Pensamento de segunda

“Teoria maravilhosa, espécie errada.” (Edward Wilson, referindo-se ao marxismo que achava mais digno das formigas)

O adaptativo é ser feliz e mais nada

Outro dia li um artigo do Alex Leal, Editor do jornal Rir & Pensar, uma edição independente distribuída gratuitamente em Brasília, intitulado “O bom é ser feliz e mais nada”. No artigo o Alex se remete a outro publicado na Time pelo Robert Wright, autor de uma das pedras angulares da Psicologia Evolucionista: “O animal Moral”.

Em seu artigo, Wright propõe que tudo o que nos faz feliz assim é por representar uma vantagem adaptativa, ou seja, favorecer nossa sobrevivência, redução dos custos energéticos para realizar tarefas ou acesso à reprodução. Assim, uma bela refeição nos alegra porque nutre e dá energia para encararmos a vida, sexo deixa feliz porque pode levar à reprodução, conseguir um emprego melhor deixa feliz porque vemos nele um salário melhor (sobrevivência), redução das pressões do emprego anterior (redução de custos) e quem sabe até umas colegas de trabalho gostosas (reprodução). De fato, existe uma parte de nosso cérebro responsável exclusivamente pelo mecanismo de recompensas, é a amigdala. Comemos um doce, a amígdala recompensa; beijamos na boca, a amigdala recompensa; corremos, de novo a amígdala; ganhamos dinheiro numa máquina caça-níquel; lá está ela de novo. Aí surgem os desvios, todo vício é uma exacerbação de uma amígdala ansiosa. Obesidade, drogadição, obsessões, todos são resultados desse mecanismo de recompensa nos levando a repetir comportamentos que causaram a felicidade uma vez.

No artigo da Rir & Pensar o Alex protesta que este mecanismo não explica tudo, porém, ele elenca dois exemplos: um homem que permanece fiel a seu time mesmo que ele perca repetidamente e uma mulher que mesmo com calos e dores nas pernas continua usando seu salto alto. Acontece, Alex, que os mecanismos de recompensa não são tão óbvios às vezes. Talvez a maioria das vezes! Isso que nos faz tão interessantes.

Vamos começar pelo exemplo do salto alto, apesar dele causar dor e calos ele gera também dois efeitos, torna a mulher mais alta e aumenta seu bumbum. Ao ficar mais alta uma mulher pode sobressair entre as outras, atraindo o olhar e interesse de um parceiro potencial. Quanto mais pretendentes uma mulher tem, mais opções ela terá para escolher. Nem preciso enfatizar muito o efeito dos saltos sobre o traseiro, né. É que apoiar-se na ponta dos pés faz a mulher projetar-se para a frente, esse desvio postural tem que ser compensado por uma curva mais acentuada na lombar, a famosa lordose, o que resulta em um derrière mais empinado, fator aparentemente utilizado por nós homens para averiguar a idade de uma pretendente, e quanto mais nova, mais fértil. Está favorecido aí o uso do salto alto a despeito de seus custos em dores e calos. Alex, não se preocupe, continuaremos sendo enganados, no último encontro de etologia assisti uma palestra sobre a avaliação da idade de mulheres no qual a pesquisadora sugeriu que (estudos ainda em fase preliminar) determinadas cores de batom podem disfarçar a idade das bocas que o portam.

E quanto ao time de futebol que só perde, mas continuamos fiéis? Bem, primeiro devemos nos perguntar o que é um jogo de futebol. Há um ensaio incrível num dos últimos livros de Carl Sagan no qual ele compara esportes de equipe com guerras ritualizadas. A copa do mundo é uma guerra ritualística em que várias nações se enfrentam e apenas uma sai vencedora, mas é uma guerra segura, sem mortos ou feridos (graves). Uma outra pesquisa feita pelo Instituto de Psicologia Aplicada de Portugal comparou a quantidade de testosterona, o hormônio da agressividade, entre jogadores prestes a entrar em campo e soldados prestes a irem para o front, convenientemente semelhantes. Agora imagine que sua tribo vai a uma guerra, perde uma, duas, dez batalhas, de repente você troca sua tribo derrotada por outra invicta. Não se faz isso, isso não deixa ninguém feliz! Não deixa feliz pelo fato de sermos uma espécie altamente social, dependemos do grupo para a nossa sobrevivência, e virar a casaca assim pode nos trazer grandes problemas com o grupo. Assim, mesmo que nosso time do coração só nos dê desgostos, o fato de não sofrermos sozinhos, de partilharmos nossa dor e podermos contar com outros malfadados como nós nos deixa felizes. Precisamos pertencer a grupos para sermos felizes, nem que seja um grupo de pessoas que apóia um determinado exército numa guerra ritualizada em que a vitória significa colocar um objeto esférico o maior número de vezes dentro de uma área retangular guardada pelo inimigo.

