Ciência: vaporizando mosquitos, salvando vidas
Esse é com certeza o vídeo mais sensacional que você verá em muito tempo: mosquitos sendo vaporizados em vôo por raios laser.
Isso vai muito além de queimar formigas com lupas porque aqui tudo é feito por um sofisticado sistema automático. Ele é capaz de detectar insetos voadores e então, pelo padrão de batida de suas asas, não apenas descobrir quais são mosquitos e quais podem ser, por exemplo, borboletas. Ele também pode diferenciar mosquitos machos de fêmeas!
“Se você for um purista, poderia matar apenas as fêmeas”, que são as que se alimentam de sangue, diz Nathan Myhrvold ao WSJ. Mas como são mosquitos, deve provavelmente “exterminar todos”.
Myhrvold não é um inventor de fundo de quintal. É um antigo executivo da Microsoft que fundou a Intellectual Ventures, dedicada a investir em novas idéias. Em 2007 ele ouviu do astrofísico Lowell Wood a idéia de matar mosquitos com lasers. Wood, por sua parte, não era maluco – havia trabalhado no laboratório Lawrence Livermore com Edward Teller, pai da bomba de hidrogênio e principal promotor na década de 1980 de uma idéia familiar. Era a Iniciativa de Defesa Estratégica (SDI), mais conhecida como o projeto Guerra nas Estrelas, que pretendia criar um escudo anti-míssil para proteger os EUA de mísseis nucleares. Entre outros tecnologias, através de raios laser interceptando ogivas em pleno ar.
O que leva um astrofísico envolvido com lasers e armas nucleares a tentar matar mosquitos?
A cada 43 segundos uma criança morre de malária no mundo. São ao redor de um milhão de mortes anuais para uma das doenças mais perniciosas a assolar nossa espécie, e que está muito longe de ser erradicada. Não existe vacina e os métodos de prevenção envolvem assim controlar o vetor, que é o mosquito. Inseticidas são uma luta constante contra a adaptabilidade destes bichos voadores, e as tradicionais telas, como todos que já usaram bem sabem, são úteis mas não funcionam tão bem. Em países menos desenvolvidos, que são justamente as maiores vítimas, o uso de telas é ainda mais problemático porque cobrir a cama com véu pode parecer a menor das preocupações de um aldeão.
Aqui entra o conceito de “cerca fotônica”. Instalando efetivamente um sistema de defesa contra mosquitos, ele cercaria uma área e impediria qualquer mosquito de entrar. Os lasers não ficariam ligados constantemente, claro, sendo ativados apenas ao detectar-se o zumbido certo.
A cerca não precisa cobrir a parte superior da área protegida porque mosquitos não voam muito alto.
Mosquitos já estão sendo exterminados, vídeos sensacionais filmados, e vidas poderão ser salvas. No entanto, a pergunta que muitos estarão fazendo é se algo assim poderá salvar milhões? Em áreas onde nem telas contra mosquitos estão disponíveis ou são utilizadas corretamente, poderia um sistema computadorizado com lasers ser viabilizado?
Talvez não, mas todos devemos torcer para que seja possível. O barateamento de equipamentos eletrônicos, incluindo chips e diodos emissores de raios laser, através do avanço da física de estado sólido oferece uma esperança concreta de que chips de silício ainda venham a entrar diretamente no combate a protozoários.
Se hoje você pode comprar um apontador laser por menos de R$10, quem sabe em um futuro próximo não haja vendedores ambulantes oferecendo tecnologia de Guerra nas Estrelas para exterminar mosquitos? Parece pouco plausível? Que tal então este cenário, sugerido pelo amigo Charles Pilger:
“[Embuta o dispositivo em telefones] celulares. Pode parecer piada, mas vale a pena lembrar que na África celular não é só telefone, é carteira também (há toda uma economia formada em torno do uso de créditos de celular, que passam a valer como moeda). Se é possível ter um laser de mão, por que não embutir num celular, junto com um microfone capaz de detectar o zumbido certo?”.
Um dispositivo desta natureza poderia acabar sendo mais simples e eficiente que uma tela de pano. Ou, no mínimo, é uma esperança a mais.
“Nós pensávamos que poderíamos dar alguma contribuição para acabar com a Guerra Fria” através do programa Guerra nas Estrelas, disse o dr. Jordan Kare, colega de Wood. “Agora estamos tentando contribuir um pouco em uma guerra que tem se estendido por muito mais tempo e ceifado muito mais vidas”.
Ciência: salva vidas, às vezes de forma indescritivelmente fabulosa. [via Wired, WSJ, Intellectual Ventures]
Discussão - 5 comentários
Só acho que a tradução está errada. "Mosquito", do inglês, não é mosquito. É pernilongo, e são essas fêmeas que se alimentam de sangue.
Ao mesmo tempo já vejo uma utilização bélica de um sistema tão sofisticado de detecção (a mão que afaga...) - bem, ao menos seriam menos terríveis do que minas terrestres (acho).
[]s,
Roberto Takata
Hmm é verdade, a tradução certa seria pernilongo para o Anopheles... mas mosquito pelo visto não está errado, ambos são termos populares, e um pernilongo seria um mosquito.
Por preguiça vou deixar como está, senão teria que alterar o título também...
Essa cerca sem tampa só serviria para selecionar os mosquitos que voassem mais alto.
Pernilongo, mosquito, muriçoca, maruim. Tudo a mesma coisa.
a primeira coisa que pensei foi a mesma coisa que o igor: isso provavelmente selecionará os que voam mais alto.
até lá devem desenvolver a tampa da cerca, não?