Planeta vivo: admirando um raso e úmido ponto azul
Observe o movimento das nuvens pelo planeta durante uma semana do ano de 2005, e o que era para representar a evolução de um tufão na costa da China se torna uma evidência de que o planeta Terra parece um único ser vivo. Com pulsos e movimentos de complexidade absurda, pode-se entender melhor por que é tão difícil acertar a previsão do tempo.
Só há um detalhe: repare que à medida que o dia passa, as partes iluminadas do planeta continuam as mesmas. É porque o vídeo é uma representação gráfica, não são imagens reais capturadas do espaço. Ao invés, um mosaico de dados de uma série de satélites foi composto para criar essa imagem tão clara do movimento acelerado da camada de nuvens sobre o planeta.
Pois se o que você quer ver agora é um vídeo capturando o planeta de verdade, aqui está:
O Hypercubic explica melhor como James Tyrwhitt-Drake criou o vídeo a partir das imagens do satélite russo Elektro-L. Ainda que haja alguns ajustes no espectro visível – grosso modo, nas cores – são imagens reais em movimento do planeta. Poderíamos ver isto com nossos próprios olhos. Quais são as principais diferenças entre a representação e a realidade?
Além da luz do Sol passando pela Terra e marcando os dias e noites, a maior diferença está em como o relevo das nuvens foi exagerado no primeiro vídeo. E entender isso torna tudo isso ainda mais curioso, porque veja, toda essa complexidade de nuvens que transmite a sensação de um ser vivo se dá em uma camada extremamente fina sobre a superfície do planeta. Particularmente, a maior parte de toda aquela agitação se dá na troposfera, a camada mais baixa da atmosfera que vai até pouco mais de 12km de altitude.
Considere que a Terra tem um diâmetro de quase 13.000km, toda aquela agitação ocorre em uma espessura ao redor de um milésimo deste tamanho. Olhe para seu polegar, considere que ele tem, ora, uma polegada de tamanho. Sua pele tem ao redor de 2,5mm de espessura, ou um décimo deste tamanho. Se a troposfera, com todas as nuvens de tempestades, fosse considerada a “pele” de nosso planeta, ela seria cem vezes mais fina que a nossa própria pele. Muito mais delicada.
Outra representação, baseada em dados reais, dá uma dimensão desta delicadeza:
A esfera azul maior representa toda a água no planeta Terra. Do oceano à calota polar, da tempestade ao orvalho, toda a água no planeta poderia ser reunida em uma esfera com 1.385km de diâmetro, um décimo do tamanho do planeta – mas um milésimo de seu volume. Novamente, na analogia com nosso próprio corpo, ao redor de pouco mais de 60% de nosso corpo é composto de água. E você não se considera um ser particularmente pegajoso. A Terra, como ser vivo apenas escassamente úmido, pensaria diferente.
Se o planeta parece vivo, é porque esta minúscula proporção de água se distribui de forma absurdamente instável — passando de gelo a água e vapor — percorrendo a camada extremamente fina de sua superfície entre as profundezas do oceano e a alta atmosfera.