Reversão dos pólos: o experimento

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Três metros de diâmetro em trinta toneladas que devem girar, porque este é um modelo em escala de todo o planeta Terra. E, girando, Dan Lathrop, da Universidade de Maryland, espera que a esfera gigante produza campos magnéticos induzidos em seu interior. Como nosso planeta faz, e esperamos que continue fazendo de forma estável por um bom tempo.

Esperamos, porque realmente não fazemos qualquer idéia segura a respeito do amanhã. Os pólos magnéticos do planeta poderiam se inverter, por exemplo, como já fizeram centenas de vezes no passado. A última inversão ocorreu há aproximadamente 700.000 anos, e ao longo dos últimos 200 milhões de anos, inversões têm ocorrido em média a cada 500.000 anos – mas sem nenhum padrão regular, isto é, 700 não é um número tão anormal. Mas já se desviou acima da média. Isso é bom? Ruim? Não sabemos ao certo.

Desde que o campo magnético terrestre passou a ser medido em detalhe, há meros 160 anos, o campo teve sua intensidade reduzida em torno de 10%. Isso é bom? Ruim? Não sabemos ao certo.

O que sabemos? Continue lendo.

Que não se conheça muito bem o interior e os mecanismos que geram o campo magnético terrestre pode provocar surpresa, mas vale lembrar que mesmo a deriva de continentes só é amplamente aceita há algumas décadas (!). O mecanismo de dínamo – pelo qual diferentes camadas metálicas no interior do nosso planeta produzem o campo magnético devido à diferença em suas velocidades de rotação – é compreendido de forma geral, mas se está muito longe de compreendê-lo e aplicá-lo em previsões sobre os rumos magnéticos da Terra.

Simulações por computador já foram conduzidas, mas segundo Lathrop, ainda requerem um poder de processamento que as tornam pouco práticas. Daí sua construção de modelos físicos: a esfera de dezenas de toneladas é o quarto protótipo, e que deve entrar em funcionamento até o fim deste ano, se tudo correr bem. Confira o vídeo de seu teste com água – nos experimentos práticos, a água será substituída por sódio líquido, metal condutor:

E se a pesquisa de Lathrop indicar que o campo magnético terrestre irá – ou já está – se invertendo durante os próximos séculos, temos motivo para pânico? Não muito.

Apesar daqueles que parecem desejar o “arrebatamento”, nossa ignorância sobre o campo magnético terrestre e seus efeitos também se estende ao fato de que não sabemos quais seriam as conseqüências de viver uma inversão de pólos. Isto é, pode tanto ser pior ou… menos pior do que alguns imaginam. Sabemos que isso terá efeitos na ionosfera e em animais que se valem do magnetismo do planeta principalmente como forma de orientação, mas o fato de que a vida se desenvolve no planeta há mais de quatro bilhões de anos, incluindo formas de vida complexas, incluindo nosso ancestrais que, fisiologicamente, não diferiam tanto de nós. O que sugere que não será o apocalipse. Talvez já estejamos assistindo a uma inversão em pleno curso. E o mundo ainda não acabou.

Medo por medo, a colisão com um asteróide parece muito mais catastrófica.

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Há uma boa compilação de links e fontes no post em Collision Detection, incluindo a página oficial do grupo de Lathrop.

Como curiosidades adicionais ao tema, temos a Anomalia Magnética do Atlântico Sul: poucos sabem que a área próxima do sul do Brasil apresenta uma menor intensidade do campo magnético, o que resulta em uma ionosfera menos espessa e, para efeitos práticos, faz com que satélites sobre nossas cabeças ao sul do Brasil estejam mais vulneráveis às radiações do espaço. Mas… quase ninguém percebe.

Também não poderia deixar de comentar que o experimento de Lathrop lembra muito aquele descrito em “Viagem ao Centro da Terra” de Júlio Verne. Ironicamente, no entanto, o campo magnético da Terra – e o mecanismo para explicá-lo – é uma das evidências de que a Terra tem um núcleo maciço e em movimento, e não deve permitir viagens fabulosas como a de Saknussemm.

Discussão - 7 comentários

  1. Moreiko disse:

    vou dar um nome o que tal; Navisfera Magnética ?

  2. preguica disse:

    o massa de rolar uma reversão polar, não analisei tão profundamente, mas deve acarretar uma tempestade solar mais forte que a de 1859.. mas vai ser massa ver fios pegando fogo, alucinações, e satelites caindo!

  3. Wilson Simão disse:

    Quero dizer , de uma ora para outra uma pessoa destra, pode passar a ser canhoto.

  4. Existem alguns tipos de pólos terrestres voltados ao sentido de orientação do ser humano, de modo que é bom fazer uma distinção nessas teorias.
    Para ajudar a melhorar o experimento, deveríamos descobrir que norte é o mesmo norte que todos falamos ou pelo menos quando surgiu a palavra nortear.
    Sabe-se que o pólo magnético surgiu com a descoberta da agulha de marear , portanto o norte do imã é só uma convenção ocidental, com + - 600 anos de idade e que "apenas" coincide com o pólo celeste, mas que na realidade, não existe obrigação alguma de um calibrar com o outro norte originado do efeito giroscópio.
    O efeito giroscópio , sim, tem a ver com o movimento aparente das estrelas e com os sentidos de orientação dos seres vivos (pelo menos voltados para o movimento pontual das estrelas no céu).
    Resumindo; O efeito magnético é esta ligado as forças naturais (do imã) e o outro, o efeito giroscópio a forças inerciais, por isso, no caso particular desse experimento, estão misturando vários efeitos numa salada só.
    Uma observação; a esfera deveria permanecer equilibrada num eixo cardam e para que girasse livre de interferências o conjunto todo assentado sobre uma balsa flutuante.
    Cuidados especiais : não se aproxime da maquina, a reversão dos pólos magnéticos pode interferir na coordenação motora, de uma hora para outra, as pessoas podem assumir o lado inativo do cérebro e desativar o ativo.
    Wilson Simão

  5. Cesar Pessanha disse:

    Como uma possivel inverção polár afetaria o crosta terrestre, já que segundo a teoria ela está sobre uma camada de ferro incandecente que gira em torno de um núcleo sólido, uma reverção implicaria na parada do núcleo no entanto o restante da crosta deslizaria sobre a camada incandecente até parar abruptamente antes de reverter, causando grandes pertubações.

  6. Korsar Borsari disse:

    Uma questão: na eventualidade de haver uma inversão polar, haverá, consequentemente, uma alteração no sentido de rotação do planeta, correto?
    Isto ocorrendo, graças à inércia, águas tenderão a seguir seu curso o que acarretará a saída das águas marinhas do leito dos mares e oceanos, ocasionando tsunamis colossais.
    Isto é algo que ninguém comenta ou cita em artigo nenhum.
    O que pode dizer sobre isto?
    Obrigado

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