Muito cuidado com este inseto!

Muito cuidado com este inseto, mas não pelo motivo que você está pensando. (Imagem: Matthew Robinson)

Desde o começo do ano vem circulando pela internet, principalmente whatsapp e facebook, um alerta sobre um inseto indiano ou chinês que está transmitindo pelo simples contato um vírus ou fungo mortal que se manifesta primeiro por erupções na pele. A única coisa viral a respeito dessa história foi a velocidade com que a mentira se espalhou online, e parece que uma mais recentemente houve um novo surto.

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Etologia de Alcova – Monogamia

Monogamia, talvez a mais bizarra das perversões, também ocorre entre os animais. (Imagem: virginmedia.com)

 

Recém passamos o dia dos namorados e me ocorreu discutir aqui uma das mais bizarras perversões que os animais podem praticar, a monogamia. Muitos chauvinistas por aí sugerem que a monogamia é uma aberração que interessa apenas à mulher e que contraria completamente a natureza masculina, logo veremos que não é bem assim. Mas também veremos que existem motivos para a monogamia evoluir.

Um mito relacionado à monogamia é a quem ela interessa. A natureza biológica de ser macho (um ser que produz muitos gametas pequenos e energeticamente baratos) faz com que seu sucesso reprodutivo aumente à medida que ele consegue mais parceiras. Por outro lado, fêmeas (seres que produzem poucos gametas grandes e energeticamente caros) aumentam seu sucesso reprodutivo à medida que conseguem parceiros melhores. À primeira vista isso corrobora a opinião machista de que é da natureza masculina trair, mas pense que não existem tantos bons maridos por aí. Então, se ele não vai ajudar em nada com os filhos, o melhor para as fêmeas seria acasalarem-se todas com os poucos bons parceiros que existem, deixando dezenas de machos a ver navios. A monogamia só interessa aos machos feios, isso porque ter uma parceira é infinitamente mais do que ter zero, enquanto ter duas parceiras é só duas vezes mais do que ter uma. Garantindo fêmeas monogâmicas os maus parceiros pelo menos terão alguma chance de reproduzir.

Existem diversas espécies realmente monogâmicas entre os animais. Qual seria a razão evolutiva para isso? Existem algumas. Primeiro, se o cuidado aos filhotes for muito trabalhoso a ponto de só um dos pais não dar conta, largar a mãe sozinha para cuidar significa que você jamais deixará descendentes. É essa a explicação para alguns roedores monogâmicos. Outra opção é quando a dificuldade de encontrar outra parceira é menor do que a chance de acasalar de novo com a mesma, o que explica a monogamia num cavalo-marinho. Uma terceira possibilidade é que o casal dependa de um recurso para reproduzir que só os dois parceiros juntos conseguem proteger. alguns peixes limpadores em recifes de coral fazem isso. Também pode ser que uma fêmea que se desloca muito e cuja entrada no cio não possa ser prevista force um macho a estar sempre perto dela e defendê-la de outros pretendentes, como observamos em aves migratórias. Em algumas espécies, como os besouros coveiros, o zelo da fêmea em impedir o macho de arrumar outra á tão grande que o custo de trair é mais alto do que o benefício obtido, inibindo o comportamento. Por fim, é possível que, se você desertar sua parceira, seus filhotes sejam mortos por um macho rival que chegue depois da sua partida. Esse é o caso de vários mamíferos monogâmicos.

Portanto, a monogamia não é um comportamento comum, mas também não é impossível. Diversas histórias de vida favorecem a ligação de longo prazo entre machos e fêmeas, como vimos acima. Também fica claro que, para a fêmea, a monogamia pode ser menos interessante do que imaginávamos, desde que ela não precise dos possíveis cuidados que o macho daria aos filhotes. Quanto aos humanos, temos culturas monogâmicas, pelo menos socialmente, promíscuas, poligínicas (um homem com muitas esposas), e até poliândricas (uma esposa com muitos maridos). Qual das explicações acima você acha que mais se enquadra para explicar a prevalência da monogamia na nossa sociedade?

