Tema de Doctor Who com Bobinas de Tesla

A banda ArcAttack em uma performance com a música tema do seriado inglês Doctor Who, “tocada” através de descargas elétricas liberadas por bobinas de Tesla, atingindo o artista usando um traje de Faraday. Dr. Who, Tesla e Faraday? É uma concentração absurda de poder enerdético por centímetro cúbico.

Rapidamente, alguns nexos: o tema de Dr. Who foi uma das primeiras músicas sintetizadas de sucesso, é música eletrônica composta por Ron Grainer e concretizada por Delia Derbyshire na BBC, recortando e colando pedaços de fita magnética, em 1963!

Bobinas de Tesla foram inventadas, claro, por Nikola Tesla, ninguém menos que o gênio visionários que concebeu e concretizou sozinho todo o sistema moderno de geração e transmissão de energia elétrica por corrente alternada. Suas bobinas foram e são também importantes nas primeiras transmissões de rádio (que, a rigor, ele também inventou), e na apresentação geram descargas elétricas que aquecem o ar e provocam o zumbido, que pode ser modulado para produzir os diferentes tons da música.

Finalmente, o traje de Faraday é uma referência à gaiola de Michael Faraday, outra figura fantástica da história da ciência. Em uma tempestade, você pode se abrigar no interior de um carro seguro porque a eletricidade passará no exterior do metal. Da mesma forma, o traje metálico protege o artista de ArcAttack.

O próprio Tesla chegou a brincar com descargas elétricas sem usar nenhum traje, mas Tesla era um ser sobre-humano, ele não conta*. [via Geeks Are Sexy]

Nikola Tesla

*O que é uma brincadeira, claro. Nem mesmo Tesla resistiria às descargas que podem ser vistas no vídeo. Podemos sim suportar descargas elétricas porque em alta voltagem elas tendem a percorrer a superfície da pele, mas há um limite fisiológico, relacionado principalmente à intensidade da corrente.

“My name is Darwin, not Darlose!”

Dana Carvey is "DARWIN"

“DARWIN: Primeiro veio o Sherlock Holmes cheio de ação, agora temos Darwin cheio de ação. Do novo show ‘Spoof’ de Dana Carvey e Spike Ferestein”.

Somos uma pequena assimetria

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Por que há algo ao invés de nada? É uma questão filosófica imemorial que a ciência não responde e pode nunca responder, justamente porque a pergunta é em si mesma passível de um sem número de interpretações, e em ciência (e no melhor da ficção), por vezes formular a pergunta corretamente pode ser tão ou mais importante que obter a resposta.

Ontem mesmo, no entanto, cientistas chegaram um pouco mais perto de responder à questão em sua formulação relacionada à física de partículas. Pois físicos de partículas vêm há décadas acelerando e colidindo átomos e seus componentes a energias cada vez maiores, observando um caleidoscópio de matéria e energia se reorganizando e produzindo uma grande variedade de produtos.

O detalhe é que se reorganizam comumente na forma de pares de partículas e anti-partículas, respeitando uma simetria, uma paridade. Há uma grande beleza nisso, em que toda partícula de matéria possui uma anti-partícula, e se uma colidir com a outra, ambas transformam-se novamente em “energia pura”, em fótons sem massa. Você não gostaria de apertar as mãos de um anti-você, a explosão resultante provavelmente poderia ser vista de outras galáxias.

Não é preciso se preocupar, porque não só não há anti-vocês andando por aí, não há qualquer evidência de que existam grandes aglomerações de anti-matéria em qualquer lugar no Universo. Se houvesse, sua eventual colisão com matéria, ou as fronteiras entre matéria e anti-matéria emitiriam enormes quantidades de energia sob a forma de radiação. Por algum motivo, praticamente toda a matéria que conhecemos é… matéria. A anti-matéria se forma ou é vista apenas em pequenas quantidades fugazes que costumam logo se aniquilar com matéria. Nós sequer sabíamos que existia até que fosse prevista teoricamente e então finalmente detectada no século passado. O que nos leva à questão mais específica:

Por que há matéria ao invés de anti-matéria? Ou pelo menos, por que não haveria iguais quantidades de cada tipo de matéria, em diferentes partes do Universo?

ponto

Um bilhão e um

Bem, temos algumas pistas. Para cada próton que vemos há cerca de dois bilhões de fótons em nosso Universo, isto é, vivemos em um mundo dominado por fótons, radiação eletromagnética viajando à velocidade da luz por todo o canto, em uma proporção esmagadora em relação à matéria. Lembra-se de que quando um próton colide com um anti-próton, o resultado são dois fótons de luz?

A cosmologia sugere assim que após o Big Bang, formaram-se grandes quantidades de matéria e anti-matéria, mas elas logo se aniquilaram, produzindo o Universo dominado por radiação em que vivemos. Imagine a cena: um bilhão de prótons aniquilaram um bilhão de anti-prótons produzindo dois bilhões de fótons… para cada um dos próton de cada átomo que você vê, e que constitui nossa própria massa. E toda essa ação se daria depois do evento ainda mais fantástico que seria o Big Bang e seus primeiros momentos em si mesmos. Vemos ecos destes eventos sob a forma de radiação.

Se toda a matéria tivesse sido aniquilada por toda a anti-matéria, contudo, só restariam fótons, haveria apenas radiação. Não é o que vivemos, e como vimos, há dois bilhões de fótons para cada próton, contudo ainda temos prótons. Isso sugere que para cada um bilhão de anti-prótons produzidos nos primeiros instantes do Universo, teriam sido produzidos um bilhão e um prótons. Um próton a mais. Uma pequena, ínfima assimetria, responsável por nossa existência. Assim, a resposta mais simples da cosmologia para “por que há matéria ao invés de anti-matéria” é simplesmente a de que “havia uma ínfima parcela a mais matéria do que anti-matéria”.

Uma espécie de porque sim, é bem verdade. Modelos de física de partículas vêm buscando explicar esta assimetria, mas há diversos modelos em consideração, enquanto ainda estamos longe de uma “Teoria de Tudo” (1994, ed. Zahar), que é aliás, o título do livro do físico John Barrow que usei como referência aqui.

Se a física teórica ainda não responde a contento à pergunta, a física de partículas, através desses cientistas e seus aceleradores, ao menos parece ter constatado algo muito importante.

Analisando oito anos e centenas de experimentos realizados no acelerador Tevatron norte-americano, descobriram uma diferença de 1% entre os pares de múons e anti-múons gerados a partir do decaimento de partículas conhecidas como B-mésons.

Isto é, ainda que não saibamos explicar a assimetria que responderia pelo Universo de matéria em que vivemos, sim foi demonstrado que as teorias cosmológicas não só parecem válidas como, por algum motivo, até hoje, mais de 13 bilhões de anos depois, ainda parece haver uma assimetria que garante a formação de matéria em uma proporção levemente maior do que a de anti-matéria.

Ainda não se respondeu à pergunta de por que há algo ao invés de nada, mas o fascinante é descobrir que há muito, muito pouco de matéria ao invés de nada. Nosso Universo possui sim uma sutil assimetria, e toda a massa das centenas de bilhões de estrelas que vemos brilhando, e todos os planetas que devem orbitá-las, incluindo o nosso, é o que restou desta ínfima diferença de um para um bilhão.

Majestosa imperfeição. [via Eternos Aprendizes: Por que existimos? A supremacia da Matéria sobre a Antimatéria foi finalmente medida e comprovada]

A Busca pela Longitude, a uma década do GPS civil

1-Navigation

Somos cercados por tecnologias fabulosas, que podem por vezes combinar em uma pequena bugiganga tantos avanços e conhecimentos científicos que não surpreende que sejam consideradas mágicas. E podem ser tanto mais mágicas quanto mais simples seja sua função. Vide o caso do GPS.

Por algo ao redor de um salário mínimo é possível adquirir um aparelho que informará sua posição em praticamente qualquer ponto da superfície do planeta, atualizada a cada intervalo de segundos. Simples assim, o GPS diz onde você está. Mas mágico, porque esta simples tarefa envolve não apenas a aplicação de inúmeras áreas da ciência em um feito surpreendente de engenharia, como também reflete as complexidades da história humana.

Não iremos nos estender aqui sobre as complexidades científicas que tornam a maquininha capaz de localizá-lo com uma precisão em torno de 15 metros em um planeta com superfície de 510 milhões de quilômetros quadrados. O Carlos Orsi publicou há pouco um texto fantástico indo da Teoria da Relatividade de Einstein à poeira cósmica a 1 bilhão de anos-luz, que já deve fornecer uma boa idéia do quão incrível é a façanha: Relatividade, buracos negros e o GPS.

Nosso interesse maior aqui são as complexidades da história dos macacos que inventaram essa bugiganga, a pretexto de uma misteriosa mensagem recebida do professor José Ildefonso.

 

Vire à direita 100 metros à frente. Ou atrás.

“Neste mês de maio comemora-se o 10º aniversário do fim do SA (Selective Availability)”, ele me avisava. Muito bem, antes de seguir o link, não fazia a menor idéia do que ele estava falando. Selective Availability? Depois de visitar o link, caiu a ficha. Faz dez anos que o sistema GPS deixou de ter erros deliberados inseridos em seu sinal.

Erros deliberados? Um fabuloso sistema de navegação global derivado de testes da precisão da teoria da relatividade com relógios e medidas ultra-precisas… e temos erros deliberados?

Somos muito afortunados porque para nós, uma pequena máquina capaz de dizer com uma precisão de 15 metros ou menos aonde estamos nos parece algo útil para saber em que rua pegar o retorno, ou avisar todos no Twitter que acabamos de chegar à pizzaria, incluindo suas coordenadas no planeta. Para outras pessoas em diferentes confins do mundo uma máquina com esta capacidade é atraente ao invés para coordenar melhor ataques de guerrilha ou direcionar mísseis. Não há tantas ruas asfaltadas para se perder em, nem muitas pizzarias em tais lugares.

Há guerras neste momento, e em uma guerra, um GPS é extremamente útil. Este choque entre nossas confortáveis vidas de classe média no mundo ocidental e a realidade em outros cantos do planeta também ocorre com outras tecnologias incluindo imagens de satélite e mapeamento aéreo disponíveis pelo Google, por exemplo.

Pequeno detalhe, o sistema GPS foi criado pelo Departamento de Defesa americano e ainda é administrado pela Força Aérea gringa. Foi e é um sistema militar. Sua disponibilidade pública, civil, o que significa que poderia ser usada mesmo pelo inimigo, foi oferecida inicialmente então com uma ressalva, que era a “Selective Availability”.

Qualquer um poderia utilizar o sinal do GPS para localizar-se pelo globo, mas o sinal continha erros propositais variantes de até 100 metros. Isto tornaria seu GPS muito pouco útil pela navegar pela cidade, com erros do tamanho de um quarteirão. Também seriam menos úteis para combatentes inimigos. Receptores seletos, disponíveis apenas aos militares americanos, eram capazes de compensar o erro no sinal, que era em verdade pré-definido de acordo com chaves reservadas, podendo assim contar com a melhor precisão disponível pelo sistema.

Precisão esta que, no entanto, todos nós podemos usufruir desde 1 de Maio de 2000, quando Bill Clinton ordenou que a “Selective Availability” fosse efetivamente encerrada, com o erro introduzido sendo reduzido a zero. Por esta época, já fazia mais de uma década que a União Soviética havia se esfacelado, o GPS já estava sendo usado mesmo pela avião civil americana, e, outro pequeno detalhe, os militares americanos haviam desenvolvido técnicas para impedir que o sinal GPS seja usado em áreas seletas pelo globo, tornando efetivamente desnecessário tornar o sinal globalmente impreciso. Eles podem “desligá-lo” nas em áreas determinadas quando desejarem.

Se Orsi o lembrou de sinais a um bilhão de anos-luz de certa forma determinando a posição precisa da sua seta no GPS, 100nexos quer lembrá-lo também de como macacos pelados sempre podem encontrar usos terríveis para algo à primeira vista tão singelo quanto dizer “vire à direita para chegar ao seu destino”. Complicados, esses humanos.

 

Pombos e Longitude

Antes do advento da tecnologia espacial – e tantas outras tecnologias – que permitiram o desenvolvimento do sistema GPS, localizar-se pelo planeta não era mesmo tarefa fácil. Volte apenas algumas décadas, e temos uma fantástica ilustração de como mísseis inteligentes se guiavam antes do GPS, antes da miniaturização de componentes eletrônicos: o famoso psicólogo behaviorista B.F. Skinner, famoso por treinar e experimentar com pombos, chegou a treinar e desenvolver pombos capazes de guiar mísseis na Segunda Guerra.

Na imagem abaixo, um protótipo, os três receptáculos são espaço reservado para três pombos saírem bicando o caminho do míssil em direção ao alvo através de pequenas telas. Usariam três pombos para que, combinados, o erro fosse menor. Era o “Projeto Pomba”. E não, esta não é uma piada.

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Mísseis guiados por pombos. Só não seriam algo pior do que mísseis guiados por seres humanos, como os Kamikazes japoneses. Um sistema GPS fez muita falta.

Voltemos mais alguns séculos, e o problema de localizar-se pelo mar durante a era das Grandes Navegações, da expansão mercantil, era ainda mais vital. Não apenas em guerras, mas simplesmente para cruzar os oceanos pacificamente, incontáveis vidas foram perdidas em navios deparando-se inesperadamente com terra, ou andando em círculos no mar.

Pois bem, com seus primitivos instrumentos, a bordo de navios sacolejando, marinheiros podiam determinar com alguma precisão a sua latitude, isto é, quanto ao norte ou sul estavam. Bastava uma olhada na elevação das estrelas, do Sol. Grosso modo, no equador o Sol estaria a pino, próximo dos pólos, estará baixo no horizonte.

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O problema maior, muito maior, er
a descobrir a longitude. Um problema que levou séculos para ser solucionado, e pode ser considerado sem exagero um dos mais importantes problemas científicos do século XVIII. É simples entender a dificuldade: a Terra está girando. Não bastam observações astronômicas simples como as da latitude. A longitude não é medida como a distância ao equador ou aos pólos, e sim como a distância ao meridiano zero que passa pelo Observatório de Greenwich, Inglaterra. Algo um tanto arbitrário, mas há um motivo para isso.

Quem finalmente solucionou o problema da longitude foi um inglês, foi John Harrison. Um relojoeiro auto-didata que dedicou praticamente toda sua vida a solucionar o problema da longitude, ao qual o Parlamento Britânico ofereceu um prêmio de milhões – e que Harrison, apesar de tê-lo solucionado, acabou nunca ganhando oficialmente. É uma biografia das mais incríveis na história da tecnologia, incluindo Isaac Newton declarando que a idéia de Harrison jamais teria frutos, e momentos de grande tensão e expectativa enquanto as tentativas de Harrison eram testadas.

A leitura imperdível sobre a história do problema da longitude e os percalços e a vitória de John Harrison é o livro “Longitude”, de Dava Sobel, que dramatiza levemente as aventuras, que são contudo em sua essência completamente reais. A história de Harrison também foi dramatizada em um seriado homônimo, “Longitude”, e em um documentário da PBS americana, “Lost at Sea: The Search for Longitude”, todos fascinantes.

Aos interessados pelos feitos técnicos de Harrison, confira suas invenções como o “escape gafanhoto” ou o simples e engenhoso pêndulo Gridiron, combinando metais diferentes para que a dilatação por calor não afetasse o comprimento final do conjunto. Harrison também utilizou inovações como rolamentos em seus mecanismos em busca da máxima precisão na medida do tempo.

Porque Harrison solucionou o problema da longitude com um relógio. Ou melhor, vários relógios. Vários dos mais precisos relógios já construídos até então, com uma precisão de frações de segundo ao dia, mesmo em condições adversas a bordo de navios cruzando os trópicos. De posse de um relógio preciso, bastaria comparar a hora local com aquela de um meridiano conhecido, geralmente Greenwich, para descobrir sua longitude.

Sabemos, por exemplo, que quando aqui é meio-dia, no Japão, nosso antípoda, é meia-noite do dia seguinte. São doze horas de diferença. O inverso também vale: caso não soubéssemos em que longitude estamos, e descobríssemos que nossa hora local difere doze horas daquela no Japão, saberíamos que estamos do outro lado do planeta em relação ao Japão. Saberíamos nossa longitude, saberíamos nossa posição, usando um relógio. A Terra girar se tornava finalmente algo a favor da medida de longitude.

 

Espaço-Tempo

Definir nossa posição no espaço através do registro preciso do tempo. Como o sistema GPS viria a demonstrar de vez, testando e aplicando mesmo a Teoria da Relatividade, estes dois conceitos fundamentais estão intrinsecamente relacionados. Não é um mero recurso adicional pedido pelo cliente que todos aparelhos receptores de GPS também registrem horário. O registro da hora com precisão absurda continua sendo, como era com os relógios de Harrison, algo fundamental para localizá-lo pelo planeta.

