Um balão voando contra o vento
Vi no Glúon o conceito Aeolus do designer Christopher Ottersbach, misturando balões com barcos a vela. É uma idéia curiosa, mas jogando água fria, ter uma enorme área para coletar o vento em um formato que não possui uma boa relação de volume é justamente o que construtores de blimps e dirigíveis tentam evitar.
O primeiro porque o veículo ficará à mercê do vento, e o segundo porque é improvável mesmo que saia do chão. Há uma limitação física fundamental: mesmo que você consiga criar um balão que não pese nada em sua estrutura, ainda precisará de em torno de 1 metro cúbico de hélio para cada Kg de massa de carga. Provavelmente mais. A menos que as leis da física sejam revogadas, usar hélio para flutuar por aí sempre exigirá enorme volume.
Por isso não é por mero capricho que todos os dirígiveis que conhecemos tenham o formato de uma gota inchada. É um meio termo entre uma esfera, com o maior volume possível, e uma forma aerodinâmica que minimize o efeito dos ventos. Variações no tema são sim possíveis, contudo é pouco provável que um formato tão achatado quanto o Aeolus seja eficiente ou chegue a ser mais leve que o ar.
Agora, por trás do conceito balão à vela, há algo que pode soar mesmo fabuloso. Seria possível uma espécie de barco à vela… voador? E a resposta simples é… sim.
A resposta um pouco mais complicada é… em termos. Um balão voando ao sabor do vento por ser chamado de um “balão à vela”. Todos entendem intuitivamente que barcos à vela se movimentam graças ao vento.
Talvez não tantas pessoas entendam que barcos à vela só se tornam mais úteis porque podem navegar contra o vento, ou em marujospeak, navegar à bolina ou cochado.
Para entender como isto é possível, dê uma olhada na FeiradeCiências. Em verdade se navega a um pequeno ângulo, perfazendo então um zigue-zague, mas é este pequeno grande avanço, que só foi explorado plenamente pelos portugueses, que explica em parte o seu império marítimo. Incluindo o descobrimento de um certo país chamado Brasil.
Se você entender como um navio consegue navegar à bolina deve entender que um balão solto no ar não conseguiria fazê-lo, pelo menos enquanto for um sistema passivo. É a quilha e o corpo da embarcação, contrapondo a resistência da água à força do vento que permitem ir contra o vento. No ar, um balão não poderá contrapor o vento contra o vento.
Ou pode? Indo já além do Aeolus, é possível imaginar uma enorme “vela” no céu, composta de inúmeras partes que possam interagir de forma inteligente, permitindo que ventos a diferentes altitudes interajam e possam movimentar um veículo completamente passivo em uma direção desejada. Seria, então e finalmente, um balão à vela.
Seria também algo nunca feito até hoje. Talvez porque simplesmente não seja prático.
Nós já temos veículos aéreos “à vela”. Eles não navegam à bolina, mas tal não é tão necessário. Aviões comerciais já se valem freqüentemente do vento, navegando com as jet streams, correntes de ar a grande altitude e velocidade de direção e localização bem determinadas. Entram e saem delas à sua conveniência.
Desde a navegação à bolina às correntes de ar planetárias das jet streams, é um bom caminho. Um barco à vela no ar seria algo romântico, mas descobrimos que um belo avião comercial de passageiros já é seu legítimo e respeitável descendente, navegando também ao sabor do vento.
Discussão - 3 comentários
Lá na última imagem no meu blog, no esquema desenhado pelo Chistopher, parece existir algo parecido com o rotor traseiro de um helicóptero. Acho que o projetista também lembrou da instabilidade do invento.
Mas concordo contigo, mesmo cuidando muito qquer vento mais forte pode trazer problemas para esse treco. 🙂
Já há um veleiro que é quase-voador. Ele tira os cascos da água e ultrapassa 80 km/h:
http://www.nautica.com.br/noticias/viewnews.php?nid=ult6a854ac95dc8ae9cfddb6d785f839482
Voo a vela existe sim, é o chamado volovelismo. Um balão dificilmente conseguiria voar contra o vento sem motor, mas os planadores, parapentes e asas delta fazem. Você se esquece que o vento não existe apenas no plano horizontal, mas também é vertical, com correntes ascendentes e descendentes, que podem fazer um veículo subir numa ascendente e depois, usando a gravidade, planar tranquilamente em qualquer direção, inclusive contra o vento.
Mas a matéria fala especificamente de balões...
Será que eles poderiam utilizar os mesmos recursos?
Sim, por que não? Que tal uma aeronave híbrida?