MOOC – Comportamento Animal
Essa semana começa o curso online massivo (MOOC) sobre Comportamento Animal pela Universidade de Melbourne e o portal Coursera. Faça sua inscrição pelo clicando nesse link. O curso é inteiramente grátis e tem legendas e Inglês e Espanhol (além de Português de Portugal para as primeiras vídeo-aulas). Eu serei professor assistente (TA) do curso e tenho certeza que também aprenderei um bocado sobre educação a distância de qualidade. Se você quer aprender mais sobre comportamento animal não deixe de se inscrever. As aulas começaram hoje, mas as inscrições ainda ficam abertas algumas semanas.
Por que existem tantas espécies de animais?
Pelo segundo ano o Programa de Pós-graduação de Biologia Animal da UNESP de São José de Rio Preto oferece seu curso de inverno para estudantes de nível médio. O tema desse ano foi a inspiradora pergunta mencionada no título desse post (que obviamente não respondemos completamente, mas que suscitou discussões ótimas sobre evolução, taxonomia, ecologia, biogeografia, comportamento, sistemática, anatomia comparada e histologia). Abaixo algumas fotos do curso, conforme prometi aos meninos que participaram.
BioTest
O ensino de Biologia ganhou um aliado moderninho: o BioTest. O BioTest é um jogo sobre conceitos de Biologia em nível superior no estilo de uma forca. Perguntas sobre diversos temas são apresentadas e você precisa descobrir a resposta antes que o tempo se esgote e sem errar as letras. As perguntas são divididas em grau de complexidade e várias são ricamente ilustradas. Também são divididas por área: Biologia Celular, Fisiologia, Bioquímica e Botânica. À medida que você vai marcando pontos pode usá-los para destravar perguntas de outras áreas, para montar a cadeia trófica de um bioma ou para conquistar novos biomas. Você recebe um ranking pessoal e pode ainda integrar uma rede de pontuações comparativas com outros jogadores via internet.
Achei o jogo bastante intuitivo, inteligente e com uma interface gráfica bem legal para um aplicativo para tablets e celulares. Algumas vezes fiquei frustrado porque perguntas com texto longo e respostas longas de digitar não geravam uma pontuação alta, já que sua pontuação é proporcional ao tempo gasto para responder a pergunta. É divertido e desafiador responder as perguntas, competir com os outros e tentar se superar (ok, ok, minha pontuação na Biologia Celular foi vergonhosa). Até uma área de avaliação de questões os autores disponibilizaram para os jogadores apontarem textos ou conceitos errados.
Os autores, aliás, são do Laboratório de Tecnologia da Educação do Instituto de Biologia da Unicamp. Juro que fiquei morrendo de inveja do aplicativo e com dor de cotovelo porque não tem questões de Zoologia. Para baixar o aplicativo para sistema iOS (iPad, iPhone e congêneres) por R$ 4,00 basta clicar aqui. Para baixar por R$ 2,00 em aparelhos que rodam Android clique aqui. Talvez esse seja um dos primeiros de muitos apps que vão tomar conta do ensino nessa tendência da gamificação.
Licenciamento ambiental – Profissão Biólogo
Norberto Hülle – Coordenador de Estudos da ARCADIS
Trabalho com consultoria ambiental, especificamente na área de licenciamento ambiental. O nome da empresa onde trabalho é ARCADIS logos. Nesse mercado de trabalho há muitas oportunidades para biólogos!! O mercado de serviços ambientais está em expansão, precisando de pessoas com formação sólida, capacidade de raciocínio lógico e resolução de problemas. Uma característica indispensável é saber escrever textos técnicos, transmitindo informação de forma clara as informações. Essa é uma das coisas mais raras no mercado!
Hoje trabalho como coordenador de estudos. Preciso fazer o planejamento do estudo e o acompanhamento do prazo e da qualidade técnica dos textos que compõem os estudos ambientais, além de responder pela rentabilidade do projeto.
É ideal ter facilidade para escrever textos, agilidade na leitura e revisão de relatórios, habilidade em condução de equipe e gerenciamento de conflitos. Eu coordeno estudos ambientais, como EIA/RIMAs, contratando os especialistas que produzem os textos técnicos e consolidando os diversos textos em um estudo, além de conduzir as etapas de avaliação de impactos e proposição de programas ambientais. Teoricamente trabalho das 8 às 5, totalizando 40 horas por semana, mas sempre é estendido. Principalmente por conta de viagens e em épocas de finalização de projetos (hoje mesmo cheguei às 7:30 e não tenho hora pra sair…). O ambiente de trabalho é corrido e estressante, mas me dou muito bem com a equipe que inclui além de biólogos, profissionais de diversas áreas do conhecimento, por isso é agradável e enriquecedor.
Com relação à formação, sempre é bem vinda uma formação complementar. Fiz mestrado em ecologia e pós sensu lato em gestão ambiental. Para mim, ainda faz fata a gestão de projetos. As disciplinas de que mais gostava na graduação eram as de ecologia e genética/ biologia molecular. Dentre elas, hoje no trabalho tenho que lidar muito com as de ecologia, principalmente dos conceitos de ecologia de paisagem, que infelizmente não foram muito fortes na minha graduação. Na progressão da minha carreira comecei como um consultor autônomo, trabalhando em um projeto como apoio da coordenação de meio biótico, gradualmente fui trabalhando em outros projetos como especialista em mamíferos e posteriormente foi contratado na empresa, sendo promovido a coordenador de meio (biótico) e posteriormente a coordenador geral (vendo também textos relacionados aos meios físico e socioeconômico).
Com relação à minha realização profissional, me motiva saber que posso fazer diferença e minimizar o impacto da implantação e operação de empreendimentos de grande porte. Os maiores desafios, no entanto, são vencer uma ideia antiga de alguns empreendedores de que o licenciamento ambiental atrapalha o desenvolvimento. Vencer outra ideia antiga de alguns técnicos dos órgãos licenciadores de que os empreendedores são o mal encarnado. Atender os prazos curtos. Fazer todas as atividades que esperam de mim, sem abrir mão da minha vida pessoal.
Se prepare bem, fazendo cursos complementares, quando possível. Participe de consultorias voluntariamente para adquirir experiência. Ficar antenado com o que acontece no Brasil. Se for fazer consultoria, não encare como um trabalho temporário ou um pé de meia. Deve ser encarada como uma profissão, não um seguro desemprego enquanto a bolsa de doutorado não sai. E, principalmente, não encare como um trabalho menor ou menos digno que outros.
Técnica de pesquisa – Profissão Biólogo
Arodí Prado Favaris
Sou técnica de pesquisa do laboratório de Entomologia, onde trabalho em especial com comportamento animal e ecologia química na ESALQ/USP. O mercado dos técnicos tem bastante espaço para biólogos. Na área em que atuo, o objetivo principal é ter uma aplicação na Agricultura, uma solução mais sustentável para o manejo de pragas agrícolas. O biólogo é importante não apenas por se interessar em uma aplicabilidade de sua pesquisa, mas também pelos estudos mais básicos, não menos importantes.
Conhecimentos básicos de química, cromatografia, capacidade de observação detalhada do comportamento animal foram algumas das habilidades que precisei desenvolver para exercer minha função. Estou envolvida no desenvolvimento de projetos de pesquisa, treinamento de pessoal (estágio, pós-graduação), suporte técnico de aulas práticas e administração de verbas por 40 horas semanais, 8h/dia. O Ambiente é tranquilo para se trabalhar, porém movimentado de alunos, principalmente os de pós-graduação.
Embora não tenha pós, precisei me especializar. Não tive preparo na área de cromatografia na faculdade. Precisei fazer cursos para aprender seu uso e aplicação. Sempre me interessei pelas disciplinas que envolviam química, tanto que meu desejo era trabalhar com plantas medicinais. Gostava também das aulas de fisiologia animal, botânica e comportamento animal. No trabalho hoje uso, sem dúvida, Química Analítica, Inorgânica e Química Orgânica.
Não tive oportunidades para trabalhar em empresas privadas, nem mesmo como trainee, pois a preferência delas é para os engenheiros. Então, decidi estudar para concursos voltados para a área que estudei. No primeiro deles que fui chamada foi para ser professora do Ensino Fundamental. Dei aulas durante seis meses, mas não me identifiquei com essa profissão. Logo em seguida, surgiu um concurso na ESALQ, para técnico de nível médio, no qual fui aprovada para trabalhar na área de criação de insetos visando ao controle biológico. Então surgiu outro concurso, no mesmo departamento, para técnico de nível superior na área de ecologia química e comportamento de insetos. Também fui aprovada e pretendo ficar no cargo em que me encontro hoje, aprimorando cada vez mais na área.
