O céu em movimento e o planeta em perspectiva

Vídeo espetacular combinando 7.000 fotografias em quatro minutos destacando a beleza do céu estrelado em movimento. Não é surpresa que os antigos acreditassem que havia literalmente uma abóbada celeste, com pequenos furos por onde uma luz divina podia ser vista. O Sol, a Lua e as estrelas passeiam placidamente, perturbados ocasionalmente por meteoros e estes novos satélites artificiais, e em contraste com a agitação das nuvens, do mar ou das criaturas humanas sobre o planeta.

“Nossa vida diária, o calendário e nossos relógios são acertados pelo movimento cósmico. O nascer e o pôr do Sol, as estações e o movimento da Lua (marés) têm um impacto importante em nossa vida. Esta é a principal razão por que o interesse na astronomia surgiu em tempos antigos. O dia é marcado pelo nascer e pôr do Sol (a rotação da Terra), o mês pela trajetória da Lua em torno do planeta, e o ano e suas estações pelo movimento aparente do Sol na eclíptica (o movimento da Terra ao redor do Sol). Este é nosso programa de astronomia diário já há milhões de anos, e por muitos a vir. Estabilidade e tranqüilidade em contraste com nossa vida moderna”.

O vídeo foi promovido como imagem astronômica do dia da NASA no final de 2008, e os outros vídeos de Till Credner podem ser vistos no imperdível The Sky in Motion.
O vídeo lembrou um ensaio inspiradíssimo de Oliver Morton publicado no NYT pouco antes do Natal que passou. Comemorando o 40 aniversário da viagem da Apollo 8, a primeira viagem de seres humanos a outro mundo, e as famosas fotografias tomadas pelo astronauta Bill Anderson do “nascer da terra” como visto da órbita da Lua, traduzo um trecho:
nasa-apollo8-dec24-earthrised

Que a Terra é pequena é inegável. Se o sistema solar fosse do tamanho dos Estados Unidos, a terra teria o tamanho de um campo de futebol americano; se a distância ao centro da galáxia fosse de uma milha, a Terra seria menor que um átomo. Mas se a foto do “nascer da Terra” pudesse ter capturado nosso planeta na dimensão do tempo ao invés de espaço, as coisas pareceriam diferentes. Em sua duração, em contraposição a seu diâmetro, a Terra deve ser medida em uma escala cósmica. Com mais de quatro bilhões de anos, ela se estende a um terço da história do universo, um terço do caminho de volta ao próprio Big Bang. Muitas das estrelas que você vê em uma noite clara de inverno são mais jovens que o planeta abaixo de seus pés.
Mera persistência não é, em si mesma, uma grande façanha. As rochas inóspitas da Lua persistiram por quase tanto tempo. Mas a terra não apenas persistiu, ela viveu. Por quase 90 por cento de sua história o planeta tem sido habitado e moldado pela vida. Os mecanismos biológicos que funcionaram inicialmente na aurora da vida movimentam as criaturas da Terra até os dias de hoje, formando uma cadeia contínua de pelo menos 3,8 bilhões de anos de tamanho.
Esta vida ininterrupta demonstra que o planeta está longe de ser frágil. A Terra viva é resistente em escalas difíceis de considerar. A vida assistiu aos continentes colidirem e se despedaçarem, céus brilhando como carvão em brasa, mares tropicais congelados e imobilizados: ela sobreviveu. Atingida pela radiação de uma supernova próxima, por asteróides, ela mal se afetou e nunca parou. Nossa civilização pode estar – ou está – fora de equilíbrio com seu ambiente, os modos de vida humanos atuais podem ser assustadoramente precários. Mas aplicar a fragilidade de nosso modo de vida à própria vida é tolice”.

Alguém precisa traduzir todo o ensaio. George Carlino disse de forma mais sucinta e engraçada, com 100% mais palavrões. São boas reflexões e imagens para começar o ano internacional da astronomia.
Foi observando os céus através de um telescópio há 400 anos que Galileu deu um enorme impulso que culminou com aquela foto do nascer da Terra como vista da Lua. As crateras que o gênio italiano viu com uma clareza que nenhum outro ser humano havia visto antes já foram visitadas em pessoa por alguns de seus parentes.
A vida é espetacularmente resistente, e nossa inteligência é inimaginavelmente poderosa. Mas precisamos usá-la. Nada garantirá melhor a nossa continuidade do que o progresso democrático da ciência. Só ela permitirá a colonização de outros mundos, e só a compreensão de tal por toda a humanidade concretizará tal sonho. Só assim a inteligência poderá ser elevada a algo que possa ser medido em escalas cósmicas, e mesmo as estrelas da distante e antiga abóbada celeste estarão a nosso alcance.

Discussão - 3 comentários

  1. Andre disse:

    Com certeza vc já deve ter vistoi esse video com a narração de Carl Sagan, mas com certeza é um dos que mais se encaixam nesta postagem.
    http://www.youtube.com/watch?v=HurA3M_CBJY

  2. Kentaro Mori disse:

    Obrigado, Andre... incorporei o Pálido Ponto Azul do Sagan em uma nova versão deste texto e publiquei no S&H:
    http://www.sedentario.org/colunas/duvida-razoavel/o-ceu-em-movimento-e-o-planeta-em-perspectiva-11107

  3. Traduzi integralmente o ensaio do Oliver Morton para o português. Quem quiser, pode ler: http://hypercubic.blogspot.com/2009/01/nem-to-solitrio-planeta_06.html

Envie seu comentário

Seu e-mail não será divulgado. (*) Campos obrigatórios.

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM