MOOC – Comportamento Animal

Curso online gratúito de comportamento animal (Imagem: wikipedia.org/ Jurgen Otto)

Essa semana começa o curso online massivo (MOOC) sobre Comportamento Animal pela Universidade de Melbourne e o portal Coursera. Faça sua inscrição pelo clicando nesse link. O curso é inteiramente grátis e tem legendas e Inglês e Espanhol (além de Português de Portugal para as primeiras vídeo-aulas). Eu serei professor assistente (TA) do curso e tenho certeza que também aprenderei um bocado sobre educação a distância de qualidade. Se você quer aprender mais sobre comportamento animal não deixe de se inscrever. As aulas começaram hoje, mas as inscrições ainda ficam abertas algumas semanas.

Estupro, ninguém merece

O resultado da pesquisa do IPEA intitulada “Tolerância social à violência contra a mulher” fez barulho nos últimos dias. Ele aponta que 65,126,0%* dos 3810 entrevistados, dos quais 66% eram mulheres e 4434% (Obrigado asd) homens, concordam que mulheres com roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. Em outra parte da pesquisa, 58,5% dos entrevistados atribuíram a causa do estupro à mulher não saber se comportar. A pesquisa desencadeou uma campanha nas redes sociais durante o fim de semana.

O tema é espinhoso e passional, mas vou me arriscar a comentá-lo do ponto de vista do comportamento sexual na esperança de não ser mal interpretado. Antes de começar, ressalto que avaliar as bases biológicas de um comportamento não tem nada a ver com justificá-lo, muito menos concordar com ele. Sou radicalmente contra o estupro, apenas acredito que minha linha teórica pode ajudar a compreender e até evitar esse problema social.

Em diversas espécies nas quais a seleção sexual é forte, apenas uma pequena parte dos machos consegue satisfazer os critérios de seleção das fêmeas. Assim, machos incapazes de adquirir uma parceira da forma tradicional desenvolvem comportamentos reprodutivos alternativos. Alguns se passam por fêmeas para entrar num harém, outros roubam cópulas furtivamente. Uma forma comum de burlar a escolha da fêmea por parceiros é o sexo coercivo, especialmente, em espécies agressivas com machos maiores que as fêmeas.

Mecópteros como este são forçados a copular por machos mal sucedidos em conseguir parceiras por outras vias. Modificado de wikipedia.org

Mecópteras como esta são forçadas a copular com machos mal sucedidos em conseguir parceiras por outras vias. Modificado de wikipedia.org

Insetos mecópteros do gênero Panorpa constituem um exemplo disso. Nestes insetos só machos que presenteiam a fêmea com alimento são aceitos para acasalar, mas machos que não conseguem esse alimento podem forçar a fêmea a copular segurando-as com uma pinça que têm no abdômen enquanto fazem a penetração. Algo semelhante acontece com andorinhas do penhasco. Machos em geral começam a construir seus ninhos e cortejam fêmeas que os ajudarão a terminar o trabalho. Conseguir um bom local para nidificar é difícil, então, machos que não conseguem encurralam a fêmea no fundo do ninho de outro casal quando seu parceiro está ausente e forçam a cópula.

Fêmeas dessa andorinha são encurraladas por machos nos ninhos e forçadas a copular. Alterado de wikipedia.org

Fêmeas dessa andorinha são encurraladas por machos nos ninhos e forçadas a copular. Alterado de wikipedia.org

O que podemos tirar daí? É possível projetar algo disso nos casos de violência sexual em humanos? Suspeito que sim. No caso do sexo coercivo ser um comportamento reprodutivo alternativo, podemos prever que ele será praticado por homens incompetentes em conseguir uma parceira, mas que se valem de força. Ele também deverá ocorrer, preferencialmente, com mulheres mais indefesas e sexualmente férteis, entre 13 e 40 anos, com pico por volta dos 20 a 30 anos.

Há outra hipótese, entretanto, que sugere que o sexo coercivo, assim como diversos outros comportamentos masculinos como a masturbação, não é uma adaptação, mas um efeito colateral da superestimulação sexual. Neste caso, poderíamos prever que estupradores são homens com vida sexual muito ativa e baixa seletividade de parceiras e que a idade das vítimas não importaria muito.