O que me motiva a exercer minha profissão é o fato dela valorizar a minha formação enquanto bióloga. Desenvolver atividades para as quais não tive preparo na faculdade, como, por exemplo, a cromatografia que já comentei são, por outro lado, meus desafios cotidianos.
Penso que é preciso ter foco. Depois que me formei, não encontrei uma razão firme de que deveria continuar estudando. Além disso, eu nunca tive o desejo de trabalhar com insetos. O meu objetivo foi de prestar concursos na área da biologia e, para isso, me dediquei estudando muito. Muitas pessoas fazem pós-graduação por falta de opção, infelizmente. Viver de bolsa de estudos é passageiro, mas se aqueles que continuam estudando têm um objetivo firme de seguir carreira como mestre ou doutor, então, não há dúvidas de que será bem sucedido.
Técnico de Laboratório – Profissão Biólogo
Juliane Saldanha, Técnica de Laboratório
Trabalho num laboratório didático da Universidade de Cuiabá (UNIC) como técnica. Apesar de biólogos poderem e deverem ocupar esse mercado de trabalho, é muito frequente a concorrência com técnicos de nível médio.
No meu trabalho sou sempre cobrada de ter conhecimento nas diversas áreas laboratoriais, como microscopia, microbiologia, química e anatomia. Meu papel é organizar os horários das aulas e monitorias, preparar reagentes, meio de cultura, esterilizar e descartar materiais. Também faço orçamentos e compra dos produtos necessários. Trabalho as 44 horas semanais, no horário de aula da faculdade, de manhã e tarde, e se for preciso à noite. Sempre que alguém for utilizar algum laboratório tenho que estar presente! Cuido de 8 laboratórios, no setor de saúde. (Anatomia, química, microscopia, microbiologia, alimentos, manipulação, odontologia e análises clínicas).
Não precisei de uma formação extra formal para ocupar minha vaga de emprego atual, mas tive que aprender muitas técnicas por minha conta. Chega uma hora que ultrapassamos o que os professores da faculdade ensinam e temos que andar com as próprias pernas. Sempre é preciso ir além do que vemos na faculdade. Na faculdade, aliás, sempre gostei da área de microscopia e química, com citogenética e biologia celular, genética e histologia. Dessas, química, microbiologia, histologia, anatomia são as que eu mais uso no meu cotidiano profissional.
Para ocupar essa vaga entrei pelo método tradicional. Levei o currículo até o RH, passei por entrevista com o coordenador dos laboratórios e fui contratada. Fiz estágio curricular e não curricular no laboratório de citogenética da faculdade onde estudei, por isso já tinha alguma prática com laboratórios. Sabia que uma veterana já tinha trabalhado aqui, então deixei meu currículo caso precisassem, e na mesma semana minha antecessora teve que sair e eles me chamaram para a entrevista.
Trabalho na área de saúde, ajudando na formação profissionais de qualidade para melhorar a saúde de todos, isso é muito motivante. Mas o trabalho do técnico nem sempre aparece, é como se os professores e alunos chegassem e a aula já estivesse montada como que por mágica. Frequentemente não somos reconhecidos.
Minha recomendação é ir sempre além. Participem de cursos e estudem além do exigido na grade curricular da graduação. É assim que vocês irão se destacar em meio a tantos biólogos. A Biologia é uma carreira muito ampla e sempre é preciso complementar seus conhecimentos.
Profissão Biólogo – Produção de mudas para reflorestamento
Fernanda Furlan, responsável pela produção de mudas da Ziani Florestal
Meu nome é Fernanda Furlan e sou botânica, trabalhando com produção de mudas exóticas e nativas em um viveiro e implantando as mudas produzidas em reflorestamento. Trabalho para a Ziani Mudas Florestais. Esse mercado até tem espaço para mais biólogos, mas é limitado e a competição com profissionais das engenharias agronômica e florestal dificulta muito nosso ingresso.
Para trabalhar nessa área é necessário entendimento sobre fisiologia, anatomia e taxonomia botânica. Principalmente relacionada à nutrição das plantas e adaptação a diferentes ambientes. Sou supervisora de produção de mudas e de campo. Oriento a melhor produção das mudas com indicações sobre substrato, adubação, luminosidade e umidade. Além de supervisionar a implantação das florestas. Minha carga horária semanal não é definida. No trabalho de campo devemos considerar as adversidades cotidianas, mas a dedicação varia de 40 a 60 horas. Trabalho em ambiente aberto e na zona rural.
