Bicho Bizarro: Peixes anuais
É início da estação chuvosa no sertão e grandes poças começam a se formar onde antes havia um solo rachado pela secura e pelo calor. O homem simples do semiárido nordestino se agacha para encher de água uma moringa e dentro da poça recém-formada percebe um monte de peixinhos coloridos, a conclusão é óbvia: caíram das nuvens com a chuva. Na realidade os ovos dos peixes anuais, ou killifishes como dizem os aquaristas, ficam em meio ao solo e resistem ao período seco. Com a chegada da chuva os peixinhos nascem, crescem rapidamente, os machos disputam ferozmente por parceiras, daí sua coloração vistosa, acasalam e depositam um novo lote de ovos antes que a poça volte a secar. Os peixes anuais são animais belíssimos, têm um colorido tão chamativo que passam muitas vezes por espécies marinhas. Por isso aquaristas do mundo inteiro cobiçam esses peixes que, muitas vezes, são objeto de tráfico de animais ou biopirataria. A pressão é tamanha que Wilson Costa, maior especialista do grupo no Brasil, ocasionalmente evita dar detalhes da distribuição desses animais nos artigos que descrevem espécie novas para não atrair traficantes.
Bicho Bizarro: Fragata
Durante um projeto que desenvolvi em 2004 com pesquisadores do IO USP uma das lembranças mais legais é a de observar as aves marinhas enquanto coletávamos peixes. Uma das minhas favoritas era a fragata. Esse fascinante animal se alimenta principalmente de peixes, ela, no entanto, é uma má pescadora. Fragatas não conseguem mergulhar e para pescar elas riscam a superfície da água com o bico capturando peixes de superfície. O maior volume de sua dieta, no entanto, provém do roubo de alimento de gaivotas e atobás, por exemplo. As fragatas perseguem esses animais e muitas vezes os agridem até que eles regurgitem o peixe que acabaram de comer. A fragata então irá pegar o peixe antes que ele caia no mar novamente num espetáculo de acrobacias aéreas. Outra bizarrice da espécie é o comportamento de corte dos machos. Eles inflam um saco na região do pescoço, jogam a cabeça para trás e abanam as asas para seduzir a fêmea. As populações de fragatas vêm declinando e não se tem uma boa explicação para isso, por isso é importante preservar seus ninhais. Fragatas, assim como outras aves marinhas que nidificam em colônias, são importante fonte de guano para fornecer nitrogênio a plantações.
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Bicho Bizarro: Aardvark
Mais um da série ‘cruzamentos estranhos’. O aardvark parece uma combinação de pedaços díspares de outros animais. As orelhas lembram a de um coelho, o focinho o de um porco, a cauda a de um tamanduá e no final o aardvark não tem parentesco com nenhum deles. Ele é o único representante de toda uma ordem de mamíferos, os Tubulidentata. Apesar de suas adaptações morfológicas para a vida se enterrando e comendo formigas e cupins, esse mamífero africano de cerca de 50 kg é geneticamente pouco modificado comparado aos primeiros mamíferos com placenta. Os aardvarks frequentemente habitam áreas agriculturáveis e acabam sendo afetados pelo uso excessivo de agrotóxicos, seja por envenenamento direto, seja pela perda dos insetos de que se alimentam.
Bicho Bizarro: Cobra de vidro
Fêmea de cobra de vidro dando à luz um filhote.
Fonte: arkive.org
Nem cobra, nem de vidro. O bicho bizarro de hoje é um lagarto que vive sob o folhiço nas matas e, por isso, perdeu as patas ficando com a aparência de uma serpente. Ele possui pálpebras e lingua não bifurcada, ao contrário das serpentes (veja no vídeo). Já o vidro deve-se a outra peculiaridade, a autotomia caudal, hábito de perder a cauda quando perturbada. Devido a isso reza a lenda que uma cobra de vidro partida em cem pedacinhos, mas remontada, cicatriza a ponto de ninguém dizer que foi cortada. O pavor infundado humano das serpentes tem resultado na morte de muitos desses lagartos que são eficientes predadores de pragas de hortas e jardins.
Bicho Bizarro: Sapo de Darwin
Aquela versão de que os anfíbios se reproduzem fazendo um amplexo (abraço) e colocando ovinhos numa lagoa que não serão cuidados, para mim, é a versão zoológica da lenda da cegonha. De verdade a vida sexual dos sapos é muito mais divertida do que nos contam na escola. Um exemplo disso é o bicho bizarro da semana. Sabe aquela bolsa que o sapo enche de ar na hora de cantar, os sacos vocais? Pois os sapos de Darwin, depois de seduzir uma parceira, a usam para proteger os filhotes. Os ovos que a fêmea coloca e o macho fecunda se desenvolvem nas folhas no chão da mata, mas girinos não vivem no seco. Exatamente por isso os machos não saem de perto desses ovos que, assim que eclodem, são “engolidos” por ele (lembrando que eles não vão para o estômago) e se desenvolvem nos sacos vocais. Ao se metamorfosearam o pai abre a boca e lá de dentro saem saltitando sapinhos de Darwin miniaturas. O sapo de Darwin, que tem esse nome por ter sido descoberto pelo naturalista na Argentina em sua viagem no Beagle, está vulnerável à extinção graças ao desmatamento e às mudanças climáticas.
Girino entrendo na boca do pai. A saída é bem mais dramática.
Fonte: www.arkive.org
Bicho Bizarro: Linguado
Os linguados são um grupo grande de peixes marinhos com raros representantes em águas doces. Sua maior bizarrice reside na total assimetria entre os dois lados do bicho. O linguado eclode do ovo um peixe normal e simétrico, só que durante seu crescimento um lado cresce mais e mais rápido do que o outro, tornando-o assimétrico. Esse peixe vive encostado ao fundo com seu lado mais desenvolvido e pálido para baixo, do outro lado ficam os dois olhos do animal. Linguados são predadores bastante vorazes que se camuflam muito bem no fundo do mar, pegando as presas de surpresa com uma bocarra que se expande absurdamente (hiostilia, primeira questão da prova de hoje para os meus alunos!). Devido à sobrexploração pesqueira estes predadores tiveram sua população reduzida a possivelmente 10% do original, levando a organização Seafood Watch a recomendar os consumidores a evitá-los.
Migração do olho do linguado, vídeo em stop-motion excelente do Jobediah, um anatomista americano
Bicho Bizarro: pinguim imperador
Hoje o bicho bizarro vem do sul, quase do polo sul. O pinguim imperador é uma exceção entre os pinguins, eles não saem da Antártica nem para se reproduzir e nem para se alimentar, chegam a medir mais de um metro de altura, possuem uma faixa laranja, rosa ou lilás na lateral da cabeça cuja coloração depende do alimento e os machos podem ficar 115 dias sem comer cuidando do filhote. Aliás, o comportamento reprodutivo dessa espécie é formidável e foi belamente ilustrado no filme “A marcha do pinguim” de Luc Jacquet. Apesar do status de espécie não-ameaçada na lista da IUCN, o pinguim imperador poderá ser afetado pelas mudanças climáticas ocasionadas pela queima de combustíveis fósseis.
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Bicho bizarro: mussurana
Imagine como seria um bicho de botar medo em cascavéis e jararacas. Nosso bicho bizarro da semana é uma serpente que come serpentes, mesmo as mais venenosas. A mussurana é um colubrídeo dos mais inofensivos a nós humanos, possui presas apenas no fundo da boca e é pouco inclinada a usar seu veneno para nos atacar, mas seu organismo resiste aos venenos de outras serpentes, excetuando-se apenas o neurotóxico das corais verdadeiras. Não surpreende que seja exatamente essa serpente o símbolo do Instituto Butantan. A mussurana começa seu ataque constringindo a presa que em geral é engolida pela cabeça, outros itens que a mussurana come incluem pequenos mamíferos e aves e alguns lagartos. A imensa habilidade que o ser humano tem de generalisar e agir com preconceito faz, frequentemente, com que pessoas matem mussuranas por temerem sepentes venenosas, sem saber que seria justo ela sua aliada nesse combate.
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=lnmqAUP0M6g
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Bicho bizarro: peixe lua
Fonte: www.eol.org
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Bicho Bizarro: Ave do paraíso
Esse semi-círculo preto e azul é um macho de asas abertas cortejando a fêmea de cores apagadas
Fonte: worldbirdwatching.wordpress.com
Ah, o amor. O amor nos leva a loucuras! A todos nós animais. Veja a ave do paraíso, por exemplo. O que levaria a aparecer na natureza uma plumagem como a da foto acima se não o amor, ou, sejamos objetivos, o sexo. A seleção sexual ajudou a surgir nessas cerca de quarenta espécies de aves da Papua Nova Guiné um espetáculo de plumagem e cor. As aves do paraíso fasem o sistema de acasalamento conhecido como lek, ou arena, onde um grupo de machos se exibe para uma fêmea visitante que copula com o escolhido e parte para cuidar sozinha dos filhotes. Em geral um único macho é responsável pela maioria absoluta das cópulas, o que deixa a pergunta: Se eles não vão pegar ninguém, para que os outros caras ficam lá dançando à toa? As aves do paraíso foram muito caçadas por traficantes de animais ou para a obtenção de penas ornamentais, outro problema comum para a manutenção populacional é a hibridação espontânea que essas aves realizam. Graças à proteção legal hoje essas aves estão fora da lista vermelha de espécies ameaçadas, sua caça só é permitida para fins cerimoniais de tribos papuas.