Infelizmente, um assunto cercado de tanto tabu torna difícil acumular dados isentos o suficiente para avaliar essas hipóteses. Sabe-se que estupradores condenados costumam ter um histórico de frustração em atrair parceiras espontaneamente, o que concorda com a primeira hipótese. Por outro lado, outro relatório do IPEA aponta que 50,7% dos estupros registrados no SUS ocorrem com menores de 13 anos, o que concordaria com a segunda hipótese caso a mesma pesquisa não sugerisse que apenas cerca de 10% dos casos de estupro são relatados, às vezes por ser um parente ou “amigo”.

É claro que são necessários mais estudos e dados confiáveis para tomar decisões que levem à redução desse crime e garantam às mulheres a liberdade e segurança que merecem sem culpá-las por um desvio do comportamento masculino. Menos preconceito contra análises adaptativas do comportamento humano também não cairia mal, já que negar as bases biológicas do comportamento humano é tapar o sol com a peneira. Conhecer nosso lado instintivo, em vez de negá-lo, me parece a melhor forma de usar essa razão da qual tanto nos orgulhamos para evitar irracionalidades como o estupro. Frise-se que dizer que um comportamento ocorre na natureza não significa aceita-lo. Mas, no final, a conclusão que mais importa é que #ninguém merece ser estuprado. É direito da mulher se portar ou se vestir como bem entende e é dever do homem, ele sim, saber se comportar.

*Atualização: É claro que o percentual ainda assusta, mas uma errata divulgada uma semana depois pelo IPEA mostrou que dois gráficos foram trocados. Interessantemente, agora o que choca é a opinião de que mulher que continua com um marido agressivo é porque gosta de apanhar, ignorando completamente a relação de medo que surge num relacionamento violento.

A lesma do mar masoquista

ResearchBlogging.org

 

 

Naquela manhã, no consultório psicanalítico…

Siphopteron. Linda, mas com um gosto sexual duvidoso. Fonte: seaslugforum.net

A doutora ouvia a narrativa da paciente chegando ao fim com um nó na garganta e uma secreção ácida no estômago. Mesmo depois de tantos anos no consultório, algumas histórias ainda a horrorizavam. A paciente, uma lesma do mar branca, vermelha e amarela de menos de meio centímetro, chegou contando sobre seu relacionamento atual, um caso clássico de sadomasoquismo.

– Em resumo é isso, doutora. Para mim uma boa sessão de sexo nunca termina sem um bocado de hemolinfa derramada e objetos afiados introduzidos no meu corpo.

A psicanalista, que havia anos seguia uma linha pouco ortodoxa entre Lorenz e Lacan, disfarçou o melhor que pôde seu mal-estar e comentou: – Mas se isso proporciona prazer a você e seu parceiro, que mal há?

-Você pergunta que mal tem? Olhe para mim, doutora. Sou uma lesma do mar bem sucedida, tinha um emprego legal e um papel de liderança lá no recife de coral. Mas agora tenho uma cicatriz do estilete peniano do meu parceiro na testa. Que vida social e profissional me cabe com marcas inequívocas como essa? Saio na rua e todo mundo já sabe como anda minha vida sexual! – Acontece que os nudibrânquios têm um pênis enorme e nele existe um tipo de estaca que o macho finca na fêmea. Uma coisa assombrosa, seja pelo tamanho do membro, seja pela aparente violência do ato, que deixava a fêmea toda marcada. – Você só diz isso porque está aí nessa poltrona quase de costas para mim e, nessa escuridão, nem consegue me ver direito.

-Olha, Dona Siphopteron, você precisa decidir qual o seu desejo. O sexo como você pratica deixa marcas que complicarão outras partes da sua vida. Não tem um lugar mais discreto para você pedir ao seu parceiro para te dar estocadas?

A lesma balançava a cabeça abanando os tentáculos cefálicos negativamente. – Ele só quer saber de me penetrar na testa, assim fico marcada!

– E ele injeta alguma coisa em você nessas penetrações?

-Injeta sim. Por que? Isto quer dizer alguma coisa?

-Bom, uma forma de encarar o fetiche de vocês, uma bem lacaniana, diria que houve uma ruptura entre o significado e o significante. Inconscientemente você deseja deixar esse papel de liderança e sucesso, mas recalcou esse desejo e o sublimou de outra forma, tornando-se sexualmente submissa. – Informou a psicanalista colocando a perna dos óculos de armação larga entre os lábios a título de ponto final.

-De jeito nenhum! Nunca me canso dessa vida agitada, das minhas responsabilidades. Eu adoro ser assim. É só que também gosto de sexo desse jeito e ninguém tem nada com isso. – Protestou a Sra. Siphonopteron com o manto arrepiado.

-Exatamente por te deixar tão exasperada eu diria para você pensar no que eu disse até nossa próxima sessão. Essa rejeição imediata do que eu disse me remete à negação, o que indica que pode ter um fundo de verdade. – A psicóloga encerrou a sessão fechando seu bloquinho de anotações e espetando na espiral a caneta elegante.

A cliente parecia resignada enquanto se arrastava até a porta de saída. Quase virando no corredor deu um giro sobre o pé e perguntou à analista. – Você disse que uma forma de encarar meu fetiche era a lacaniana. Qual seria a outra?

-Olha, são só especulações. Injetando líquido da próstata na testa, tão perto dos seus nervos, as secreções do seu parceiro podem estar afetando seu sistema nervoso e mudando seu comportamento. Talvez isto te deixe cada vez mais submissa e disposta ao masoquismo. Mas isto é um palpite. Até semana que vem.

Voltando da porta, a doutora reparou que sua secretária nem tinha escutado as conversa com a paciente porque não desgrudara os olhos do livro que tinha nas mãos. Algo parecia errado com a capa, onde se lia “365 receitas para o dia-a-dia”. Abaixo dessa capa, frouxamente encaixada ao miolo, dava para ver claramente a capa cinza de “Cinquenta tons mais escuros”. A terapeuta reparou os dedos da secretária se crisparem segurando firme o livro ao perceber que estava sendo observada.

-Cuidado com os recalques, minha filha. Assuma seus desejos porque as consequências podem ser piores. – Comentou a doutora retornando a sua sala.
Rolanda Lange, Johanna Werminghausen and Nils Anthes (2013). Cephalo-traumatic secretion transfer in a hermaphrodite sea slug Proceedings of the Royal Society B DOI: 10.1098/rspb.2013.2424

Cinquenta tons de cinza, uma abordagem evolutiva

Cinquenta tons de cinza, romance para fêmeas padrão. Fonte: intrinseca.com.br

Cinquenta tons de cinza, romance para fêmeas padrão. Fonte: intrinseca.com.br

O inegável fenômeno editorial Cinquenta tons de cinza, de E. L. James, tem batido recordes de vendas. Seu sucesso, em especial entre as mulheres, é, no entanto, previsível. Ele reflete a natureza humana com precisão. O livro é recheado do que há de mais adequado ao papel sexual feminino desde muito antes do surgimento do Homo sapiens.

Sempre me interessei por literatura erótica, descobrir um título novo me chamou a atenção logo no início. Me adiantei e baixei na Amazon a amostra grátis para Kindle, ainda em inglês. Para quem ainda está por fora, a narrativa descreve o romance entre o bilionário-poderoso-autoritário-lindo-bem sucedido-e-perturbado Christian Grey e a jovem atrapalhada e inexperiente Anastasia Steele. Desde muito cedo na trama a jovem se sente atraída pelo galã, com quem inicia um relacionamento sadomasoquista cheio de reservas, mistérios e clichês.

Não sei se diria que se trata de um livro erótico, essa foi a primeira coisa que me surpreendeu. O livro começa em ritmo de comédia romântica à la Marian Keyes sobre o interesse crescente de Anastasia e suas dúvidas sobre a reciprocidade de Grey. Li até o sétimo capítulo, terminou a amostra à qual tinha direito no Kindle e nada da ação esperada para um livro dito erótico. Fiquei entre o desapontamento e a curiosidade (o primeiro mais forte do que o segundo, claro, senão teria comprado o e-book inteiro) até pegar emprestado com uma aluna a versão traduzida, aí tive minha segunda surpresa.