Depois de formada em biologia, outras formações foram necessárias, mas nada ligado a mestrado e doutorado. É muito importante que o profissional continue reciclando seus conhecimentos e adquirindo novos também, nessa área há muita competição. Muitas disciplinas me agradaram na graduação. Não segui uma linha de pesquisa específica, o que contribuiu muito para o meu trabalho. Mas no trabalho uso todos os dias os conhecimentos que obtive nas matérias de Estatística, Botânica, Taxonomia, Fisiologia e Anatomia vegetal.
Ainda durante a graduação comecei com um estágio extracurricular junto com outros quatro estagiários de diferentes áreas de atuação. A intenção desse estágio era contratar um profissional. Acabei conseguindo essa vaga assim que me formei.
Contato com a natureza em campo é o que me motiva nessa profissão. Poder acompanhar o desenvolvimento das florestas contribuindo para a conservação dos biomas. Todo dia acontece algo diferente, nunca vivo uma rotina, afinal o ambiente não é controlado. Por outro lado, os desafios estão em conseguir sobressair mesmo com a concorrência de outros profissionais nesta área em busca da remuneração merecida.
Se você deseja obter um emprego como o meu, sugiro que busque um estágio na área e faça cursos e workshops sempre que possível. Busque realizar trabalhos científicos nesta área ainda durante a graduação e se aprimore em áreas paralelas como a engenharia agronômica e florestal. É importante não parar os estudos depois da graduação. A concorrência é muito alta, pois a área é muito promissora nos dias de hoje, o profissional deve sempre buscar meios de se destacar.
Profissão Biólogo – Jogos biológicos
Nurit Bensusan, fundadora da biolúdica
Dizer em que área trabalho é até um pouco difícil, pois minha atuação profissional envolve várias áreas. Uma resposta seria popularização da ciência e conservação da biodiversidade. Isso porque eu venho escrevendo livros, blogs, criando jogos e inventando outras modas para popularizar os temas biológicos, principalmente os ligados à conservação da biodiversidade. Hoje, tenho uma empresa que cria jogos com temas biológicos, mas continuo escrevendo livros, fazendo pesquisas e inventando moda. Eu trabalho na minha própria empresa, a Biolúdica. Nessa área de popularização da ciência tem espaço sim, mas para biólogos que gostam de divulgação científica e valorizam o contato com o público leigo.
No meu caso específico, a habilidade mais necessária é a criatividade. A popularização da ciência bem sucedida precisa ser instigante e deve, se possível, colaborar ampliando as interfaces entre a ciência e a cultura. Assim, conhecimento, mesmo fora da área biológica, é bastante importante também. Em meu trabalho eu escrevo, crio jogos, pesquiso, realizo oficinas para crianças e adultos com os jogos. Trabalho em média umas 8 a 9 horas por dia, de uma forma muito disciplinada, pois tenho um escritório em casa. Nos fins de semana, só trabalho se houver necessidade. Como trabalho no meu escritório em casa, fico muito tempo sozinha, mas tenho contato sempre com profissionais das mais diversas áreas, desde meus pares biólogos, até designers, artistas plásticos, professores, educadores e jornalistas. Esses contatos são muito gratificantes e enriquecedores.
Por opção, eu estudei história e filosofia da ciência, na Universidade Hebraica de Jerusalém, e acho que isso, hoje, me ajuda muito, principalmente na construção da abordagem que eu adoto de popularização da ciência. Fiz, também, um doutorado em educação, abordando museus de ciência. Mas acho que seria possível desenvolver meu trabalho sem essa formação. Eu sempre gostei das disciplinas ligadas à evolução. Eram as mais interessantes e as que permitiam algum espaço de reflexão. Infelizmente, as outras eram apresentadas como técnicas ou como realidades da ciência, sem espaço para entendermos o quanto daquilo que estávamos estudando era resultado de escolhas de abordagens e até mesmo de opções ideológicas. Eu me lembro de disciplinas com professores instigantes. Uma delas era Ecologia do Cerrado, ministrada pelo professor Bráulio Dias, hoje Secretário Executivo da Convenção da Biodiversidade, em Montreal. Ele obrigava os alunos a pensar, ao contrário de muitos outros que se sentiam incomodados com as perguntas e as colocações dos estudantes. Disciplinas que conectavam a biologia a outros conhecimentos eram as minhas favoritas.
