A Água Benta de Aparecida

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Diz a lenda que a imagem da padroeira do país foi encontrada no século 18 no lodo do rio Paraíba do Sul por três pescadores que não conseguiam mais pescar o seu sustento. Seria um sinal divino, porque depois do encontro da pequena escultura de terracota, a fartura chegou aos pescadores.

Quão irônico não é que, hoje, o Santuário Nacional que reúne sete milhões de romeiros todos os anos, seja o grande poluidor do mesmo rio Paraíba do Sul.

“Os moradores ribeirinhos até batizaram de "esgoto dos padres" o cano de dejetos que desce do Santuário Nacional. "Quando chove ou nos fins de semana, é um fedor que ninguém agüenta", reclama a dona de casa Rita de Cássia Souza, de 41 anos. O quintal de sua casa fica ao lado da tubulação e a poucos metros de onde a prefeitura capta água para abastecer a cidade”.
Da notícia de 2002: “Uma água que faz milagres

Isso mesmo, de todas as suntuosas obras que foram aceleradas com doações privadas quando da visita do Papa no ano passado, ao investimento de dinheiro público local em infra-estrutura, todo o esgoto produzido pelos romeiros ainda é despejado no rio sem nenhum tratamento.

Em 2004, com uma Campanha da Fraternidade da CNBB tendo como tema a preservação da água, o Santuário anunciou que ajudaria a prefeitura a tratar o esgoto da cidade.

O que, pelo visto, não foi levado muito à frente, porque em abril deste ano o Santuário anunciou que estudos seriam feitos por 11 meses e as obras devem começar em… 2009. O anúncio na “Revista de Aparecida” é particularmente curioso:

“É importante salientar que, embora se trate de um projeto ambiental, o Santuário não dispõe de benefícios de verba pública, por ser compreendida como iniciativa privada. O Santuário reconhece sua responsabilidade moral de tratar o esgoto gerado e tem a intenção de fazê-lo.Por não se tratar de uma empresa de caráter industrial, gerando resíduos semelhantes ao de uma residência comum,o Santuário não possui responsabilidade legal de efetivar esse tratamento, de acordo com a legislação de Efluentes Industriais. Porém, o Santuário reconhece sua responsabilidade moral, assim como a social que hoje já mostra grandes frutos de seus projetos aplicados à área, e está se propondo a tratar o esgoto gerado em suas imediações”.

O interessante nesta história é que a reforma para a visita papal teria custado pelo menos 3 milhões, bancados pelo Santuário, mais 10 milhões bancados pela prefeitura. Os custos para criar um sistema de tratamento de esgoto para que o Santuário não jogue dejetos de 7 milhões de romeiros diretamente no rio em que se teria encontrado a padroeira nacional?

A nota de 2004 do Estado de São Paulo menciona o custo de R$ 4,8 milhões. Prioridades, prioridades.

Quão patético não é que se tenha investido tanto para receber o Papa, apenas para que seus dejetos tenham sido lançados diretamente no rio de onde veio a imagem que celebrou?

Se você conhece algum romeiro, e principalmente, se é católico e visita Aparecida, tome uma atitude. Nem uma Campanha da Fraternidade parece ter adiantado. É uma vergonha nacional.

[Dica de EntroNonEntro]

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