A relação intrínseca entre espaço e tempo se traduz na constante fundamental da velocidade da luz, a razão absoluta e imutável da distância percorrida por um fóton em um determinado período de tempo. Idéias das mais revolucionárias e fundamentais à física moderna, aplicadas em uma máquina em seu bolso, para uma precisão de metros, que foi contudo inicialmente disponibilizada com uma imprecisão deliberada para que macacos pelados não a usassem contra os macacos pelados que criaram tal tecnologia.

Finalmente, há dez anos, completados este mês, nós podemos usufruir de toda esta tecnologia, de toda esta ciência, de toda esta história para Twittar nossa latitude… e longitude.

Manadas de Homo Sapiens

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Como seriam homens gigantes? Em “Ataque dos Salgadinhos Gigantes” citamos o ensaio pioneiro de JBS Haldane sobre o tamanho dos animais, e como um homem simplesmente dez vezes maior, sem nenhuma alteração em sua forma, fraturaria os ossos a cada passo. “Uma grande mudança em tamanho inevitavelmente leva a uma mudança na forma”, observava o biólogo. Como seria esta mudança em um homem gigantesco?

O professor de arte e artista gráfico Gerson Witte inspirou-se pela ideia e a ilustrou de maneira fabulosa acima. Explica:

“Penso que, para andar, poderiam apenas caso tivessem pernas e braços muito grossos, apoiando-se sobre os nós dos dedos como os gorilas, consequentemente, as pernas teriam que ser menores e adaptadas a receber o peso.

Sua pele teria que ser muito grossa, com uma melanina muito acentuada para receber os raios solares, afinal, teriam poucos lugares para se esconder. Teriam poucos pelos, para poder usar a transpiração para regular o calor, mas isso levaria a este grupo a jamais sair de perto de fontes abundantes de água.

Estes representantes megahominídeos teriam um grande problema de alimentação, porque seriam péssimos caçadores, por serem vistos à distância, mas mesmo assim, não fiz alterações de forma para um homem vegetariano somente. Penso que teria uma barriga muito dilatada para poder abrigar um imenso intestino, ou seja, seriam mais parecidos com pandas.

No todo, pensando num humano gigante vivendo em manadas em grandes savanas, nada me tira da cabeça que se pareceriam completamente com elefantes. Mas seria uma cena interessante, manadas de homens-elefantes pastando no entardecer…”

Estendendo-se nesta exploração puramente fictícia do homem gigante como similar a um elefante, é curioso notar as adaptações de nossos conhecidos paquidermes gigantes às suas dimensões.

Devido à relação desfavorável de seu peso e a resistência dos ossos, mesmo com todas suas adaptações, elefantes não podem sair saltitando por aí. Pode-se pensar que a incapacidade de saltitar não seria afinal um enorme problema, contudo ela leva à impossibilidade de correr. A definição de corrida para animais terrestres envolve que o animal fique em algum ponto com todos os pés no ar, ao contrário da caminhada, em que sempre há um pé em contato com o chão.

Esta definição leva ao peculiar rebolado da marcha atlética, por exemplo.

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Elefantes podem se locomover rapidamente. Mas se mantiverem sempre pelo menos um dos pés no chão, seria apenas uma espécie de “marcha atlética”, e não uma corrida. Incrivelmente, em pleno terceiro milênio, ainda não se formou um consenso claro sobre se elefantes conseguem de fato correr. Os últimos estudos indicam que de fato nunca saem da caminhada, ainda que rápida, sempre mantendo um pé em contato com o chão.

Manadas de homens gigantes, assim, seriam diferentes de nós não apenas na forma, como em tantos outros aspectos, incluindo uma simples corrida. E eu nunca achei a marcha atlética muito elegante, lembra Monty Python.

[Com agradecimentos a Gerson Witte pela colaboração!]

CeticismoAberto hoje no Programa do Jô

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Hoje mesmo, com previsão para ir ao ar a partir das 00h40min na Globo, o responsável por CeticismoAberto, Kentaro Mori, o doido que também escreve aqui em 100nexos, é o entrevistado do programa do Jô! Não percam, foram dois blocos onde conversamos sobre discos voadores, abduções, Projeto Filadélfia, círculos ingleses e muito mais!

comandou os assuntos com muita irreverência, e embarcamos no estilo do cético Martin Gardner que comenta como “uma boa gargalhada vale mais que dez mil silogismos” com algumas das mais tresloucadas histórias do insólito. Mas também buscamos alguns comentários mais sérios, e quem desejar análises longas, profundas mas talvez não tão engraçadas, sempre pode acessar o próprio CeticismoAberto.com, o espaço para a análise crítica de ufologia e paranormal sem ofender sua inteligência.

Atualizarei este post com os vídeos da participação assim que forem disponibilizados pela Globo.com e no Youtube. Caso goste da entrevista, não deixe de enviar sua manifestação ao pessoal do programa! Caso não goste, não hesite em me enviar suas críticas, reclamações e xingações.

Atualização: Confira abaixo a entrevista disponível na Globo.com, seguida de links com maiores informações sobre os temas tratados.

A entrevista também está no Youtube, em quatro partes: Parte 1, Parte 2, Parte 3 e Parte 4.

Antes de mais nada, o livro de Carl Sagan indicado é “O Mundo Assombrado pelos Demônios – a ciência vista como uma vela no escuro”.

Os assuntos, em ordem:

OVNIs: Antes de serem Extraterrestres, eram Nazistas, e o extenso dossiê de Kevin McClure sobre o tema em O Mito dos UFOs Nazistas.

Eram os Deuses Astronautas? Há dezenas de artigos com a tagdeuses astronautas” (clique para conferir). Em particular, como mencionado, confira Uma Assinatura na Grande Pirâmide?

Notas sobre a Visão de Ezequiel, complementado por Era a Bruxa Malvada uma Astronauta?

– Dicas sobre como registrar seu avistamento em Investigação OVNI, do pesquisador espanhol Vicente-Juan Ballester Olmos.

– O caso da abdução de Antonio Villas-Boas. O link é uma descrição séria do relato, estamos devendo um texto a respeito em CeticismoAberto. Cláudio Suenaga revisitou o caso recentemente, bem como Martin Kottmeyer, e há vários novos detalhes à história e seu contexto e serem melhor divulgados.

– O livro “A Desconstrução de um Mito”, dos ufólogos Ubirajara Rodrigues e Carlos Reis.

– O caso do implante alienígena no pênis. Outro caso em que ainda ficamos devendo uma cobertura em português em CeticismoAberto, mas o caso é mencionado rapidamente em “O Mundo Assombrado” de Sagan aos mais ansiosos por mais detalhes. O suposto abduzido é Richard Price, e um artigo do mesmo Sagan disponível online, em inglês, também o cita de passagem. O próprio Roger Leir, um podiatra dos mais destacados em explorar supostos implantes extraterrestres, diz que o caso de Price é um dos “mais notáveis”, sem explicar que a análise sugeria ser composto de fibras de algodão.

– A evolução do fenômeno OVNI de acordo com aspectos culturais, de moda, é a própria Hipótese Psicossocial. O historiador mencionado é Rodolpho Gauthier, que desenvolveu sua tese sobre o tema. Parte de seus achados, incluindo o detalhe de “discos voadores” serem promovidos inicialmente no país como com o tamanho de discos de vitrola foram publicados em artigo recente da revista de História da Biblioteca Nacional. Kottmeyer também discorre sobre a metamorfoso constante do fenômeno OVNI em Um Fenômeno Plástico.

– Sobre a exploração irresponsável que supostos “ufólogos” fazem de indivíduos contando fantasias, em nome do sensacionalismo, temos o ensaio de Aaron Sakulich em A Triste História de Jeff. O caso que ele menciona é o do próprio Richard Price, citado anteriormente.

– As sondas anais (ou rectais) são tema comum na literatura ufológica sobre abduções. O próprio Whitley Strieber, famoso autor de Comunhão, diz ter recebido uma sonda e referência ao suposto procedimento foi incluída mesmo na versão em filme de Comunhão de 1989.

– Sobre o Caso Varginha, a referência é o livro “O Caso Varginha”, de Ubirajara Rodrigues. Ao final da obra, Rodrigues deixa claro que embora favoreça a hipótese extraterrestre e que eventos inusitados tenham ocorrido, não pode concluir nada uma vez que toda a evidência disponível são testemunhos. O livro inclui todos os principais relatos, bem como ilustrações feitas pelas testemunhas iniciais, as garotas, do que teriam visto.

Roswell: Avaliando o mito.

– A propósito da origem do termo “disco voador”, Redondamente Errados.