Há coisas muito mais estranhas que nos deixam felizes e lógicas ainda mais retorcidas para identificar qual a vantagem de termos prazer naquilo. Correr 41,2 km dá prazer porque, a princípio, se esforçar fisicamente significava abater mais caças e ter mais alimento. Andar de montanha-russa dá prazer depois que saímos dela porque passamos próximo da morte, mas sobrevivemos. Esses dias um amigo voltou de viagem todo alegre porque tinha acabado de tirar seu pós-doutorado. A titulação não lhe conferiria um salário maior, outro emprego, não favoreceria significativamente a conquista de recursos, era apenas uma patente. Mas a patente é um símbolo carregado de significados, aquele diploma em pele de cabra emoldurado em seu laboratório reconhece a sua tenacidade, sua experiência e sua inteligência, isso sim é felicidade.

Alex, independente de ser adaptativo ou não, o bom é ser feliz. A esperança e a fé são desejos da amígdala de voltar a ter aquele tesão que uma vez nos ocorreu por um coquetel de neurotransmissores que nos invadiram o sistema nervoso, aquele barato licérgico auto-produzido. Repetimos as alavancas que nos deixam felizes, evitamos as que nos deixam tristes. Somos todos ratinhos em uma caixa de Skinner sentimental, sim, mas isto não tira o mérito de nossas alegrias.

Pensamento de segunda

“Somos todos poeira de estrelas.” (Carl Sagan)

Presente científico

 

Buzzle, por Lucas Fragomeni

 

Um grande amigo meu inaugurou seu próprio Blog, aprendi muito de internet com o Lucas, autor do Arrrduíno (bem com sotaque de candango mesmo). Ele recentemente começou a se aventurar pela robótica brincando com o Arduino, uma placa de processamento. Saiu no Blog um presente que ganhei dele este fim de ano, o Buzzle. O Buzzle é uma caixa-quebra-cabeça, funciona como um Jogo da Forca, tenho 8 tentativas para descobrir uma palavra usando código morse e luzinhas que piscam informando se a letra estava correta ou errada. Divertidíssimo! Ainda mais porque ele decidiu colocar na lista de palavras a serem descobertas apenas termos biológicos cabeludérrimos do tipo Fitoplâncton ou Talassemia.

Sobre Santa Apolónia e dentes rangendo

Hoje fui ao dentista, visita de rotina, raspar aqui, escovar ali, passar fluor e tal. Esperei por alguns instantes, fui encaminhado ao consultório e me deitei o mais confortavelmente que uma daquelas cadeiras de dentista permitiu. A dentista era uma mulher de seus 45 anos, não maior do que 1,60 m e a mão bastante leve. Não muito de sua personalidade escapava de baixo do jaleco imaculadamente branco além de um escapulário com uma medalha de Santa Apolónia, padroeira dos dentistas. Dizem que em Alexandria em 248 d.C. uma freira foi capturada por perseguidores de cristãos e torturada por sua religião. Nem tendo todos os seus dentes arrancados e despedaçados por seus torturadores a freira abdicou de sua fé, sendo canonizada posteriormente por isso.

Já no final da consulta a dentista me perguntou se eu rangia os dentes.

– Seus caninos já estão bastante desgastados, se eles chegarem ao mesmo nível dos vizinhos, deixam de funcionar como guia e a pressão da mordida recairá sobre os outros dentes. – Me contou a doutora.

– Mas qual o problema de suportar a oclusão da mordida com outro dente que não o canino? – Perguntei.

– Bem, quando Deus nos fez. Ele, em Sua suma sabedoria, fez a sustentação óssea do canino, que é o dente que deve guiar a oclusão, mais espessa e resistente do que as dos outros dentes. Se você gasta o canino de tanto ranger os dentes passa a apoiar-se sobre um dente mais frágil, o que causaria dor.

– Poxa, mas por que então deus nos fez ter bruxismo? – Insisti maquiavelicamente.

– Mas Deus não te faz ter bruxismo, o estresse é que faz! – Ela me respondeu surpresa por eu não saber de algo tão óbvio.

– Hum! – E retornamos a um jato de bicarbonato de sódio contra o tártaro.

Assim que o sugador saiu da minha boca perguntei-lhe: – E por que ele não nos fez com um reforço ósseo eficiente em todos os dentes?

Interessante como a fé resistiu a tortura e dentes arrancados, mas cedeu diante de argumentação racional.

