Evitando virar almoço 12 – Intimidação e retaliação
As presas nem sempre deixam barato. Ao se sentirem ameaçadas elas podem exibir um corpo maior do que o predador imaginava, por exemplo. É o que o baiacu faz inflando o estômago. Outra opção é mostrar logo suas armas. Tesourinhas perturbadas erguem suas forfículas, búfalos apontam os cornos, o besouro bombardeiro dispara um jato de duas substâncias químicas que reagem quase em ebulição.
Mas nada como a união para fazer a força. Por isso, algumas espécies se mobilizam para intimidar o predador. Em vez de fugir em disparada e deixar uma vítima mais indefesa para trás, o grupo para e encara o predador até que ele desista. A princípio não parece a coisa mais inteligente a fazer, mas dá resultado ou a seleção natural já teria extirpado essa mobilização do repertório comportamental dos animais.
Evitando virar almoço 11 – Tanatose e falsos ferimentos
Para evitar virar comida de um predador vale tudo. Até se fingir de morto! É comum que predadores sejam exigentes a ponto de só comer carne recém-abatida, então se passar por morto e em decomposição pode afastar um predador. Essa é a tanatose, que deriva do deus grego da morte, Tanatos. Gambás e pererecas frequentemente fazem isso, mas assista ao vídeo abaixo para ver a tanatose em plena ação.
Outra opção e surpreender seu predador. Parecer ferido vai atrair ainda mais o predador. Mas sentindo que a caçada será fácil, afinal a presa está ferida, ele pode se desarmar e ser surpreendido. Algumas aves fingem uma asa quebrada e quando o predador se aproxima alçam voo saudáveis, tenho a impressão de que até riem do trouxa.
Evitando virar almoço 10 – ocelos e cabeças falsas
Como vimos semana passada, predadores que atacam a cauda de um animal acabam comendo só a cauda. Um ataque mais eficiente em geral é direto na cabeça. Por isso muitos animais usam manchas parecidas com olhos ou estruturas que se pareçam com suas cabeças na outra ponta do corpo. Assim, se um predador atacar o lado errado, fica mais fácil fugir ou pelo menos sobreviver ao ataque.
Muitos peixes ciclídios têm ocelos que podem enganar os predadores. Lembre-se que numa foto assim estática é fácil ver qual o olho certo, mas num riacho turvo, sombreado de mata ciliar, cheio de galhos e plantas e com o peixe em movimento a coisa complica. A borboleta abaixo também é um bom exemplo de cabeça falsa.
Evitando virar almoço 9 – autotomia
Se o ataque é inevitável, talvez valha a pena deixar o predador se deliciando apenas com um pedacinho seu enquanto o que realmente importa escapa. Mas o que é que realmente importa? O que realmente importa em termos evolutivos, meu caro, são seus testículos. E o que então pode ser dado ao predador? A maioria dos animais dá o rabo.
Quero dizer, a autotomia caudal é muito comum em lagartixas, salamandras e até em ratos. Na maioria dos casos essa cauda se regenera. Pepinos do mar fazem autotomia da cloaca e parte do intestino. Alguns artrópodes das pernas. Mesmo perdendo uma parte do corpo, as presas sobrevivem e podem se reproduzir, o que justifica o comportamento.
Evitando virar almoço 8 – Mimetismo batesiano
Lembra que na semana passada falamos que vários animais venenosos têm a mesma coloração para passar a mesma mensagem? Chamamos essa mensagem de uma sinalização honesta (é verdade, os animais são venenosos), e esse padrão de mimetismo mülleriano. No entanto, existem casos em que presas perfeitamente comestíveis e saborosas enganam seus predadores se fazendo passar por venenosas. Essa é uma sinalização desonesta e chamamos esse padrão de mimetismo batesiano.
