Enquete: Grandes nomes da Ciência contemporânea

Há tempos venho fazendo esta pergunta a colegas na mesa do bar, esta semana resolvi oficializar. Quero saber dos leitores quem é o maior cientista da atualidade no país. Aguardo nos comentários…

 

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Fonte: www.nobel.org

Pensamento de segunda

“Não há espécies novas.” (Carollus Lineu)

Ciência cotidiana 9 – Como é que o paio não estraga fora da geladeira?

Antes do advento da geladeira os métodos de conservação de alimentos eram muito mais criativos. Alguns deles persistem até hoje. Apodrecimentos controlados de leite nos trouxeram os queijos e coalhadas. Frutas também podiam ser protegidas em soluções alcoólicas licorosas ou deixadas estragar de forma controlada para produzir vinhos. Havia a imersão em banha para algumas carnes que evitavam que muitas bactérias chegassem até a comida e os picles, cuja acidez atrapalha a proliferação dos microrganismos. Um dos métodos mais utilizados, porém, era salgar alimentos.
O sal não apenas era utilizado em embutidos como a calabresa e o paio, mas também em peixes, como o bacalhau, carnes, como o charque e a carne de sol e em legumes como milho e ervilha em salmoura. O método era tão utilizado que até hoje somos acostumados a ingerir a maior parte dos alimentos nas refeições salgados, delírio dos hipertensos.
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Por que a carne seca não precisa ficar no freezer como as que estão ao fundo?

Um dos assuntos mais odiados dos primeiros semestres em biologia é osmose. A osmose é a passagem de um solvente através de uma membrana semi-permeável de um lado em que haja menos solutos (sais por exemplo) para outro em que a concentração seja maior sem o gasto de energia. Complicado mesmo, né? Então ao exemplo: imagine um ovo de lombriga acomodado em um belo bife. Dentro desse ovo há minerais como o cálcio, o potássio e o sódio que fazem parte do metabolismo dos seres vivos em geral. Ali também há bastante água, indispensável para o organismo continuar vivo. Do outro lado da casca desse ovo de lombriga (uma membrana semi-permeável, diga-se de passagem) está a carne que um açougueiro salgou. Esse sal está em tamanha quantidade ali fora que o bife é um meio mais concentrado do que o ovo da lombriga. A água dele é puxada para fora do ovo por osmose, deixando-o desidratado e, logo, morto e inofensivo.
Só para se ter idéia de alguns outros métodos. A fermentação que eu chamei de apodrecimento controlado, faz com que as bactérias inofensivas da fermentação láctea que colocamos no leite compitam contra as patogênicas impedindo que elas se proliferem pelo alimento. O meio ácido dos picles desnatura as proteínas dos decompositores evitando a degradação do alimento. Finalmente, o álcool também desidrata roubando água dos organismos que decomporiam as frutas imersas no licor.

Feiticeira meladinha se amarra

Os vertebrados mais basais a manterem até hoje descendentes viventes são os agnatos. Este grupo tem seus primeiros registros há mais de 500 milhões de anos, mas seus descendentes são lampréias e feiticeiras, animais bem esquisitos. Feiticeiras, o grupo mais primitivo, são marinhas e habitam o fundo oceânico alimentando-se de carcaças de grandes animais mortos. Nadadores pouco competentes, evitam virar comida produzindo um volume absurdo de muco gelatinoso e repugnante que faz seus predadores mudarem de idéia rapidamente. Para arrancar pedaços de suas presas as feiticeiras dão um nó na própria cauda e o fazem correr pelo corpo até a cabeça, lembrem-se que o animal não tem mandíbula.
Nos vídeos abaixo há demonstrações destes dois comportamentos inusitados das feiticeiras.

Pensamento de segunda

“Meu prodigioso pecado foi, e ainda é, ser um não-conformista.” (Charles Chaplin)

I Biota

Alguns professores (auxiliados por um batalhão de estudantes incansáveis) aqui da Biologia do campus de Tangará da Serra estão organizando um evento científico para graduandos em biologia e áreas afins em comemoração ao dia do biólogo. O I Biota, uma brincadeira com as palavras Biologia e Tangará, será realizado de 31 de agosto a 4 de setembro por aqui mesmo e envolverá palestras, apresentação de painéis, mini-cursos, oficinas e mesas-redondas sobre diversos temas na área de ciências biológicas.

As inscrições a preços módicos já estão abertas e vão até 31 de agosto, porém a submissão de resumos para apresentação de painéis só ocorrerá até 1º de agosto. Para maiores informações sobre palestrantes, temas e cronograma visite o site do evento. O I Biota pretende oferecer aos acadêmicos e professores de Biologia do estado contato com temas atuais desta ciência, assim como integrar os diferentes agentes desta área, fortalecendo a Biologia no Mato Grosso.

Entre muitas outras atrações de outros palestrantes, eu apresentarei um mini-curso sobre jornalismo científico e uma oficina que todos irão se amarrar sobre nós para camping, escalada, náutica etc (ai que piadinha mais infame!).

Um pequeno passo para um peixe, um grande passo para os vertebrados!

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40 anos da conquista da Lua

www.folha.com.br


Não foi confusão na digitação, aproveitei o aniversário de 40 anos da conquista da Lua para escrever sobre o aniversário de 370.000.000 de anos da conquista da terra pelos vertebrados. Da terra, não da Terra, claro. Numa ensolarada tarde de 20 de julho de 369.997.991 a.C. (licença poética pura, nada científica, só para a data bater) um simpático peixinho de nadadeiras carnosas e respiração pulmonar deu este pequeno passo para um peixe, mas um grande passo para a evolução dos vertebrados.

