Transhumanismo, via DARPA

O mais triste aspecto da vida agora é que a ciência acumula conhecimento mais rápido do que a sociedade consegue acumular sabedoria“, já dizia Ele. E o MindHacks publica uma nota tenebrosa em múltiplos níveis, envolvendo questões tão profundas e complexas, e o mais triste é que boa parte da sociedade deve ser incapaz de entender, muito menos de aceitar todas suas implicações.

A estas alturas, espera-se que você saiba sobre pesquisas sobre a atividade cerebral e o livre-arbítrio, evidenciando que nosso processo de decisão é muito diferente de uma fumacinha imaterial chamada alma ou espírito escolhendo algo em um determinado momento e transmitindo isto a uma massa cinzenta em nossas cabeças. Em verdade, atividades inconscientes no cérebro antecipam a percepção consciente de uma decisão, indicando que a decisão surge no cérebro a partir de processos dos quais a fumacinha imaginária jamais se dá conta.

Tal atividade cerebral foi originalmente medida em eletroencefalogramas, sendo confirmada ao longo dos anos e tendo sido recentemente refinada mesmo em aparelhos de ressonância magnética funcional. Este estudo recente sugere que a atividade cerebral inconsciente pode prenunciar uma decisão consciente em até sete segundos .

Agora lembre-se da DARPA, a agência de pesquisa do departamento de defesa americano, que criou entre outras coisas a internet. Vários projetos há anos tentam criar novas interfaces entre homem e máquina, e isto inclui monitores de atividade cerebral, para que pilotos de avião possam voar “com a força do pensamento”, por exemplo. Combine os dois, e tem-se algo simplesmente assustador.

O controle externo de um objeto poderia ser feito através da leitura de processos inconscientes do cérebro, antecipando decisões que poderiam em verdade jamais ter sido “feitas” conscientemente. E que, efetivamente, não seriam percebidas como tomadas conscientemente. O efeito ideomotor e experimento de William Grey Walter já demonstraram tal.

Tudo isso para mencionar que em um artigo no Cornell International Law Journal, o advogado Stephen White pondera (em PDF) sobre a questão de crimes de guerra e a decisão consciente. Poderia um soldado ser processado devido às conseqüências de uma atividade cerebral inconsciente? White não tem uma resposta exceto a de que novas leis e considerações para a “neuroguerra” do século 21 precisam ser consideradas.

Uma grande integração homem-máquina em nível inconsciente pode estar ainda a alguns anos de distância, mas ponderar sobre questões assim também lembram que o Transhumanismo deve levar a algo bem diferente dos seres humanos que conhecemos. Um ser “transhumano” não seria apenas um homem de seis milhões de dólares, com habilidades físicas aperfeiçoadas, nem mesmo um com o Google embutido dentro de seu cérebro. Poder acessar toda a informação do mundo através de sua mente consciente é algo.

Ter informações e ações vasculhadas e efetuadas a partir de processos inconscientes, e indo bem além, ter informações injetadas inconscientemente em seu cérebro para auxiliar em um processo decisório seria algo fundamentalmente diferente. Algo transhumano. Assustadoramente transhumano.

E tudo isso não só será, como está sendo patrocinado pela DARPA. O primeiro transhumano verdadeiro pode bem ser, ironicamente, um soldado cumprindo ordens. So say we all.

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