Falta de controle motiva pensamento mágico

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“Tribos das ilhas Trobriand que pescam no mar profundo, onde tempestades repentinas e águas desconhecidas são preocupações constantes, têm muito mais rituais associados à pesca do que aquelas que buscam peixes em águas mais rasas. Pára-quedistas vêem mais facilmente uma figura não-existente em um monte de ruído pouco antes de pular do que quando em terra. Jogadores de beisebol criam rituais em proporção direta à caprichosidade de sua posição – por exemplo, lançadores são particularmente propensos a enxergar conexões entre a camisa que vestem e seu sucesso. … Mesmo em nível nacional, quando os tempos são economicamente incertos, as superstições aumentam”.

O trecho é parte de um trabalho publicado na Science nesta semana, que não se resume apenas a relatos. Jennifer Whitson e Adam Galinsky conduziram seis experimentos que confirmaram a tese de que a sensação de falta de controle aumenta a percepção de padrões ilusórios, fazendo pessoas verem algum significado onde realmente não há.

A série de experimentos é interessante pela variedade de padrões ilusórios que averigüou, como ver imagens em ruído, enxergar conspirações, desenvolver superstições e… formar correlações ilusórias sobre informações de bolsas de valores. Esta última parte, dado o contexto econômico atual, virou notícia.

“Experimentar uma perda de controle levou os participantes [do experimento] a desejar mais estrutura e a perceber padrões ilusórios. A necessidade de estar e sentir-se em controle é tão forte que os indivíduos produzirão um padrão a partir do ruído para levar o mundo de volta a um estado previsível”, escrevem os pesquisadores.

Tão interessante quanto o achado principal é o detalhe de que os participantes do estudo que foram incentivados a se auto-afirmar, lembrando de um evento importante em suas vidas, viram menos imagens e conspirações ilusórias. Simples assim. [via Mindhacks]

Referência
Lacking Control Increases Illusory Pattern Perception

Discussão - 6 comentários

  1. O excelente Fooled by Randomness, do Nassim Taleb ( http://www.submarino.com.br/imports_productdetails.asp?Query=ProductPage&ProdTypeId=9&ProdId=1282774&ST=SR&franq=184655 ), fala exatamente disso, no contexto do mercado financeiro e em outras áreas.
    E com bastante bom-humor: ele se pergunta, por exemplo, porque todo mundo repete o clichê "se você é tão inteligente porque não ficou rico ?" mas ninguém se questiona "como você é tão rico mesmo sendo tão tapado ?". 🙂
    (a resposta, em muitos casos, é "pura sorte")

  2. Carlos Magno disse:

    E quando há o controle consciente da mente e fenômenos são detectados ou realizados?
    Será que as relações A está para B como não está para C, somente se revelam autênticas para céticos?

  3. Felipe disse:

    Em situações como borrões, ruídos, etc, é muito comum "vermos" e "ouvirmos" coisas de acordo com as situações que já passamos. Outras condições interferem no que será visto como a privação, o valor do objeto visto, o contexto em que a pessoa está inserida, etc.
    O ver não exige a coisa vista! 😀

  4. João Carlos disse:

    Engraçado... a mim parece que isso não chega a constituir novidade... Há quanto tempo mesmo a humanidade faz uso de espelhos?...
    A mente que não consegue compreender o que seja uma imagem refletida (em outras palavras: só sabe "ver para a frente"), cria a "imagem virtual" "atrás" da superfície refletora. (Aliás as máquinas podem ser induzidas a esse tipo de erro: na década de 1960, os radares do NORAD, por causa de uma dessas extravagâncias da propagação das ondas EM, começou a captar sinais refletidos da Lua, e, como não "estava programado" para receber sinais dessa distância, jogou fora o overflow e disparou os sistemas de defesa dos EUA contra um suposto ICBM solitário...)
    Outra coisa que reforça esses indícios de que a mente é facilmente levada a percepções errôneas é o fenômeno do mimetismo natural e da camuflagem artificial. As mentes (aí inclusa a humana) só "vê" o que "espera ver"...

  5. João Carlos disse:

    Mesmo em nível nacional, quando os tempos são economicamente incertos, as superstições aumentam
    Se você quiser uma "ilustração" para essa afirmação, consulte o New York Times on line de hoje... e procure a reportagem "On Parched Farms, Using Intuition to Find Water" As velhas "forquilhas" estão de volta, bem perto do "Vale do Silício"... 😛

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