Surpreendi-me em seguida porque, depois de quarenta anos de revolução sexual, esperava que um livro erótico com tanto apelo para o público feminino tivesse sintonizado com as conquistas feministas. Cinquenta tons de cinza não relata aspirações feministas. Relata, sim, aspirações femininas. De todas as fêmeas, inclusive as que eu julgo entender melhor, que são as fêmeas não-humanas.

Anastasia Steele é uma fêmea jovem e fértil, apesar de ter dúvidas sobre sua qualidade enquanto parceira reprodutiva. Ela sabe do valor de seus gametas. Ah sim, óvulos preciosos e raros. Por isso, até os 21 anos, guardou-os muito bem, não confiando a nenhum macho de sua espécie a mais remota possibilidade de aproveitar-se deles. Ana sabia que seus óvulos valiam algo mais, eles deveriam trazer benefícios a ela. Foi aí que a mocinha conheceu Christian Grey.

Christian é um macho alfa: Poderoso, bilionário e sedutor. Ao primeiro contato ela percebe que aquele macho pode lhe prover todo o valor de seus caros óvulos. Ele sim tem muito mais a trocar do que os irrisoriamente baratos espermatozoides oferecidos pelos colegas de subemprego ou de faculdade. Fêmeas de babuíno trocam seus óvulos pela proteção do macho alfa contra agressões. Fêmeas de alguns algumas aranhas trocam seus óvulos por alimento de qualidade oferecido pelo macho. Fêmeas do peixe joaninha trocam seus óvulos por um lar que o macho construiu. Anastasia Steele trocaria os seus por tudo isso!

Presente nupcial, o objeto branco no abdômen da fêmea é um alimento nutritivo dado pelo macho que, assim, aumenta suas chances de acasalar. Fonte: abc.net.au

Presente nupcial, o objeto branco no abdômen da fêmea é um alimento nutritivo dado pelo macho que, assim, aumenta suas chances de acasalar. Fonte: abc.net.au

No entanto, machos opressores não são opressores só com os outros. Essa dominação se repete na alcova. Pássaros caramanchão repetem para suas fêmeas durante a corte o mesmo tipo de movimento agressivo que usam para intimidar rivais. Tubarões brancos mordem suas parceiras para se segurar a ponto de deixar lacerações profundas no dorso. Patos imobilizam a fêmea antes de copular. Bandos de golfinhos nariz de garrafa encurralam uma fêmea e se alternam em copular com ela. Christian Grey, quando finalmente começam as passagens picantes do livro lá pela centésima página, se diverte causando dor e subjugando suas parceiras. Ok, ela adora e consente tudo no clima de envolvimento em que se encontra. Ainda assim o custo da segurança que Grey oferece a Ana é a agressão.

Igualdade entre os sexos, qual o que? A Anastasia Steele que existe em cada leitora quer o mesmo príncipe encantado de sempre: poderoso, provedor e que a admira, mesmo que a subjugue de alguma maneira. Assim como todas as fêmeas do mundo animal, as de nossa espécie também buscam o merecido valor por seus caros gametas femininos, custe o que custar. Se animais pudessem ler, Cinquenta tons de cinza venderia muito mais, porque sua narrativa vai direto ao que as fêmeas esperam dos machos em qualquer espécie.

Fim do mundo em 2012- Como animais podem te ajudar a prever catástrofes?

Blogagem coletiva Fim do Mundo
É claro que o mundo vai mesmo acabar esse ano e que esse evento catastrófico global será tão arrasador que nos restará pouco a fazer. Que razões nós teríamos para duvidar que uma civilização tão desenvolvida quanto a maia, que desapareceu devido a uma seca que os pegou desprevinidos, tenha previsto catástrofes muito mais imprevisíveis para extinguir a nossa sociedade. Como eu não acredito em bruxas, pero que las hay, las hay e prudência e canja de galinha (sem gripe aviária) sempre fizeram bem, resolvi reunir aqui um rol de comportamentos animais que podem ajudar a perceber as catástrofes a tempo de se abrigar; não que isso vá adiantar alguma coisa. Não é magia nem nada sobrenatural, como os animais são dotados de diversos sensores que funcionam com acuidade algumas vezes maior do que a nossa, eles podem ser capazes de perceber essas catástrofes antes de nós. Então à lista:

O albatroz errante, bioindicador de que lá vem encrenca. Fonte: environment.gov.au

O albatroz errante, bioindicador de que lá vem encrenca. Fonte: environment.gov.au

Tempestades e furacões: Desde tempos remotos que os marinheiros consideram albatrozes aves agourentas. Isso porque sempre que as aves apareciam em seguida lá se ia a bonança e vinha a tempestade. O que os supersticiosos marujos não sabiam é que o albatroz não causa a tempestade, mas a tempestade causa o albatroz, causalidade reversa em jargão científico. Essas aves são mais eficientes no voo planado do que no batido, mas para evitar bater as asas precisam de um empurrãozinho dos ventos. Daí sua presença garantida na margem de qualquer tempestade. O mesmo vale para outras aves continentais migradoras durante vendavais ou furacões, o vento que antecede o olho do furacão empurra as aves para longe.

Terremotos, vulcanismo e Tsunamis: Há inúmeras narrativas de animais domésticos e silvestres dando pistas de que um terremoto viria. Poucas no entanto são concretamente confiáveis. Em todo caso, conseguir identificar esses comportamentos pode aumentar irrisoriamente sua chance de sobrevivência. As narrativas mais comuns relatam latidos, ganidos e agressividade em cães e diversos animais deixando suas tocas. Pesquisadores japoneses que defendem a capacidade dos animais preverem terremotos contam que serpentes se apoiam sobre seus ossículos auditivos, por isso percebem as ondas P (ondas sísmicas de compressão) que precedem as ondas S (ondas de oscilação vertical, tremor) que nós humanos percebemos e que são tão destrutivas. Por isso esses répteis abandonariam seus abrigos e fugiriam. O mesmo pode valer para erupções vulcânicas e tsunamis, que estão relacionados a atividades geológicas também.

Inundações: Essa não tem o menor fundamento científico além da minha própria observação de fundo de quintal e de uma imaginativa explicação para a observação. Minhocas. Aqui em Mato Grosso, assim como em boa parte do Brasil, as chuvas se concentram no verão e são tão volumosas que chegam perto de saturar o solo de água. Como aqui o relevo é plano não temos grandes problemas, mas em declividades é isso que leva aos deslizamentos. Minhocas vivem sob a terra alimentando-se de matéria orgânica e respirando através da pele, como a água comporta pouco oxigênio acho que as minhocas morreriam afogadas se ficassem imersas. Sempre que tem chovido demais e o solo está saturado no meu quintal encontro minhocas se arrastando fora da terra. Pode ser apenas que fora dela esteja úmido o suficiente para esse anelídeo sair para uma volta, mas pode ser um sinal de saturação do solo. Se houver algum leitor em áreas de deslizamento que possa conferir minhas observações, dá para achar um padrão.

Um holocausto de porquinhos acompanhou a gripe suína. Fonte: riderdownload.com

Um holocausto de porquinhos acompanhou a gripe suína. Fonte: riderdownload.com

Vírus mortal: alguns pesquisadores sustentam que não são nossos parentes mais próximos a fonte mais provável de um vírus letal que possa arrasar a humanidade. Isso porque, apesar da semelhança genética, macacos não existem em populações muito grandes nem estão em contato estreito com a maioria dos humanos. Esse não é o caso para dois outros grupos animais, os de criação ampla (como os porcos da gripe suína, assim como frangos, vacas etc) e os sinantrópicos (como os ratos da peste negra, mas também cães, gatos, pombos etc). Fique de olho, muitos animais desse tipo aparecendo mortos sem uma causa aparente podem significar um novo vírus que possivelmente se adapte a infectar humanos.

O carneirinho edipiano

ResearchBlogging.orgNaquela manhã, no consultório psicanalítico…

A doutora se flagrou pela terceira vez desatenta aos balidos do cliente. A princípio ela achou fofa a imagem do fragilizado carneirinho sobre seu divã, mas já estava ficando enfadada daquela arenga sem fim sobre as qualidades da ovelha sua mãe. Realmente não era o dia certo para isso, a doutora mesmo havia visitado na véspera seu próprio analista-supervisor tentando discutir seus problemas com a secretária. O terapeuta da terapeuta sugeriu que ela projetara na secretária sua relação com a mãe.