Eu comecei minha carreira como bolsista de um programa de biogeografia do Cerrado. Depois, fiz concurso para perita do Ministério Público Federal, onde trabalhei por dois anos. Nessa época, meados da década de 1990, eu estava convencida que era necessário um engajamento na questão das políticas públicas para que conseguíssemos algum resultado em conservação da biodiversidade. Saí do Ministério Público e fui trabalhar no WWF-Brasil, em projetos ligados à implementação da Convenção da Biodiversidade no Brasil. Depois de alguns anos, fui trabalhar numa outra ONG, o Instituto Socioambiental, (ISA) onde coordenei a área de biodiversidade. Depois de uma breve volta ao WWF-Brasil, em meados da década de 2000, fui para uma terceira ONG, o IEB onde trabalhei até 2009. Em 2010, criei a Biolúdica que colocou seus primeiros jogos no mercado no final de 2011.
Além de ser fascinada pela própria biologia, hoje estou convencida da importância da participação e do engajamento do público em geral nos processos de tomada de decisão ligados à agenda de ciência e tecnologia. Nesse caminho, a popularização da ciência desempenha um papel fundamental e isso me motiva sobremaneira. Se a gente pensar nos jogos da Biolúdica, jogos de cartas com temas biológicos para crianças com mais de 7 anos, o maior desafio é o mercado, ou seja, colocar esses produtos no mercado, competindo com o que existe. Minha recomendação para aspirantes a trabalhos como o meu é que a combinação de conhecimento, criatividade e iniciativa é imbatível. Apostando nela, a chance de sucesso é significativa.
3º setor, Profissão Biólogo
Pedro de Sá – sócio e membro do departamento florestal da ONG Iniciativa Verde
Atuo no terceiro setor em uma Organização Não-governamental chamada Iniciativa Verde. (www.iniciativaverde.org.br). No terceiro setor, aquele que compreende as ONGs e OSCIPs há muitas oportunidades de atuação para o biólogo. A ONG onde trabalho foi fundada por dois engenheiros, um biólogo e um designer. Atualmente somos 10 funcionários sendo que desses, quatro são biólogos. Dois trabalham na área florestal e dois na área de mudanças climáticas/inventário de emissões de gases de efeito estufa.
Cotidianamente tenho a exigência de uma formação solida principalmente em áreas como botânica e ecologia vegetal/florestal. É necessário também conhecer e entender a importância das florestas como provedores de serviços ambientais. Ter noções de direito ambiental é necessário também. Fora esta parte mais teórica/acadêmica eu tive que estudar e desenvolver um lado de gestor de projetos com o qual não tive contato na universidade. Essa parte de gestão não se encerra no acompanhamento físico-financeiro do projeto, pois exige também uma adequação de discurso inerente a um trabalho onde, em uma ponta você capta recurso com empresas e órgãos públicos e reporta resultados para estes, e na outra ponta você executa o projeto, com agricultores rurais, comunidades tradicionais, associações e ONGs locais, órgão ambientais e outros. Outra habilidade necessária é a criatividade para propor projetos inovadores. Este é sem dúvida um requisito básico para trazer projetos para a instituição.
Meu cargo é de coordenador florestal. Eu sou responsável por prospectar parceiros interessados em trabalhar com a Iniciativa Verde em projetos de restauração florestal. Parte do meu tempo então eu passo prospectando parceiros que queiram restaurar suas áreas de preservação permanente (APPs) ou que possuam projetos de restauração de APPs e necessitem de apoio financeiro e/ou técnico para realizar os projetos. Outra parte do tempo eu passo executando os projetos seja em campo durante os plantios e manutenções das florestas ou em escritório na confecção de relatórios e reportando os resultados para os nossos financiadores. Também despendo tempo escrevendo novos projetos e dando respaldo à equipe que busca novos financiadores.
Teoricamente minha carga horária é de 30 horas semanais, mas eu acabo sempre trabalhando mais que isso. Assim eu divido meu tempo em três semanas trabalhadas na iniciativa verde cumprindo 40 horas semanais e na semana restante dedico meu tempo a uma pequena empresa de consultoria na área ambiental que abri há um ano e em cursos complementando a minha formação.
