Jonathan, o Frankenstein

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Em meio a relâmpagos e trovoadas de uma tempestade, o cientista maluco, o doutor Frankenstein, comemora descontroladamente. “Está vivo! Está vivo!”, grita enquanto a criação monstruosa que acabará por matá-lo adquire vida. É a imagem gravada fundo na consciência coletiva do complexo de Frankenstein, dos perigos da ciência descontrolada. O anúncio recente de mais um passo na direção de vida sintética provocou medo, enquanto o principal responsável foi imediatamente comparado ao doutor que gritava “está vivo!”. Uma busca por “Craig Venter Frankenstein” retorna mais de 30.000 resultados, muitos dos quais de veículos importantes de mídia.

A história de terror de Mary Shelley cumpre um bom papel ao chamar atenção à necessidade de que conquistas científicas e tecnológicas sejam sempre cercadas de cautela e discussão. Como seres emocionais, contudo, o monstro de Frankenstein talvez fale bem demais com nossos sentimentos e muito pouco com a razão, elemento essencial para que a cautela não se transforme simplesmente em um pânico tão insano quanto o do fictício doutor.

Para lidar com isso na mesma moeda e contrabalançar o jogo, apresentamos aqui um adorável vídeo muito real de Jonathan. Um bebê de oito meses com problemas auditivos, no momento da ativação do implante coclear que permite que finalmente escute sons.

Assista atentamente, na marca de cinco segundos o médico diz “it’s back on again”, ou “está ligado de novo”, e como um interruptor de luz, ou mesmo como um raio, a expressão do bebê muda instantaneamente enquanto nossos corações se derretem pouco a pouco. Mais de 150.000 pessoas já receberam implantes cocleares e passaram a escutar melhor o mundo de sons que nos cerca, em dispositivos eletrônicos que não são movidos a tempestades tenebrosas nem criados por cientistas malucos, mas sim por simples baterias e uma comunidade médica e científica trabalhando para melhorar nossa qualidade de vida. Se você ficou curioso, a amiga Giseli Ramos, “uma ciborgue com ouvido biônico”, conta mais sobre sua experiência com implantes cocleares.

Ciência e tecnologia são instrumentos poderosíssimos que podem nos permitir concretizar praticamente tudo que imaginarmos, sejam estes sonhos ou pesadelos. Compreender melhor estas possibilidades e discuti-las com toda a sociedade é o que diferencia um doutor Frankenstein isolado em seu castelo de centenas de milhares de Jonathans acessando um mundo de sensações com o ligar de um interruptor.

Discussão - 9 comentários

  1. Karl disse:

    Assim você me arranca lágrimas... Parabéns.

  2. Rafael |RNAm| disse:

    Bem q o doc avisou. Eu chorei tmb...
    Lindo

  3. Sibele disse:

    Magnífico, Kentaro!
    E pensar que o pequeno Jonathan, sem a ajuda da ciência e da tecnologia que permitiram-lhe sorrir para um mundo povoado de sons estaria condenado a não só ser privado de ouvi-los como de verbalizá-los, já que o distúrbio auditivo em tão tenra idade comprometeria todo seu aprendizado da fala... seria uma dupla provação.
    Emocionei-me!

  4. Kentaro Mori disse:

    Tinha que partilhar as lágrimas aqui, chorar sozinho na frente do computador não tem muita graça! Terrível esse Jonathan, devia ser discutido com toda a sociedade antes de vídeos assim 🙂
    Eu ia apelar e colocar junta uma foto de um molequinho com as próteses de perna que usou, à medida que ia crescendo, mas aí seria demais.

  5. Sibele disse:

    Como é que dizem por aí que céticos não têm coração? Bando de chorões com coração de manteiga! XD
    E Ken, não acho que seria apelação a foto do molequinho com suas próteses! Taí outra bela oportunidade de postagem mostrando o lado humano dos resultados da ciência e da tecnologia. E então podemos todos chorar juntos! 🙂

  6. Alessandra disse:

    Ótimo post, lindo exemplo! Parabéns!

  7. Paulo H disse:

    Sensacional! Alguém deveria mostrar este vídeo pro Datena, talvez assim ele pare de dizer que ciência não serve pra nada. Não que eu me importe com sua opinião, mas falar isso em rede nacional é um grande desserviço à sociedade.
    Como engenheiro eletrônico começando um mestrado em bioengenharia, fico muito feliz em ver que além de "desempregar" pessoas com automação nas fábricas, também serei capaz de contribuir na realização de cenas lindas como esta. Tudo depende do foco que damos às nossas ações. Obrigado,Kentaro, por tornar a divulgação científica um dos seus focos.
    Isso me lembra de outro vídeo, também emocionante, sobre como um livro de física ajudou um garoto africano muito engenhoso (bem mais que eu =D) a diminuir a fome de seu povo.
    http://www.ted.com/talks/lang/eng/william_kamkwamba_how_i_harnessed_the_wind.html

  8. Curioso disse:

    Excelente post! Parabéns!

  9. Edimar Estevam disse:

    Vídeo realmente inspirador. Imaginem-se na pele do garoto no instante que ouve pela primeira vez a voz de sua mãe, não há como não se emocionar. Apesar do caminho tortuoso que a ciência costumar ter, levando sempre a criação de algo para matar, não há como não concordar que ela pode e deve melhorar as nossas vidas, fato comprovado pelo Jonathan. Ótimo post Kentaro. Até a próxima.

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