Brasil Ameaçado – Columbina cyanopis

Lindos e tristes olhos azuis os dessa vizinha ameaçada. Ilustração: John Gerrard Keulemans/Wikipedia.org

O brasileiro ameaçado dessa semana é uma rolinha mato-grossense. A Columbina cyanopsis é uma espécie muito rara, calcula-se que existam menos de 300 exemplares vivos, a maioria deles numa região muito visitada pelos estudantes da UNEMAT e da UFMT, a Estação Ecológica da Serra das Araras. Para chegar nesse nível de ameaça, essa rolinha sofreu muito com a perda e a fragmentação do habitat decorrente da expansão agrícola no cerrado. Mas se você quiser ajudar essa espécie e muitas outras desse bioma pode agir evitando as queimadas no cerrado. Não jogue cigarros acesos pela janela do carro e não queime lixo ou use o fogo para limpar terrenos.

O crescimento e o bebê de seis meses

Não sei se é porque fiquei muitos dias longe do meu bebê no sexto mês de vida dele, mas é espantoso ver como eles crescem depressa. Existem os chamados estirões na adolescência nos quais a pessoa cresce mais centímetros absolutos por unidade de tempo, mas em proporção ao tamanho total do corpo é nesse período que mais crescemos. Esse crescimento se deve a mudanças importantes no esqueleto do bebê.

Muita cartilagem torna os bebês mais flexíveis.

Muita cartilagem torna os bebês mais flexíveis.

São os ossos longos os principais responsáveis pelo crescimento do bebê. O esqueleto do feto é formado principalmente por cartilagens. A diferença desse tecido para o osso propriamente dito é que ele é bem menos mineralizado, a matriz que circunda as células na cartilagem é formada por fibras de colágeno, e não por carbonato de cálcio. Por isso o esqueleto do bebê é tão mais flexível que o de um adulto, a ponto dele poder colocar o pezinho na boca facilmente.

É na passagem de cartilagem para osso que ocorre o crescimento dos ossos longos. Primeiro vasos sanguíneos começarão a depositar cálcio no meio do osso longo, formando tecido ósseo em substituição à cartilagem. À medida que o centro do osso se torna tecido ósseo, as extremidades cartilaginosas se alongam. Com o passar do tempo dois pontos novos de formação de tecido ósseo surgem em cada extremidade do osso. O crescimento termina quando o tecido ósseo no centro do osso longo se encontra com aquele formado em cada extremidade, fazendo desaparecer o espaço cartilaginoso que existia antes, a chamada sínfise.

O crescimento dos ossos longos ocorre do centro para as pontas. Fonte: naturalheightgrowth.com

O crescimento do bebê é motivo de preocupação para muitos pais. Ele é um bom indicador da qualidade alimentar do bebê, mas é importante ter calma na análise da curva de crescimento, aquela que o pediatra vai marcando mês a mês. Os pais tendem a ver a linha média de crescimento como uma meta para o bebê. Ora, uma média significa matematicamente um ponto no qual metade da população localiza-se acima e metade abaixo, pelo menos considerando-se uma distribuição normal de dados. Estar abaixo da média é esperado para metade dos bebês. Outro problema é que alguns pediatras usam curvas de crescimento importadas. Não faz sentido esperarmos que no meio da zona tropical nossos bebês respondam a uma curva de crescimento escandinava. A pessoa mais indicada para dizer se o crescimento do seu bebê está ou não normal (e o que fazer a respeito) é o pediatra. Recentemente um extenso estudo propôs uma curva de crescimento universal. Fico um pouco desconfiado dessas generalizações, mas o volume de dados é assombroso, então aponta uma perspectiva confiável.

Outra transformação interessante que ocorre no esqueleto do bebê durante o crescimento é a mudança no número de ossos. No esqueleto axial (crânio e coluna) ocorre a fusão de ossos como os do crânio e do sacro, na bacia. Já no esqueleto dos membros surgem novos ossos no pulso e tornozelo. Ao todo o esqueleto do bebê passa de 270 ossos para 206 até por volta dos dois anos.

Nem sempre o crescimento nesses primeiros meses interferirá na estatura final da pessoa. Não deixe de acompanhar o desenvolvimento do seu bebê, mas evite ficar paranoico com ele. A amamentação proverá o bebê do cálcio tão importante para seu crescimento.

