A escolha de tornar-se biólogo III
3. Após a sua graduação, você sentiu de imediato a necessidade de fazer outros cursos?
O crescimento profissional se dá de duas formas: com teoria (fazendo novos cursos) e com experiência (trabalhando na área escolhida). É necessário balancear as duas coisas. Durante a graduação todo aluno convive o tempo todo com seus professores e colegas já da pós-graduação. Isto é muito bom, mas tem um perigo inerente. Estas pessoas saberão falar com mais propriedade sobre a atuação de biólogos dentro da academia, que é uma área muito gratificante e promissora, mas não é a única. Como é a área escolhida pelos professores e pós-graduandos, o graduando que está sempre em contato com estes personagens tende a pensar que o único futuro para um biólogo depois de fazer a graduação é continuar estudando na pós. Não é! Pós-graduação é muito importante para quem quer se tornar cientista. Experimentar um pouco da vida profissional antes de seguir estudando é muito importante para o biólogo. Tenho amigos inteligentíssimos que fizeram o curso de graduação, depois o de mestrado, aí o curso de doutorado, um pós-doutorado ou dois e aos 35 anos foram procurar seu primeiro emprego (de carteira assinada, pelo menos). Nunca tinham saído da cúpula protetora da universidade. Eu optei por fazer diferente, fui trabalhar no meu 2º semestre, depois procurei emprego de novo depois do mestrado. Tem quem defenda essa cadeia de cursos, mas eu proponho que experimentar o mercado de trabalho antes é mais legal.
A escolha de tornar-se biólogo II
2. Em que ano começou a ter oportunidades de trabalho renumerado? Quais eram estas oportunidades? Estágio? Pesquisas?
Já no segundo ano de faculdade tive minha primeira oportunidade de trabalho remunerado, mas nem todos os meus colegas foram assim, muitos só começaram a receber depois de formados ou faltando um ano para isso. Pessoalmente eu tive meu primeiro “salário” (na verdade era uma ajuda de custo) pelo Projeto TAMAR IBAMA, onde estagiei. Eram R$ 220,00, mas como recebíamos um teto e alimentação do próprio TAMAR o dinheirinho virava uma fortuna gasta apenas com algumas guloseimas e com os forrós de final de semana no vilarejo próximo, Regência. A seguir meu próximo trabalho remunerado, este bem mais comum comparado com meus colegas, foi a bolsa de pesquisa PIBIC do CNPq: R$ 350,00 mais ou menos para eu desenvolver um projeto de pesquisa com a Prof. Eleonora Trajano em comportamento de peixes de caverna. Mais adiante ainda fui monitor remunerado de Zoologia de Vertebrados e Ecologia Animal, recebendo os mesmos 350,00 por cada uma das monitorias. No mais via colegas tirando uma grana dando aulas como professor substituto em escolas, como monitores de museus de ciência, de educação ambiental em viagens de estudo do meio e em levantamentos faunísticos e florísticos para empresas de EIA-RIMA.
A escolha de tornar-se biólogo I
Muito tempo atrás, quando ainda escrevia o blog Maravilhosa Obra do Acaso vinculado ao Centro Acadêmico da Biologia da USP, eu disse que quem é biólogo de verdade já o é desde o nascimento, nosso tempo na universidade é apenas para ganharmos competência técnica na profissão, além de um papel para provar para os outros o que já sabemos há tempos: que somos biólogos. De qualquer forma a escolha de trilhar este caminho é complicada, é uma maldade necessária colocar pessoas de 16 ou 17 anos para decidir o que será da sua vida, todo o seu futuro profissional. Foi assim que esta série de posts surgiu, pensando em como ajudar nesta escolha para aqueles que estão propensos a optar pela biologia. Mas ele ganhou corpo mesmo foi graças ao comentário que a Thais Marinho fez outro dia num post antigo. Pedi a ela, candidata à Biologia Marinha na UNESP esse ano, que me mandasse quais as dúvidas que mais lhe afligiam para eu responder aqui. Portanto este texto foi escrito a quatro mãos: A Thais pergunta e eu respondo uma das perguntas dela pelos próximos seis dias.
1. Como foi o trajeto na sua formação como Biólogo? Quais foram as dificuldades? Suas matérias prediletas e as mais chatas na sua graduação?
Olha, para começar as dificuldades que você está enfrentando para entrar na universidade são apenas o começo. O que vem pela frente ainda vai dar muito trabalho e crescer como biólogo também não é para qualquer um. Não encare isso como um empecilho, mas como o processo de seleção natural, onde apenas os mais aptos sobreviverão academicamente. A biologia é uma área muito ampla, então você, que ao que me parece é mais empolgada com a subárea ambiental terá que estudar genética e bioquímica também. Às vezes estas disciplinas serão um desafio, outras serão uma chatice mesmo, mas considero que minha formação mais ampla em Biologia, mesmo com toda a genética e bioquímica, me fizeram hoje um zoólogo mais competente. Aliás, acho que isto de matéria preferida e preterida é muito pessoal (isso foi só uma desculpa porque imagino que vez por outra um ex-professor meu pode passar aqui no Ciência à Bessa e não ficaria bem me flagrar falando mal da matéria dele, sem falar nos meus alunos que leem o que eu escrevo), cada um tem o seu gosto.
Quantas Memórias
Pessoal, só para lembrar que faltam 10 dias para o final do concurso do livro “Com quantas Memórias se faz uma Canoa”. Não se esqueçam de mandar as fotos com o tema O Homem e as Águas. Dei uma mudadinha no tema em prestígio aos colegas aqui do MT que pediram.
Pensamento de segunda
Hoje gêmeo…
1) “Uma nova teoria científica não prevacele pelo convencimento ou iluminação das mentes dos cientistas, Mais provavelmente pela morte dos partidários da teoria superada e ascenção de jovens familiarizados com a nova.”
Max Planck
2) “A ciência comete suicídio quando assume uma crença.”
Thomas Huxley
Pensamento de Segunda
“Toda criatura precisa de um valor comercial para merecer existir? Perguntar “mas para que serve isso?” é exigir da criatura que justifique sua existência sem antes justificar a sua própria.
Gerald Durrell