Acupuntura: palitos de dente servem

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Não se assuste, não é preciso fincar os palitos pele adentro. De fato os palitos nem são necessários, porque a acupuntura realmente não funciona. Mas antes de todos estes detalhes, vejamos como o mais recente estudo a respeito foi noticiado:

“Um estudo que avaliou a eficácia da acupuntura para tratamento de dor nas costas concluiu que ela não consegue ser melhor do que uma forma falsa desse tratamento, na qual as pessoas são submetidas apenas a picadas superficiais em pontos aleatórios do corpo. O trabalho, porém, trouxe uma revelação surpreendente: as duas formas de acupuntura, a verdadeira e a simulada, parecem ser mais eficazes do que o "atendimento usual" que pacientes de lombalgia costumam receber.

[Folha Online: Acupuntura "falsa" supera medicina comum em teste]

Epa. Acupuntura supera medicina comum? Como, se acabamos de dizer que ela não funciona?

Mais tratamento, melhor resultado

Simples, a notícia está errada, a acupuntura não supera a medicina comum. Os pacientes que receberam tratamento com acupuntura também receberam o “atendimento usual” da “medicina comum”, incluindo todos os anti-inflamatórios receitados pelos médicos. A acupuntura foi um tratamento complementar, uma atenção adicional que parte dos pacientes recebeu. E como tal mostraram uma melhora mais rápida de sua dor.

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Gripe suína: “Vamos todos morrer” (Lições de 1976)

Atenção: foi confirmado que um recruta do exército americano de apenas 19 anos, David Lewis, faleceu menos de 24 horas depois de sentir-se cansado e fraco. Pior, ele não se sentia gravemente doente – não achou necessário procurar os médicos ou deixar de participar de um exercício. A rapidez com que padeceu é assustadora, e a causa da morte foi confirmada como a gripe suína. Outros membros da tropa também foram contaminados e adoeceram.

Detalhe: Isso ocorreu em fevereiro de 1976, há mais de trinta anos, quando irrompeu um surto de gripe suína nos EUA. O episódio é extremamente relevante nesta iminência da pandemia de gripe A(H1N1), e o tenebroso comercial que você confere acima é bem real, parte de uma das primeiras incursões de governos na televisão para a conscientização de um problema urgente de saúde pública. Hoje vemos claramente, um tanto questionável.

Mas propagandas de terror não foram o pior que ocorreu então. Como é o tema da própria propaganda televisiva, em 1976 o então presidente americano Gerald Ford determinou a vacinação em massa de toda a população como forma de conter a doença, temendo que “o vírus de 1918 houvesse retornado”.

É uma decisão discutida até hoje, porque ao final, a única morte devido à gripe suína no surto de 1976 foi a do recruta Lewis. Por outro lado, pelo menos 25 pessoas faleceram por complicações causadas pela própria vacina. Apenas 200 pessoas foram infectadas, sendo Lewis a única vítima fatal, mas dos 40 milhões de americanos vacinados (o programa foi interrompido), 25 faleceram devido a uma síndrome provocada pela vacina. Dito simplesmente, a vacina matou mais do que a doença. Leia mais na Folha: EUA viveram surto de gripe suína em 1976; vacina gerou mortes.

Antes de jurar nunca tomar uma vacina ou evitar todas as recomendações do governo, no entanto, tome alguns minutos para conhecer ou lembrar um pouco melhor o que ocorreu há trinta anos e como isso é relevante hoje.

De volta ao futuro

Voltemos a 2009. Nos próximos meses, há fortes indicações que a pandemia de gripe suína estará estabelecida, e vacinas devem ser disponibilizadas. A OMS fará recomendações e governos discutirão quais, se e como aplicá-las em grande escala em seus países, o que ainda deve depender de quão grave realmente é o vírus com que nos deparamos. E, com certeza, ouviremos falar muito mais sobre o episódio de 1976.

Considerando como hoje mesmo vacinas de segurança e eficácia estabelecidas ainda são evitadas por pessoas que acreditam que seriam apenas conspirações malignas da indústria farmacêutica, a polêmica atual de usar ou não máscaras ou viajar ou não é apenas um anúncio do que está por vir. Ou melhor, se repetir. Mesmo em 1976 o programa de vacinação americano, até então sem precedentes e até hoje um dos maiores já promovidos, foi assolado por muitos problemas e discussões.

Não pretendo me antecipar muito à discussão que deve vir; ela deve ser muito positiva e contará com dados mais completos dos que dispomos agora, bem como será promovida por figuras bem mais qualificadas que o autor que escreve aqui. Mas desde já dispomos de alguns dados, e este autor pode oferecer algum comentário que talvez seja útil.

Antes de mais nada, nesta que deve ser uma pandemia mais do que anunciada já houve mais de uma morte confirmada. No momento em que escrevo, 3 de maio, segundo a OMS já teríamos 17 mortes entre +600 infectados confirmados em todo o mundo. Isto é, há pouca dúvida de que a situação hoje é comprovadamente mais grave e preocupante do que o surto de 1976 nos EUA.

E então, a questão que pode valer milhões de vidas (ou não): a decisão de vacinar toda a população americana foi um erro? Em retrospecto, é evidente que foi, mas aqui está o que penso ser a lição mais importante de todas. No contexto da situação, pode-se argumentar que apesar de ultimamente errada, a decisão fora acertada. Confuso? Bem, acompanhe o pronunciamento feito pelo presidente Ford na época:

“Fui aconselhado de que há uma possibilidade muito real de que, a menos que tomemos medidas contrárias efetivas, poderá haver uma epidemia desta perigosa doença no próximo outono e inverno aqui nos Estados Unidos. Deixe-me declarar claramente neste momento: Ninguém sabe exatamente quão séria esta ameaça pode ser. Ainda assim, não podemos apostar com a saúde de nossa nação. Desta forma, anuncio hoje as seguintes ações … a produção de vacina suficiente para inocular todo homem, mulher e criança nos Estados Unidos…”

Se o governo iria errar, erraria pelo excesso de precaução. Como depois se constatou, de fato a vacinação fora desnecessária e a medida um erro, mas foi a “ação errada pelos motivos certos“. Trinta anos depois é fácil condenar a decisão de Gerald Ford e as agências governamentais que o aconselharam, mas apenas porque tendemos a superestimar nossa capacidade de adivinhar algo depois que este algo já ocorreu.

Mesmo considerando 25 mortes, fato é que 40 milhões de pessoas foram vacinadas na campanha de 1976. É mais provável morrer atingido por um raio, e muito mais provável morrer por uma gripe comum do que por causa de uma vacina, mesmo uma vacina como a aplicada então. As vacinas antigripais de hoje são ainda mais seguras.

No momento, nos vemos na mesma situação onde “ninguém sabe quão séria esta [nova] ameaça pode ser”. E, como em 1976, poucos devem discordar que “não podemos apostar com a saúde de nossa nação”. Embora isto não seja motivo para abraçar qualquer medida drástica, apenas para “fazer algo” (às vezes não fazer algo é fazer algo), e se decidir movido pelo pânico nunca deve ser positivo em nenhuma situação, torçamos e tomemos ações para que daqui a trinta anos possamos olhar para trás e dizer que se erramos, erramos pelo excesso de precaução, pela sorte de lidar com um vírus menos perigoso do que o temido.

O outro cenário de erro ao lidar com o surgimento de uma nova pandemia é um que de certa forma já ocorreu. Como William Brandon da Universidade da Carolina do Norte nota (PDF), poucos anos depois do “fiasco” da vacinação de 1976 uma nova questão de saúde pública foi descoberta. Em 1981 o Centro de Controle de Doenças dos EUA publicava o primeiro estudo ligado ao que depois seria conhecido como AIDS. “Se o episódio da gripe suína [de 1976] foi um caso de exagero face a uma doença infecciosa, a AIDS tem sido um registro lamentável de parálise ideológica e má-vontade federal em agir efetivamente”, conclui Brandon.

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Leia mais

O que você precisa saber sobre a gripe suína;

EUA viveram surto de gripe suína em 1976; vacina gerou mortes

Vírus, ciências e homens – Resenha que inclui um breve comentário sobre o episódio de 1976;

1976: Fear of a great plague;

In the Age of Bioterrorism, an Affair to Remember: The Silver Anniversary of the Swine Flu Epidemic That Never Was (PDF).

Mantenha-se informado no portal do Ministério da Saúde e acompanhe a cobertura feita pelo ScienceBlogs Brasil.

Demonstração de anti-gravidade?

Será verdade? Será mágica? Será um truque? Computação gráfica? Edição de vídeo?

Pois é ciência! <risada maluca>Bwahahahahaha</risada maluca>

Read on para mais vídeos e explicações.

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O que é ciência? O que é Pseudociência?

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Por Donald E. Simanek

Um visitante de meu website pergunta "Qual é a definição de pseudociência?". É uma pergunta justa, mas desafiadora. Normalmente esperaríamos que os praticantes de uma disciplina a definam, mas neste caso os praticantes de pseudociência não reconhecem a validade do rótulo.

A pergunta se traduz para "Como se distingue entre ciência e pseudociência". Talvez nós devêssemos primeiro chegar a uma definição de ciência. Mesmo isto não é uma tarefa fácil, já que ela tem tantas nuances. Livros inteiros foram escritos sobre o assunto.

O cientista poderia responder "eu reconheço pseudociência quando eu a vejo". Mas os limites entre a ciência e a pseudociência são nebulosos. Às vezes é difícil distinguir especulação científica sofisticada de pseudociência.

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“Mas isso eu já sabia!”

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As ciências sociais não revelam nenhuma idéia ou conclusão que não possa ser encontrada em qualquer enciclopédia de ditados… Dia após dia cientistas sociais perambulam pelo mundo. E dia após dia descobrem que o comportamento das pessoas é bem aquilo que você esperaria”. Ou pelo menos é como Cullen Murphy, editor do The Atlantic, expressou suas idéias a respeito.

Na semana passada, Ruth de Aquino, diretora da sucursal da revista Época no Rio de Janeiro, opinou basicamente o mesmo, com acusações e questionamentos ainda mais graves a que Carlos Hotta já respondeu em uma excelente réplica. Dela, nos atenhamos ao comentário de Aquino de que os resultados de pesquisas “científicas” (com aspas) seriam para “dar risada”, com resultados que “variam do óbvio ao inverossímil e preconceituoso“. Óbvio?

Em 1949 o historiador Arthur Schlesinger Jr reagiu de forma similar aos resultados obtidos por esses tais “cientistas” depois de meticulosas pesquisas com soldados durante a Segunda Guerra Mundial. “Demonstrações claríssimas”, ele disse, de simples bom senso. Perda de tempo.

Paul Lazarsfeld, no mesmo ano, listou o que seriam algumas das descobertas apresentadas em The American Soldier, obra descomunal de dois volumes:

  1. Soldados melhor educados sofreram mais problemas de ajuste que os menos educados (Intelectuais eram menos preparados para o stress das batalhas que as pessoas comuns).
  2. Soldados do sul lidaram melhor com o clima quente da Ilha South Sea do que os soldados no norte. (Sulistas estavam mais acostumados ao clima quente).
  3. Soldados brancos estavam mais ansiosos em serem promovidos a oficiais do que soldados negros. (Anos de opressão desmotivam suas vítimas).
  4. Negros do sul preferiam oficiais do sul ao invés de do norte (porque oficiais do sul eram mais experientes e habilitados a interagir com negros).

Apenas bom senso, não? Leia mais uma vez esses itens, são, como Aquino bem escolheu o termo… são o óbvio. Seria realmente necessário um dos maiores esforços já empreendidos no campo das ciências sociais, compreendendo o período desde Pearl Harbor até o final da guerra em que mais de duzentos questionários diferentes, muitos dos quais com mais de 100 perguntas, foram ministrados a mais de meio milhão de soldados? Apenas para descobrir… o óbvio? Quanta perda de tempo!

Pois bem. Como Lazarsfeld completou logo depois, “todos esses itens são exatamente o oposto do que foi de fato descoberto“. Ráááá! Pegadinha do Lazarsfeld. O esforço científico descomunal em uma das mais importantes pesquisas sobre o comportamento humano descobriu que… soldados com pouca educação eram menos preparados para lidar com o rigor da batalha. Aqueles intelectuais se adaptaram melhor. Sulistas não se ajustaram melhor ao clima tropical. Negros estavam ainda mais motivados a serem promovidos que brancos, e preferiam oficiais do norte.

Claro, pode lhe parecer que esta foi uma pegadinha maliciosa em que escolhemos itens contrários ao óbvio, opostos ao bom senso, apenas para invertê-los e sacanear nossos prezados leitores. Mas lembre-se que ao historiador Schlesinger, que leu a obra sem esta pegadinha, os resultados de fato também lhe pareceram óbvios.

“Se tivéssemos mencionado os resultados verdadeiros da investigação no início, [como ocorreu com Schlesinger], o leitor também os teria classificado como ‘óbvios’. Obviamente algo está errado com todo o argumento sobre obviedade… Já que todo tipo de reação humana é concebível, é de enorme importância conhecer que reações ocorrem com maior frequência e sob quais condições“. Já escrevia Lazarsfeld em 1949.

E como podemos estar realmente seguros de que os itens lhe pareceriam óbvios não importa tanto quais fossem? Porque, obviamente, este efeito também já foi estudado pelas ciências sociais. É o preconceito retrospectivo, uma inclinação que temos a superestimar nossa capacidade de adivinhar algo depois que este algo já ocorreu. Há uma série de estudos publicados sobre o “hindsight bias“.

Conhecer o preconceito retrospectivo tem aplicações mais amplas e importantes do que admoestar jornalistas e leigos que desmereçam o valor de pesquisas sociais. Julgamentos sobre negligência podem ser um tanto injustos uma vez que tanto o juiz como o júri podem ser vulneráveis a tal preconceito. Mesmo eventos como os ataques de 11/9 parecem “óbvios” depois que ocorreram.

Porque, como diz o ditado americano, “hindsight is 20/20”.

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Referência (de onde esta nota é um semi-plágio)
Did You Know It All Along? Excerpt from: David G. Meyers, Exploring Social Psychology. New York: McGraw-Hill, 1994, pp.15-19.

Como vencer um debate (sem ter razão)

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A arte de discutir, e discutir de forma a vencer um debate, quer se esteja certo ou errado, por meios lícitos ou ilícitos. Um homem pode estar objetivamente certo, e ainda assim aos olhos de espectadores, e por vezes a seu próprio ver, parecer estar errado”.

É assim que o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) introduz “A Arte da Controvérsia”, onde detalha exatamente as táticas e em sua maior parte as falácias pelas quais se pode vencer um debate “quer se esteja certo ou errado, por meios lícitos ou ilícitos”.

A obra completa, em alemão e inglês, está disponível na íntegra na rede, mas circula também uma lista resumida de “38 maneiras de vencer uma discussão” baseada na obra de Schopenhauer e que deve ser muito esclarecedora.

Reproduzimos a lista traduzida das páginas de Bertoldo Schneider Jr. na continuação.

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