O ambiente de trabalho é muito bom. A equipe é muito diversificada, tanto entre as formações específicas dos membros do grupo, quanto dentro das formações e nas experiências pretéritas (muitos se “fizeram” no serviço público outros em empresas, na acadêmica ou propriamente no terceiro setor) o que faz com que seja um aprendizado constante. É fato que isso exige muito de você e da equipe, pois nem todo mundo está acostumado a “falar” a mesma língua, mas eu considero o resultado final disso muito bom.
O fato de ser escutado pela diretoria nas decisões cotidianas da instituição também melhora o ambiente e faz você se sentir parte da instituição, o que é ótimo. Possuímos uma sede bem aconchegante em local central, com boa estrutura de serviços e de fácil acesso, o que torna o nosso cotidiano muito mais fácil na capital paulista.
Como eu disse anteriormente eu tive que aprender muito, e ainda tenho muito a aprender, sobre gestão de projetos e como fazer o aspecto técnico e gerencial caminharem conjuntamente. Além disse eu tive que correr atrás de várias coisas que não tive contato na universidade, ou se tive foi muito a “En passant” como o direito ambiental, sociologia e principalmente a discussão do papel do biólogo na sociedade. Eu creio que esses assuntos deveriam ser obrigatórios em todos os cursos de biologia. Mas o principal extra, e que eu carrego no meu dia a dia, foi aprender a adequar o discurso técnico e acadêmico a uma linguagem acessível e compreensível a um pequeno agricultor do interior do estado ao técnico ambiental de uma pequena cidade do Brasil e por aí vai.
Eu gostava muito das disciplinas ligadas às ciências naturais: Zoologia, Botânica e Ecologia, na graduação. Como eu passo boa parte do meu tempo no campo vendo plantas, bichos padrões e processos ecológicos não tem como não lembrar das disciplinas citadas acima.
Após me formar eu comecei a trabalhar com estudo do meio. Eu creio que essa etapa profissional foi fundamental pra praticar e entender a importância da adequação de discurso que falei acima. Um belo dia eu prestei um concurso para trabalhar com recuperação de áreas degradadas e fiquei por pouco de ser chamado. No tempo entre ser ou não ser chamado eu comecei a estudar sobre o assunto e vi que aquilo ia me completar naquele momento. Então eu comecei a dar as caras no meio, participar de congressos encontros e reuniões. Depois comecei a fazer um estágio na ESALQ com adequação ambiental de propriedades rurais, durante o estágio eu comecei a trabalhar como colaborador de uma ONG em Piracicaba, o Instituto Ambiente em Foco e foi ai que eu vi que queria trabalhar no terceiro setor. Fiquei um ano e meio no Ambiente em Foco e em janeiro de 2010 recebi o convite da Iniciativa Verde para integrar o Departamento Florestal. Em janeiro desse ano eu recebi um convite da diretoria para me tornar associado da instituição e hoje além de técnico sou um associado.
São duas principais coisas que me motivam: a primeira delas e plantar árvores. Segundo, e não menos importante, é saber que esse trabalho está causando um impacto positivo na vida de pessoas que vivem a quilômetros de distância e que podem ser elas que plantam a alface que eu vou comer hoje no almoço ou que ordenharam o leite que eu bebi hoje de manhã.
Existe certo preconceito com o terceiro setor no Brasil por conta dos escândalos de corrupção envolvendo ONGs. É justificável? Sim, mas também é necessário separar o joio do trigo. Outra dificuldade não é só restrita ao terceiro setor, mas à área ambiental como um todo. A área ambiental não é uma atividade fim e sim uma atividade meio. É um meio para se conseguir uma licença, é um meio de se melhorar a imagem coorporativa. Enfim são poucas as empresas/instituições dispostas a investir realmente em meio ambiente. Tudo isso torna árdua a captação de recursos para realização de projetos.
Eu acho que não serve só para a minha carreira, mas para todas. É fundamental, além de ser um profissional com uma formação sólida, se colocar no meio, através da participação de eventos, seminários e simpósios e uma vez nele não desistir quando os obstáculos aparecerem. Pode ter certeza que serão vários e de diferentes naturezas. Mas o principal mesmo é ir atrás do conhecimento e das ferramentas que a universidade não te ofereceu e isso só se faz vivendo. No meu caso ler Manoel de Barros é tão importante quanto fazer um curso de direito ambiental.