“Experimento”, de Frederic Brown (1954)

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“Senhores: a primeira Máquina do Tempo”, apresentou, orgulhosamente, o professor Johnson a seus dois colegas. “De fato, trata-se de um modelo experimental em escala reduzida. Ele operará apenas com objetos pesando cerca de um quilo e para distâncias em direção ao passado e ao futuro de vinte minutos ou menos. Mas funciona”.

O modelo em escala reduzida se parecia com uma balança, daquelas usadas em agências de correio – exceto por dois dials na parte debaixo da plataforma.

O professor Johnson segurou um pequeno cubo de metal. “Nosso objeto experimental”, disse, “é um cubo de metal pesando mais ou menos meio quilo. Primeiro, vou mandá-lo cinco minutos na direção do futuro”.

Ele inclinou-se para a frente e regulou um dos dials da máquina do tempo. “Observem os seus relógios”, disse.

Eles olharam os seus relógios. O professor Johnson colocou cuidadosamente o cubo na plataforma da máquina. O objeto desapareceu.

Cinco minutos depois, no segundo exato, o objeto reapareceu.

O professor Johnson o recolheu. “Agora cinco minutos na direção do passado”. Ele regulou o outro dial. Segurando o cubo em sua mão olhou para o seu relógio. “Faltam seis minutos para as três horas. Eu vou agora ativar o mecanismo – colocando o cubo na plataforma – exatamente às três horas. Conseqüentemente, ao faltarem cinco minutos para as três, o cubo desaparecerá da minha mão e aparecerá na plataforma cinco minutos antes de eu colocá-lo ali”.

“Como você poderá colocá-lo ali, então?”, perguntou um dos colegas.

“Enquanto a minha mão se aproxima, ele desaparecerá da plataforma e aparecerá na minha mão para ser posto ali. Três horas. Reparem, por favor”.

O cubo desapareceu da sua mão.

O cubo apareceu na plataforma da máquina do tempo.

“Vêem? Daqui a cinco minutos eu o colocarei ali, mas ele já está ali!”

Seu outro colega franziu as sobrancelhas ao olhar para o cubo. “Mas”, disse, “e se, agora que ele já apareceu cinco minutos antes de você o colocar ali, você mudasse de idéia sobre fazer isso e não o pusesse ali às três horas? Não estaria envolvido aqui certo tipo de paradoxo?”

“Uma idéia interessante”, respondeu o professor Johnson. “Eu não havia pensado nisso; será interessante fazer um teste. Muito bem, eu não vou…”

Não sucedeu nenhum tipo de paradoxo. O cubo continuou onde estava.

Mas todo o resto do Universo, professores e tudo o mais, desapareceu.

Tradução de Gustavo Bernardo, original de Fredric Brown, From these ashes (Framingham, USA: Nesfa Press, 2001; p. 548).

Brown foi um mestre dos contos curtos, e no mesmo ano de 1954 também escreveu o espetacular “Resposta”. Mais alguns contos originais em inglês no Project Gutenberg. [imagem sxc.hu]

Discussão - 2 comentários

  1. André disse:

    Para fãs de FC, é muito bom. Apesar de curto, não perdeu o brilho da situação. Muito bom mesmo.
    O conto "Resposta" se assemelha um pouco com o conto A Última Pergunta, do Isaac Asimov.

  2. Carlos Minhoca disse:

    Muito bom!

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