– O filme da Autópsia Alien, Santilli confessa: Autópsia Alien foi uma fraude. Posteriormente também foi lançada a comédia comentada, Autópsia Alien (2006) – O Filme.

O Experimento Filadélfia: História e Mito. E também, Codinome Carlos Allende.

Círculos ingleses. Confira a história dos dois velhinhos, esclarecimentos sobre o panfleto medieval do “demônio ceifador”, como se pode criar tais obras, e a criação do maior círculo em plantação já registrado.

– A primeira foto indicada, o Caso Barra da Tijuca.

– A segunda foto, o OVNI “Nota 10”.

O que é a “Área 51”?

E… isso é tudo, pessoal!

Foi uma enorme variedade de assuntos abordados em meia hora, motivo pelo qual os temas podem ter passado muito rapidamente, mas só temos a agradecer ao Programa do Jô pelo espaço e todo o apoio que compensou um pouco do nervosismo deste que tentou apresentar um pouco do lado crítico a tantos temas.

Recebemos já várias críticas dos que não apreciaram como muitos casos foram motivo de risada, mas como espero que fique claro com a indicação das informações acima, tais casos não foram de forma alguma atípicos, bizarrices selecionadas apenas para chocar. São, pelo contrário, parte destacada da ufologia promovida “muito a sério” pelos que acreditam em tais temas. Que sejam motivo de riso pelo público indica que são mesmo histórias pouco críveis.

Ainda assim, buscou-se também lembrar que há muito de inexplicado no mundo, ainda que o inexplicado não seja necessariamente inexplicável.

Ataque dos salgadinhos gigantes

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O que um Cheetos gigante, insetos afogados, cavalos explodindo, cabeças decepadas e JBS Haldane têm em comum? É física, é matemática, é biologia em mais uma série de nexos para nosso blog.

Em mais um lançamento para o mercado americano destinado ao futuro de Wall-E, a Frito-Lay começou a vender o Giant Cheetos, que como o nome diz, é um salgadinho gigante, do tamanho de uma pequena bola de golfe. “O dobro do tamanho, o dobro do sabor”. Ou não.

Eis que um blog fabuloso que leio, mas destinado a adultos primariamente do sexo masculino pela exibição de imagens de indivíduos do sexo feminino com poucas ou nenhuma vestimenta, vulgo mulher pelada, Greenshines [link para maiores de 18 anos!], publica um excelente texto lembrando que em uma primeira análise a propaganda da junk food é enganosa.

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Dobre o tamanho de um objeto tridimensional, e o que você dobrará será a rigor apenas o tamanho. A área de superfície do objeto irá quadruplicar, seu volume crescerá oito vezes. Para isso, basta lembrar da geometria: dobre o lado l de um cubo para 2l, e a área de sua superfície aumentará o quadrado desta duplicação, ou quatro vezes, enquanto o volume aumentará ao cubo, oito vezes.

O dobro do tamanho, quatro vezes a superfície, oito vezes o volume. Como isso afeta o sabor?

Uma análise preliminar de um Cheetos, evidenciada tanto pela degustação quanto pelo fato de que costumamos lamber os dedos todos melecados, mostra que o sabor do salgadinho está principalmente no tempero que recobre sua superfície. O interior tem consistência e mesmo sabor de isopor. Nunca comi isopor, e espero que você também, mas podemos imaginar qual seja o gosto de isopor.

Seja como for, concluímos: Dobre o tamanho, e você multiplicará por quatro vezes a superfície coberta com o tempero, mas por oito o volume de isopor insípido. O resultado? A metade do sabor. “Giant Cheetos, o dobro do tamanho com a metade do sabor pelo mesmo preço!” não parece um slogan de muito sucesso.

Israel de Greenshines diz ter experimentado a novidade e confirma que o gosto, a textura e tudo o mais seriam terríveis, mas este autor por sua vez cogita que a Frito-Lay deva entender algo de física, ou pelo menos, possa ter testado a novidade antes de lançá-la e talvez tenha compensado a diluição do sabor seja aumentando a concentração do sabor na superfície – há alguns relatos de que o salgadinho gigante parece sim mais salgado, e é vendido também na versão picante – seja também modificando algo da fórmula da massa no interior.

Física e matemática, “é impossível comer um só”.