Quem não se apaixonaria por uma mãe fofa assim? Fonte: everystockphoto.com

Quem não se apaixonaria por uma mãe fofa assim? Fonte: everystockphoto.com

– …ah, não sei o que faria sem minha mãezinha. Doutora, tudo o que sou devo a ela. – Pontuou o carneirinho.

– Muito mais do que você pensa, meu amigo. Muito mais do que você pensa. – Suspirou a analista. – A questão é que você já é um adulto e precisa deixar o rebanho onde nasceu.

– Ora, doutora. É claro que eu sei que terei que deixar minha mãezinha, mas quando o momento chegar. Ainda não estou pronto e nem ela. Sou jovem demais.

– Negação! Você fica berrando e batendo com os pés no chão a cada vez que se vê longe da sua mãe. Enquanto isso você mesmo disse que todos os outros filhotes que nasceram na mesma estação já estão pastando livremente formando um grupo só de filhotes.

– Isso porque eles são uns desnaturados! Eu não. Sou um filhote devotado. Além do mais, eu sou o caçula entre todos os que nasceram comigo. – Baliu o cliente com ar arrogante levantando o focinho lanoso bem alto.

– Isso explica muito. – Sussurrou a psicanalista. – Você é devotado ou exige devoção da sua mãe? Já percebeu como o carneiro dominante anda reagindo a você? Já é quase época de sua mãe entrar novamente no cio. – Argumentou a psicóloga.

– Mas minha mãe disse que nunca irá me abandonar, estará sempre lá para mim. Ela me ama tanto, doutora. Me ensinou onde pastar, em quem confiar e de que animais fugir. Me ensinou até o que comer para evitar umas dores de estômago terríveis quando o pasto está muito amargo. Tudo o que eu preciso saber para ser um carneiro grande, saudável e feliz.

– Tenho certeza de tudo isso. E tenho mais certeza ainda de que ela está tentando te ensinar uma última lição, meu rapaz. – Sentenciou a terapeuta.

– É mesmo? Que lição é essa? – Perguntou o carneirinho eriçando a lã das costas.

– Só falta lhe ensinar a ser independente e seguir sua vida adiante sem ela. Estou certa de que essa é a última lição que sua mãe deseja que aprenda. E como vai ser? Você será um bom filho e corresponderá às expectativas da sua mãe?

Essa foi a última fala da sessão. O carneirinho não respondeu. Baixou a cabeça e saiu do consultório pisando na ponta dos cascos com um ar entre o cabisbaixo e o meditabundo. Mas a doutora sabia que a sessão havia valido a pena.
Sanga, U., Provenza, F., & Villalba, J. (2011). Transmission of self-medicative behaviour from mother to offspring in sheep Animal Behaviour, 82 (2), 219-227 DOI: 10.1016/j.anbehav.2011.04.016

Um animal é uma tábula rasa cujo comportamento só reflete seu aprendizado?

No último post falamos sobre como animais são capazes de modular seu comportamento de acordo com o ambiente. Ele pode ter deixado a impressão de que o instinto é uma ficção, que animais aprendem a desempenhar toda a gama de seus comportamentos durante a vida. Isso é tão errado quanto considerá-los autômatos.

O termo “Tábula rasa” refere-se ao método de escrita no Império Romano. Os romanos usavam uma bandeja preenchida com cera para riscar com algum objeto pontiagudo, para apagar bastava raspar a bandeja. Tábula rasa sigifica bandeja raspada. Assim como os partidários do animal autômato acreditam que todo comportamento é uma linha de comando inata, os partidários do animal tábula rasa acreditam que nada vem pré-escrito nele, o instinto não existe, tudo é fruto do aprendizado.

Bugios tentam, mas o comportamento de voar não lhes pertence. Fonte: panoramio.com

Bugios tentam, mas o comportamento de voar não lhes pertence. Fonte: panoramio.com

Recorramos a um reductio ad absurdum só para iniciar a argumentação. Comportamentos são limitados por diversos fatores, entre eles a anatomia de um animal. Numa tábula rasa podemos escrever qualquer coisa, num animal limitado por sua anatomia as possibilidades são finitas, uma tábula rasa de margens bem estreitas. Por mais interessante que voar pareça a um Bugio, sua anatomia não lhe permitiria exercer esse comportamento, não importa quanta punição, reforço ou aulas de voo lhe fossem impostos.