 

Por volta deste momento na história geológica da Terra, os vastos oceanos presentes até então começaram a se retrair e deixar mais terra exposta. Isto ocorreu por uma conjunção de fatores. Primeiro o eixo de rotação da Terra sofreu uma leve inflexão, levando a uma forte glaciação e à formação de extensas calotas polares, isto roubou parte da água do planeta deixando mais terra descoberta. Segundo, as plantas aquáticas e os vegetais terrestres que começavam a surgir fixaram muito do carbono atmosférico, levando a um revés de aquecimento global que resfriou toda a atmosfera do planeta, acelerando a ocupação das terras emersas por plantas formadoras de florestas e por artrópodos, os verdadeiros donos do nosso planeta, montando o cenário para a chegada dos vertebrados. Por fim, a colisão de placas tectônicas levou ao soerguimento dos continentes que antes estavam cobertos por mares rasos.

 

Vovó ictiostega, uma pioneira sobre a terra

http://www.cgg-online.de


Dentro da água havia menos espaço, muita competição e um ambiente em retração. Fora dela havia espaço de sobra, o alimento e a sobra das matas em formação e nenhum vertebrado com quem competir. Não é de surpreender que tenhamos mudado de habitat. Naquele tempo existiam muitas lagoas temporárias e com baixa concentração de oxigênio, o que favorecia dois fatores: os peixes deveriam ser capazes de utilizar oxigênio de fora da água para respirar e ser capazes de se arrastarem até outras poças quando a lagoa secasse. Aqueles que não suportavam estas condições simplesmente pereciam, seleção natural no doze (como dizem os matogrossenses).

 

Neste contexto havia alguns peixes que aproveitaram os mecanismos de inflar e desinflar sua bexiga natatória, um órgão ligado ao posicionamento dos peixes na coluna de água, para capturar ar atmosférico e transferi-lo para o sangue. Nosso pulmão nada mais é do que uma gambiarra evolutiva de aproveitamento de peças já existentes. A capacidade de resistir à dessecação é encontrada hoje em várias outras espécies como um peixe de manguezal australiano e algumas espécies de cascudos que habitam lagoas temporárias aqui no pantanal. Mas sustentar-se fora da água exigia membros possantes, algo que começava a aparecer nas nadadeiras carnosas dos sarcopterígios, um grupo de peixes numeroso naquela época. O passo que faltava para a conquista da terra veio com a capacidade de se sustentar sobre os membros, o que possivelmente surgiu de sarcopterígios predadores que se apoiavam nas nadadeiras para espreitar as presas. Nossos ancestrais estão representados até hoje no grupo dos Dipnoi, incluindo a pirambóia amazônica. Ainda levaria muito tempo para o corpo dos vertebrados ser resistente à dessecação e seus ovos conseguirem se desenvolver em terra, mas havíamos conquistado a terra.

                          

 

Para quem gostar do tema, não perca os livros À beira d’água, do Carl Zimmer e A história de quando éramos peixe, de Neil Shubin.

Pensamento de segunda

“Mais importante do que ‘Watson e Crick fizeram a estrutura do DNA’ é que a estrutura do DNA fez Watson e Crick.” (Francis Crick)

Sobre chás e cervejas

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http://www.zahar.com.br/catalogo_detalhe.asp?id=1184

Acabei de ler esta semana “Uma Senhora Toma Chá…” de David Salsburg. O livro conta de forma deliciosa a história de como a estatística entrou no cenário científico mundial a partir do século XX. Hoje ciência e estatística estão de tal forma ligadas que não é possível pensar em uma sem a outra. Por outro lado, para muitos cientistas menos afeitos a abstrações matemáticas, este ainda é território inóspito e causticante.
Para quem lê “Uma Senhora Toma Chá…”, porém, a estatística ganha novo significado. Além da ferramenta que ajuda o cientista a encontrar ordem num universo de números nem sempre claros, ela passa a ser o produto de cérebros extremamente brilhantes. Depois deste livro, cada teste de hipótese que realizo (Snedecor, Fisher, Kolmongorov, Pearson, Student…) traz um significado, uma personalidade, uma aventura diferente. Foi isso que lucrei de “Uma Senhora Toma Chá…”.
Descobri que Gosset era o funcionário da Cervejaria Guiness que procurava uma forma de padronizar o sabor da cerveja, e descobriu-o aplicando uma matemática que seria útil a muitos. Censurado pelo alto escalão da Guiness de publicar seus dados como segredo industrial, ele recorreu ao codinome Student. Descobri sobre a personalidade brilhante e irascível de Ronald Fisher, que até sua morte defendeu que cigarros não causam câncer, e sobre a ainda mais brilhante, porém dócil de Kolmongorov, que até sua morte questionou o que compreendemos por probabilidade. Descobri que o teste do qui-quadrado, familiar de todo estudante de genética mendeliana, foi utilizado para conferir se uma senhora realmente conseguia diferenciar o sabor entre um chá quente servido sobre leite e um leite servido sobre chá quente. Descobri que o futuro talvez esteja na modelagem ou na estatística Bayesiana.
Sugiro enfaticamente a todo entusiasta desta ferramenta matemática da ciência, e também àqueles que sentem certa paúra dela.

Pensamento de segunda

“Estatísticas são como biquinis. O que revelam é interessante, mas o que ocultam é essencial.” (Aaron Levenstein)