Pensamento de segunda

“Se você realmente quer entender alguma coisa, a melhor forma é tentar explicá-la a alguém. Isto te força a organizar a idéia na sua cabeça. E quanto mais idiota forem seus alunos, melhor você terá que despedaçar seu pensamento em fragmentos mais simples.” (Douglas N. Adams)

Manchetes comentadas 23 – Pessoas resgatadas com vida cinco dias após terremoto no Haiti

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Um dos sobreviventes resgatados dos escombros de um supermercado em Porto Príncipe

Fonte: www.oglobo.com

Saiu n’O Globo, como em alguns outros jornais, o resgate de mais três sobreviventes em Porto Príncipe mesmo após cinco dias do tremor de terra que devastou o país. As estatísticas apontam que 24 horas após grandes desastres desta natureza a probabilidade de encontrar sobreviventes cai drasticamente e aproxima-se de zero após três dias. Ainda assim as equipes de busca permanecem em atividade porque qualquer vida salva é válida nestes casos e o resgate de corpos também é um objetivo. Mas o que faz com que algumas vítimas permaneçam mais tempo vivas e outras não? Como sobreviver para ser encontrado em um terremoto como o que atingiu o Haiti?

No caso das pessoas resgatadas ontem o principal fator talvez tenha sido a sorte, elas ficaram presas nos escombros de um supermercado. O prédio sob o qual ficaram presos os resgatados não tinha vários andares nem estruturas muito pesadas no alto, era coberto com telhas laminadas, além disso, ali havia alimento e água para as vítimas. Em situações como estas algumas medidas são essenciais: Durante o tremor é importante buscar abrigo em locais mais seguros, quem está a céu aberto deve afastar-se de árvores, linhas de transmissão ou construções; quem está dentro de um prédio deve se abrigar sob o batente de portas ou debaixo de móveis robustos. Da mesma forma que os sobreviventes encontrados, ter acesso a comida, mas principalmente a água é primordial. O corpo humano resiste a mais de uma semana sem comer (o meu deve agüentar bem uns 20 dias na boa, tai, boa desculpa, estou me preparando para uma catástrofe), mas a apenas um dia sem água até que entre em desespero. Outra medida interessante é conseguir desligar encanamentos de gás e a rede elétrica, talvez até a água encanada.

Países como o Japão vivem tão recorrentemente o risco de terremotos que a engenharia das construções e o cotidiano da população são permeados por cuidados que evitam danos maiores quando a catástrofe ocorre. Mas o Haiti, assim como diversos outros países, demonstrou que, apesar de ter reincidência razoável destes eventos devido à sua posição sobre a placa tectônica, não está preparado para um terremoto. Ok, o Haiti não está preparado para quase nada, é uma nação extremamente precária, mas um pouco a mais de informação não custa nada, NE. Para conhecer mais dicas de sobrevivência a terremotos clique aqui.

Pensamento de segunda

Ao meu pai

“Se puder ser demonstrado que qualquer órgão complexo existisse, que não fosse o produto de numerosos e sucessivos passos de pequenas modificações, minha teoria se despedaçaria. Mas eu não conheço tal caso.” (Charles Darwin)

 

Avatar – Eca!

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Mera coincidência?

Fontes: avatarmovie.com e smurfs.com

Precisava desabafar. Fui ao cinema assistir o Avatar 3D cheio de expectativa com tantos comentários elogiosos. Nunca achei tão desperdiçados os meus reais da meia entrada, o filme é um desenho animado poluído de computação gráfica bem vazio de significado. O pouco sentido que o filme me fez foi um grande clichê (e olha que eu gosto tanto de clichês que coloquei até no título do meu blog). Uma energia vital que envolve todo o mundo já era assunto em Star Wars (a força), muito mais formidável que a eywa proposta no Avatar. O filme para mim não passou de uma refilmagem dos Smurfs, uns bichinhos azuis da década de 80.

A revolução tecnológica prometida também deixou muito a desejar, três horas de cromaqui (Chroma key) preenchidos com imagens bonitas, é verdade, cores e luzes bacanas, mas nada que um bom show do pink floyd não deixe no chinelo. Em termos de uso da tecnologia no cinema sou muito mais o Matrix. Fundir realidade e ficção com atores e animação também não foi nada de mais, já faziam isso de forma muito mais revolucionária no Uma cilada para Roger Rabbit. Podem me chamar de saudosista, mas fiquei decepcionadíssimo.

Pensamento de segunda

“Que bela obra de arte é o homem, mesmo preso a uma casca de noz pode sentir-se rei de espaços infinitos.” (William Shakespeare)