Coordenação motora e o bebê de 4 meses

No quarto mês de vida de um bebê talvez o mais surpreendente seja o ganho de coordenação que ele obtém. Rapidamente o bebê aprende a segurar objetos e trazê-lo até a boca, rolar para ficar de bruços e manter uma postura mais rígida do corpo. É fato que ainda falta precisão aos movimentos, mas isto se desenvolverá rapidamente com a prática.

O cerebelo é o principal responsável pela coordenação motora e manutenção da postura do bebê.

O principal órgão relacionado à coordenação é o cerebelo, é nele que ocorrerá o grande ganho de desempenho neste mês. Na verdade o cerebelo sofre um estirão de desenvolvimento antes do 2º ano de idade. Tudo o que se aprende a fazer se chama memória procedural e é o tipo de memória mais estável que temos. Os resultados deste estirão e deste aprendizado duradouro são perceptíveis no comportamento do bebê.

O córtex somatosensorial é responsável por receber informações do corpo, como por exemplo em que postura estamos.

Outro ingrediente desta habilidade motora mais aprimorada é a propriocepção, um dos nossos sentidos menos explorados. Sem tirar os olhos da tela enquanto lê este post, diga em que posição estão seus braços, mãos, pernas e pés. A propriocepção é esta habilidade de reconhecer sua postura sem precisar olhar. São pequenos sensores de pressão posicionados nos principais músculos e articulações do corpo que informam sobre o ângulo formado entre dois ossos ou o grau de contração de um músculo esquelético, ou seja, em que posição você está. Interpretar estes sinais é uma habilidade que o cérebro ganha com o tempo, em especial nessa fase precoce da infância.

Mesmo os movimentos mais estabanados de um bebê são parte de um treino para ganhar a precisão que um adulto demonstra. Estes mesmos movimentos aparentemente grosseiros são o resultado de um surpreendente desenvolvimento neuronal e muscular por dentro do bebê. Em breve eles darão lugar aos engatinhar, andar, empilhar bloquinhos, dançar, jogar bola e, um dia, dirigir um automóvel ou digitar num teclado coisas sobre o desenvolvimento dos bebês. Mas por enquanto tudo isso está no futuro.

A evolução da fofura e o bebê de 2 meses

Da primeira vez que minha esposa deixou nosso bebê para eu cuidar enquanto ela colocou meu macacãozinho preferido nele. Como ficar indiferente àquela coisinha fofa quando ele precisou de mim?

Como resistir? A fofura do bebê pode ser produto da evolução para despertar nosso instinto de proteção e cuidado. (Imagem: bebeequilibrado.com)

A mesma estratégia que minha esposa fez vem sendo repetida pela seleção natural há muitas gerações. Provavelmente toda a aparência de um bebezinho é produto de um longo processo de seleção. Ao que tudo indica, olhos grandes, bochechas redondas, uma cabeçona com boca e nariz pequenos têm um efeito cativante sobre todo ser humano, aumentando a chance de que os donos dessas características sejam protegidos e cuidados.

Em comportamento animal, sempre que um sinal é aproveitado para uma nova finalidade na comunicação, chamamos isso de exploração sensorial. Um exemplo seriam os lebistes. Parece que as fêmeas desse peixe adoram frutinhos alaranjados porque eles possuem um nutriente essencial para elas. Casualmente, alguns machos desenvolveram manchas laranja na cauda e se tornaram os queridinhos das meninas. É provavelmente isso que ocorre com bebês.

Para confirmar basta olhar os bonzinhos e os malvados numa animação do tipo Pokemon. Em geral vilões têm espinhos, olhos pequenos e uma boca com dentes grandes. Os mocinhos, por outro lado, tendem a lembrar a forma de um bebê, sendo roliços e de olhos grandes.

