A Mente Científica

O mais fascinante neste curto vídeo sobre a invenção do compatriota japonês Kazuhiko Minawa não é tanto seu fabuloso aparato através do qual uma enguia elétrica ilumina uma árvore de Natal.

É seu entusiasmado comentário sobre as infinitas possibilidades desta tecnologia:

“Se pudéssemos juntar todas as enguias elétricas de todo o mundo, poderíamos iluminar uma árvore de Natal incomensuravelmente gigantesca. Adoraria ver mesmo do espaço o imenso flash de luz que ela lançaria na Terra”.

Carl Sagan lembrava que se a rainha Vitória em meados do século 19 resolvesse encarregar seus melhores cientistas da tarefa de criar uma forma de transmitir imagens em movimento a enormes distâncias, dificilmente teriam sucesso a despeito de mundos e fundos de um Império sobre o qual o Sol nunca se punha. É porque um discreto acadêmico barbudo trabalhando apenas com equações e seu conhecimento sobre os experimentos científicos em fenômenos curiosos mas de pouca ou nenhuma aplicação prática, ainda não tinha  escrito “Sobre as Linhas Físicas de Força”.

O sujeito era James Clerk Maxwell, e o que publicaria seria a unificação de duas forças fundamentais do Universo, indicando que a eletricidade e o magnetismo eram um só e que como ondas se manifestavam entre outros fenômenos como a própria luz. Um certo Albert Einstein, com admiração, comentaria a forma e o significado desta façanha:

“Imagine como Maxwell deve ter se sentido quando as equações diferenciais que formulou provaram que os campos eletromagnéticos se propagavam na forma de ondas polarizadas, e à velocidade da luz! Poucos homens no mundo tiveram o privilégio de uma experiência dessa natureza… e levou aos físicos algumas décadas para que toda a significância da descoberta de Maxwell fosse apreendida, tão imenso foi o salto de genialidade imposto às concepções de seus pares”.

Picture5O embasamento físico-matemático que criou finalmente permitiria algumas décadas depois feitos tecnológicos como a transmissão de rádio e toda a tecnologia elétrica e eletrônica que passou pela televisão e chega hoje pela série de “tubos” na rede até as linhas que você lê aqui. Maxwell, no entanto, não havia sido comissionado pela rainha nem buscava inventar a televisão. É pouco provável que jamais tivesse imaginado algo como a Internet. O salto intelectual que deu foi parte de sua muito convencional carreira acadêmica e a frase publicada em que comenta a fabulosa descoberta entendendo a luz como forma do campo eletromagnético chama a atenção pela singeleza com que uma das mais importantes ideias científicas da história foi divulgada.

“… dificilmente podemos evitar a inferência de que a luz consiste de ondulações transversais do mesmo meio que é a causa dos fenômenos elétricos e magnéticos”.

Dificilmente podemos evitar imaginar que apesar do tom, Maxwell, antes e mais do que ninguém à sua época, percebeu sim a relevância do que descobrira, ainda que o século do elétron fundamentado em suas ideias ainda estivesse a décadas de distância. E a alegria e o entusiasmo que deve ter sentido poderão ser melhor imaginados por aqueles que entendem a empolgação de um japonês com a ideia de juntar todas as enguias elétricas do mundo para iluminar uma árvore de Natal gigantesca para ser vista do espaço.

É pouco provável que em algumas décadas vivamos no século das enguias elétricas, mas seguramente continuaremos dependendo do espírito científico que preza o conhecimento pelo conhecimento. [vídeo das enguias via MAKE]

Discussão - 8 comentários

  1. Magine sir Maxwell convocando a imprensa... *Esse* trabalho (ao menos retrospectivamente) mereceria o escarcéu da Nasa com as bactérias supostamente arseniófagas.
    []s,
    Roberto Takata

  2. Krakatoa disse:

    Muito interessante!
    Viva às enguias elétricas! ;D

  3. Kentaro Mori disse:

    Nerd power 🙂

  4. Sibele disse:

    E vc também é de um entusiasmo contagiante ao nos contar essas histórias, Kentaro! 🙂

  5. Kentaro Mori disse:

    Obrigado, ainda crio minha árvore de natal com enguias... 🙂

  6. Nicholas disse:

    Você já leu o "The Archimedes Codex"? A idéia de que o cálculo diferencial foi quase inventado 2000 anos antes de Newton e Leibniz é um pouco assustadora!

  7. Kentaro Mori disse:

    Não li o livro, mas já li a respeito. Arquimedes ter inventado o cálculo diferencial, o mecanismo de Anticitera... como Sagan comentava, a Biblioteca de Alexandria devia ter tesouros fantásticos de conhecimentos, incluindo mesmo ideias que nós ainda não tenhamos reinventado ou redescoberto.
    Mas, novamente como Sagan comentava, a Biblioteca de Alexandria não democratizou o conhecimento, e ao final as massas a destruíram. Vamos repetir a história?

  8. Joao Paulo Gois Alves disse:

    Por isso sou contra a mercantilização da ciencia e do conhecimento.
    Reconheço a sociedade em que vivemos, mas qualquer coisa que impeça a democratização da conhecimento deve ser combatida.

Deixe um comentário para Roberto Takata Cancelar resposta

Seu e-mail não será divulgado. (*) Campos obrigatórios.

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM