Brasil ameaçado – rato candango

Juscelinomys candango, um rato com nome de político, mas esse não queríamos que fosse extinto. (Imagem: cienciahoje.uol.com.br)

Com tanto político para ser associado a ratos, esse daí recebeu o nome de Juscelinomys candango. A espécie foi descoberta durante a construção de Brasília, mas a cidade cresceu tanto que hoje o animal já pode ser considerado extinto. Só era conhecido para a região do Distrito Federal, onde já não é avistado desde 1960. Cavava tocas subterrâneas que recheava com fibras e gramíneas, alimentava-se de gramíneas, sementes e formigas. Foi a destruição do habitat que provavelmente levou a espécie ao seu fim. Você pode evitar que outros roedores (e aves) tenham esse mesmo destino colocando um guizo na coleira do seu gato, mantendo uma área verde no seu quintal e, claro, desativando as ratoeiras.

Etologia de Alcova – Bate que eu gosto

Corte ou agressão? Machos do pássaro caramanchão batem nas fêmeas, mas só nas que pedem (Imagem: flickr/ Krysia B.)

Mês passado falei da violência como parte do conflito sexual no comportamento reprodutivo. Esse mês quero continuar no tema, mas falando da violência na seleção sexual. De fato, nem sempre comportamentos aparentemente agressivos para um observador humano são de fato indesejáveis para o parceiro que está experimentando, a violência pode ser inclusive o que um parceiro procura no outro.

Frequentemente a corte serve como uma amostra do que um macho é capaz. Ele exibe seus dotes à fêmea. Entre espéceis territoriais, portanto, é muito comum que o macho mostre como ele é agressivo durante a corte. É isso que observamos no pássaro caramanchão australiano. O macho encurrala a parceira dentro de um corredor de palha que ele constroi e lhe dá umas porradinhas de leve. Tudo parece muito violento, mas quando pesquisadores construíram robôs de fêmeas que não reagiam às investidas violentas dos machos (A que ponto chega a pesquisa em comportamento animal!?!), descobriram que havia todo um código entre os parceiros sobre quão mais forte o macho poderia bater.

No peixe beta, machos lutam para ter acesso às fêmeas. Isso já foi descrito por Darwin em seu livro sobre seleção sexual como seleção intrassexual, então nada de novo. O surpreendente é que quando fêmeas assitiam a lutas elas escolhiam acasalar com o ganhador, mesmo que esse ganhador não pudesse mais evitar que ela ficasse com o perdedor. Aparentemente também não é que a fêmea estava escolhendo uma característica do macho que o fazia ganhar, em lutas manipuladas ela continuava preferindo o vencedor, mesmo que ele fosse maior e mais forte. Isso faz estremecer a fronteira entre seleção intra e interssexual proposta pelo Darwin de forma categórica. Pelo jeito, alguns machos exibem caudas coloridas, outros exibem adversários de olhos roxos.

Nos humanos mesmo a seleção sexual está frequentemente relacionada com indicadores de força física e até de agressividade. Um peitoral desenvolvido e um braço forte são valorizados pela mulherada. Mais do que isso, um estudo clássico publicado na Science propôs que mulheres no auge da fecundidade preferem homens com indicadores faciais (barba, forma do queixo, tamanho do nariz e densidade da sobrancelha) que remetem à testosterona, um hormônio fortemente relacionado à agressividade.

Portanto, a máxima “em briga de marido e mulher não se mete colher” se estende também ao reino animal. Nunca se sabe o quanto aquela aparente violência não está agradando.

Brasil ameaçado – Bagre cavernícola

Ituglanis bambui, um bagre cavernícola ameaçado. (Imagem: Bichuette & Trajano, 2004)

Ituglanis bambui, um bagre cavernícola ameaçado. (Imagem: Bichuette & Trajano, 2004)

Meu primeiro trabalho científico foi com o grupo de biologia cavernícola da USP, eu participei de uma expedição a Terra Ronca, em Goiás, de onde vem o brasileiro ameaçado dessa semana. As descobridoras desse bagre cavernícola foram Eleonora Trajano e Maria Elina Bichuette, com as quais eu trabalhava nesse período. Elas descreveram Ituglanis bambui a partir de animais coletados na virada do século em riachos subterrâneos da caverna Angélica. Ituglanis bambui tem coloração ainda um pouco amarronzada e olhos reduzidos, mas presentes, o que sugere que ele não esteja vivendo em cavernas há muitas gerações já que olhos e pigmentação são perdidos em peixes totalmente adaptados às cavernas. Ele não tem forte hábito de entocar-se e nada solitariamente à meia água em busca de alimentos que localiza com seus barbilhões. O principal risco que essa espécie corre é ter uma população pequena e ter alto grau de endemismo em cavernas de solos calcários. Como o calcário é usado industrialmente em condições que variam do clareamento do papel até a produção de creme dental, economizar pasta de dente e usar aquelas folhas de papel reciclado e não clareado já é uma boa medida para cuidar desses bagres.

Brasil ameaçado – Cascudo zebra

O cascudo zebra é abundante em aquários pelo mundo, mas isso não adianta se ele é raro na natureza. (Imagem: wikipedia.org/ A. Birger)

Só de olhar a foto você já deve imaginar o que ameaça o brasileiro dessa semana, a captura para aquarismo. O cascudo zebra é um belo peixe de uns 6 cm que vive sobre rochas nas corredeiras do Rio Xingú. Ele se alimenta de microrganismos que crescem sobre superfícies duras como rochas e troncos, o que chamamos de perifíton. Os ovos são colocados em tocas que o macho protege e cuida. Os machos são territorialistas e brigam usando espinhos operculares, além disso, sua manutenção em aquário demanda água limpa e correnteza, o que torna sua criação complicada. Não bastasse a captura para o comércio de peixes ornamentais, sua área de ocorrência também deve ser diretamente afetada com a construção da usina de Belo Monte. Quer ajudar esse cascudo? Não povoe seu aquário com espécies ameaçadas ou que não se reproduzam em cativeiro.

Brasil ameaçado – Sapo Holoaden bradei

O sapinho do Itatiaia era abundante até os anos 70, agora é mais um brasileiro ameaçado, ou já extinto (Imagem: arkive.org/Ivan Sazima)

Esse sapinho é encontrado apenas em um trecho de mata de 10 km² acima dos dois mil metros de altitude na Serra de Itatiaia, isso se ainda for encontrado, porque há alguns anos que ele já não é mais visto por pesquisadores. Se você tem acompanhado essa série, já sabe que estar restrito a locais tão pequenos, um endemismo extremo, é uma recorrência entre as espécies ameaçadas. Muito pouco se sabe sobre Holoaden bradei, mas ele vive entre as folhas no chão da Mata Atlântica, os machos defendem a desova que é colocada no folhiço pela fêmea e provavelmente eclode sem passar pela fase de girino. Apesar de ser considerado numeroso até a década de 1970, atualmente a espécie já pode estar extinta. As principais causas de seu declínio foram a perda de qualidade do habitat e talvez a poluição do ar. Uma coisa que qualquer um pode fazer para proteger animais como esse sapo é andar somente nas trilhas, não acender fogueiras e não levar “lembranças” quando estiver fazendo ecoturismo, em especial no Itatiaia.