Pensamento de Segunda
“A consciência é algo tão misterioso para nossa própria espécie que não dá para tentar avaliar sua existência em outras.”
Lewis Thomas
Analista de meio ambiente – Profissão Biólogo
Allan Crema
Trabalho como analista de meio ambiente no governo federal desde 2006. Sou funcionário do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ICMBio, autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, cuja missão é executar as ações do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, responsável pela criação, gestão e fiscalização das unidades de conservação instituídas pela União. Há no ICMBio muitas oportunidades profissionais para biólogos, inclusive poderia afirmar que grande parte dos meus colegas de trabalho possuem graduação em biologia. Este campo do conhecimento é fundamental para gerir de forma adequada estas áreas protegidas, assim como, para implementar e supervisionar ações de conservação das espécies ameaçadas, recuperação de áreas degradadas, manejo das florestas nativas, monitoramento do uso sustentável dos recursos naturais renováveis, entre outras diversas atividades. No entanto, para concorrer a uma vaga de analista de meio ambiente basta ter nível superior. Além disso, a carreira de analista de meio ambiente ainda não conta com gratificação por titularidade.
Em meu cotidiano no trabalho é exigido o conhecimento profundo da legislação ambiental, com ênfase na Política Nacional de Meio Ambiente e no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Além disso, noções de ecologia da paisagem e técnicas de geoprocessamento são constantemente requeridas para a criação, planejamento e monitoramento das unidades de conservação. Outra questão fundamental é possuir uma boa base sobre administração pública e gestão de projetos de forma a conseguir ter sucesso na execução dos projetos e gerenciar de maneira responsável os escassos recursos financeiros destinados ao meio ambiente.
Atualmente sou chefe de uma divisão do ICMBio. Meu trabalho é técnico e centrado na temática: “corredores ecológicos e mosaicos de unidades de conservação”, que são instrumentos de ordenamento e gestão territorial para a conservação. Como trabalho na sede de uma instituição responsável por 310 unidades de conservação e 11 centros de pesquisa espalhados por todo o território nacional, meu trabalho é muito focado na articulação interinstitucional, análise de processos, planejamento, pesquisa, supervisão e execução de atividades em campo.
Em conjunto com o MMA, também promovemos capacitações para as equipes técnicas do ICMBio e outras instituições parceiras e auxiliamos a traçar diretrizes e normativas para implementar ações relacionadas aos corredores ecológicos e mosaicos. É bastante trabalho para ser realizado em oito horas diárias e quarenta semanais.
Apesar de trabalhar no escritório em Brasília, viajo com freqüência para participar de reuniões, oficinas, seminários e atividades de campo nas unidades de conservação. Além disso, o Brasil é referência mundial por sua megabiodiversidade e muitos países possuem o interesse de contribuir com o trabalho de conservação deste patrimônio natural. Por isso, surgem algumas valiosas oportunidades de realizar intercâmbios de conhecimento sobre a gestão de áreas protegidas e/ou desenvolver trabalhos técnicos conjuntos com instituições internacionais a partir de projetos bilaterais de cooperação técnica.
Na graduação sempre tive muito interesse nas matérias de Ecologia, Biologia da Conservação, Zoologia e Evolução. Hoje, no trabalho, estou sempre recordando de tudo que aprendi. Enquanto fazia o curso de Biologia, sempre tive muita disposição para fazer estágios. Estagiei na Fundação Zoológico de Brasília, na Área de Relevante Interesse Ecológico do Riacho Fundo, na EMBRAPA e no IBAMA, onde aprendi muito e pude vivenciar o trabalho na prática. Acredito que os estágios ajudam a nos orientar e são fundamentais para descobrir a área que realmente gostamos de trabalhar.
Depois me dediquei ao mestrado. Sempre gostei muito de trabalhar em campo com animais, por isso optei em desenvolver minha pesquisa na área de herpetologia, junto ao Departamento de Biologia Animal da UnB. Enquanto fazia mestrado, prestei alguns concursos públicos e consegui passar no IBAMA. Terminar o mestrado trabalhando foi um desafio enorme, mas com certeza, valeu a pena. Após a divisão do IBAMA em 2007 decidi permanecer no ICMBio, uma vez que meu interesse sempre foi trabalhar com unidades de conservação.
Eu tenho enorme fascínio e muito respeito pela natureza. Aprendo todos os dias coisas incríveis sobre ela. Isso me deixa motivado para trabalhar pela preservação da biodiversidade. No entanto, trabalhar com a conservação da natureza, na prática significa gerenciar conflitos, por isso, são muitos os desafios para quem pretende seguir esta profissão, como por exemplo: 1) escassos recursos humanos e orçamentários, 2) falta de interesse político para dotar as unidades de conservação de estrutura necessária, 3) dificuldade em conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação da natureza, 4) carência de apoio para desenvolver alternativas econômicas sustentáveis.
Quem pretende seguir uma carreira como a minha deveria se dedicar aos estudos, estar sempre atualizado e buscar estágios em diferentes áreas.
O macaco prego brigão
Naquela manhã no consultório psicanalítico…
Era a primeira vez que a doutora contratava um secretário e ela já estava arrependida. De um lado da antessala estava o dito cujo, contido à força por ela. Do outro, dois macaquinhos. O da frente, o líder do bando, com uma expressão assustada continha o outro que, irado, tentava desvencilhar-se e voltar a agredir o secretário.