Nesse caso, animais palatáveis imitam os padrões de cor de animais venenosos. É o caso das falsas corais, por exemplo. É também o caso dessa mosca (direita), que imita com perfeição essa vespa do lado esquerdo. Perceba que, para a mentira continuar colando, alguém precisa confirmar a história de que aquela cor significa perigo. Ou seja, é preciso haver mais modelos (corais verdadeiras e vespas) do que mímicos (corais falsas e moscas).
Evitando virar almoço 7 – Coloração de advertência
Até agora falamos de formas da presa não ser visível, mas alguns animais estão longe disso. Muitas vezes isso tem a ver com a seleção sexual (pense num tiê-sangue), mas algumas vezes essas cores berrantes, aposemáticas é o termo técnico, são um aviso de que predar aquele animal não seja uma boa ideia.
Esse é o caso da coral verdadeira, de alguns maribondos (sempre parece que falta um M nessa palavra) e sapos veneno de flecha. Repare em como o vermelho o amarelo e o preto são comuns nesses animais. Isso acabou se tornando meio que um padrão na natureza. Assim os predadores aprendem (formam uma imagem mental como no caso da semana passada) que aquelas cores devem ser evitadas. É o que os especialistas chamam de mimetismo mülleriano. Semana que vem falaremos mais sobre mimetismos.
Evitando virar almoço 6 – Polimorfismo
O polimorfismo para mim é um dos modos mais espertos de evitar ser comido. Você é um predador no supermercado, está caçando seu biscoito preferido e nada de encontrá-lo. Cansado, pergunta a um funcionário do mercado se acabou o produto naquela semana. Ele responde que não e em 3 segundos te aponta o biscoito num ponto da prateleira que você tinha olhado dez vezes. O mesmo biscoito, mas o pacote está completamente diferente. Outra cor. E no rótulo diz: “Agora em nova embalagem!” Por que você não encontrava o biscoito?
Predadores formam na cabeça uma imagem daquilo que estão procurando, como você fez com seu biscoito. Mesmo que ele passe os olhos por uma presa, se ela não se encaixar no padrão que ele está procurando, é como se o cérebro não registrasse. Se o seu biscoito não quisesse ser comido ele poderia vir cada hora numa embalagem. Você não conseguiria formar uma imagem de busca mental e demoraria para encontra-lo. É isso que acontece com os animais polimórficos, eles têm cores diferentes de outros da sua mesma espécie.
Evitando virar almoço 5 – Mascaramento
Um modo interessante de evitar ser comido é não parecer com comida. Por exemplo, muitas aves comem freneticamente lagartas, mas quem é que comeria um cocô de passarinho? Eureca!
Por acaso algumas lagartas nasceram com uma leve semelhança com uma titica, e graças a essa leve semelhança, essas lagartas tiveram uma leve vantagem sobre suas parentes. Dê tempo o suficiente a essa fórmula e você terá uma lagarta idêntica a titica de passarinho, como a dessa foto. Isso certamente suscitaria toda uma série de piadas de mau gosto sobre o bebê se parecer mais com o pai ou com a mãe na maternidade das lagartas, mas o importante é a proteção que confere.
Evitando virar almoço 4 – Contra-sombreamento
Você já viu algum peixe escuro na barriga e claro nas costas? Eu nunca vi, mas meu ex-professor Mário Katsuragawa me ensinou a duvidar de nada, especialmente em se tratando de peixes, que são tão diversos. Então se você tiver um exemplo mande nos comentários. Enfim, pelo menos a maioria dos peixes é escuro nas costas e claro na barriga. E não são só os peixes, pinguins são assim, tartarugas marinhas também, até baleias são assim. Bom, se existe um padrão, deve ter um bom motivo para isso.
Como a luz vem de cima, um peixe todo branco teria as costas claras e o ventre escuro. Tendo as costas escuras e o ventre claro um peixe iluminado de cima fica mais ou menos todo da mesma claridade do ambiente, por isso fica mais difícil de enxergar.