Qual dos personagens acima você diria que é o mocinho e qual é o vilão? Formas arredondadas com cabeça e olhos grandes são naturalmente cativantes. (Imagem: pokemon.com)

Qual dos personagens acima você diria que é o mocinho e qual é o vilão? Formas arredondadas com cabeça e olhos grandes são naturalmente cativantes. (Imagem: pokemon.com)

E como teria evoluído esse padrão? Imaginemos que, por algum motivo essas formas já apelassem a alguns adultos, que houvesse um gene para o gosto pela fofura. Quando seus bebês nasceram eles herdaram essa preferência. Dentre esses bebês, alguns eram mais rechonchudos e tinham olhos maiores, outros não. Imaginemos que exista um gene da fofura também. Os donos das características mais cativantes foram mais bem cuidados e tiveram maiores chances de sobreviver à infância. Por isso eles produziriam filhos igualmente ou mais fofos, mas também teriam maior propensão a cuidar desses bebês. Melhor cuidada, essa segunda geração, ainda mais fofa que a anterior, cresceria mais saudável, melhor cuidada, até chegar a sua vez de ter filhos. Os bebês da terceira geração poderiam nascer até mais fofos que seus pais, que teriam uma grande propensão a proteger esses bebês. E assim por diante.

Perceberam como forma-se uma espiral de evolução explosiva a partir do momento em que esses genes passarem a viajar juntos nos corpos dos bebês? O bebê com genes para ser fofo também carrega os genes para cuidar de seres fofos, potencializando a seleção da fofura ao extremo que temos atualmente. Os evolucionistas, com suas teorias, chamam isso de seleção “runaway”. Pessoalmente, prefiro chamar de cute-cute.

Aruba sob risco de empalidecer

Alguns anos atrás estive em Aruba para mergulhar. Foi um dos pontos de mergulho mais ricos que já visitei, então saber que os recifes de lá estão entrando esse ano na zona de branqueamento me deixou chateado. Recifes de coral são ecossistemas apenas comparáveis em termos de diversidade a grandes florestas tropicais. A complexidade desses habitats, cheios de reentrâncias e com ampla diversidade de características físicas, permite a existência de toda uma gama de seres vivos. Além disso, os recifes são formações biológicas muito antigas e gigantescas. Países inteiros no Pacífico Sul se situam sobre ilhas recifais.

Colônia de corais parcialmente branqueada. Fonte: University of Queensland

O fenômeno do branqueamento tem afetado muito os recifes de coral. Muitos corais têm uma simbiose com dinoflagelados fotossintetizantes, as zooxantelas. Os corais oferecem ao dinoflagelado um abrigo e condições ambientais adequadas, em troca recebem parte da energia produzida pela fotossíntese que esses unicelulares clorofilados realizam. Essa convivência, no entanto, pode ficar complicada. Se o processo de fotossíntese for acelerado, os níveis de oxigênio produzido pelas zooxantelas podem se tornar prejudiciais ao coral. Isso porque o oxigênio tem alto potencial oxidativo e começará a destruir o maquinário celular do coral. Antes que isso aconteça o coral expulsa as zooxantelas de casa, empalidecendo por consequência de tornar visível seu esqueleto calcário.

A fotossíntese, aliás, também está relacionada a esse esqueleto calcário. Os corais formam seu esqueleto capturando íons de cálcio e carbonatos dissolvidos na água do mar. Eles também usam aí o oxigênio produzido na fotossíntese e o gás carbônico produzido nesse processo é aproveitado pela zooxantela na fotossíntese, que ocorre de forma mais eficiente quando a zooxantela recebe luz nos comprimentos de onda de 410 a 430 nm e 642 a 662 nm devido aos tipos de clorofila presentes.

Recife em Aruba, menos cores no futuro próximo. Fonte: charterfleet.com

Mas o que pode acelerar a fotossíntese das zooxantelas? A temperatura é um fator chave. Com o aumento da temperatura da água do mar causado pelo aquecimento global, o branqueamento tem se tornado mais e mais comum. As próprias mudanças na temperatura do mar vêm mudando os padrões das correntes marítimas, atingindo agora o sul do Caribe com águas mais quentes e levando ao branqueamento em locais como Aruba. Se o branqueamento durar apenas algumas semanas ou poucos meses, as zooxantelas podem ser reincorporadas e a vida segue no recife de coral, apenas com um retardamento na deposição dos esqueletos calcários dos corais. Se o período for mais prolongado, no entanto, a colônia inteira poderá morrer, levando consigo todos os outros seres vivos que dependem dos corais, e até as economias baseadas em turismo recifal.

 

Pensamento de Segunda – SbBr 5 anos

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