 

Insetos afogados, Cavalos explodindo

Não são apenas empresas de salgadinhos que enfrentam problemas para encontrar o tamanho certo de suas guloseimas de isopor condimentado. Estes pequenos detalhes geométricos que sustentam toda a física do mundo em que vivemos não escapam a ninguém, nem mesmo do próprio Universo, da própria natureza.

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Em 1926, o biólogo JBS Haldane, escreveu um ensaio fabuloso e pioneiro lembrando da relação simples da geometria com as implicações bem mais complexas no mundo da biologia. Em “On Being the Right Size”, ou algo como “Sobre ter o Tamanho Certo”, Haldane lamentou como “as diferenças mais óbvias entre diferentes animais são as diferenças de tamanho, mas por alguma razão os zoologistas prestaram pouca atenção a elas. Em um longo livro sobre zoologia à minha frente não encontro indicação de que a águia é maior que o pardal, ou que o hipopótamo é maior que a lebre, embora alguns comentários de má vontade sejam feitos a respeito no caso do rato e da baleia”. É um ensaio imperdível, alguém deveria traduzi-lo ao português.

Haldane continua: “No entanto é fácil mostrar que uma lebre não poderia ser tão grande quanto um hipopótamo ou uma baleia tão pequena quanto um peixinho. Uma vez que para cada tipo de animal há um tamanho mais conveniente, e uma grande mudança em tamanho inevitavelmente leva a uma mudança na forma”.

O biólogo então lembra da geometria, e como um homem gigante com 18 metros de altura, isto é, dez vezes o tamanho médio de um homem, teria contudo um peso mil vezes maior – dez elevado ao cubo. Uma seção transversal de seus ossos, contudo, teria apenas cem vezes a superfície, o que significa que deverá suportar dez vezes mais peso por centímetro quadrado. “Como um fêmur quebra quando submetido a dez vezes o peso humano, [o gigante] quebraria seus ossos toda vez que desse um passo. Esta é sem dúvida a razão pela qual estava sentado na ilustração de que me lembro”.

Ele vai além nas implicações das diferenças de tamanho. “A gravidade, mero incômodo [ao homem comum], era um terror [ao gigante]. Ao camundongo e qualquer animal menor, não representa praticamente nenhum perigo. Você pode jogar um camundongo do topo de uma mina profunda, e quando ele chegar ao fundo ele se sacudirá e sairá andando, contanto que o chão seja razoavelmente macio. Uma ratazana é morta, um homem acaba quebrado, um cavalo explode. Isto ocorre porque a resistência apresentada pelo movimento do ar é  proporcional à superfície do objeto em movimento”.

“Um inseto, assim, não tem medo da gravidade, ele pode cair sem perigo, e pode escalar ao teto sem qualquer problema. (…) Mas há uma força que é tão formidável ao inseto quanto a gravidade é a um mamífera. Ela é a tensão superficial. Um homem saindo de um banho carrega consigo um fino filme de água com frações de milímetro de espessura. Ele pesa ao redor de meio quilograma. Um rato molhado precisa carregar seu próprio peso em água. Uma mosca molhada precisa levantar várias vezes seu próprio peso, e como todos sabem, uma mosca uma vez molhada em água ou qualquer outro líquido está em uma posição muito séria”.

 

Democracia e Cabeças Decepadas

O
ensaio segue abordando questões de circulação sanguínea em animais maiores, absorção de oxigênio em plantas e ao final, o que o torna ainda mais fabuloso, termina em dois parágrafos sobre como “assim como há o melhor tamanho para cada animal, também há para cada instituição humana”. A democracia grega funcionava para grupos pequenos, e a invenção do governo representativo tornou uma grande nação democrática possível. “Com o desenvolvimento da mídia em massa tornou-se novamente possível a cada cidadão ouvir as visões políticas de seus oradores representativos, e o futuro pode ver o retorno do estado nacional da forma grega de democracia”, especula Haldane. Um ensaio, relembrando, publicado há quase um século.

Dos salgadinhos gigantes com gosto de isopor a humanos gigantes, cavalos explodindo e insetos afogados, há ainda outro nexo que não poderia faltar. Quer ver o próprio Haldane em um filme?

Confira “Experimentos na Ressuscitação de Organismos”. Sim, esse é o título do filme que trata exatamente do que descreve: experimentos soviéticos para manter vivas cabeças de cachorro decepadas. A apresentação e narração é do bom e velho JBS Haldane.

Lembre disso no próximo Cheetos.

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