O macaco dominante resolveu a contenda empurrando para dentro do consultório o colega irado. Quando a doutora entrou o macaquinho estava empoleirado no encosto do divã com a cauda enrolada à haste do abajur e o peito arfando. A doutora sentou-se na poltrona com o bloquinho na mão e o cabelo desgrenhado.
– Deixe-me adivinhar. Ímpetos de violência incontrolável?
– A senhora é boa mesmo, doutora. – Resmungou o primata com desdém.
– Quer me contar sobre sua semana?
– Eu tenho escolha?
– Sempre! Você paga a consulta agora e se livra de mim na hora.
– Foi uma semana normal. Comemos frutos, um ou outro inseto, patrulhamos o território, cuidamos de nossas fêmeas e dormimos. Nada excepcional. – Após alguns segundos de silêncio no fim da frase a analista sacou o bloquinho de recibos da gaveta.
– Ok! Ok! Vamos conversar. Meu líder não me deixa sair daqui antes do fim da consulta. – Protestou o macaco prego contrariado.
– Vamos começar por ele então. Como é a relação de vocês? – Perguntou a psicóloga guardando o talão de recibos.
– Ele manda e eu obedeço. Próxima pergunta.
– Na próxima resposta agressiva eu encerro a consulta. Você se sente valorizado por ele?
– Subordinados nunca são valorizados.
– E isso te incomoda. – Foi mais uma afirmação do que uma pergunta, mas a única saída para o macaquinho era responder.
– Eu não me importo muito. Dá para ver que alguns macacos são mais bem tratados, mas eu não ligo.
– Como foi a briga que o trouxe aqui?
– Qual delas? Na que eu peitei um bando inteiro com 20 machos? – Debochou o macaquinho que agora escorregou pelo encosto e deitou-se no divã relaxado.
– Você se acha muito poderoso com essa sua atitude agressiva, né?
– De certa forma, sim.
– Seu líder também acha isso?
– Mas que saco! Essa consulta é sobre mim ou sobre ele? – Gritou o prego mostrando os caninos inferiores.
Passaram-se alguns instantes que pareceram horas para o macaco enquanto sua expressão agressiva dava lugar a um beicinho de tristeza.
– Não, ele não me valoriza. – Bingo. A analista acertou na mosca.
– Sr. Cebus, é comum que animais sociais ousem agredir quando eles esperam construir uma reputação. Também é comum que macacos sejam agressivos quando sabem que podem contar com o apoio do bando, mesmo que haja mais oponentes. Essa sua violência é só vontade de ser notado, respeitado e recebido pelo grupo. Mas existem outras formas que não colocar seu bando em risco toda vez que escuta um grupo rival.
– É, eu sei. Acho que devo desculpas ao meu bando e ao seu secretário. – Respondeu o macaquinho cabisbaixo.
A presença da doutora entre o cliente e seu secretário era quase uma escolta. Ela observou o cliente e seu líder seguindo até o elevador certa de que tinha feito seu melhor, mas preocupada com o prego. Ser terapeuta não é fácil.
Meunier, H., Molina-Vila, P., & Perry, S. (2012). Participation in group defence: proximate factors affecting male behaviour in wild white-faced capuchins Animal Behaviour, 83 (3), 621-628 DOI: 10.1016/j.anbehav.2011.12.001
Pensamento de Segunda
“É interessante que a descoberta recente dos astrônomos modernos aponte para um universo finito, especialmente para mim, que vivo esquecendo onde deixei as chaves.”
Woody Allen
Genética Clínica – Profissão Biólogo
Tania Matsumoto
Sou bióloga molecular na área de genética humana. Trabalho na Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. Acho que a maioria das pessoas na minha área de atuação são ou biólogos ou biomédicos. Portanto, sim, há muitas oportunidades de emprego para biólogos em áreas similares à minha.
No meu dia-a-dia profissional é importante ter experiência em laboratório de biologia molecular e conhecimentos de genética geral e humana. Faço diagnósticos de doenças genéticas, em especial doenças neuromusculares, para os pacientes do hospital. Existe uma rotina ditada pela demanda de exames, mas sempre estamos padronizando novos exames e tentado aprimorar os existentes. Trabalho 40 horas por semana e 8 horas por dia, uma carga horária normal. O laboratório em que trabalho é bem equipado e as pessoas muito bem qualificadas, tanto os biólogos quanto os técnicos de nível médio.
Para o meu cargo não foi necessária nenhuma formação extra após a graduação, mas ter realizado estágios em laboratórios a partir do terceiro ano de graduação me ajudou a ter mais visão da área. As disciplinas com as quais mais me identificava na graduação são as mesmas que mais me vêm à mente na minha rotina profissional: Genética e evolução. O ingresso profissional no Sarah Kubitschek é por concurso público, então prestei o concurso e fiquei em quarto lugar. Após um ano de espera me chamaram e aceitei a vaga.
A genética clínica é uma área da qual sempre gostei e acho que ter o diagnóstico de uma doença ajuda tanto no aspecto prático (tratamento, prognóstico) quanto no psicológico (sabendo-se qual o problema, ele pode ser melhor encarado) dos pacientes. E eu gosto do trabalho de bancada, pipetar DNAs, fazer reações de PCR. Nesta área necessita-se muita atenção a detalhes e cautela, pois estamos lidando com o diagnóstico de doenças de pacientes, então temos controles para garantir a exatidão dos resultados. Esse é o maior desafio. Para aqueles que gostariam de seguir a mesma carreira que eu recomendaria fazer estágios em biologia molecular para adquirir experiência prática e manter-se atualizado com relação à evolução das técnicas e conhecimentos sobre as doenças com as quais se trabalha.