As coisas não precisam ser tão extremas. Compartilham comigo o laboratório de Zoologia da Unemat diversos pesquisadores do Controle Biológico de pragas agrícolas. Sempre vejo nas culturas deles lagartas de mariposas que, recém saídas do ovo rastejam até uma tenra folha de soja e começam a devorá-la. Similarmente, microscópicas vespinhas eclodem de outras lagartas saindo pela primeira vez ao mundo exterior e em pouco tempo estão copulando e ovopositando em outras lagartas sem nunca terem visto adultos fazerem isso. Onde está o aprendizado aí? Os partidários da tábula rasa têm respostas muito criativas, mas pouco resistentes à parcimônia.

Seymour Benzer: Genes que transcrevem proteínas que alteram comportamentos, sim. Por que não? Fonte: plosbiology.org
Seymour Benzer: Genes que transcrevem proteínas que alteram comportamentos, sim. Por que não? Fonte: plosbiology.org

A genética do comportamento ainda é uma ciência jovem, mas o instinto já pode ser dissecado até o grau simples de um gene para um comportamento em alguns raros casos. O pioneiro nesse ramo foi Seymour Benzer, que descreveu um mutante de mosca da fruta que evita a luz (esses animais na fase adulta buscam a luz), outro cujo período de atividade não coincidia com a fase escura do dia. Hoje são conhecidos genes ligados a compulsão em ratos, depressão (ou algo semelhante a isso) em peixes, fidelidade numa espécie de roedor norte americano e até à incapacidade de distinguir machos e fêmeas na hora da corte em camundongos. Existe sim algo inato aos animais que podemos chamar de instinto.

Ok, então o instinto existe, mas não é absoluto e o aprendizado afeta o comportamento, contudo não pode ser responsável por todo ele. Como então é determinado o comportamento animal? Exploraremos esse assunto no próximo texto.

Ganhadores do sorteio de natal

Já temos o que colocar aos pés dela imagensdahora.com.br

Pessoal, desculpem a demora em soltar o resultado do sorteio de natal. Professor universitário ainda assim é professor e final de semestre é com certeza meu inferno astral. Então vamos ao que interessa, os sorteados pela minha função =aleatórioentre(1;19) do meu Excel foram o Onézimo e o Breno. Já enviei um e-mail para eles pedindo um endereço para remeter os livros. Parabéns aos ganhadores e obrigado e feliz natal a todos os que participaram.

Comportamento Animal, teoria e prática pedagógica – Sorteio

Faltam apenas alguns dias para o sorteio. Respondam nos comentários quem foi seu melhor professor e por que e garantam seu presente de Newtal.

Ele debaixo do seu pinheirinho.

Sorteio de Natal – Livro de Comportamento Animal

Semana passada ocorreu o lançamento do meu livro com a Prof. Ana Arnt, Comportamento animal, teoria e prática pedagógica, pela Editora Mediação. O livro foi escrito para professores de ensino fundamental e médio e traz uma coletânea de textos sobre o comportamento animal em suas diversas faces seguidos de atividades práticas simples para ilustrarem os conceitos apresentados.

Capa do livroTem experimentos sobre socialidade com cupinzeiros, simulações do comportamento de predação usando confeitos de chocolate e várias outras sugestões para tornar as aulas mais agradáveis e compreensíveis. Todos os capítulos se pautaram por perguntas que poderiam muito bem ser perguntas científicas de etólogos. Sempre acreditei no comportamento animal como uma forma de encantar pessoas pela biologia por se tratar de eventos mais fáceis de ver no espaço (ao contrário da respiração celular na escala micro e da convergência evolutiva entre mamíferos sul-americanos e marsupiais australianos na escala macro, por exemplo) e no tempo (ao contrário do desenvolvimento embrionário, por exemplo).

Então lanço agora o desafio. Quero que vocês me contem nos comentários quem foi o melhor professor da vida de vocês e por que. Vou sortear dia 2 de dezembro dois exemplares para quem responder, assim chega de presente de Newtal. Não se esqueçam de deixar seu e-mail para eu entrar em contato com os ganhadores.