que a viagem acima da velocidade luz é possível é extremamente importante quando uma das mais famosas – e também verificadas – teorias científicas do século passado, nada menos que a famosa Teoria da Relatividade, sugere o contrário. À medida que uma partícula é acelerada ela ganha energia, que equivale a massa. Quanto mais rápido, maior massa, e mais difícil se torna ganhar mais velocidade. Neste jogo onde quem corre mais rápido se torna cada vez mais pesado, para chegar à velocidade luz seria necessária uma energia infinita. Ultrapassá-la seria impossível.

O motor de dobra dribla esta limitação com o que aparenta ser uma brecha no regulamento da corrida. Mal comparando, o regulamento não impõe essas limitações ao pano sobre o qual se está correndo. Estique o pano atrás de você, encolha o pano à sua frente. Dobre o espaço-tempo com seu warp drive, seu motor de dobra. Viole o limite de velocidade sem violar o limite de velocidade.

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Poucos anos depois da publicação de Alcubierre, o belga Chris Van Den Broeck mostrou mesmo como o mecanismo poderia ser mais eficiente. Ao invés de dobrar vastas “áreas” de espaço-tempo, Broeck indicou que se poderia dobrar apenas um fino “círculo” (sempre com referência a projeções em planos). A energia necessária para viajar acima da velocidade luz ainda seria gigantesca, os mecanismos detalhados ainda desconhecidos, mas “o primeiro motor de dobra … se tornou um pouco menos improvável”, concluía Van Den Broeck.

Bem, más notícias. Novos estudos tornam o primeiro motor de dobra um tanto mais improvável. Em um trabalho sóbrio submetido em 1 de abril passado, os italianos Stefano Finazzi, Stefano Liberati e Carlos Barceló exploram os efeitos de outra grande teoria científica do século passado no motor de dobra. Com resultados nada positivos. Analisando os efeitos da física quântica e retornando a sumários, alertam que:

“De um lado, um observador localizado no centro de uma bolha de dobra espacial a velocidade superluminal genericamente experimentaria um fluxo térmico de partículas Hawking. E principalmente, … concluímos que geometrias de motor de dobra são instáveis“.

As partículas de Hawking de que os italianos falam se referem exatamente àquele Hawking que você deve conhecer. Em uma de suas mais famosas sacadas, Stephen Hawking demonstrou que ao aplicar a física quântica aos buracos negros, vê-se que eles não são tão negros assim e de fato emitem uma radiação que emana de seu horizonte de eventos, uma área um tanto especial do espaço-tempo. E isso tem muito a ver com motores de dobra espacial: as áreas severamente “dobradas” também acabarão agindo grosso modo como horizontes de eventos e emitirão intensas radiações, que devem tornar a área interior da dobra um ambiente inóspito.

Não apenas isto, uma outra propriedade da física quântica, um tal de tensor de momento-energia renormalizado, tenderia a aumentar descontroladamente nas regiões dobradas acima da velocidade luz, fazendo com que a dobra seja destruída. Se ainda não sabemos como criar um motor de dobra, esses obstáculos teóricos mostram que ainda que soubéssemos criar as condições apropriadas, os motores não funcionariam.

Dificuldades com o motor de dobra não são novidade. Viajar acima da velocidade luz parece estar intrinsecamente ligado com a possibilidade de viajar ao passado, talvez não por coincidência outra grande dificuldade – Jornada nas Estrelas e De Volta para o Futuro de uma só vez pode ser demais.

Alguns podem lamentar que a ciência pareça frequentemente jogar água fria em fantasias, mas se você é daqueles que apreciam a idéia de viajar por uma Galáxia de milhares de anos-luz, deve se lembrar de que foi apenas a ciência que nos mostrou que existe não só uma Galáxia gigantesca, mas um Universo infinito para explorar. As mais selvagens fantasias de nossos ancestrais por vezes eram tão pífias a ponto de limitar o espaço infinito a uma perfeita – e muito monótona — abóbada celeste, girando em torno deste único planeta cheio de imperfeições.

Blake Stacey escreveu muito melhor como “sabemos que as estrelas são sóis distantes com seus próprios planetas em órbita de suas fornalhas nucleares porque praticamos a ciência. É a ciência que nos permitiu saber que as estrelas são alvos de descoberta e exploração. O conhecimento de que estão a anos-luz de distância, e de que o EmDrive não irá nos ajudar a chegar até elas é o preço que pagamos para conhecer seu valor“.

E, afinal, o motor de dobra, ou algum outro meio de propulsão acima da velocidade luz, ainda podem ser possíveis. É apenas através das melhores características da ciência – a combinação engenhosa de criatividade e rigorosa verificação – que algum dia poderemos esperar transformar ficção em realidade, indo aonde nenhum homem jamais esteve. Se surgiram problemas, agora sabemos que basta encontrar soluções. Talvez “reverter a polaridade” ajude.

Desde já, no entanto, fica a dica: evite camisas vermelhas.

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Mais:

Quantum setback for warp drives

A Serendipitous Encounter with Warp Drive

Alcubierre warp drive

Referências:

Alcubierre, M. "The Warp Drive: Hyper-fast Travel within General Relativity," Classical and Quantum Gravity, 11(5), L73-77 (1994).

Broeck, C. van den. "A ‘warp drive’ with more reasonable energy requirements," Classical and Quantum Gravity, 16, 3973-79 (1999).

Finazzi, S., Liberati, S., Barceló, C., “Semiclassical Instability of Dynamical Warp Drives“.

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